Lição 3 – O perigo do ensino progressista
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – A DESCARATERIZAÇÃO DO CRISTIANISMO
II – AS TEORIAS PROGRESSISTAS
III – REFUTANDO O ENSINO PROGRESSISTA
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Elencar os elementos que descaracterizam o cristianismo bíblico;
2. Explicar as principais teorias progressistas;
3. Aplicar elementos que refutam o ensino progressista.
II. AS TEORIAS PROGRESSISTAS
1. Definição de Progressismo
Pode-se definir progressismo como o conjunto de ensinamentos filosóficos, sociais e econômicos baseados na ideia de que o progresso é fundamental para o aprimoramento do ser humano. Bobbio (1998, p. 1.009) enfatiza que o progressismo está alinhado com o progresso material, moral e social em que uma sociedade caminha.
Essa ideia é oriunda dos filósofos franceses do século XVIII, os quais proclamavam um progresso mundial secular, isto é, sem Deus. Nessa premissa, os teóricos subsequentes passaram a pregar um progressismo científico (Augusto Comte), progressismo econômico (Karl Marx), progressismo biológico (Charles Darwin), entre outros.
Destaca-se que o progressismo inclui ideais ateístas e racionalismo exacerbado. Henry (2007, p. 472) afirma que, “entre os progressistas, alguns eram secularistas que rejeitavam completamente a religião tradicional”. Do pensamento progressista, surgem alguns dogmas que propõem a erradicação da divindade por meio de concepções seculares. Dentre elas, destacamos:
1.1. O Iluminismo: movimento intelectual e filosófico do século XVIII que enfatizava principalmente a razão e defendia ideias como progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação entre Igreja-Estado.10
1.2. O Marxismo: doutrina filosófica/política desenvolvida pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, cuja ideologia serviu de base para o programa político do Partido Comunista Alemão e que pregava a revolução por meio da luta de classes entre a burguesia (patrões) e o proletariado (empregados).11
1.3. Darwinismo: teoria de Charles Darwin (Séc. XIX), autor da obra A Origem das Espécies (1859), na qual defende que “todos os seres vivos, incluindo o homem, são resultado de transformações progressivas em longo prazo”. O darwinismo prega o progressismo atrelado “à lei do mais forte”, ou seja, somente os melhores sobrevivem na seleção natural.12
É fato que o progressismo é bem amplo e não se limita a esses movimentos. Podem ser incluídos, ainda, o positivismo, o cientificismo, o tecnicismo, entre outros. Porém, os já citados são suficientes para o propósito dessa abordagem. De modo geral, o progressismo questiona a divindade e repudia os valores religiosos. Por conseguinte, o uso do termo “progressista” aqui adotado refere-se às teorias e aos temas que se distanciam da visão tradicional do papel da religião, em especial dos valores da cultura judaico-cristã, tais como a doutrina, a moral e os costumes cristãos (Fp 3.18,19; 2 Pe 2.19).
2. A Desconstrução da Bíblia
Ratificamos que a Bíblia Sagrada é “divinamente inspirada” (2 Tm 3.16). Essa tradução vem do termo grego theopneustos, que significa literalmente que toda a Escritura foi respirada ou soprada por Deus, o que a distingue de qualquer outra literatura, manifestando, assim, o seu caráter sui generis. 13 Desse modo, a inspiração é chamada de verbal porque Deus soprou nos escritores sagrados o que deveria ser escrito (Ap 19.9; 1 Co 14.37).
O pastor Antonio Gilberto (2019, p. 41) leciona que:
O que diferencia a Bíblia de todos os demais livros do mundo é a sua inspiração divina (Jó 32.8; 2Tm 3.16; 2Pe 1.21). Portanto, inspiração divina é a influência sobrenatural do Espírito Santo como um sopro, sobre os escritores da Bíblia, capacitando-os a receber e transmitir a mensagem divina sem mistura de erro. A própria Bíblia reivindica para si a inspiração de Deus, pois a expressão “Assim diz o Senhor”, como carimbo de autenticidade divina, ocorre mais de 2.600 vezes nos seus 66 livros; isso além de outras expressões equivalentes.
Contudo, o ensino progressista, que é o desdobramento do liberalismo teológico, repudia a inspiração, a inerrância e a infalibilidade da Bíblia (2 Tm 3.16). A ênfase dos progressistas repousa no antropocentrismo (homem como centro). Esse ensino produz pessoas egocêntricas e retira a convicção do pecado (2 Tm 3.2). O parâmetro progressista é de desprezo ou de reinterpretação da Bíblia para satisfazer a concupiscência humana (2 Tm 4.3). Propaga-se um “evangelho” em que a salvação do homem ocorre por meio de uma reforma social com relativização do pecado, da moral e da fé bíblica (Gl 1.7-10).
