Lição 9 – Fé para crer na salvação eterna
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Eduardo Leandro Alves, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
A compreensão da salvação eterna está intrinsecamente ligada à esperança cristã da salvação/vida eterna. É possível que não exista um consenso sobre a origem do pecado; no entanto, sobre a origem da salvação, não resta dúvida entre teólogos ortodoxos de que Deus é o autor da salvação, pois, apesar do pecado dos seres humanos, a salvação vem do Céu e tem a sua origem em Deus. Vários termos hebraicos e gregos são utilizados na Bíblia para referir-se à salvação, desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento. No hebraico, a raiz mais importante para salvação é yasha, que significa “liberdade” ou “libertar daquilo que prende”. Existem vários substantivos derivados dessa raiz, e todos trazem a ideia de “libertar” ou “resgatar”.
Salvação significa uma milagrosa transformação realizada na vida espiritual e no caráter de todo ser humano que, pela fé, recebe Jesus como o seu único Salvador pessoal. Não se trata unicamente de livramento da condenação ao Inferno, mas de todo o processo redentor e transformador da parte de Deus para com o ser humano e toda a criação (Jo 1.12; 3.5; 2 Co 5.17; Rm 13.11; Hb 7.25). Pode-se dizer que a salvação é a vontade de Deus, que decretou desde a eternidade que a salvação possui a sua origem nEle para os que cressem: “do Senhor vem a salvação” (Jn 2.9). Nas palavras do apóstolo João, os salvos são “filhos […] os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1.13). Entre tantos textos, podemos acrescentar as palavras do apóstolo Paulo: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16), pois “nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5). Ou seja, a salvação tem a sua origem em Deus, que decidiu salvar a todos, pois, de outra maneira, ninguém poderia ser salvo.
Opções Seculares
Søren Kierkegaard, conhecido como o “ancestral espiritual do existencialismo moderno”, considerava que a vida é uma aventura em que somos sustentados por nossa confiança num Deus gracioso. No entanto, os existencialistas da atualidade, em especial da variante secular, abandonaram o ponto de referência metafísico (que transcende a natureza física das coisas) e percebem a vida somente dentro dos limites deste mundo. 1 Existe a possibilidade de expandir as discussões em relação à negação da vida eterna a partir de vários posicionamentos filosóficos ateístas. Por questões de espaço, optamos por focar nos pensadores abaixo relacionados. Karl Marx e Friedrich Engels são considerados os “pais” filosóficos do comunismo marxista. Surgindo aproximadamente um século depois do existencialismo secular, o comunismo marxista ainda atrai muitos adeptos que, com variações posteriores ao pensamento inicial defendido por Karl Marx e Friedrich Engels no livro Manifesto do Partido Comunista (1847), propõem satisfazer as necessidades da humanidade. No entanto, não era apenas na rebelião contra a ordem vigente, muito frequentemente injusta e degradante, que deveriam ser incentivo para uma revolução global. Marx estava convencido de que, somente quando a religião como felicidade ilusória fosse abolida, a questão da felicidade real poderia ser alcançada. Para eles, a religião projeta um céu ilusório e imaginário a fim de amortecer o anelo pelo céu real, isto é, por uma nova situação econômica e social na terra. Logo, para tais pensadores, a vida eterna e salvação não existem, apenas cumprem um papel de amortecer as consciências para a vida real no aqui e agora. Outro importante filósofo foi Martin Heidegger, possivelmente o mais proeminente representante do existencialismo contemporâneo. O seu livro Ser e Tempo2 é um marco nas discussões filosóficas sobre o existencialismo da atualidade. A tese apresentada nesse livro procura compreender o tempo como o horizonte possível para nossa compreensão do ser que encontra o seu fim na morte. Na sua visão, nossa vida neste mundo está cercada pela possibilidade da morte, e a humanidade é descrita por ele como vivendo em solidão, na iminência da sua própria destruição. Ele não considera a possibilidade de que nossa compreensão dessa vida possa ser decisivamente moldada pela promessa divina de complemento de nossa vida na eternidade.
