Lição 12 – O papel da pregação no culto
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – MINISTÉRIO DA PALAVRA E SEU PROPÓSITO
II – O MINISTÉRIO DA PALAVRA E SUA IMPORTÂNCIA
III – O MINISTÉRIO DA PALAVRA E SUA FUNDAMENTAÇÃO
CONCLUSÃO
O Boom da Pregação
Hoje está na moda pregar. As redes sociais tornaram-se uma grande vitrine onde é possível encontrar pregações e pregadores de todos os tipos e para todos os gostos.1 Existem pregadores que se orgulham de possuir milhares de seguidores virtuais, mas não têm nem mesmo uma igreja para pastorear. Se o ambiente virtual já era o espaço preferido dos pregadores, essa preferência se tornou uma obsessão com a monetização de conteúdos produzidos. A pregação nunca foi um negócio tão rentável como está sendo agora. Não é somente pregar, mas lucrar com aquilo que se prega. É garantir likes, curtidas e visualizações, pois isso torna o pregador mais famoso e, consequentemente, garantia de lucro certo. Dessa forma, a pregação perdeu a sua sacralidade. Assim, não é incomum vermos vídeos que são produzidos na cozinha, em aeroportos e até mesmo dentro de banheiros mostrando suposto conteúdo “evangélico”. Não é o lugar que demoniza esses vídeos, mas a avareza e ganância que preenche seus conteúdos. São ferramentas para ganhar dinheiro.
Parece haver uma lógica para isso. É preciso postar porque o ambiente virtual criou os viciados em mensagens. Assim como há, por exemplo, o dependente químico, o viciado em álcool e fumo, da mesma forma existe também o viciado em pregação. O vício cria uma realidade imaginária e produz ilusões. O mesmo princípio pode ser visto no consumidor de mensagens. Nesse aspecto, a pregação não passa de entretenimento. Como o dependente químico pode ser conhecido por algumas características, assim também o viciado em mensagens virtuais. Geralmente essas pessoas são obesas espirituais. De tanto ouvir mensagens, estão empanturradas delas. Isso cria um estranho efeito colateral — passam a não gostar da sua igreja local e muito menos do seu pastor. Ficam enfastiados de ambos. Tornam-se desigrejados. Assim, passam a conhecer tudo sobre pregação, mas eles mesmos não pregam nada.
Acredito que tudo isso acontece por conta de uma ideia errada do que seja uma pregação. Com tanto glamour criado em volta de grandes pregadores, que se tornaram verdadeiras celebridades, a pregação passou a ser conhecida mais como uma oratória rebuscada do que como um testemunho cristão. Uma mera retórica. Um pregador habilidoso, por exemplo, que sabe explorar as emoções e por uma pitada de Bíblia dentro da sua pregação consegue vender uma heresia como se fosse a mais pura e genuína mensagem bíblica.
A Importância da Pregação
Convém dizer que nada do que foi dito até aqui sobre os artistas de púlpitos virtuais em nada diminui o valor da verdadeira pregação e sua importância. A pregação é a mais poderosa ferramenta que Deus usa para salvar os perdidos. “[…] Deus achou por bem salvar os que creem por meio da loucura da pregação” (1 Co 1.21, NAA). A pregação nos revela Deus e nos conduz até Jesus Cristo. Na verdade, somos igreja por causa da pregação. A pregação é o instrumento que o Espírito Santo usa para nos revelar Jesus. Lídia, a vendedora de púrpura da cidade de Tiatira, se converteu quando ouviu Paulo pregando. “E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia” (At 16.14). Essa convicção para a salvação vem por obra do Espírito Santo quando a mensagem da cruz é ouvida (Jo 16.7-11). A pregação do evangelho, portanto, é o instrumento que o Espírito usa para gerar o novo nascimento.
Jesus Cristo valeu-se da pregação para proclamar libertação aos cativos (Lc 4.18). O verbo grego traduzido como “proclamar”, kerysso, de acordo com os léxicos de Bauer e Kittel, refere-se a “pregação do Evangelho como a palavra autorizada (obrigatória) de Deus, trazendo responsabilidade eterna a todos que a ouvem”.2 Mateus usa esse termo para dizer que Jesus “começou a pregar” (Mt 4.17, NAA); que andava nas sinagogas “pregando o evangelho” (Mt 4.23); e que Jesus percorria “todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do Reino” (Mt 9.35). Por sua vez, Lucas diz que Jesus enviou os apóstolos “a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9.2).
O livro de Atos mostra com toda clareza que a pregação era a força propulsora do ministério da igreja. Assim, quando Filipe foi à cidade de Samaria, ele “pregava a Cristo” (At 8.5); por sua vez, Paulo, logo após sua dramática conversão, “pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus” (At 19.20); Pedro lembra na casa de Cornélio, o centurião romano, que Jesus os havia mandado “pregar ao povo” (At 10.42). Da mesma forma, Paulo diz aos presbíteros reunidos em Mileto que sua estadia com eles foi marcada pela pregação do Reino de Deus (At 20.25).
