Lição 5 – A Realidade Bíblica da Santificação
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
A santidade, característica moral e prática da fé cristã, é um dos ensinos mais presentes nas Escrituras. Para o homem dos nossos dias, a santidade é representada por meio de caricaturas de um grupo de pessoas tidas por retrógradas, atrasadas e que estão desconectadas com os costumes e regras deste mundo. Não são poucas as expressões artísticas que debocham da santidade dos cristãos, colocando-os como pessoas radicais, ultrapassadas e cujo comportamento é um reflexo da perda dos prazeres que este mundo e essa curta vida nos oferecem, como se a santidade fosse um mandamento de um Deus que deseja condenar as ações e prazeres humanos. A verdade é que a santidade para o mundo é desprezível, pois ela faz parte do caráter de Deus, e o mundo não aceita que a santidade exigida pelo Senhor seja uma ordem para todas as pessoas. E para Deus, a santidade não é somente necessária para os que o seguem, mas um requisito para que possamos mostrar a sua glória aos que nos cercam.
I – A SANTIDADE DE DEUS
Comecemos esse tópico definindo a expressão santificação. A palavra santificação representa o ato de uma pessoa se separar com a finalidade específica de servir a Deus e ser útil a Ele. Ser santo é ser separado. Embora o imaginário popular nos apresente o referencial de santidade atribuído a pessoas que viviam em mosteiros ou conventos, isolados do convívio social e seguindo uma série de regras para que não pecassem, o ideal de Deus para uma vida santificada não deve ser visto dessa forma. Santificação é muito mais do que seguir regras para não pecar ou adotar um estilo de vida de isolamento, pois é possível ter uma lista grande de regras que não podem ser infringidas, e ainda assim, a pessoa se esquecer de alguma dessas regras um dia, e ser considerada culpada de transgredir todas elas. Os hebreus nos dias de Jesus tinham regras para não pecar. Além do que Deus lhes dera, eles acrescentaram outras normas subsidiárias para que não transgredissem as principais, gerando, assim, uma sociedade que, embora fosse conhecida por usar o nome de Deus, seguia regras sem necessariamente estar mais perto de Deus. Seguir regras não é, necessariamente, um sinal de santidade. Trabalhadores de empresas seguem regras, e nem por isso podem ser tidos por santos. Militares seguem regras, e nem por isso estão necessariamente mais perto de Deus. Ainda que esses grupos sigam regras para cumprir uma finalidade específica, essa não é a proposta para a santidade. Naturalmente, refiro-me nesses dois últimos casos às pessoas que, participando desses grupos, não seguem a Jesus. A proposta da comparação é mostrar que as regras têm seu valor, mas não são suficientes para nos aproximar de Deus. Elas servem como um referencial a ser observado em determinados casos. A proposta a que me refiro tem uma finalidade espiritual.
1. Deus é santo
O primeiro motivo pelo qual os cristãos ensinam e buscam a santidade é porque Deus é santo. Diferente do que o mundo pensa, a santidade de Deus é descrita como algo lindo e admirável: “Adorai ao Senhor na beleza da santidade; tremei diante dele todos os moradores da terra” (Sl 96.9). Observe que a beleza do culto para os hebreus estava na santidade de Deus, e não em quaisquer outros elementos que pudessem desviar a perspectiva de uma adoração a um Deus santo. O culto a Deus precisa contemplar a realidade de um Deus santo, e isso deve ser visto na nossa forma de render louvores, na nossa forma de falar, de ler a Palavra e de ouvi-la, de contribuir com nossos recursos e de ser úteis uns aos outros.
2. O Senhor Jesus é santo
Jesus é descrito como estando bastante tempo cercado de pessoas pecadoras, mas sem ser afetado pelos pecados delas. Ele foi oferecido como um cordeiro imaculado, sem pecado, pelos nossos, e até o Inimigo reconheceu a santidade de Jesus. Ao chegar a Cafarnaum e deparando-se com um homem endemoniado, antes de libertá-lo, Jesus ouviu o reconhecimento de sua santidade: “Bem sei quem és: o Santo de Deus” (Lc 4.34). O próprio Senhor Jesus falou sobre a sua santificação: “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17.19). Mesmo o propósito da salvação trazida por Jesus inclui a santificação daqueles que são salvos pelo evangelho. Jesus não somente se santificou para exercer seu ministério neste mundo, mas igualmente nos mostrou o roteiro pelo qual a santificação ocorreria nas nossas vidas: por meio da sua Palavra e pela presença do Espírito Santo em nós.
