Lição 5 – A Falta que faz um Líder
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Com o objetivo de ampliar a reflexão em torno do tema aqui proposto e de fazer um alerta importante, este capítulo volta-se para uma análise sobre os danos da ausência de uma liderança forte e confirmada por Deus — dito de outra forma, a proposta aqui é avaliar a falta que um líder faz. Objetiva e resumidamente, tudo o que um líder cristão tem a oferecer de benefícios e contribuições positivas aos seus liderados ficam ausentes quando faltam líderes, o que certamente resultará em grandes prejuízos e retrocessos.
O ponto de referência a ser usado nesta reflexão é a narrativa bíblica do livro de Juízes. As informações históricas desse livro retratam com singularidade os efeitos da lealdade e da deslealdade do povo diante de Deus, reafirmando a verdade de que as escolhas de um povo sempre terão as suas consequências e o quanto a figura de líderes fortes e comprometidos com o Senhor são importantes nesse processo.
O livro de Juízes ressalta a seriedade do tema sobre o papel e a importância do líder espiritual, principalmente em tempos de transição, como foi nos dias marcados pela morte de Josué e que Israel precisou tanto de uma referência para prosseguir no cumprimento da sua missão de agradar a Deus. Há muitas lições a ser apreendidas do livro de Juízes, só que o foco aqui se volta para uma avaliação que busca mostrar que a ausência de líderes colocados e confirmados por Deus traz consigo terríveis consequências, como a tolerância com o erro e as derrotas geralmente sendo maiores do que as vitórias.
Sendo assim, este capítulo propõe-se a discorrer sobre este aspecto importante da liderança cristã, começando com uma averiguação do livro de Juízes em si, objetivando uma melhor compreensão do que nele está registrado; logo em seguida, a ênfase dá-se em torno das consequências da ausência de líderes espirituais; e, finalmente, a apresentação de possíveis soluções para esse problema, que infelizmente tem sido cada vez mais recorrente na atualidade.
O PERÍODO DOS JUÍZES
Esta seção encarrega-se de mostrar o contexto em que os juízes atuaram, com a finalidade de sinalizar o quão prejudicial é para uma geração que amarga a falta de um líder espiritual que lhe sirva de referencial e que lhe forneça direção em tempos de escuridão. Com base nessa intenção, aqui se aborda três pontos principais que devem ser considerados: I) Na primeira parte, a análise desenrola-se em torno do livro de Juízes, cuja finalidade é a de estabelecer um contato maior com essa obra sagrada que dá informações sobre os juízes e os desafios que todos eles enfrentaram; II) Na segunda parte, o foco volta-se para os juízes em si, ou seja, para aqueles que foram escolhidos por Deus com a missão de libertar e, de certa forma, guiar o seu povo em tempos tão sombrios e difíceis; III) Na terceira e última parte, a proposta é a de apresentar o contexto em que esses juízes tiveram de cumprir a missão a que foram designados, e isso certamente contribuirá para uma compreensão maior e mais aprofundada sobre o tema.
O Livro de Juízes
O livro de Juízes pertence ao relato bíblico de natureza histórica e que se propõe a narrar os acontecimentos relacionados ao povo de Israel dentro do período que compreende a sua entrada na terra de Canaã, conforme narrado pelo livro de Josué, até quando foi tirado dessa terra, conforme o Segundo Livro dos Reis de Israel. À semelhança de outros livros da Bíblia, este livro vai além do propósito narrativo e mostra a intervenção divina na história no sentido de cumprir a promessa feita a Abraão, assumindo, assim, um caráter profético com uma mensagem atual e necessária.
Acerca da data a que se remontam os registros deste livro e do seu autor, há muita controvérsia e são temas que embalam acalorados debates; entretanto, segundo a tradição do Talmude, foi Samuel quem o escreveu e refere-se ao período de tempo dos seus registros entre 1390 a.C. e 1050 a.C..