Já o filósofo Jean-Paul Sartre, no seu sistema básico, apresentado no livro O ser e o Nada, 3 de 1943, propõe excluir qualquer ponto de partida (ou final) relacionado a uma realidade espiritual última. Sartre descreve a vida como uma situação de desesperança, da qual não há escapatória, uma situação que, se não terminar em desespero, é absurda. No seu existencialismo, ele não mostra uma saída ou dá qualquer orientação para que se tenha uma vida com sentido em face da crescente incerteza a respeito do futuro. “A abordagem de Sartre é, na melhor das hipóteses, somente uma descrição de nossa situação precária. Ele não nos mostra uma saída ou nos dá qualquer orientação para uma vida com sentido em face da crescente incerteza a respeito do futuro.”4
O Conteúdo da Esperança Cristã
Como oposto aos filósofos citados acima, temos a fé, pois o cristianismo fala sobre a esperança. Como dizem as Escrituras, a fé é a esperança naquilo que ainda não se vê (Hb 11.1). A Bíblia apresenta-nos a esperança que os existencialistas e materialistas não puderam alcançar nas suas divagações. O apóstolo Paulo exprimiu de forma vívida o contraste entre as duas existências, natural e finita, com a sobrenatural e infinita. Ao mesmo tempo que há ruptura, há continuidade, onde o mortal será absorvido pela imortalidade, e o corruptível, pela incorruptibilidade (2 Co 5.4), provendo a existência de significado maior que a finitude da vida. É fato, e isso os existencialistas estavam certos, que morte é o limite desta vida. Ela anula todas as diferenças que podemos experimentar nesta vida. No entanto, a morte para o cristão possui significados importantíssimos, visto que não é um fim em si mesma. Um deles é a clareza de que somos mortais, dessa forma diferentes de Deus, que não envelhece e nem morre. Descobrimos a morte, como seres humanos na jornada da vida. Nessa jornada, estamos numa sequência de abandono das coisas: coisas que pertencem à juventude, à maturidade ou à velhice. Assim, a morte é tanto uma demarcação quanto um processo. A morte é o não inevitável de Deus sobre como conduzimos nossa vida e a consequência inevitável de uma existência marcada pela entrada do pecado na criação. O temor da morte, de descer à sepultura, é também, de certa forma, o temor de encontrar-se com Deus e de fatalmente ser confrontado com as escolhas que se fez em vida. A morte para o cristão, portanto, é a pré-condição para a nova vida e o outro lado da ressurreição (1 Co 15.35-38).
A ressurreição é a mais notável de todas as características da mensagem cristã desde os primórdios. Os primeiros pregadores do cristianismo estavam convictos de que Cristo havia ressuscitado e, com isso, também estavam certos de que os seguidores de Cristo no seu tempo haveriam de ressuscitar. Essa compreensão destacava-os de todos os mestres do mundo antigo. A ideia cristã de ressurreição deve ser distinguida das ideias gregas e judaicas. Os gregos reputavam o corpo como um obstáculo para a verdadeira vida e ansiavam pelo tempo em que a alma seria livre das suas algemas. Concebiam a vida após a morte em termos de imortalidade da alma, ainda que rejeitassem firmemente a ideia da ressurreição, tal como demonstra a zombaria que fizeram em relação ao apóstolo Paulo quando este pregava sobre a ressurreição em Atenas (At 17.32). Por sua vez, os judeus defendiam que o corpo seria ressuscitado, mas que os valores do corpo seriam mantidos após a ressurreição, ou seja, não haveria alteração no corpo ressurreto. Já os cristãos pensam no corpo como algo que será ressuscitado, porém transformado num corpo glorificado que terá condições de receber e viver num mundo completamente diferente da era atual (1 Co 15.42ss). Assim, a ideia cristã da ressurreição é distinta das demais e, ao mesmo tempo, completa.5 Os Salvos e a Vida Eterna O que é a salvação? A compreensão de salvação