Lição 12 – Uma vida cheia do Espírito Santo
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Paulo, escreveu à igreja em Roma, que tinha sérios conflitos internos entre os cristãos gentios e os judeus que se converteram ao cristianismo, devido ao apego de alguns ao antigo legalismo. Paulo, como faz em boa parte da carta, no capítulo oito, reforça aos membros daquela igreja que os que vivem uma vida cheia do Espírito não vivem debaixo da condenação. Paulo precisa consolá-los, incentivando a fé deles, apesar dos sofrimentos e angústias, que não poderiam separá-los do amor de Deus.
A Lei do Espírito em Cristo Livra da Lei do Pecado e da Morte
Paulo destaca a segurança para os que estão escondidos em Cristo. A pessoa que foi justificada pela fé na obra vicária de Cristo foi declarada justa, e a sua dívida foi quitada. Existe, todavia, uma condicional: doravante, ela deve andar segundo o espírito e não pode andar segundo a carne. A pessoa justificada deve cuidar para não voltar à condição de réu no tribunal de Deus, vivendo debaixo da lei do pecado e da morte.
Na nova situação diante de Deus, o cristão deve andar sob a Lei do Espírito de vida, ou seja, ser uma pessoa avivada espiritualmente falando. Muitos confundem uma pessoa avivada com manifestações externas e de dons espirituais, mas Paulo deixa claro no segundo versículo e principalmente na Carta aos Gálatas que a pessoa avivada é a que tem vida espiritual manifestada pela presença do fruto do Espírito na sua vida (Gl 5). Não é uma vida de aparência, mas, sim, de transformação comprovada mediante o seu testemunho pessoal.
Esta nova vida não poderia ser conquistada por meio da Lei. Paulo diz que isso era impossível à Lei, que, como visto anteriormente, tinha a função de apontar o pecado e era incapaz de impedir o seu efeito; por isso “estava enferma pela carne”. Então, é apresentado a grande revelação do evangelho, o Deus que se fez semelhante à carne do pecado. Ele não foi vencido pela lei da carne; pelo contrário, subjugou-a, fazendo a vontade do Pai e não cometendo pecados. Dessa forma, todos que reconhecem o efeito do sacrifício de Cristo são, pela fé, justificados diante de Deus, sendo, portanto, livres da condenação.
Os que Vivem no Espírito Interessam-se pelas Coisas do Espírito (Rm 8.5-13)
Nessa perícope, a humanidade é dividida em dois tipos de pessoas: as que vivem segundo a carne e as que vivem segundo o Espírito. Para Paulo, viver segundo a carne é entregar-se ao egoísmo, fazer de si um ídolo, bem como adorar outras pessoas, enquanto que viver no Espírito é ser guiado pela vontade de Deus revelada na Palavra e pelo Espírito de Deus.
Os que vivem segundo a carne buscam atender os desejos da natureza carnal, não tendo o compromisso com o Reino de Deus, priorizando tudo para o atendimento do seu próprio “eu”. As demais pessoas interessam-lhe se for atender algum projeto ou vontade pessoal; caso contrário, são descartadas.
O apóstolo é um bom exemplo de alguém que foi realmente transformado e teve uma mudança radical de atitudes e propósitos. Por mais que fosse religioso, antes de conhecer a Cristo, ele buscava uma vida de aparência e manter-se entre os que tinham o poder, independentemente do que fosse necessário fazer. Exemplo disso é o que registra o livro de Atos a partir do capítulo 6: no mínimo, o consentimento ao assassinato de líderes como Estêvão e perseguições violentas em nome de Deus. Todavia, a partir do capítulo 9, vemos outro ser humano, que passa a priorizar o Reino de Deus e fazer a vontade dEle. Quem vive no Espírito tem prazer de fazer a vontade do Senhor; assim, sempre verá Deus na face do outro, o seu próximo. Se algo vai prejudicar alguém, prefere não fazer, mesmo que sofra perdas como consequência.
