Lição 7 – Quem segue a Cristo anda em fidelidade
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Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Thiago Brazil.
INTRODUÇÃO
A fidelidade cristã é um processo de enriquecimento contínuo, isto é, não existe um ápice de lealdade que se atinja e de lá não se siga mais nada. O ideal do fluxo ininterrupto da comunhão com Deus é um fato incontroverso nas Escrituras: amor, fidelidade, conhecimento. São todas categorias que a Bíblia apresenta como participantes de uma sucessão permanente de progresso.
Essa concepção é indispensável para a vida cristã, pois, diferentemente daquilo que a religiosidade prosaica defende, os melhores dias de nossa jornada espiritual não ficaram no passado, não foram os dias de um “primeiro amor” que ficou para trás. Lembremo-nos de que a exortação bíblica é que vivamos de forma regular essa experiência de amor primevo, original, vindo diretamente da fonte do Céu.
Dessa forma, todo discípulo de Jesus deve experimentar hoje uma vida cristã melhor do que aquela que ele desfrutava no início da sua jornada espiritual. Paulo chama isso em Romanos de estar mais próximo da salvação hoje do que no passado, comparando, obviamente, a experiência da graça a uma peregrinação pessoal. Quem olha com saudosismo o seu percurso espiritual — aspirando nostalgicamente o regresso de um tempo que não voltará — demonstra com esse tipo de comportamento um preocupante nível de adoecimento espiritual.
Não devemos ficar envergonhados de forma alguma de nossa história; contudo, é mais do que natural que vivamos hoje uma qualidade de espiritualidade muito melhor do que aquela que usufruíamos no início de nossa fé. Espera-se naturalmente de um cristão que ele desenvolva a sua fé e progrida espiritualmente, tornando-se cada vez mais a imagem de Cristo na terra. Se alguém, depois de anos de caminhada cristã, olha para o seu presente e envergonha-se ao compará-lo com o início da fé, essa pessoa precisa urgentemente de uma reconciliação com Deus, pois a graça do Altíssimo sobre nós só abunda, nunca esmaece.
Depois de anos seguindo o Mestre, não podemos mais nos permitir certos comportamentos infantis, posturas tolas ou respostas carnais. Já vislumbramos muito da glória de Deus para vivermos como pessoas insensíveis à manifestação do amor do Criador. Nossa vocação à fidelidade exige-nos escolhas maduras e firmes. A inconstância é a condição dos ignorantes, o modo de vida dos alheios a Deus e ao seu Reino.
Fiel é a condição daquele que, podendo fazer inúmeras outras escolhas, persiste em seguir no seu relacionamento com alguém. No caso da fidelidade ao Senhor, essa constância comunal implica numa completa rejeição da idolatria, o que seria a materialização da infidelidade ao Criador.
A degeneração da exclusividade com Deus tem causas e consequências tão múltiplas quanto diversas. Como principais razões, podemos apresentar a inveja, a ambição, o narcisismo.
Todas as vezes que os filhos de Adão aspiraram ser mais do que podiam ser, permitiram perigosíssimas lacunas para a operação do maligno; essa é uma fratura que carregamos desde o Éden. Quando a humanidade se revolta contra o seu bondoso Pai e imagina ser capaz de controlar o Universo que não criou, a tragédia está estabelecida em forma de um culto macabro à própria capacidade. O primeiro casal deixou-se seduzir pela ilusão de ser igual a Deus, quando o que lhe bastava era continuar sendo ele mesmo para permanecer em plena felicidade.
A outra origem degenerada da infidelidade espiritual é a inveja de ser o outro. Foi assim que aconteceu com o povo de Israel, que, no lugar de exaltar a majestade providencial do Senhor, que os mantivera existentes desde a saída de Abraão de Ur dos Caldeus, desejou perversamente ser como as outras nações. Que absurdo! Quem foi gerado de forma maravilhosa e inigualável sonhava com uma condição ordinária de vida. Somente o fundo do poço da deslealdade espiritual pode induzir um povo a um tipo de comportamento coletivo assim. O resultado foi um Saul, o melhor que havia em Israel para aquele tempo, mas ainda prematuro, instável e infiel.
