Lição 5 – Libertos para viver em santidade
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Para refletir sobre o tema deste capítulo, primeiro faremos uma análise de 1 Pedro, cujos destinatários eram marginalizados e viviam em extrema pobreza, mas são convidados a serem santos, assim como Deus é santo. A manutenção da santidade recebida na justificação e regeneração é exigida, pois para isso o cristão foi salvo, e o preço do resgate para a sua liberdade somente será eficaz ao cristão que mantiver uma vida de santidade
O Contexto da Primeira Carta de Pedro
Os Destinatários da Primeira Carta de Pedro
A primeira Carta de Pedro foi destinada aos estrangeiros espalhados pelas regiões da província romana da Ásia Menor: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia (região ocidental da Ásia Menor) e Bítinia (1.1; 2.11). A população concentrava-se na zona rural ou em vilarejos — pequenos povoados. Além disso, eram estrangeiros, uma condição de não cidadãos naquela sociedade, uma posição não privilegiada entre os habitantes (1.17).
Ainda temos a expressão grega parepidemoi (1 Pe 2.11), uma minoria de estrangeiros que nem sequer tinham o direito de permanecer no país; uma referência a escravos domésticos oiketai (1 Pe 2.13-17). A ausência da menção de senhores pode sugerir que não havia pessoas ricas na comunidade. Era, portanto, uma situação de pobreza e marginalidade social.
Judeus da Diáspora espalhados pelo mundo, escolhidos como povo exclusivo segundo a presciência de Deus Pai (At 7.6; 13.17; 1 Pe 1.1,2), resgatados pelo sangue de Cristo e novas criaturas (1 Pe 1.18-23). Eles são “agentes de libertação”, diferentemente do antigo concerto de sacerdócio centralizado, pois agora todos são sacerdotes (1 Pe 2.5-10). Um povo desprezado pela sociedade e considerado como a escória daquele povoado, pessoas que eram humilhadas e não tinham boa qualidade de vida; viviam para sobreviver. Todavia, esse povo que Deus escolhe para ser o seu povo exclusivo (santo), no qual Ele poderia agir com liberdade e conviver entre eles, pois eram pessoas que o tinham como Deus e Senhor das suas vidas, apesar das grandes dificuldades das suas rotinas. Não bastasse a condição social da comunidade cristã nessas regiões, eles enfrentavam três tipos de perseguição:
1. Pelos romanos — que os consideravam como povo de desprezível superstição e pervertedores da moral e da ordem romana, uma inversão de valores.
2. Pelos judeus — que perseguiam os cristãos por motivos religiosos e políticos. Os cristãos não se submetiam a algumas práticas judaicas e outras práticas romanas. Os judeus, em algumas situações, para manterem a boa relação de poder e política com os romanos, denunciavam os cristãos às autoridades romanas (At 13.45-52; 14.2; 17.6,7).
3. Pela própria população local — quer por motivos sociais (grande maioria de pobres) ou pela diferença de práticas religiosas e políticas.
Os destinatários da carta recebem a orientação de praticarem o bem a todos, pois, se os opositores falassem mal deles ou os perseguissem, veriam as boas obras de santidade deles. Assim, o sofrimento deles não seria em vão, pois estavam dentro da vontade de Deus (1 Pe 2.12; 3.13-17). Era comum os cristãos serem caluniados injustamente (1 Pe 4.12,15,16; 5.9), e o principal motivo das calúnias era o estilo de vida separado da sociedade (1 Pe 4.3,4).
Os destinatários, portanto, faziam parte de um grupo que vivia debaixo de grande opressão e sofrimento, cuja esperança estava em Deus e no seu seu Filho Jesus, cuja resignação ao sofrimento eles tinham por modelo (1 Pe 2.19-25). Tudo isso é tido pelo autor como motivo de alegria por estarem participando dos sofrimentos de Cristo (1 Pe 4.13). Ser um povo alegre em meio a tantas adversidades somente é possível por pessoas que experimentam uma vida de santidade, uma vida separada e de grande intimidade com Deus, o Senhor.