Interessante que o apóstolo faz um elogio em tom de advertência (v. 9). Ele diz que os destinatários não estavam na carne, mas no Espírito, mas ele não para por aí e inclui uma condicional: “se é que o Espírito de Deus habita em vós”. Provavelmente, o apóstolo estava alertando possíveis comportamentos carnais entre a comunidade de cristãos de Roma, principalmente os que tinham vindo do judaísmo. Existe uma tendência de pessoas carnais esconderem-se por detrás do legalismo. Cristãos legalistas precisam de uma atenção especial, pois muitas vezes escondem sérios problemas espirituais sob a aparência de santidade e pureza.
Para o ser humano saber se anda na carne ou no espírito, basta somente observar o que mais tem alimentado a sua vida, as coisas que são da carne ou as que são do Espírito. Paulo incentiva os cristãos a viver segundo o Espírito e ser gratos a Deus, como devedores ao Espírito pela mortificação das obras do corpo, que nos traz vida espiritual.
A Herança da Vida no Espírito
Esta unidade literária é considerada o núcleo do capítulo 8. Uma estrutura retórica dual que contém expressões relacionadas com a tradição judaica (vv. 14,15) e também gregas/helênicas (vv. 16,17). O que já é esperado, considerando a formação cultural e intelectual do apóstolo, uma mescla entre as tradições judaicas e helênicas.
O texto tem início com a definição da filiação divina como exclusiva para os que são guiados pelo Espírito de Deus, ou seja, a filiação não é universal. Essa afirmação torna-se polêmica para um ambiente não cristão, que tem todas as pessoas como filhos e filhas de Deus. O apóstolo, todavia, faz uma diferenciação ao afirmar que somente os que são guiados pelo Espírito de Deus têm esse privilégio. Os demais são identificados como os que têm o espírito de escravidão, ou seja, os que são escravos da lei do pecado e vivem debaixo do temor. Por mais que alguém tenha uma aparente vida feliz debaixo dos deleites da carne, não tem a paz, e o temor aflige a sua alma. Na realidade, por mais que o ser humano não queira reconhecer, a sua alma clama por Deus, que não encontrarão nesta forma de vida; por isso o medo por falta de sentido para a vida.
No entanto, os que vivem na submissão ao Espírito de Deus, guiados para fazer a vontade de Deus, sentem a paz com Deus que somente em Cristo pode ser alcançada. Segundo o apóstolo, essa paz é produzida pelo Espírito que testifica ao salvo que ele é filho de Deus. A este é permitido chamar Deus de “Aba, Pai” (v. 15). A fórmula αββα ὁ πατήρ, expressão
máxima da relação de Jesus com o Pai, é também transferida ao cristão salvo.
Quando Paulo afirma que, como Jesus, as pessoas guiadas pelo Espírito também podem chamar Deus de “Aba, Pai”, ele quer dizer que são verdadeiros filhos de Deus. Paulo complementa dizendo que estes se constituem herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo. Imagine a herança que passa a ser outorgada a esses filhos. Paulo destaca que o sofrimento solidário com Cristo tem a sua recompensa, pois da mesma forma como participa do sofrimento de Cristo, também será glorificado como Ele.
A Redenção e a Vida Eterna (Rm 8.18-25)
A Igreja Primitiva sofreu muitas perseguições e sofrimentos por causa do evangelho. A igreja deve ter-se alegrado ao ler essa afirmação paulina com tanta convicção (“tenho por certo”) de que o sofrimento por Cristo não seria em vão, e a redenção é certa. Nos escritos de Paulo, fica evidente a certeza que ele tinha de uma vida eterna com Deus. Mesmo no fim da sua vida, quando muitos dos seus companheiros abandonaram-no, deixando-o praticamente esquecido numa prisão úmida e fria (2 Tm 1.15), tendo a morte como certa, ele continuava comprometido com a pregação do evangelho e com a mesma confiança de que estaria nos braços de Deus após a sua execução, e essa confiança ele transferia para os seus discípulos (2 Tm 4.6-8).
Para uma sociedade como a romana, que defendia a servidão ao fatalismo, a resposta de Paulo é de que o destino do ser humano depende da sua atitude diante de Deus. O determinismo paulino é para coisas concretas. Para as pessoas que vivem no Espírito, as aflições do presente não poderão comparar-se com a glória que Deus tem preparado para eles na vida após a morte. Dessa forma, não somente a vida terrena, mas também a vida após a morte dependem das atitudes do tempo presente.