Essas informações aclaram que o livro de Juízes registra: I) Fatos de uma época de guerras e combates que trouxeram prejuízos e sofrimento ao povo de Israel; II) A falta de unidade entre o povo de Deus como resultado da falta de uma liderança consolidada e permanente; III) Como a desunião de um povo torna-o presa fácil dos seus inimigos; IV) O grande sofrimento de uma geração inteira pela falta de um líder espiritual forte.
No que se refere à mensagem teológica deste livro, o que se pode notar é que a ênfase recai sobre a responsabilidade humana na sua relação com Deus, pois, dependendo das suas escolhas, o homem receberá a sua recompensa, ou seja, a obediência a Deus resultará em bênçãos, e a desobediência resultará em maldição. No entanto, a lição que fica também é que, mesmo tendo-se esquecido e afastando-se da Lei divina, Israel não deixou de ser povo de Deus, que, por fim, ainda o restaurou e abençoou como forma de cumprir a sua promessa feita ao seu servo Abraão.
A Liderança dos Juízes
Aqui já deve estar claro que, comparado ao período anterior das lideranças de Moisés e Josué, o período dos juízes distingue-se em muitos aspectos, principalmente no que diz respeito ao perfil de liderança vigente. Na época de Moisés e Josué, a liderança foi caracterizada pela centralização e pela disciplina, enquanto na dos juízes deu-se de maneira totalmente individualizada e fundamentada no carisma de um determinado líder que, com base nisso, cumpriu o seu papel e entrou para a história como uma espécie de herói. Isso mesmo, os juízes foram vistos e tratados como verdadeiros heróis entre o povo de Israel.
Embora haja discussão e controvérsia sobre a quantidade de juízes que atuaram durante esse período da história de Israel, tem-se defendido que catorze foi o número deles, ainda que seja bem provável que outros tenham sido usados por Deus e que não entraram no registro bíblico, já que Israel sofreu nas mãos de muitos e diversos povos estrangeiros, e o Senhor deu-lhes grande livramento (Jz 10.10-12).
Antes da apresentação dos nomes dos juízes mencionados nas Escrituras, destacam-se duas verdades importantes: I) Eli e Samuel geralmente são contados entre os juízes, ainda que os seus feitos não estejam inseridos no livro de Juízes; II) Débora deve ser considerada em conjunto com Baraque, assim como Gideão e Abimeleque, embora este seja considerado um usurpador. Com essas informações, eis os nomes que compõem a lista dos juízes que a Bíblia apresenta: Otniel, Eúde, Sangar, Débora (Baraque), Gideão (Abimeleque), Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão, Eli e Samuel.
Os juízes foram pessoas escolhidas por Deus com a missão de representá-lo numa função semelhante à de um governador e, geralmente, possuíam habilidades administrativas e militares. A função do juiz não era transferida de pai para filho, pois se tratava de uma escolha direta do Senhor. Além disso, os juízes não tinham a função de interpretar a Lei de Deus, embora tivessem o dever de cumpri-la e de trabalhar no sentido de levar o povo a fazer o mesmo.
O Contexto Social dos Juízes
Os juízes atuaram num longo e difícil período que, sem nenhum problema, pode ser chamado de uma época de transição em que fica clara a incapacidade do povo de Israel de honrar ao Senhor sem que houvesse um líder que lhe servisse de referência. Esse longo e difícil período da história de Israel é muito bem descrito pelo livro de Juízes, em que é possível perceber a lacuna que a morte de Josué deixou, já que ele servia como uma espécie de elo entre o povo e o que a liderança de Moisés representava, as ordenanças de Deus e os seus feitos maravilhosos. Diante dessa dura realidade, restou para o povo fazer o que está registrado em Juízes 2.6: “E, havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um à sua herdade, para possuírem a terra”.