O Sofrimento Imposto pelo Poder Imperial como Tema Principal da Carta
O problema do sofrimento é o tema central da carta. Ao conhecer os destinatários da carta, já foi evidenciado como a comunidade cristã, receptora do escrito e espalhada pelas cinco províncias da Ásia Menor era marginalizada e sofria por identificar-se com a fé cristã. A carta tem o propósito de encorajar os destinatários a manterem a sua fé mesmo diante das adversidades e perseguições. A referência era o sofrimento de Cristo. Para muitos parece uma loucura ou uma vida fanática. Muitas palavras e orientações da carta são difíceis de ouvir, principalmente por alguém do século XXI, época em que a defesa dos direitos humanos tem avançado nas discussões entre as principais nações do mundo.
A Igreja é incentivada a manter a sua fidelidade a um homem com base na promessa de que teriam uma vida eterna com Deus. Para reforçar a fé e a perseverança da comunidade, o autor evoca a memória e a tradição do apóstolo Pedro. Uma pessoa que experimentou o mesmo destino de Cristo, o sofrimento por martírio. Afinal de contas, ele foi “testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada” (5.1). O sofrimento é visto como uma virtude, uma demonstração de perseverança e fé cristã.
O exemplo de Pedro é fortalecido por um exemplo superior, o de Jesus. Inspirado no texto de Isaías 53, conhecido como o cântico do “servo sofredor” e relido no Novo Testamento como referência ao sofrimento de Cristo. Jesus sofreu injustamente e deixou o exemplo a ser seguido. Ele não havia cometido pecado algum e falava a verdade; mesmo assim, foi condenado sem ameaçar ou revidar, confiando naquEle que julga com justiça. Nogueira (2012, p. 48) afirma que o sofrimento pode “ser comparado a uma semente que morrendo, dá vida. […] O exemplo de Jesus diz como devem se comportar os cristãos que sofrem. Diz também que é um sofrimento que dá vida a outros”.
Comentar sobre o sofrimento dos cristãos primitivos e reforçar as orientações da carta parece ser utopia. O autor, no entanto, afirma veementemente que o sofrimento por causa da justiça (3.14) é a vontade e o projeto de Deus para a igreja cristã (3.17; 4.19), como consequência de fazer-se o bem e praticar a justiça de Deus (2.15; 4.12,13), a exemplo de Jesus (2.24).
A Santificação Recebida na Justificação Deve Ser Mantida
A Salvação Produz uma Santidade que Liberta (1 Ts 4.17; 1 Pe 1.13,14)
A perícope que estamos estudando (1 Pe 1.13-21) faz parte de uma seção maior (1 Pe 1.13-2.10) que fala sobre o novo status do cristão e as suas consequências. Esta seção é construída por uma sequência de indicativos e imperativos, sendo que os primeiros servem como fundamentação para os imperativos. O indicativo enfatiza o escatológico agir salvífico de Deus por meio de Cristo para a libertação da humanidade por meio da cruz, enquanto o imperativo determina que o cristão tome posse dessa liberdade por meio da fé na cruz de Cristo, tornando eficaz na sua vida o sacrifício perfeito de Cristo.
Após a indicação das bênçãos da salvação e o louvor prestado a Deus pela sua bondade e misericórdia em concedê-la pela sua graça, destacados nos indicativos nos versículos anteriores (1 Pe 1.3-12), nos versos 13 a 16, vemos os imperativos que alertam para o desenvolvimento de uma santidade contínua e progressiva que liberta o cristão da antiga vida de escravidão do pecado. O autor inicia o versículo 13 com a conjunção conclusiva, usada, portanto, para demonstrar que a exortação que ele introduzirá tem como base o conteúdo do trecho anterior (1 Pe 1.3-12), que fala sobre a dádiva da salvação. Como visto anteriormente, esse é o momento da justificação e regeneração que é acompanhada da santificação inicial, que deve levar o cristão salvo a uma conduta santa, o processo da santificação contínua e progressiva. O autor utiliza uma expressão que era comum e compreensível para os leitores da época, “cingir os lombos”, ou seja, colocar um cinto para cingir a túnica comprida solta sobre o corpo, o que era feito geralmente antes de uma caminhada ou de começar a trabalhar. Ele acrescenta “cingindo os lombos do vosso entendimento”, que, ao analisar o sentido original da expressão, se chegará ao entendimento, pelo contexto, que o autor está aconselhando a tirar conclusões apropriadas, estar atento ao que foi falado para aplicação na vida cristã.
