Lição 9 – Treinamento de líderes segundo o modelo de Jesus
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Jesus tem muito a ensinar, inclusive sobre liderança. Devemos reconhecer que são muitos os aspectos da liderança de Jesus que podem e devem ser avaliados e pesquisados; entretanto, com vistas a delimitar a análise e alcançar o objetivo deste capítulo, a abordagem aqui é sobre a atenção que Jesus deu e o empenho que dispensou no treinamento dos seus discípulos para o cumprimento da missão a que foram designados. Jesus não foi um líder indiferente aos anseios e necessidades dos seus liderados; muito pelo contrário, cada ação da sua liderança esteve alinhada ao seu interesse em beneficiar aqueles que o seguiam, mui especialmente dos seus discípulos, exigindo-lhe uma participação ativa da vida de cada um deles.
Jesus exerceu um perfil de liderança voltado para a formação de novos líderes, ou seja, uma das suas prioridades como líder foi treinar aqueles que por ele foram chamados para que fossem os seus discípulos. Nesse sentido, a atitude do Mestre reafirma que, além de ter de possuir uma visão, ser capaz de comunicá-la e ter condições de influenciar pessoas, liderar sob a perspectiva cristã também é preparar outros líderes e treiná-los para que tenham condições de perpetuar os princípios eternos da Palavra de Deus e deem continuidade à missão que Cristo confiou aos seus escolhidos.
Todo o investimento de tempo, energia e dedicação para o treinamento dos discípulos justifica-se por razões múltiplas, e há duas que merecem destaque dentre elas: I) Jesus foi um líder que valorizava pessoas — eis o porquê de Ele ter-se dedicado tanto na formação e no preparo dos seus discípulos; e II) O Senhor confiou o futuro da sua Igreja a esses homens, e, em certa medida, o seu sucesso ou o seu fracasso dependiam do quão preparados eles estariam para o desempenho das suas funções.
É importante enfatizar que o treinamento a que os discípulos foram submetidos à medida que caminhavam com Jesus não pode ser bem compreendido se dissociado de aspectos que envolvem o chamado que receberam do Mestre e a sua natureza discipuladora. Dito de outra forma, o treinamento que Jesus deu aos seus discípulos só foi possível porque eles receberam e atenderam ao chamado do Mestre, e o que norteou esse treinamento foi o princípio do discipulado ensinado e praticado pelo Senhor.
JESUS ESCOLHE OS SEUS DISCÍPULOS
O ministério terreno de Jesus deve ser bem compreendido por todos os cristãos, mui especialmente por aqueles que militam na vanguarda da liderança cristã, pois cada movimento, cada palavra e cada atitude do Mestre possuem lições a ser apreendidas, cujos efeitos e contribuições são de valor inestimável, e isso inclui a escolha de Jesus daqueles que viriam a ser chamados de “apóstolos” e a forma como foram escolhidos por Ele.
A explanação de Bruce confirma a importância do momento em que os discípulos de Jesus foram escolhidos por Ele; não somente isso, mas também indica a sensibilidade que o Mestre teve para perceber o momento certo para aumentar o número da equipe e a sua capacidade estratégica em separá-los no momento oportuno em que o seu ministério e a verdade da sua palavra deveriam assumir novas dimensões, além do aspecto da perpetuação disso. O Senhor Jesus deixa a lição de que há o momento certo para estabelecer-se, ampliar e preparar uma equipe de trabalho, razão por que o líder cristão deve estar atento e principalmente buscar em Deus a direção sobre o momento adequado e os métodos mais eficazes para a seleção e o treinamento de novos líderes.
Os Apóstolos São Convocados
Atentar para a convocação dos apóstolos é indispensável à tarefa de avaliar o treinamento a que foram submetidos, pois ela teve um significado que não se limitou apenas à missão para que foram chamados, mas significou o rompimento com crenças, comportamentos, expectativas e relacionamentos, conforme o Senhor Jesus deixou claro nas suas palavras em Mateus 14.26,27.