As atitudes das pessoas não somente definem o seu futuro, como também o futuro da natureza. Paulo afirma que toda criação geme devido às ações dos seres humanos. Em nome do desenvolvimento e da tecnologia, muito se tem destruído da natureza, e a sociedade está colhendo o resultado disso. Os principais países consomem os recursos naturais radicalmente em nome da economia e prejudicam os países subdesenvolvidos, que funcionam como receptores dos resíduos dos países ricos. Atualmente, fala-se muito sobre sustentabilidade, mas o valor econômico-financeiro tem influenciado muito nas decisões. Não se vê uma esperança de resolução dos problemas ecológicos em médio prazo, mas o apóstolo Paulo já anunciava uma redenção para toda a criação. Deus está atento não somente para as pessoas, como também busca a redenção da natureza. Dessa forma, o Senhor também está observando como tratamos a natureza criada por Ele.
Por fim, o apóstolo fala sobre esperança. O que fazer quando um ser humano perde a esperança? É ela que dá sentido à vida e motiva a caminhada, independentemente das circunstâncias e aflições. Muitos céticos questionam a fé cristã, que defende a vida eterna com Deus, a encarnação de Deus, a ação de Deus no mundo, entre outras crenças, por não serem coisas que se possam ver e tocar. Paulo afirma que a esperança em coisas que vemos não é esperança, pois como poderá esperar o que se está vendo? Por isso, há a necessidade de confiarmos em Deus, pois, quando não se vê, é necessário esperarmos até que se tenha aos olhos o que se esperava. Deus é fiel e cumpre as suas promessas. Devemos confiar nEle, independentemente das circunstâncias. Mantenhamos, portanto, nossa caminhada de santidade até a glorificação final.
O Espírito Santo Intercede por nós (vv. 26,27)
Paulo, depois de afirmar que o cristão precisa ser paciente diante da expectativa de uma redenção futura, perseverar frente às aflições e os mais diversos sofrimentos, apresenta o Consolador para auxiliar nessa perseverança. Nos momentos de aflição, em que não aparecem possibilidades visíveis de solução, as pessoas tendem a ficar inativas sem saber o que fazer. Nesse momento, toda ajuda é bem-vinda. Há indivíduos que aceitam ajudas até de pessoas que não aceitariam em situações normais. O desespero leva as pessoas a fazer coisas inimagináveis. O cristão salvo também passa por momentos de aflição. O próprio Jesus fez essa afirmação (Jo 16.33). Paulo, todavia, afirma que o cristão tem à sua disposição o Espírito Santo, inclusive para pedir em nosso favor por não sabermos o que convém.
O cristão, por mais fiel que seja, nem sempre sabe o que lhe convém em determinada situação, principalmente de sofrimento e angústia. Afinal de contas, o cristão continua sendo humano; ele não vira “super-homem” com a conversão. Nesses momentos, o apóstolo afirma que o Espírito Santo toma nossa causa, coloca-se em nosso lugar (empatia) para pedir por nós, sabendo, porém, o que é conveniente de fato. Em linguagem figurada, Paulo afirma que o Espírito Santo chega a gemer a nosso favor. Há momentos em que não há o que falar ou fazer, a não ser render-se em adoração a Deus e esperar pelo renovo e refrigério de nossa alma. Se você está passando por um momento difícil em sua vida experimente mergulhar no Espírito Santo de Deus e desfrute do refrigério que somente Ele pode dar. Mantenha uma conversa santa (separada e exclusiva) com Deus, colocando diante dEle todas as suas angústias. Ele cuidará de você.
A Lei do Espírito É Libertadora
Os cristãos romanos certamente questionavam o que estava acontecendo com eles. Para muitos, para não dizer todos, a conversão trouxe mais problemas do que era normal. Não bastasse os problemas com a sociedade, ainda restavam os problemas internos, como já vimos no início do livro, principalmente com os judeus-cristãos que conduziam as suas vidas pelo legalismo.
