Lição 03 – A encarnação do Verbo
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – HERESIAS QUE NEGAM A CORPOREIDADE DE CRISTO
II – A AFIRMAÇÃO APOSTÓLICA DA CORPOREIDADE DE JESUS
III – COMO ESSAS HERESIAS SE REVELAM HOJE
CONCLUSÃO
Esta primeira lição tem quatro objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
I) Elencar as heresias que negam a corporeidade de Cristo;
II) Descrever a afirmação apostólica da corporeidade de Jesus;
III) Relacionar como as heresias que negam a humanidade e deidade de Cristo se revelam atualmente.
OS GRUPOS GNÓSTICOS E SUAS PRINCIPAIS CRENÇAS
Ebionitas. Os ebionitas eram outra comunidade de judeus cristãos (séculos II e IV). O nome “ebionita”, segundo Tertuliano, veio de um certo Ebion, gnóstico que sucedeu Cerinto (Contra Todas as Heresias, III), certo mentor dos judaizantes, mas Eusébio de Cesareia afirma que o nome veio por causa da manifestação da “pobreza de seu intelecto” (História Eclesiástica, Livro III, 27). A palavra hebraica é ‘ebiôn, “pobre”, pois pregavam a pobreza com base em Mateus 5.3. Segundo Irineu de Lião, os ebionitas “acerca do Senhor pensam da mesma forma que Cerinto” (Contra as Heresias, Livro 1.26,2).
Eusébio de Cesareia afirma que os ebionitas criam em Jesus como o seu Messias, mas negavam sua deidade, e entre eles havia os que negavam a concepção virginal de Jesus, no ventre de Maria, por obra e graça do Espírito Santo. Viviam o ritual da lei e os costumes judaicos, eram hostilizados tanto pelos judeus quanto pelos cristãos. Repudiavam as epístolas paulinas e chamavam o apóstolo Paulo de apóstata. Tinham um evangelho próprio, apócrifo, chamado de Evangelho aos Hebreus. Eles estavam divididos em três grupos: os nazarenos, os ebionitas fariseus e os gnósticos ou essênios. Eram numerosos no final do primeiro século, mas, aos poucos, foram desaparecendo do palco e perdendo-se de vista no cenário da história.
Gnosticismo sírio. Era o de Saturnino, também conhecido como Saturnilo (120 d.C.). De acordo com seu ensino, Jesus Cristo não nasceu, não teve forma e nem corpo, foi simplesmente visto de forma humana em mera aparência, o chamado corpo docético, do grego dokeō “parecer”, de aparência. Segundo ele, Cristo veio para destruir o Deus do Antigo Testamento e salvar os que cressem nele. Esse representante da escola síria ensinava que o Deus dos judeus era apenas um dos sete anjos. Seguia a linha de Meandro,10 cujo ensino era de que tudo veio à existência mediante os anjos, e o seu número era sete.
Gnosticismo egípcio. Era o de Saturnino, mas ampliado e desenvolvido por Basílides, por volta do ano 130. Sua essência foi transmitida por Valentino de maneira poética e popular em 140. Basilides ensinava que Cristo era a Mente primogênita do Pai Ingênito, o Deus dos judeus. Negava a crucificação de Cristo, dizia que Simão, o cirineu, transfigurou-se e foi equivocadamente crucificado, e que o populacho o tomou por Jesus. Assim sendo, Cristo apenas presenciou a crucificação de Simão, seu sósia. Essa crença pode parecer tão bizarra hoje, como é, mas deu muito trabalho às igrejas na época, pois as informações não circulavam como na atualidade. Os Evangelhos Sinóticos registram simplesmente que Simão foi constrangido a levar a cruz de Jesus (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23.26). O próprio Jesus foi crucificado (Jo 19.17,18).
Gnosticismo judaizante. Era um gnosticismo muito parecido com as doutrinas dos ebionitas. Cerinto, o mentor dos judaizantes, teve ligações com os ebionitas no final do primeiro século. Cerinto negava o nascimento virginal de Jesus Cristo. Segundo ele, Jesus foi concebido normalmente de José e Maria, e a sua sabedoria e poderes miraculosos advieram-lhe pelo recebimento do Espírito Santo, no seu batismo, perdendo tudo quando foi crucificado e voltando à condição original.
Cerinto ensinava ainda o docetismo, doutrina segundo a qual o Senhor Jesus não teve corpo humano físico, mas somente uma aparência dele. Foi outro problema doutrinário para a igreja dos dois primeiros séculos. A Bíblia ensina a concepção e o nascimento virginal de Jesus (Mt 1.18-25; Lc 1.31- 35). São inúmeras as passagens bíblicas que revelam, de maneira direta e indireta, o corpo humano físico de Jesus (Rm 1.3; 8.3; Fp 2.5-8; 1 Tm 3.16) e, também que são os enganadores que negam essa verdade (1 Jo 4.2,3; 2 Jo 7).
Gnosticismo pôntico. Foi o desenvolvido por Marcião (falecido em 165) natural de Sinope, província do Ponto, na Ásia Menor.11 Transferiu-se para Roma em 135 d.C., e a partir daí, passou a considerar o Deus de Israel mau, e, depois de muitas “reflexões”, considerou-o fraco. Segundo ele, o Senhor Jesus não era o Filho do Deus do Antigo Testamento, e Cristo teria revelado um Deus até então desconhecido. Marcião dizia que todos os cristãos deveriam rejeitar as Escrituras Sagradas dos judeus e o Deus nelas reveladas. Esse heresiarca aparece hoje na lista dos antissemitas. Mas, a resposta de Jesus sobre o primeiro e grande mandamento reduz a cinzas essa doutrina de Marcião, quando citou a confissão de fé do judaísmo (Dt 6.2,5; Mc 12.28-30).
Marcião selecionou para si uma coleção de livros autorizados contendo as epístolas paulinas (sem as pastorais e mutiladas todas as passagens que revelam ser Cristo o Filho do Deus do Antigo Testamento), pois, segundo ele, somente Paulo entendeu o evangelho de Cristo, e os demais apóstolos caíram “no erro do judaísmo”. Ele incluiu no seu cânon o Evangelho de Lucas, mutilando todas as passagens que afirmam que o Deus dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele amputou a genealogia de Jesus do Evangelho de Lucas e essa extirpação é um forte indício de sua recusa em aceitar Jesus de Nazaré como ser humano e como judeu. Marcião negava que Cristo era verdadeiramente humano, mas quanto ao seu corpo, não se sabe se na opinião dele era apenas uma aparência ou de substância etérea.
Texto extraído da obra Em Defesa da Fé Cristã, editada pela CPAD.