O culto às próprias pseudovirtudes é, sem dúvida alguma, a mais perversa maneira de sabotar o relacionamento com o Eterno. A autocomiseração, o vitimismo e o culto à deformada imagem de si demonstram como a humanidade pode afastar-se de Deus caindo dentro de si mesma. Não precisamos de nada externo a nós para perdermo-nos; basta o terrível coração que há em nós começar a tomar as decisões segundo os seus próprios critérios, conforme os juízos que lhe convém.
Vivemos num tempo muito contraditório. Em nossa sociedade, as pessoas constroem a visão de um deus penalizador; por outro lado, os mesmos indivíduos procuram uma harmonia com o mal. Sim, pecado, ambição e inveja são os valores deste tempo; por outro lado, santidade, fidelidade e caráter são entendidos como características negativas.
Em nosso tempo, a visão divina é distorcida de modo terrível, sendo comunicada como se o Criador fosse um ser carrancudo, cheio de violência e causador de medo. Tudo isso se deve ao fato de uma percepção religiosa do Rei do Universo.
No Salmo 24, somos conclamados a cantar a majestade de Deus na terra, assim como ela é celebrada no Céu. As estruturas celestes vivem em contínua festa, pois onde a presença do Senhor está temos plena alegria.
Se você não serve o Deus da alegria, provavelmente está sendo escravo da religião, e não do Salvador. A consciência de quem é o Eterno deve levar-nos a um nível de felicidade incomensurável, a um estilo de vida que se reconcilia com a vontade do bondoso Senhor.
Seguindo a lógica interna do Salmo 24, se até mesmo as estruturas celestiais cantam a glória de Deus, nós, os seus filhos criados — exatamente para isso para o louvor e a adoração —, devemos viver em imenso júbilo e contentamento. Que sua vida não seja reduzida à tristeza ou angústia e que a sua existência jamais seja escrava do pecado.
Façamos da vida uma festa de louvor e adoração. Cantemos a todos os pulmões a glória do Redentor, o poder do Salvador e o amor do Rei de toda a terra.
É fácil obedecer a Deus? Não! É necessário? Sim!
Para exortar os filhos de Judá sobre o seu comportamento contumaz de irresponsabilidade, o Redentor utilizou a postura dos recabitas como exemplo de fidelidade e integridade. Toda uma descendência, depois de passadas dezenas de gerações, ainda seguia com extremo zelo a orientação deixada pelo seu patriarca. Se as tradições humanas devem ser obedecidas com tanta atenção, quanto mais se deve obedecer às convocações divinas.
Judá perdeu-se nas suas desobediências, tornando-se uma nação inteira cega pelo pecado. As consequências foram simplesmente desastrosas, pois o povo, guiando-se pela arrogância, acreditou ser capaz de enfrentar as forças infernais e políticas daquele contexto. Invadidos, devastados e escravizados, o povo de Deus caiu.
Deve-se destacar que o Altíssimo nunca abandonou os seus filhos. Pelo contrário, o Senhor insistentemente “madrugou” em enviar os seus profetas para alertar aquela geração sobre o caminho que tomavam. A obediência não se impõe, aprende-se; mesmo diante daquele caos, o Senhor não exigiu arbitrariamente alguma “obediência cega”. A submissão que o Eterno deseja de nós é absolutamente consciente, isto é, seguida sempre com olhos bem abertos.
A obediência é o único caminho para aqueles que querem viver a plenitude das suas vidas. Obedecer ao Criador não é uma opção, mas uma necessidade insuperável.