3. O Espírito é santo
O Espírito que Deus deixou para nos guiar na ausência temporária do Senhor Jesus Cristo é chamado de Espírito Santo. Esse nome já nos mostra que Ele é o Consolador, o que se manifesta na igreja por meio de sua presença e seus dons, e que atua neste mundo para convencer os pecadores e santificar aqueles que receberam a Jesus. Dessa forma, Ele cumpre em nós a profecia de Ezequiel 36.26,27: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”. O poder do Espírito para a santificação está disponível para todos os crentes, pois essa é a intenção de Deus para o seu povo.
II – A SANTIFICAÇÃO COM UM PROCESSO
Quando se fala sobre a santificação como um processo, tem-se em mente três aspectos distintos: a santificação posicional, a santificação progressiva e a santificação perfeita, ou final.
1. A santificação posicional
Essa perspectiva de santificação nos leva a entender que todos aqueles que foram salvos em Cristo são santos. Ainda que passem por tribulações e nem sempre demonstrem a perfeição, são considerados “santos”. Quando Paulo escreve aos crentes coríntios, ele os saúda chamando-os de santos que estão em Corinto (1 Co 1.2). Lendo a carta de Paulo, perceberemos que aqueles crentes estavam longe da perfeição espiritual. Eles tinham dificuldades em assuntos relacionados à união, uso da justiça nos tribunais, tolerância com problemas sexuais e administração dos dons espirituais. É possível não entender de imediato a intenção de Paulo quando faz essa saudação, pois as práticas daquelas pessoas não poderiam refletir necessariamente um estado de santidade, mas Deus os via assim, como santos. Essa é a santificação que denominamos posicional. Os salvos em Cristo estão numa posição de santidade diante de Deus. Notemos que o fato de não sermos perfeitos não nos isenta de andar em santidade, pois é preciso continuamente uma mudança de vida. Paulo, após mencionar várias práticas pecaminosas antigas dos coríntios, diz: “E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.11). A comparação paulina servia para que eles compreendessem que pessoas santas não deveriam mais praticar as coisas erradas que antes praticavam.
Embora Paulo faça questão de mostrar os pecados com que os coríntios estavam habituados na sua vida pregressa, ele o faz para destacar a diferença que aqueles crentes deveriam manifestar em sua nova vida com Deus. A sua posição diante do Senhor não deveria ser desprezada por meio do retorno àquelas práticas. Vale a pena ressaltar que a santificação e a justificação são partes integrantes da salvação, mas com finalidades específicas. Diante de Deus somos santos, mas também justos, pois fomos perdoados e não há mais condenação contra nós. Os crentes coríntios haviam sido salvos, justificados e santificados, e deveriam entender a importância desses fatores em suas vidas.
2. A santificação progressiva
Somos chamados por Deus para seguir em frente na caminhada cristã, nunca para retroceder. A cada ocasião em que um servo de Deus resiste ao pecado, ele não somente glorifica a Deus em suas ações, mas também cresce em santidade. Esse crescimento nos leva a ser mais parecidos com Cristo, e a progressão não deve ser vista como algo ruim, pois a cada dia crescemos em santidade. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18). É certo que da parte humana, no que nos cabe, a progressão na santificação envolve a ação do indivíduo. “Porque esta é Aqui podemos perceber um trabalho conjunto entre a vontade de Deus e a ação humana. A vontade divina é que guardemos os nossos corpos da qualquer contaminação que advenha de um ato sexual desaprovado por Deus. A prostituição era e ainda é um mal que faz com que a sexualidade sadia se torne uma corrompida e leve seus praticantes ao Inferno. Assim sendo, a santidade deve ser vista não somente na nossa iniciativa de buscar ao Senhor, de ser submissos à voz do Espírito e de nos alimentarmos com a Palavra de Deus. A santificação também passa pelo nosso intelecto e pelas nossas ações. Não é ao Espírito Santo que Paulo escreve orientando que haja abstenção para com a prostituição, e sim aos crentes a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição” (1 Ts 4.3).
3. A santificação perfeita ou final
Neste mundo teremos de lidar sempre com conflitos e tentações que podem nos levar ao pecado, mas quando formos glorificados, quando nossos corpos forem transformados, quando estivermos para sempre com o Senhor, não nos preocuparemos mais com os desafios que passamos neste mundo a fim de não pecar. Não pecaremos mais, nem estaremos sujeitos à morte, e usufruiremos do estado da santificação perfeita com Deus. Ela ainda ocorrerá em sua plenitude.