Em uma linguagem hiperbólica, isto é, de exagero, o Mestre acentuou a seriedade do seu Reino, além de mostrar que a renúncia é a condição principal para que alguém se torne o seu discípulo. Fica evidente, portanto, que, ao serem convocados a seguir a Jesus, os seus apóstolos foram desafiados a romper com a vida de até então.
Jesus teve muitos discípulos durante a sua passagem pela terra, dentre os quais separou doze. Sobre o momento em que essa separação ocorreu, os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas dão informações com diferentes enfoques, conforme se lê respectivamente: “E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e todo mal” (Mt 10.1); leia também a informação de que Jesus “subiu ao monte e chamou para si os que ele quis, e vieram a ele” (Mc 3.13); veja ainda que o Senhor “subiu ao monte a orar e passou a noite em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos” (Lc 6.12,13).
Essas diferentes perspectivas de apresentar o mesmo acontecimento contribuem significativamente na apreensão de importantes lições sobre a convocação dos apóstolos, tais como: I) Antes de enviá-los a cumprir a missão a eles designadas, eles foram chamados ao Senhor; II) O Senhor deu-lhes o que eles teriam necessidade para cumprir a missão que deveriam cumprir, isto é, eles receberam “poder espiritual”; III) Foi uma escolha pessoal de Jesus, isto é, os critérios foram divinos, e não humanos; IV) Essa escolha foi feita pautada em oração; e V) Os que foram convocados passaram a ser chamados de apóstolos.
Algo indispensável a ser levado em alta consideração aqui é a pessoalidade com que Jesus põe-se a convocar os seus apóstolos. Em primeiro lugar, antes de terem sido chamados ao serviço, os apóstolos foram chamados ao Senhor Jesus, e eles foram a Ele, atendendo, assim, esse chamado pessoal que, além de outras lições, indica que a comunhão vem antes do trabalho; em segundo lugar, aqueles que foram chamados para apóstolos já estavam na oração de Jesus sem que eles soubessem e antes de terem recebido a convocação divina.
Os Apóstolos São Enviados
Uma das muitas qualidades da liderança de Jesus foi o equilíbrio com que Ele conduziu o seu ministério e o treinamento dos seus discípulos, pois, embora os discípulos tenham sido chamados primeiro a andar com o Senhor, este os enviou quando chegou o momento de cumprirem a missão outorgada a eles.
Os discípulos foram submetidos a um processo permanente, lento e progressivo de treinamento com vistas ao preparo para que estivessem em condições de ser enviados para cumprir o papel que deveriam desempenhar em favor do avanço do Reino de Deus na terra. É importante levar em conta o princípio de que o preparo sempre deve ser proporcional ao nível do trabalho a ser desempenhado, e, nesse caso, é preciso sublinhar que os discípulos tiveram de ser treinados de maneira avançada e dinâmica em virtude da grandeza do trabalho que haveriam de prestar ao Senhor.
Há muitos elementos da missão dos discípulos que são capazes de atestar a grandeza da missão a eles confiada, mas o seu caráter representativo abarca todos esses elementos e cumpre o papel de confirmar isso. Assim que separou os seus apóstolos (Lc 6.12-13), o Mestre deu-lhes algumas orientações e, junto delas, ordenou-lhes para que fossem cumprir a missão (Mt 10.3), e o evangelho de Marcos usa o termo “nomeou” ao referir-se aos apóstolos no mesmo contexto em que foram enviados (Mc 3.14). A expressão usada por Marcos remete a uma pessoa cuja autoridade é investida em alguém por vontade, iniciativa e decisão próprias. Nesse caso, o investimento de autoridade é feito por intermédio do nome dessa autoridade, isto é, a pessoa investe o seu próprio nome nos seus escolhidos com vistas ao cumprimento de uma missão, geralmente num contexto em que há uma lacuna a ser preenchida nessa representatividade. Sendo assim, quando foram escolhidos, separados, treinados e enviados, os apóstolos foram nomeados por Jesus a fim de representá-lo na propagação do evangelho e na implementação do seu Reino na terra.