Essas informações, somadas às ponderações feitas anteriormente, tornam possível uma clareza maior sobre o período a que o livro de Juízes encarrega-se de narrar; e não somente isso, mas também possibilita uma visão mais apurada sobre os desafios impostos nos dias em que os juízes atuaram e cumpriram a missão a que foram designados, mui especialmente no que tange à falta de um líder permanente, realidade que, conforme o texto bíblico supracitado, cada um dos integrantes do povo de Israel dirigia-se para as suas habitações a fim de viver cada um à sua maneira, distante um dos outros e sem a tão necessária referência de um líder. O livro de Juízes, portanto, remonta a uma época que é bem descrita sob as seguintes condições: I) Uma fase de transição; II) Um povo sem a figura de um líder; e III) Um povo sem as devidas condições para ser governado por um rei.
A FALTA DE UM LÍDER
Imagine o mundo sem líderes. Quão trágico seria a vida sem a presença de pessoas com a capacidade de organizar a lista de prioridades para as ações, de oferecer direção em tempos de incertezas, de servir de referência em circunstâncias que se requer a tomada de decisões, de coragem e tempos de árduas batalhas e comprometidas com Deus ao ponto de influenciar os seus liderados e até mesmo a sua geração!
No sentido de ampliar a imaginação do quão trágica seria a vida sem a existência de um líder, atente para cinco qualidades de um líder que Stan Toler elucida e que são capazes de mostrar a essencialidade de uma liderança espiritual: I) Eles não se importam com quem recebe o crédito porque priorizam o sucesso do trabalho a ser realizado; II) São dispostos a priorizar o trabalho a ser realizado em detrimento de interesses pessoais; III) Possuem um coração disposto a perdoar sempre que necessário; IV) Motivam-se pelo sucesso dos seus liderados; e V) São justos ao ponto de não ter dificuldades em oferecer o que os seus liderados realmente merecem pelas qualidades que possuem.2
A figura e o trabalho do líder cristão são indispensáveis, pois, assim como a sua existência é fator preponderante para o sucesso de um projeto a ser executado, a inexistência de líderes com essas qualidades é a garantia do fracasso de qualquer empreendimento, por mais promissor que possa ser. É necessário, portanto, que duas coisas básicas sejam feitas pela Igreja de Cristo: I) Alertar sobre a possibilidade de uma geração ficar sem a presença de uma liderança confirmada por Deus e sobre os prejuízos disso; e II) Orar para que Deus abençoe a liderança da sua Igreja e que continue levantando pessoas que possam engrossar a fileira dos que militam nessa batalha.
O Problema da Falta de um Líder
A reflexão deste capítulo tem sido feita a partir do contexto do livro de Juízes, que, dentre outras lições, se encarrega em ensinar sobre os problemas que um povo enfrenta em decorrência da ausência de um líder. Aqui se impõe, no entanto, a necessidade de um corte para que a atenção volte-se para o exemplo de Jesus, que, de forma extraordinariamente cirúrgica identificou uma geração desprovida de liderança e vaticinou os seus graves prejuízos.
Conforme se vê a partir das palavras do evangelista Mateus: I) Jesus não somente olhava, mas também foi um líder capaz de ver, isto é, enxergar as necessidades das pessoas que o seguiam; II) Jesus foi um líder que se compadecia, quer dizer, sentia a dor das pessoas que o acompanhavam; III) Jesus identificou a falta de líderes nos seus dias; e IV) Jesus compara a falta de líderes com a falta de ceifeiros, indicando — dentre outras lições — o prejuízo de uma semeadura que ficará sem a colheita e que, em consequência disso, poderá faltar alimento para as pessoas.
Num outro contexto, mas com o mesmo nível de seriedade, o povo de Israel sofreu a falta de uma liderança espiritual confirmada por Deus nos dias dos juízes e que, à semelhança das pessoas dos dias de Jesus: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Jz 17.6). A falta de um líder dispersa o povo, tornando-o vulnerável ao inimigo e exposto às paixões do seu próprio coração, o que pode vir a ser trágico, e até fatal, em alguns casos.