O segundo verbo utilizado “sede sóbrios” leva adiante o pensamento anterior, ou seja, considerando o evento da salvação, o cristão não deve embaraçar-se com nada que não seja relevante para a vida cristã. O verbo utilizado nefontes significa “alguém que não está embriagado”. Em um sentido figurado, de acordo com o contexto, tem o sentido de não estar “embriagado” por coisa alguma, ter o pleno domínio da capacidade, de forma a não ser dominado por ela. Esse equilíbrio deve levar o cristão à obediência, de modo que não tome mais a forma do mundo fazendo as mesmas “concupiscências que antes havia em vossa ignorância” (1 Pe 1.14). Aqueles cristãos, os destinatários da carta, antes de conhecerem a Cristo, eram dominados por paixões, período da ignorância da graça e da verdade do Evangelho. O autor quer dizer que aquele comportamento era peculiar de quem vive distante da graça de Deus; porém, agora conhecendo o caminho da santidade, não poderiam mais viver da mesma maneira. Eles não poderiam tomar a forma de outrora, mas, sim, viverem em conformidade com a vontade revelada de Deus. Essa é a santidade que liberta da vã maneira de viver para aguardar livre a redenção definitiva e a glorificação (santificação final).
Deus É Santo (1 Pe 1.15,16)
No versículo 15, o autor continua a exortação, parafraseando: não tome a forma do mundo, cedendo às suas paixões, mas sede santos, como santo é aquEle que vos chamou para a santidade que liberta. Como visto anteriormente, a origem da palavra santidade tem a conotação de estado daquilo que pertence à esfera do que é sagrado e que se distingue do que é comum ou profano. Segundo Sproul (1997, p. 48), no que se refere à santidade de Deus, esse sentido pode ser entendido como um ser separado e distinto de tudo o que é visível e conhecido ao homem, ou ainda acima de toda a criação. Um ser transcendente, exaltado, que está acima de todas as criaturas, com uma majestade infinita. Contudo, também está relacionado com o sentido de um ser que possui uma perfeição moral e existencial em todos os sentidos.
O intelecto limitado do ser humano não consegue entender a santidade de Deus na sua plenitude, pois esse entendimento transcende tudo o que lhe é possível conhecer e compreender. Dessa forma, a compreensão possível ao ser humano sobre a santidade de Deus foi sendo revelada ao longo da história por meio do que conhecemos hoje como Bíblia Sagrada, por meio do seu relacionamento com os patriarcas, com o povo que surgiu a partir deles, o povo de Israel, dos profetas de demais escritos, sendo a maior revelação por meio do seu próprio Filho encarnado, Jesus Cristo. Segundo Berkhof (1990, p. 68): “A suprema revelação da santidade de Deus foi dada em Jesus Cristo, que é chamado ‘o Santo e o Justo’ (At 3.14). Ele refletiu em Sua vida a perfeita santidade de Deus”. Assim, a melhor forma de entender a santidade de Deus é observar a vida e a obra de Jesus.
A santidade faz parte da essência de Deus de forma que o distingue totalmente da criação no sentido de perfeição em santidade. Todavia, essa distinção, devido à sua transcendência, não o torna inacessível, pois Ele também é imanente, ou seja, mesmo sendo santo na plenitude do termo, Ele comunica-se com as suas criaturas por amor e por misericórdia. Por isso, convida-as a também ser separadas, buscar a pureza de uma vida santa, separando-se das práticas pecaminosas e injustas e fazendo a diferença na sociedade.
Deus É o Único Juiz Justo e Imparcial (1 Pe 1.17)
A santidade de Deus está diretamente relacionada à sua própria justiça, em que Ele é o único Juiz que julga de forma plenamente justa e julgará todos os seres humanos que já viveram durante a história da humanidade e que ainda viverão. O julgamento tem a garantia da justiça plena porque será conforme o seu padrão de santidade (Mt 7.21-23; 12.36,37; 25.31-46; Ap 12.12). Deus conhece todas as coisas, inclusive as intenções e motivações de cada pessoa, por isso pode tomar decisões justas e imparciais (Gn 18.25; Sl 9.4; 67.4; 96.10; 1 Sm 16.7; Sl 44.20,21; Jr 11.20).