Esta deve ser nossa busca constante e ininterrupta: fidelidade. A prática cotidiana do cristianismo constitui-se nisto: num exercício
sempre inacabado de tornar-se fiel ao Senhor Deus, bondoso guia de nossas existências. Olhemos, então, para três imagens bíblicas que Paulo utiliza em 2 Timóteo para anunciar a urgência da fidelidade: o soldado, o atleta e o agricultor.
O Soldado
Roma era um império militar. Um cristão leitor de cartas paulinas compreenderia com toda naturalidade a referência à fidelidade como a seriedade das ações de um soldado. Na tradição dos manuais militares romanos que tratam sobre o modo de vida e as qualidades que se esperam de um soldado, destacam-se a moderação, a conduta ilibada e o desprendimento. Ponha-se em relevo desses atributos gerais aqui apresentados o desapego como estilo de vida do militar romano — aspecto importantíssimo que será posteriormente retomado nesta reflexão.
Esse grupo de características produziria um encadeamento natural de três conceitos latinos fundamentais para a prática marcial: dignitas, potestas, auctoritas — respectivamente dignidade, poder e autoridade. Esses três termos tão comuns em nosso vocabulário contemporâneo carregavam uma semântica bélico-jurídica bem específica no primeiro século.
Dignitas era como se denominava o reconhecimento público que um cidadão recebia pelas suas ações em favor da coletividade. Essa distinção fazia do seu detentor alguém possuidor de uma influência política que se modelava não pela força ou pela violência, mas, sim, pelo mérito. A alta posição pessoal que a Dignitas atribui ao indivíduo tem o seu valor por ser oriunda da apreciação coletiva.
Potestas era o legítimo poder exercido pelo militar que lhe conferia a competência de liderança entre os seus pares. Não significa apenas o uso da força ou da coação física do outro, mas um domínio moral-legal sobre os demais, condição que consolidava de maneira incomparável o seu comando sobre as tropas que lhe eram fiéis. Esse poder, para utilizar-se uma chave de leitura weberiana, é muito mais próximo de uma potência carismática do que uma estrutura legal ou tradicional.
Por fim, a auctoritas, que era ilimitada quando referente ao imperador — auctoritate omnibus praestit —, dizia respeito à possibilidade de ordenar e ser reconhecido como digno de obediência. O portador da auctoritas tinha a consideração pública como o símbolo da sua distinção social. Dignidade ou poder sem autoridade não passa de exercício monstruoso da força. Aquilo que nos distingue das instâncias degeneradas da barbárie e da simples guerra de todos contra todos é exatamente a auctoritas.
Depois dessa breve digressão sobre as concepções romanas de honra e glórias sociais, voltemos nosso olhar para a qualidade do militar romano que interessou Paulo quando este se referiu ao comportamento do soldado na segunda carta a Timóteo: a disciplina.
Era simplesmente impensável imaginar um exército como uma turba acéfala com cada indivíduo agindo de acordo com a sua própria vontade. O exército romano era visto como um corpo — imagem cara à tradição cristã para referir-se à unidade que constitui o ser Igreja; por isso, não cabia ao indivíduo qualquer possibilidade de imaginar-se fora do contexto em que a sua tropa estava.
Esse parece ser exatamente o sentido que o apóstolo remete-se ao declarar que, assim como o guerreiro romano, o cristão não deve desconcentrar-se na batalha da vida por coisa alguma. Nenhum militar, enquanto partícipe das ações militares, pode preocupar-se com assuntos civis, que não lhe podem dizer respeito naquele instante em que se encontra em missão. Da mesma forma, um discípulo de Jesus Cristo — que está em constante missão e peleja contra o Inferno — não pode adamizar-se.