Ainda abordando a santificação e a sua conexão com a obra de Cristo na cruz, devemos entender que esta abre o caminho para a santificação, e que a santificação do salvo acontece diariamente, completando a obra de Deus na vida do crente.
III – A SANTIDADE NA PRÁTICA
1. A santidade na vida diária
Diante da realidade de que servimos a um Deus santo e o representamos nesta terra, é preciso que externemos a santidade em que o Espírito Santo nos ajuda a crescer. Portanto, como filhos de Deus, devemos ser presentes onde o Senhor nos enviar e ali refletir a sua glória. O desejo de Deus é que sejamos santos interagindo com o ambiente que nos cerca, afinal, somos o sal da terra (Mt 5.13) Podemos manifestar santidade de diversas formas bem práticas. Nos estudos, se Deus nos permitiu estar em um ambiente acadêmico ou de aprendizagem profissional. Tal momento na vida de uma pessoa é importante, pois ela está ali para aprender uma profissão ou uma técnica de trabalho que pode sustentar a ela e à sua família. E se não nos dedicarmos ao momento ímpar que Ele nos concede, de nos aperfeiçoar intelectual e profissionalmente, deixamos de santificar a Deus com o nosso intelecto e o nosso testemunho na escola ou na universidade. Ser estudantes de excelência é uma forma de glorificar a Deus e santificar o seu nome diante de pessoas que desconhecem o evangelho. Podemos manifestar a santidade na família. Se ignoramos a nossa família, contemplando somente as limitações que ela tem, deixamosde santificar a Deus dentro de casa, de honrar os pais e de ser posteriormente referência para os nossos filhos. Há filhos que desprezam não só os conselhos e orientações de seus pais, mas também desprezam seus próprios pais. Mesmo que haja em nossa família pais que ainda não servem ao Senhor, eles precisam ser honrados, pois Deus assim o deseja. E os pais podem abençoar seus filhos demonstrando a santidade no convívio com eles no lar. Lembre-se de que a santidade de Deus em nós deve ser vista em nossas ações. Isso significa a nossa forma de vestir, falar, trabalhar e conviver com outras pessoas. Santos de Deus não se portam de forma vergonhosa no trabalho, ou no ambiente de estudos, ou familiar. Pessoas santas têm uma linguagem que inspira os ouvintes a pensar nas coisas de Deus. Quem é guiado pelo Espírito não se envolve em negócios reprováveis, se mantém fiel em qualquer ambiente, mesmo que ninguém esteja olhando, pois esses são traços do caráter de quem vai para o Céu. A santidade é percebida na fidelidade entre os cônjuges, e na nossa forma de lidar com o dinheiro. Por mais que tenhamos destacado essas modalidades, elas não são restritivas, pois a santidade deve ser vista em todas as nossas relações.
2. Somos santificados pela Palavra
O Senhor Jesus sabia da importância da santificação, bem como do preço que se paga para que o crente tenha uma vida de santidade. Por isso, Ele orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). O Senhor nos mostra que o tempo dedicado à leitura tem uma enorme influência na nossa vida espiritual, especificamente para a santidade. Se entendermos que ser santo é ser separado para Deus e não pecar, lembraremos de Salmos 119.11: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti”. À medida que nos dedicamos à leitura, à meditação e aos estudos da Palavra, entendemos melhor o caminho de Deus para a nossa santificação. Quando a Palavra ocupa espaço em nossa mente, temos menos tempo para focar nas coisas deste mundo. Não há nenhum cristão que não possa crescer em santificação, independentemente do seguimento teológico ao qual tenha se afiliado. Um cristão pode se achar predestinado à salvação, e outro cristão pode entender que foi o seu livre-arbítrio, orientado pela graça de Deus, que o conduziu a Cristo, mas ambos os irmãos precisam buscar a santidade.
CONCLUSÃO
A moralidade cristã, expressa por meio da santificação, é algo que deve ser vivenciado por todos aqueles que aceitaram a Jesus e nasceram de novo. Nenhum crente tem autorização para dizer que não precisa se santificar, pois a nossa santificação agrada a Deus e faz parte da nossa salvação. A santidade representa um desafio diário para todos aqueles que ainda vivem neste mundo, e que precisam diariamente depender do Espírito nessa empreitada. Se cremos na vida eterna, e que um dia estaremos diante de Deus para ouvir “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mt 25.21), precisamos nos acostumar com a santidade como um elemento que nos levará para a glória, e “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
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