Lição 2 – A Realidade do Deus da Bíblia
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
Introdução
As religiões do mundo costumam ser divididas em religiões politeístas e monoteístas. Enquanto naquelas há uma pluralidade de deuses, nestas somente há espaço para um único Deus. O cristianismo é, por essência, uma fé monoteísta. A existência de um único Deus, em três pessoas, é um dos pilares do cristianismo. A partir dessa premissa, tudo o que veremos na sequência depende do entendimento de que Deus existe, que criou todas as coisas e que se revelou a nós pela sua vontade. É Deus que dá origem à vida, a todas as coisas, organiza o mundo e tudo o que nele há. Ele também é o responsável pela criação do homem e da mulher. Esse Deus se revela de forma específica revelando seu caráter, sua essência e sua vontade à humanidade, e nos apresenta em sua Palavra o plano da salvação. Acerca desse Deus e de sua revelação estudaremos neste capítulo.
I – Deus e sua Existência
1. Deus existe
A fé cristã se baseia na certeza da existência de Deus. A Bíblia, em Gênesis 1.1, deixa claro não somente a existência dEle, mas igualmente o seu poder e a sua iniciativa por meio do ato da criação quando nem mesmo o tempo ainda era contado: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Esse primeiro verso das Escrituras nos mostra que o universo e o nosso planeta não são eternos, ou seja, que foram criados. Mostra também que houve uma atividade inicial, dada por Deus, para que tudo o que vemos viesse a existir. E mostra que a Bíblia não se preocupa em demonstrar a existência de Deus para pessoas que têm dúvidas. Na verdade, ela já parte do pressuposto de que Deus existe antes de tudo. Tudo o que vemos teve um começo, e isso se deu pela vontade de Deus. Nada no mundo surgiu do acaso, do nada, pois o nada nada cria. E para que não houvesse dúvidas acerca dessa realidade, Deus se “descortinou” a todos, por meio de um processo inteligente, alcançável pelo entendimento humano, chamado revelação. Esse debate é importante, pois da existência de Deus decorrem outros temas, como a sua revelação, seus planos, sua criação, sua vontade e os últimos dias da humanidade nesta terra. Se Deus não existe, não há que se falar de uma revelação que mostre quem esse Deus é, nem se pode determinar o que fez. Se não há um Deus, não há que se estipular um padrão moral de conduta que seja absoluto para todas as culturas, pois qualquer forma de pensamento ou padrão moral que não seja estabelecido por Deus seria considerado válido se Deus não existisse.
2. Uma revelação geral
O Deus criador mostrou sua existência à humanidade por meio de sua criação, e essa revelação, chamada de “natural”, se baseia justamente na certeza de que os atos criativos de Deus, ou seja, a sua obra, se manifestam na natureza, têm a capacidade de, mesmo de forma limitada, mostrar que o homem e o mundo tiveram uma origem, que não são frutos de um acidente cósmico ou resultado de uma ação de forças impessoais. É possível que o homem decida negar intelectualmente a Deus e sua existência. Romanos 1.18 declara que “[…] do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça”. Paulo deixa claro que há pessoas que, deliberadamente, reconhecem a existência de Deus, mas preferem negá-la e transformá-la em algo injusto. Esses homens são “indesculpáveis” (Rm 1.20, ARA) por decidirem usar seus intelectos para rejeitar a Deus e sua justiça. Não se trata da aceitação de uma ideia filosófica ou de uma discussão acadêmica, pois a rejeição ao reconhecimento da existência de Deus é o primeiro passo para a prática da injustiça. Poderíamos pensar que a rejeição intelectual a Deus e a sua revelação seriam vistas em ambientes de pouca possibilidade de instrução. Entretanto, Timothy Keller realça a seriedade do que vemos em nossos dias nos ambientes acadêmicos, locais onde, em tese, as ideias poderiam ser debatidas com isenção.
Tal fato deve nos chamar a atenção, pois dos ambientes acadêmicos saem as grandes lideranças mundiais, que posteriormente insistirão em desacreditar a Deus e sua Palavra, e a veracidade da fé cristã.