Jesus não enviou os seus discípulos por achar que o seu ministério estava em baixa ou impopular, ou como se quisesse fortalecer a sua própria imagem; muito pelo contrário, a nomeação dos discípulos ocorreu quando o ministério de Jesus estava no auge na Galileia, e não somente isso, mas também como fruto da sua constatação de que “a seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros” (Mt 9.35-38). Diante disso, é possível identificar lições importantes, principalmente aos que exercem liderança cristã, sendo elas: I) Jesus não ficou paralisado e nem se prendeu ao sucesso imediato, mas desejou avançar ainda mais; e II) O Senhor compreendeu a necessidade de enviar representantes na propagação da sua mensagem.
Ao agir assim, Jesus demonstrou ser um líder sensível e corajoso — sensível porque percebeu a necessidade de ampliar os limites da sua atuação, e corajoso porque destacou homens para auxiliá-lo na sua missão. O Senhor Jesus, portanto, não somente os separou e treinou, como também os enviou, e assim Ele escolheu edificar a sua Igreja.
Os Apóstolos São Orientados
O verbo “orientar” tem relação com os verbos “guiar”, “dirigir”, “indicar”, “informar” e “aconselhar”. O salmista Davi reconhece que o Senhor foi o seu orientador, e isso fica claro nas suas palavras dirigidas ao Senhor, como se vê no Salmo 25: I) O Senhor é quem aponta o caminho (v. 8); II) O Senhor é quem guia no caminho (v. 9); III) O Senhor é quem ensina no caminho (v. 9); e IV) O Senhor é quem instrui (v. 12).
O verbo “apontar” traz consigo a ideia de indicar ou mostrar; já o verbo guiar indica estar junto enquanto caminha, e a conotação aqui permite pensar no Senhor segurando as mãos dos seus filhos; os verbos “ensinar” e “instruir” referem-se ao ato de apresentar princípios e explicá-los gradativamente; à medida que isso vai ocorrendo, o aprendizado vai-se aprofundando, e as raízes vão-se fortalecendo.
Um olhar atento para a expressão “orientar” contribui para a projeção de uma imagem em que se apreende que não há possibilidade de orientação sem que haja envolvimento do orientador com o orientando, pois a indicação do caminho requer comunicação, e o ato de guiar no caminho implica andar juntos — ou seja, orientar é efetivamente se envolver. Não há orientação sem que haja comunhão ou relacionamento. Portanto, além de escolher, separar, investir poder e enviar os discípulos, Jesus dedicou tempo para orientá-los, e isso implica a afirmação de que houve o interesse da parte do Senhor em estar envolvido na vida dos seus escolhidos com vistas a prepará-los para a tarefa que lhes foi confiada.
Diante das muitas lições que podem ser extraídas tanto do ato de Jesus em orientar os seus discípulos quanto do conteúdo dessas orientações, destaca-se aqui que, para o Mestre, não só o trabalho é importante, como também a forma de realizá-lo, pois a sua decisão em orientar os apóstolos denota que há um modelo que eles deveriam seguir e que não seriam autônomos para fazer o que bem quisessem. Dito doutra forma, não basta fazer o que é certo, é preciso fazer do jeito certo. Definitivamente, o Senhor Jesus é ordeiro e ama a ordem.
A compreensão do momento e do significado das orientações que Jesus ofereceu aos seus discípulos depende de uma observação atenta não somente ao que foi dito pelo Mestre, mas também para aquilo que Ele não falou, ou seja, é preciso atentar para o silêncio de Jesus sobre determinado assunto. Por exemplo, em nenhum momento Jesus não falou sobre resultados numéricos; no entanto, Ele enfatiza a forma como o trabalho deveria ser executado, e isso traz duas lições: I) Os resultados numéricos são de responsabilidade divina, e não humana (1 Co 3.6); e II) Os doze foram chamados a ser fiéis naquilo para que foram chamados.
Conclui-se, portanto, que Jesus envolveu-se com os seus discípulos para orientá-los, deixando, assim, não somente o exemplo, como também um modelo a ser seguido por líderes cristãos que desejam ter uma liderança fecunda, com resultados duradouros que glorifiquem a Deus e beneficiem pessoas.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Liderança na Igreja de Cristo: Escolhidos por Deus para servir. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.