Causas para a Falta de um Líder
Assim como outros pontos até aqui abordados, apontar as causas para a falta de líderes espirituais podem ser muitas; por essa razão, sobre a esteira do que o livro de Juízes informa, ainda que implicitamente, com o objetivo de delimitar a reflexão, serão destacadas duas possíveis causas apenas. A falta de líderes pode ocorrer pela falha de um líder em não se preocupar em preparar e trabalhar a sua sucessão. Josué não é visto trabalhando em torno do assunto daquele que o sucederia à frente de Israel, e, embora a Bíblia não afirme isso e não o condene por isso, todavia está implícita a ideia de que isso foi uma das causas pelas quais Israel ficou muitos anos sem a figura de uma liderança permanente e centralizada, o que acabou trazendo muitas dificuldades.
Outra possível causa para a falta de líderes em uma determinada geração é o propósito de Deus. Isso mesmo, o Senhor pode utilizar-se desse recurso para tratar com o pecado do seu povo, ou até mesmo moldá-lo no sentido de levá-lo ao ponto necessário de maturidade. Destaca-se que, assim como as escolhas de Deus são perfeitas e Ele não erra quando escolhe alguém para liderar o seu povo, do mesmo modo quando Ele não oferece alguém que assuma essa liderança, Ele também não está errando; pelo contrário, Deus tem um propósito nisso e certamente irá cumpri-lo.
A liderança de Josué representa a última sob o formato permanente e centralizado antes do período dos juízes, que é precedido do período dos reis sobre Israel. Essa informação é importante porque promove uma reflexão sobre a possibilidade de Deus ter usado da ausência desse líder centralizado para moldar o seu povo até que os estivesse pronto para receber um rei como liderança permanente. Além disso, o Senhor privou Israel desse líder para discipliná-lo e corrigi-lo, pois a dinâmica presente no livro de Juízes é circular, já que a história segue sempre na mesma direção, a saber: Israel cai na idolatria, Deus subjuga a Israel a outros povos, Israel clama, e Deus livra-o sempre por meio de um juiz (Jz 3.8).
Conclui-se, portanto, que, ao que parece, uma das formas de Deus corrigir o seu povo é privando-o de líderes que o represente, assim como abençoa e recompensa o seu povo por meio de líderes espirituais fiéis (Jr 3.6-17). Sendo assim, a Igreja de Cristo deve clamar a Deus, pedindo-lhe que lhes dê líderes espirituais segundo o seu propósito.
Os Efeitos da Falta de um Líder
O livro de Juízes ainda fornece importantes lições que servem não somente para corrigir eventuais erros, mas também para evitar que outros sejam cometidos. No caso desta seção, este livro do Antigo Testamento apresenta-se como um aliado para mostrar que a ausência de líderes genuinamente espirituais e confirmados por Deus causa efeitos terríveis, tais como confusão social e caos moral. Acerca das condições sociais e morais do povo de Israel no período dos juízes, já devem ser bem claras, haja vista que isso tem sido amplamente discorrido aqui; por essa causa e com o intuito de ampliar a análise proposta nesta seção, leia as palavras de Paulo a Tito e observe um dos principais efeitos da ausência de um líder cristão em um determinado lugar, ou mesmo numa determinada igreja: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas que ainda restam […]” (Tt 1.5).
A primeira análise a ser feita aqui é com base na expressão “que pusesses em ordem”, que traz à mente a ideia de que as coisas na igreja que estava em Creta não estavam como deveriam estar, ou seja, estavam desordenadas, o que impunha a necessidade urgente de um líder espiritual que pudesse conduzir o processo de reorganização das coisas. Isso mesmo, a falta de um líder produz desordem.
A segunda análise parte da expressão paulina “as coisas que ainda restam”, que assume uma função importante aqui, pois Tito foi incumbido de concluir aquilo que estava inconcluso na igreja que estava
em Creta, que é o mesmo que ter recebido a responsabilidade de dar continuidade ao processo de maturidade cristã e desenvolvimento espiritual daquela recém estabelecida igreja. A falta de um líder cristão resulta na lentidão — e, em alguns casos, até na interrupção — do processo de crescimento espiritual de crentes em Jesus.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Liderança na Igreja de Cristo: Escolhidos por Deus para servir. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.