A Lei Mosaica teve o seu papel na apresentação da santidade de Deus para o ser humano, bem como para apontar a imperfeição humana. Paulo, quando escreveu aos Gálatas, destacou esse papel da Lei ao afirmar: “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio” (Gl 3.24,25). Jesus, por meio do seu sacrifício, cumpriu a Lei estabelecida no Antigo Testamento (Hb 9.11-12), mas a lei moral e ética continua sendo exigida do ser humano. A justiça exige a punição do pecado, com a finalidade de vindicar a justiça e a santidade de Deus. Mueller (1988, p. 105) afirma que o temor do salvo que vive em santidade é acompanhado de certa dose de confiança em relação ao julgamento de Deus, enquanto de quem vive uma vida sem santidade é acompanhada de sensação de terror (Ap 6.15-17; cf. Lc 23.30; Os 10.8).
O julgamento de Deus não tem somente o sentido escatológico. Ele constantemente, por meio do Espírito Santo e da sua Palavra, esquadrinha o coração do ser humano para que haja consciência dos pecados cometidos, com vistas ao arrependimento, à mudança de comportamento e ao crescimento da vida em santidade. Essa prática é que dá confiança ao cristão de apresentar-se diante de Deus, com a garantia de estar remido pelo sangue de Cristo, justificado e santo.
A Santidade que Liberta
O Preço do Resgate pela Liberdade em Cristo (1 Pe 1.18)
O fundamento para a liberdade é o resgate. Esse processo de resgate de alguém que não tinha liberdade era muito comum na época da escrita dos livros bíblicos. A escravidão e a servidão eram práticas comuns, e havia várias formas para uma pessoa tornar-se um escravo. Na época do Novo Testamento, imperava o modo de produção escravista que começou com os gregos. Na realidade, escravos sempre existiram na Bíblia, mas o modo de produção escravista foi implementado pelos gregos devido à produção em excedente que visava a exportação de produtos e bens.
Assim, o escravo ficava submetido ao controle de outra pessoa e não tinha nenhuma liberdade para fazer uso da sua vontade ou tomada de decisão. Quem decidia por ele era o seu dono. Isso ocorria porque não possuía recursos adequados para comprar a sua liberdade, o que seria possível somente mediante a intervenção de um terceiro por meio do pagamento do resgate. No Novo Testamento, essa situação é comparada com a posição do ser humano sem Deus. A grande novidade do Evangelho é a apresentação de Cristo como o terceiro que teria condições de pagar pelo resgate de toda a humanidade.
O autor, para destacar o valor de nossa redenção, afirma: “sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais” (1 Pe 1.18). O autor chama os metais preciosos de “coisas corruptíveis”, ou seja, diante da grandiosidade do valor da salvação, tais coisas não têm valor. Essa menção parece também destacar a inversão de valores para os destinatários, que viviam na pobreza extrema. Não tinham bens de valor, mas o autor da carta afirma que as riquezas deste mundo não são comparáveis ao que o Senhor tem reservado àqueles que se preservarem santos, separados para Deus, independentemente das circunstâncias.
O resgate é pago por aquEle único que tinha os recursos necessários, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), que se oferece a si próprio pelos pecados de todo o mundo (1 Jo 2.2), que leva sobre si a culpa que pesa sobre a humanidade. Por efeito desse sacrifício, o ser humano é comprado de volta para Deus (Ap 5.9). Somos, portanto, resgatados “com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1.19). Esse é o preço do resgate para a liberdade em Cristo.
O Cristão É Resgatado para Ser Livre (1 Pe 3.20)
O plano de resgate do ser humano foi elaborado antes mesmo de ele ser criado (1 Pe 1.20). O cordeiro imaculado e incontaminado foi conhecido antes da fundação do mundo devido ao plano de redenção da humanidade previsto na presciência de Deus. O autor afirma que o cordeiro imaculado e incontaminado somente foi “manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós” (1 Pe 1.20). Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), surge na plenitude dos tempos, no momento exato em que estava planejado por Deus o resgate da humanidade. O cristão é redimido por meio do sacrifício de Cristo para a vida de santidade que liberta da vida de escravidão do pecado em que vivia.