3. Uma revelação específica
O homem comum, ainda que esteja sob efeito do pecado, não está isento de reconhecer que há um Deus que opera todas as coisas pela sua santa vontade e justiça. É possível ilustrar tal fato observando o caso dos habitantes da ilha de Malta, para onde Paulo e os demais prisioneiros náufragos foram levados por Deus. Para que se aquecessem do frio, os nativos da ilha, chamados por Lucas de “bárbaros”, acenderam uma grande fogueira para os náufragos por causa do frio e da chuva. Paulo recolhe algumas vides e é picado por uma cobra venenosa, motivo pelo qual os habitantes da ilha concluem: “Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a Justiça não o deixa viver” (At 28.4). Aqueles homens não conheciam o Deus revelado nas Escrituras, mas sabiam que há uma justiça divina que não deixa escapar dos seus atos aqueles que praticam o mal. Graças àquele evento, os habitantes da ilha de Malta puderam ouvir o evangelho, pois Paulo foi livrado por Deus da morte.
Não há como negar que a consciência tem um poder incrível de influência na forma de pensar do homem, ainda que este possa ignorar seus avisos. Ela é o juiz interior que nos julga de acordo com os nossos feitos, condenando-nos ou absolvendo-nos. Mas a revelação geral e a consciência se mostram insuficientes diante da pecaminosidade do homem, e, por isso, Deus proveu a sua Palavra inspirada para que houvesse uma comunicação direta para com o intelecto humano.
II – Ideias acerca da Pessoa de Deus
1. Ateísmo
Na história da humanidade, é possível ver que há uma divisão entre as pessoas que creem que Deus existe, e que criou todas as coisas, e há as pessoas que não acreditam na existência do Senhor e no seu poder. A este último grupo, denominamos “ateus”, pessoas que discordam, em seus pensamentos e ações, da existência de um Ser poderoso e supremo, que fez todas as coisas e que intervém na história. Essa ideia de que não há um Deus não é recente. Há milhares de anos, Salmos 53.1 já advertia: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. A negação acerca da existência de Deus começa no íntimo do homem, de maneira velada, com a ideia da ausência divina como uma semente que está em germinação. A Palavra de Deus não diz que essa negação é exteriorizada de forma imediata, mas diz que ela começa no coração, entre os pensamentos do homem. O fruto dessa negação intelectual alcança as ações da pessoa, o que é demonstrado pelo salmista no mesmo versículo: “Tem-se corrompido e cometido abominável iniquidade”. Há uma séria conexão entre a crença na não existência de Deus e as ações que conduzem o homem a praticar atos abomináveis. A Bíblia afirma que a negação à existência de Deus tem resultados bem práticos.
Outro aspecto do ateísmo é a negação da criação. Se Deus não existe, então tudo o que vemos surgiu do acaso, e não com uma intencionalidade. Esse pensamento tem achado guarida entre as pessoas que aceitam a Teoria da Evolução como sendo uma lei, e entre aqueles que acreditam que tudo o que existe é simplesmente matéria. Para tais pensadores, Gênesis 1 e 2 são meras mitologias, e não fatos.
2. Panteísmo
O panteísmo é a visão que mostra Deus como sendo participante de sua obra criada. Para o panteísta, Deus é tudo e tudo é Deus. Mas aqui reside um problema. A Bíblia diz que Deus fez todas as coisas. Ela também diz que o Deus criador se utiliza de sua criação para mostrar um pouco do seu poder: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl 19.1). O salmista deixa claro que a criação e o seu Criador possuem uma conexão, mas não se misturam, da mesma forma que uma pintura não é o pintor, e sim uma obra deste. Diferente do ateu, o panteísta acredita que Deus se misturou com a sua criação, e, dessa forma, os elementos da natureza e do universo são Deus também. A criação tem sua importância dentro do plano de Deus, e isso é inegável. Mas Deus não se mistura com a sua criação.
3. Deísmo
O deísmo se baseia na perspectiva de que Deus criou todas as coisas, sendo, portanto, um Deus todo poderoso. Entretanto, esse Deus limitou-se a criar o mundo e os homens, mas não interfere na história da humanidade, deixando, portanto, os homens viverem à sua própria sorte, de acordo com o seu próprio entendimento. A partir dessa visão, os homens têm liberdade para fazer o que desejarem, pois, para eles, Deus não intervirá na história, nem nas ações dessas pessoas. A intervenção divina, para o deísmo, não existe, visto que Deus não se importa mais com a sua criação. Já bastaria a Ele ter criado o mundo e os homens. É como se Ele fosse um pai ausente, que gerou um filho, mas deixa-o viver como desejar, com autonomia para tomar suas decisões sem se importar com a eternidade.