Como já observado, os progressistas propõem anulação ou reinterpretação, ressignificação e atualização dos textos bíblicos a fim de ajustar os anseios de uma sociedade que se recusa a crer na supremacia das Escrituras. Nesse sentido, Childers (2022, p. 176) assevera que, conforme o cristianismo progressista tem-se infiltrado nas igrejas, os cristãos haverão de decidir “quanta autoridade esse livro tem sobre as nossas vidas?” e que teremos de decidir por seguir “a mentalidade de uma cultura sem Deus ou podemos optar por seguir a Jesus”.
3. O Teísmo Aberto
Outra corrente da teologia liberal/progressista é o ensino do teísmo aberto. O conceito surge de modo formal nos Estados Unidos em 1994, com a publicação do livro The Openness of God [A Abertura de Deus]. Também é conhecido como Teísmo da Vontade Livre, Abertura de Deus ou ainda Teologia Relacional. Esses títulos referem-se ao fato de que Deus estaria aberto a aprender sobre os eventos da história.
Mattos Neto (2007, p. 125) avalia que o método hermenêutico adotado pelos neoteístas tem implicações diretas para a ortodoxia cristã, tais como:
a) a desconsideração da infalibilidade e inerrância das Escrituras, b) a negação da morte vicária e/ou substitutiva de Cristo, c) torna-se desnecessário o temor a Deus, tendo em vista que o mesmo não pune, d) a autolimitação divina conduz o homem a uma vida de riscos. Não é só Deus que se arrisca pelo homem, mas o homem também se arrisca por Deus, e) Nada é mais pela graça, mas pelas obras, f) não existe mais absolutos, g) com a perspectiva do neoteísmo, não há mais como evangelizar, g) Deus tem emoções e é governado por elas. Deus é governado por sua mudança de humor, h) confundem promessas condicionais com as incondicionais, i) sua hermenêutica é metafísica e não epistemológica.
Na interpretação do teísmo aberto, Deus é limitado, não conhece o futuro em detalhes e não exerce controle absoluto sobre o Universo e nem sobre a vida humana. Afirmam que o conhecimento divino das coisas por acontecer depende das ações livres dos homens. Rejeitam o conceito de presciência, em que Deus sabe todas as coisas antecipadamente.
Nessa compreensão, Deus foi surpreendido pelo pecado no Éden e forçado a redesenhar a história. Essa ênfase extremada nas decisões do homem sacrifica a soberania de Deus. Essa autolimitação divina anula o que a Bíblia ensina sobre a Queda e a corrupção do gênero humano e afeta a doutrina da providência divina e da presença do mal moral no mundo.
Em refutação, nossa Declaração de Fé professa:
O conhecimento de Deus é perfeito e absoluto sobre todas as coisas no céu e na terra, de todos os eventos e de todas as circunstâncias que devem e podem ser, que serão e que seriam por toda a eternidade passada e futura […] (Is 46.10).14
Além disso, é importante frisar que a onisciência divina não está limitada a nosso conceito humano de futuro. Isso porque Deus conhece o fim de determinada coisa antes mesmo de esta ter sido iniciada.15
4. A Teologia da Desmistificação
Em 1958, Rudolph Bultmann propôs um programa de demitização do texto bíblico. O mito é uma história de caráter religioso que não tem fundamento na realidade e que se destina a transmitir um conceito de fé. Para esse teólogo alemão, havia mitos na Bíblia, e era preciso separá-los da verdade. Nesse pensamento, Céu e Inferno, a tentação, os demônios e as possessões passam a ser vistos como mitológicos.
Nas ideias de Bultmann, a doutrina da concepção e do nascimento virginal e até mesmo a promessa da vinda de Cristo são classificadas como mitologia. Nessa teologia, a Bíblia só é crível se dela forem extirpados os milagres, os sinais e outras revelações sobrenaturais. Em oposição a esses disparates, a ortodoxia ratifica que a Bíblia não é mitológica, sendo ela a verdade plena de Deus (2 Pe 1.21).16
NOTAS
10 HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p. 346. 11 FERRARI, Sonia Campaner Miguel (org.). Filosofia Política. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 137-142.
12 HENRY, 2007, p. 157.
13 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 25.
14 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 33.
15 JOYNER, Russel E. O Deus único e verdadeiro. In. HORTON, Stanley (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 133.
16 Para ler mais sobre essa temática, consultar o capítulo 3 desta obra, “A deturpação da doutrina da natureza humana”, no ponto II. As teologias modernas, item 3. Liberalismo Teológico.
Texto extraído da obra, “A Igreja de Cristo e o Império do Mal”, livro de apoio ao 3º trimestre, publicado pela CPAD.