é tão ampla quanto as necessidades do ser humano. Nas Escrituras, a compreensão de salvação perpassa os aspectos físicos e o livramento moral e espiritual. Dessa forma, por exemplo, partes do Antigo Testamento dão ênfase aos servos de Deus que, individualmente, escaparam das mãos dos seus inimigos; outras partes apresentam a emancipação do povo de Israel da escravidão e o estabelecimento na Terra Prometida. A sequência do texto bíblico coloca a ênfase sobre as condições e as qualidades morais e religiosas do povo, extensiva a outras nações (Is 45.17; 53; Dn 7.13). O Novo Testamento deixa clara a inclinação da natureza humana para o pecado, os perigos e o livramento do poder e do corpo do pecado, que pode ser encontrado exclusivamente na fé em Cristo Jesus como Salvador (Jo 3.5,14,17; 10.10; 11.25; 2 Co 5.18; 2 Tm 3.15). Dessa forma, a Bíblia apresenta-nos um relato completo que desdobra como Deus proveu a base da salvação, tendo-se apresentado pessoalmente como Salvador ao homem. Podemos falar da salvação em termos de passado, presente e futuro. Ou seja, o ser humano está salvo, está sendo salvo e será salvo (Ef 2.8; 1 Co 1.18; Mt 10.22; Rm 5.9,10; 8.34).
O cristianismo é o único a apresentar a salvação como habitar com Deus, desfrutar da sua presença, visto que Deus é pessoal no cristianismo. A vida nesse mundo é permeada por lutas, batalhas e tristezas. Mas a promessa para os salvos em Cristo é muito clara: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4, ARA).
A Bíblia descreve um lugar perfeito para os salvos que não serão mais turbados pela desgraça da era atual, pois, finalmente, cada ser humano salvo estará abrigado na proximidade com Deus. Assim como cada pessoa já possuiu (ou possui) uma mãe, cada redimido terá Deus e jamais se sentirá só novamente! Na eternidade, os salvos não choram mais, porque a morte, com toda as suas formas prévias e dolorosas consequências, será totalmente substituída pela vida. Podemos dizer que três termos ilustram o mundo em que se morre:
1) luto, que se arrasta inconsolável;
2) pranto (grito) isolado e de desespero;
3) dor, uma dor psíquica que revolve a alma.
Mas a promessa é clara: nada disso existirá mais! O salvo em Jesus estará livre de todas essas mazelas. Se no Éden a maldição entrou na criação, na eternidade, com Cristo, “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão” (Ap 22.3, ARA). Deus não poderia morar num local onde ainda houvesse maldição. Cristo foi feito maldito em nosso lugar, levando sobre si todo o peso do pecado, para que pudéssemos habitar com Deus, sem maldição.
CONCLUSÃO
Podemos descrever que nosso alvo, além da existência terrena, é a eternidade. Depois de ser tragado pela morte, aquele que colocou a sua fé em Jesus como Salvador ultrapassa a fronteira desta vida e, por conseguinte, a barreira do espaço e do tempo, onde haverá somente a presença eterna de Deus, sem envelhecimento, sem doenças, sem morte. Esse fim último, que as Escrituras relatam, é o que dá significado à existência. É comum ouvirmos em nossos púlpitos que os seres humanos que mais fizeram diferença neste mundo pensavam na vida eterna, no mundo vindouro. Ateus, agnósticos, céticos, entre outros, no fim de todas as coisas possuem uma existência sem sentido. Salmos 19.1 declara que a finalidade da criação é louvar a Deus. A comunidade dos salvos, a Igreja de Jesus, deve ser luz no mundo e sal da terra. A História da Igreja demonstra como ela tem aprendido e que deve continuar a aprender a testificar da salvação nesta vida, com vistas à eternidade. As angústias da alma humana em relação à sua existência e à vida pós-morte somente Cristo pode responder.
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: ALVES, Eduardo Leandro. A Prova da Vossa Fé: Vencendo a Incredulidade para Uma vida Bem-Sucedida. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.