Os deístas, portanto, acreditam em Deus e no seu poder de criação, mas se negam a crer que Ele intervenha de modo sobrenatural no mundo que criou.
4. Teísmo
O teísmo é a perspectiva de que Deus existe, criou todas as coisas, e que se envolve diretamente em sua criação. Enquanto no deísmo Deus não intervém em nada, no teísmo Deus está presente, atuando de forma direta na história da humanidade, revelando sua vontade e zelando pela sua criação. O teísmo rejeita o panteísmo por este tentar unir a criatura com o Criador, fazendo dos dois, um. Rejeita também o deísmo, pois Deus é presente na história da humanidade e intervém nela, e rejeita o ateísmo, pois entende que Deus existe e sua existência pode ser comprovada de diversas formas
III – Deus de Amor e de Justiça
1. O amor de Deus
A Bíblia mostra a boa vontade de Deus para com a humanidade em João 3.16. João nos mostra que o Pai proveu, em Jesus, a maior demonstração de amor possível de ser expressa: de entregar seu próprio Filho para morrer pelos seus inimigos. Apesar de a humanidade ter sido alcançada pelo pecado e suas consequências, Deus trouxe a salvação, revelando-se a si mesmo através da história de Israel, povo que Ele separou para apresentar ao mundo o Senhor Jesus Cristo. Há quem acredite que o amor de Deus é maior do que qualquer outra coisa. Na estrada dessa premissa, essas pessoas imaginam que Deus é somente amor e se esquecem de que Ele também é um Deus justo, e que a justiça divina é um dos atributos de Deus, da mesma forma que o amor o é.
2. A justiça de Deus
Uma verdade com a qual precisamos lidar é que Deus é amor, mas também preza pela justiça. A palavra “justiça” traz a ideia de “dar a cada um aquilo que lhe é devido”. Conforme Romanos 2.6, em sua justiça, Deus “recompensará cada um segundo as suas obras”. Em sua sabedoria e santidade, Deus não pode atribuir inocência a alguém que pratica a maldade e que é mau. Inocentar uma pessoa que cometeu um pecado, que desafiou os mandamentos divinos, não faz parte da natureza divina, pois tais ações implicam uma retribuição. Se uma pessoa faz o mal, ela receberá como recompensa uma pena pela sua ação. Essa é a definição de justiça. Diferente dos homens, que são injustos e tentam praticar coisas pelas quais responderão nesta vida e na eternidade, Deus sempre julga de forma correta. Todas as pessoas desejam que, um dia, se precisarem, a justiça esteja ao seu lado. Mas a verdade é que, em tese, a justiça existe para que possa punir quem fez o mal e recompensar quem trilhou caminhos que a lei orientou. Então, lei e justiça andariam juntas. A lei seria a base para se estipular uma justiça, pois a lei precisa indicar o que é uma ação tida por certa dentro de uma sociedade, e, assim fazendo, estabelece-se um padrão do que é justo ou não. A Lei de Deus, no aspecto espiritual, é que determina o que é o certo e o errado, É preciso notar que o amor de Deus é manifesto em João 3.16, quando Ele, por amor, envia seu Filho para nos salvar, mas é preciso pontuar que essa salvação é necessária para que se cumpra a justiça de Deus.
3. A graça de Deus
Quando falamos de graça, estamos nos referindo a um favor que recebemos, mas que não merecemos, um ato de generosidade. Em sua soberania, Deus estabeleceu as regras que seriam o patamar para nos relacionarmos com Ele. Esse relacionamento não seria pelas obras, pois estas seriam diferentes umas das outras, da mesma forma que nós somos diferentes uns dos outros. Ele estabeleceu a graça, numa demonstração de misericórdia para com os transgressores. Enquanto os homens tentam se achegar a Deus por meio de suas obras, Deus nos oferece a sua graça para que nos aproximemos dEle.
Conclusão
Tratar acerca da pessoa de Deus é um grande desafio para os que não creem na inspiração das Escrituras, pois para os que creem, o desafio é apresentar essas verdades conforme as Escrituras. Diante das diversas opções de classificar Deus e sua existência, a Bíblia Sagrada mostra claramente que não estamos sozinhos, que o Senhor existe e que é pela fé que podemos nos achegar a Ele: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus cria que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6).
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
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