Eldredge (2018, p. 11), ao comentar sobre a santidade que liberta, afirma que, para entendê-la, primeiro devemos começar com a pergunta: “o que o cristianismo deve, supostamente, fazer com uma pessoa?”. Ele afirma que a maneira como se responde a essa pergunta “moldará seus pensamentos a respeito da igreja e da comunidade, do serviço e da justiça, da oração e da adoração”. O cristão precisa entender quais são os planos de Deus para ele (Ef 1.3-10). Eldredge (2018, p. 12) afirma que o plano principal de Deus é “tornar as pessoas íntegras e santas pelo seu amor”. Ele destaca que algumas pessoas entendem que a integridade pode ser separada da santidade, e esta é opcional. Porém, reforça: “íntegro e santo — este é o seu destino”. Ele afirma que, durante anos, pensava que a santidade era algo “austero, espiritualmente elitista e, francamente, bastante severo”. O fato de as pessoas associarem a santidade com coisas e comportamentos inatingíveis distanciam-nas de uma vida verdadeira de santificação e tornam o assunto impopular.
Vamos a um exemplo prático na vida de Jesus para diferenciar como as pessoas veem a santidade. No Evangelho segundo João (Jo 5.2-16), temos o episódio do paralítico do tanque de Betesda, que foi curado no dia de sábado. Para os judeus, a observância rigorosa da guarda do sábado era uma das principais questões essenciais para a santidade pessoal. Jesus parece fazer questão de curar no sábado para demonstrar o que era mais importante para uma vida de santidade que agrada a Deus. Os judeus religiosos não se alegraram com a cura do coxo; pelo contrário, enfureceram-se pela quebra da guarda do sábado. Os judeus, tecnocratas religiosos, estavam presos nas tradições criadas pela má interpretação dos planos de Deus para o ser humano, enquanto Jesus vivia uma santidade que liberta, ou seja, a busca do propósito de Deus de restaurar a criação que Ele criou: “Isto é o que o cristianismo deve fazer com uma pessoa: restaurá-la, como um ser humano” (ELDREDGE, 2018, p. 11).
Muitos cristãos estão envolvidos num amontoado de atividades eclesiásticas, pensando estar no caminho da santidade, mas têm-se esquecido do essencial, que é a cura do ser humano. Algumas dessas pessoas estão precisando de cura, pois vivem uma suposta santidade sem saber o sentido da vida cristã. Eldredge (2018, p. 19) afirma: “não há a menor possibilidade de você se tornar a pessoa que Deus lhe criou para ser sem a cura da sua humanidade”.
A Libertação Plena somente se Realizará com a Glorificação
A vida em santidade, além da gratidão, é movida pela fé e pela esperança (1 Pe 1.21). O autor aponta para a ressurreição de Cristo e a sua glorificação, estado importante para o estudo da santificação, pois simboliza o seu estado final. O pleno descanso eterno com Deus, após a preservação de uma vida de liberdade na santidade de Deus. Em Cristo, a humanidade renasce para uma vida plena com Ele. A graça tem muito mais a oferecer; ela, portanto, é infinitamente maior do que o tempo da escravidão no pecado e morte espiritual. A participação na morte (justificação) e na ressurreição de Cristo (glorificação) faz-nos passar da morte para a vida.
Paulo, quando escreve aos coríntios para falar sobre a ressurreição dos salvos e a transformação espiritual do corpo, utiliza uma imagem citada por Jesus, o grão de trigo que deve morrer para gerar vida (Jo 12.24; 1 Co 15.35-38). A esperança da ressurreição transcende a realidade, vai além do que se vê. Quem tem a fé na ressurreição é capaz de “ter esperança contra toda esperança” (Rm 4.18). Corpo e sangue não podem herdar o Reino de Deus, por isso o cristão ressuscitará em glória (15.42-50). Quando Cristo manifestar-se, os cristãos salvos serão semelhantes a Ele (1 Jo 3.2), revestidos de incorruptibilidade e de imortalidade (1 Co 15.54). Por isso, a insistência do autor (1 Pe 1.13-21) em exortar aquele povo sofrido em manter a santidade adquirida na sua justificação e regeneração, com liberdade em Cristo, reconhecendo o valor do resgate das suas almas, com vistas à vida eterna com o Deus Santo e Eterno.
Que Deus abençoe sua aula!
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