O desenvolvimento da argumentação às vezes repetitiva de Paulo sobre as questões entre o legalismo do judaísmo e o cristianismo demonstram como essa era uma dificuldade séria enfrentada pela igreja em Roma. Como entender isso? Ouvem o evangelho, entregam-se a Cristo, só que o sofrimento e aflições não acabam; pelo contrário, aumentam. E a libertação, onde é que está?
A experiência de Paulo credenciava-lhe para aconselhar os cristãos que viviam em Roma e, por conseguinte, para a igreja de todos os tempos. Quantas mudanças ocorreram na vida do apóstolo: a) aquele que perseguia passou a ser perseguido; b) aquele que mandava acoitar recebe diversos açoites; c) aquele que usufruía do status e conforto do poder passa a viver na dependência de outros; d) aquele que convivia entre os membros do sinédrio passa a viver com pessoas das mais diversas classes sociais.
Paulo foi um homem que passou pelas mais diversas adversidades e sofrimentos, mas sabia que estava no caminho certo, dentro da vontade de Deus. Ele podia dizer que tudo contribui para o bem das pessoas salvas em Cristo.
Quantas pessoas tiveram sérios problemas na vida a ponto de não visualizar uma saída e sentir-se abandonado por Deus, e, de repente, o milagre acontece. Dessa forma, depois de tudo resolvido, é fácil perceber a mão de Deus dirigindo tudo.
O apóstolo deveria ter vários exemplos como esse e com tranquilidade poderia orientar os cristãos em Roma. Paulo afirma que, além de Deus conduzir nossas vidas no presente, Ele garante que também já tem preparado a glorificação aos que estão sob a Lei do Espírito, a exemplo de Cristo.
A perícope de Romanos 8.31-39 é um hino litúrgico que exalta o amor de Deus e culmina numa confissão triunfante que se torna uma espécie de conclusão de tudo o que o apóstolo havia escrito até então. Exalta o amor divino como motivação para os cristãos perseverarem firmes e seguros em Deus, mesmo em perigo de morte, a exemplo de Cristo.
No primeiro verso da perícope (v. 31), Paulo reforça aos cristãos romanos dizendo: “Deus é por nós”. Um conceito de Deus próximo e que age em defesa dos seus filhos e filhas, segundo a fé no filho que Ele entregou por amor da humanidade. Um Deus que dá o próprio filho por amor, o que negaria para os salvos? Tudo é dEle, provém e retorna para Ele (1 Co 15.27,28; Cl 1.16,17), mas Ele não retém para si; pelo contrário, dá gratuitamente aos seus (Hb 7.25). Como vimos anteriormente, essa herança é específica para os filhos, mediante a Lei de Cristo.
Que acusação esse Deus aceitaria contra os que foram justificados? Paulo reforça que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.34), o que já havia afirmado no início do capítulo (8.1). Romanos 8.33-34 é um paralelo de Isaías 50.8-9. Independentemente de quem for o acusador, humano ou não, não tem poder sobre quem foi justificado por Deus. No caso dos cristãos romanos, eles tinham entre os seus acusadores os pagãos incrédulos e os judeus legalistas, que se recusavam a reconhecer a justificação pela fé, como visto principalmente nos capítulos iniciais deste livro. Paulo parece ter a intenção de reforçar para não restar dúvidas de que eles realmente estavam justificados. Se foram justificados por Deus, quem poderia condená-los? Por isso, deveriam manter a vida em conformidade com a Palavra. No capítulo 10, ele reforça novamente que as pessoas que se entregaram a Cristo não devem temer acusação alguma, pois ele diz: “a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9).
Paulo conclui ressaltando a intercessão divina de Cristo ressuscitado em favor do justificado. O terceiro capítulo do profeta Zacarias tem um exemplo semelhante de intercessão divina, quando, na figura de um tribunal celeste, o acusador (Satanás) do sacerdote Josué é silenciado por Deus. Ao estudar Romanos 8.26, já vimos a intercessão divina exercida pelo Espírito Santo, inclusive com “gemidos inexprimíveis” que decodificam como convém nossas necessidades. Aqui, no verso 34, Paulo complementa com a terceira pessoa da trindade, afirmando que Cristo ressuscitado continua sendo o advogado do justificado. Não se deixe condenar por acusações levianas sobre o que Cristo já justificou e redimiu.
Que Deus abençoe sua aula!
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