Dessa forma,
A história da Igreja cristã tem sido moldada pela pregação desde o tempo dos apóstolos. A pregação bíblica exercia um papel central nas reuniões regulares da Igreja Primitiva (Atos 2:42). Os apóstolos eram liberados das responsabilidades de uma igreja crescente para se concentrarem em oração e pregação (Atos 6:3-4). Pedro modelou a pregação bíblica usando as Escrituras do Antigo Testamento para revelar a centralidade de Jesus Cristo no plano de Deus para redimir seu povo (Atos 2:14-36). Como missionário, Paulo usou a pregação como seu meio de espalhar o evangelho por todo o mundo conhecido. A proclamação de Paulo era doutrinal e apologética, argumentava em prol da ressurreição e apelava aos fiéis para que levassem vidas ressurretas (Colossenses 3:1-3). Paulo transmitiu o legado da pregação para os seus discípulos, exortando-os a pregar a Palavra e encarregar outras pessoas fiéis da mesma tarefa (2Timóteo 2:2; 4:2).3
A pregação também foi o eixo central do ministério do apóstolo Paulo. O mesmo verbo grego, Kerysso, também é usado com frequência para se referir ao ministério de pregação do apóstolo dos gentios. Para Paulo, a “pregação” é a “palavra da fé, que pregamos” (Rm 10.8); que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13). Contudo, “como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14). Paulo enfatizava que pregava “a Cristo crucificado” (1 Co 1.23). Sua recomendação a seu jovem discípulo, Timóteo, foi que “pregues a Palavra” (2 Tm 4.2).
Dessa forma, a pregação moldou o ministério de Paulo:
Podemos começar observando a centralidade do discurso público no ministério de Paulo em Atos. Imediatamente após a sua conversão (Atos 9:1-19), Paulo começa a pregar (Atos 9:20, kërysso). Quando Barnabé o recomenda aos apóstolos em Jerusalém, ele o faz por sua fala corajosa (parrësiazomai, Atos 9:27), à qual o recém-convertido dá continuação com entusiasmo (Atos 9:28). Quando Paulo é enviado em sua viagem missionária inicial pelo Espírito Santo em Atos 13.4, a primeira referência à atividade de proclamação (katangello) ocorre imediatamente (Atos 13:5). A partir desse ponto, a proclamação é o elemento mais persistente no relato sobre a atividade missionária de Paulo. O termo usado pode ser euangelizo, kērysső, katangellő, peithö, parrësiazomai, dialegö, martyreő, diamartyromai, para didômi ou didasko, e o público pode ser grande ou pequeno, formal ou informal, ao ar livre ou do lado de dentro, a pregação permanece no centro do ministério de Paulo. Portanto, não nos surpreendemos quando o último versículo de Atos se despede de Paulo, dizendo que ele “pregava [kërusso] o reino de Deus e ensinava [didasko] a respeito do Senhor Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento algum” (Atos 28:31).4
Como foi exposto, a pregação do evangelho foi central nos ministérios de Jesus, seus apóstolos e da igreja em geral. Não podemos, portanto, minimizar a importância da pregação. Infelizmente muitos vulgarizam a pregação em vez de valorizá-la. Isso é feito quando a pregação se torna um mero trampolim para que se chegue a determinado fim. Nesse caso, os fins justificam os meios e esses meios nem sempre são tão dignos quanto parecem. Nesse aspecto, algo tão sagrado como a pregação é usado para a promoção pessoal. Não é incomum vermos pregadores e cantores famosos ostentarem nas redes sociais bens materiais que conseguiram angariar através do ministério da pregação e do louvor. Biblicamente, “a bênção do Senhor é que enriquece” (Pv 10.22). Não há nada errado com a prosperidade genuinamente bíblica. Sem dúvidas, um dos instrumentos que Deus usa para nos abençoar é o ministério da palavra. Contudo, garantir posses ou qualquer outra bênção material jamais foi o real propósito da pregação.
Texto extraído da obra, “O Corpo de Cristo”, livro de apoio ao 3º trimestre, publicado pela CPAD.
1 Evidentemente, que não se pode demonizar a internet de tal forma que tudo o que ela veicula seja ruim ou nocivo. Assim também com a pregação. Há bons pregadores nas redes e consequentemente boas mensagens. Contudo, não creio que o ambiente virtual seja a principal fonte de alimentação espiritual do cristão como me parece está acontecendo com uma boa parte da população evangélica. O uso do ambiente virtual não pode criar a falsa impressão de que a igreja local não é importante. A igreja local pode ter seu espaço virtual, contudo, é na sua existencial real, concreta que ela existe. Igreja é corpo e corpo exige contato. Portanto, o uso das redes sociais nunca deve ser a fonte principal de alimentação espiritual do cristão, mas uma complementação que deve ser usada com moderação.
2 BAUER, Walter; DANKE, Frederick. A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (University of Chicago Press); KITTEL, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament 10-vol (Eerdmans).
3 FORREST, Benjamin K; KING, Kevin, L; CURTIS, Bill; MILLIONI, Dwayne. História da Pregação: a vida, teologia e método dos maiores pregadores da história. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.
4 FORREST, Benjamin K; KING, Kevin, L; CURTIS, Bill; MILLIONI, Dwayne. História da Pregação: a vida, teologia e método dos maiores pregadores da história. São Paulo: Thomas Nelson