Essa talvez seja a maior confusão que se faz ao tratar-se da natureza pública de nossa fé: não existe qualquer dicotomia entre instantes santos e profanos na vida de um cristão. Não temos nenhuma conexão com aquilo que é impuro, perverso ou mundano. Tudo com o que nos envolvemos é espiritual. Assim, quando participamos da vida política de nosso país, engajamo-nos em causas sociais, exercemos nossas profissões com maestria e devemos estar conscientes de que é nosso dever realizar tudo isso glorificando o nome do Eterno. Se, de alguma forma, ou por algum motivo, ao exercermos nossa cidadania, não visarmos o amor divino, não nos comportamos como dignos seguidores de Cristo. Não somos salvos, contudo, para vivermos numa bolha, alienados de nossas responsabilidades com o bem-estar de nosso mundo. A graça de Deus impele-nos a colaborar para uma sociedade mais justa, para uma comunidade global que se reaproxime do ideal perdido no Éden.
O problema é que as pessoas, no lugar de exaltar o Redentor na natureza ordinária da vida, procuram idolatrar ideologias, mamonizar o poder, isto é, aquilo que podemos denominar de readamizar a vida. Cristo no Calvário é o anúncio da nova humanidade que nasce debaixo da graça e da liberdade, mas existem pessoas que infelizmente escolhem trocar o paraíso das bênçãos divinas pelas ilusões que serpenteiam no mundo. Readamizar-se é o oposto de nascer de novo. Quem experimenta a regeneração em Cristo vislumbra futuros gloriosos; já quem regride para o velho estado humano corre o risco de morrer eternamente.
Assim como Adão no jardim divino não devia ter dado ouvidos a planos diabólicos, mas, sim, estar focado na sua missão de representante celeste no Éden, também o soldado que está no front de batalha não pode titubear, pois precisa focar na sua missão, pois, doutro modo, não haverá amanhã. Esta é a exortação paulina para todos nós: não nos misturemos com assuntos que não nos dizem respeito — corrupção, adultério, ódio etc. —, pois nada disso deve dominar nossas vidas; de outra forma, seremos adamizados. Somos chamados para sermos cristãos e, assim sendo, cada vez mais focados na missão divina que nos foi conferida, sem nenhum embaraço, lutando a peleja da vida como bom guerreiro de Jesus Cristo.
O Atleta
Como você enfrenta o jogo da vida? Algumas pessoas passam pela vida como se fossem meras vítimas, seres passivos que devem apenas cumprir um papel que lhes está eternamente determinado. Para essas pessoas, a vida não exige qualquer comprometimento; elas estão apenas jogando para “cumprir tabela”, ou seja, sem qualquer empenho pessoal. Não é assim que Paulo entende que a vida de um cristão deve ser.
O apóstolo era oriundo de uma sociedade que cultivava as competições esportivas e via nelas um campo de demonstração da bravura, da coragem e da honradez. Defender a sua cidade em jogos olímpicos, por exemplo, era uma das mais altas distinções que um indivíduo poderia ter naquele contexto histórico. Por isso, os partícipes desses eventos esportivos lançavam-se nas competições com empenho, na ânsia de bem representar a sua comunidade local.
Os prêmios desses jogos históricos eram singelas coroas de louro, que — em valores monetários — não significavam coisa alguma. Esses prêmios nem mesmo duravam fisicamente, pois logo os laureis murchariam e sequer existiriam. Se o coroamento não tinha distinção alguma, por que, então, competir? Pela glória que transcendia o próprio indivíduo e pelo privilégio de, por anos, ser rememorado pelos seus feitos e conquistas.
Tomando essa imagem como paradigma, Paulo exorta os cristãos a ser os “melhores atletas” na “carreira da vida”, pois — assim como os atletas do antigo universo olímpico — não lutamos por benefícios materiais ou valores monetários, mas, para além deles, também não vislumbramos qualquer glória terrena. Nossa busca é pelo Céu; por isso, não pretendemos ser melhores que nenhuma outra pessoa além de nós mesmos. É contra nossos pecados, fragilidades e crises humanas que combatemos diariamente e esforçamo-nos para ganhar nossas pelejas contra o Inferno, sabendo, todavia, que o prêmio já nos foi destinado, bastando-nos, portanto, competir para vencer.
O Agricultor
Um bom artífice é aquele que possui pleno domínio sobre a sua arte. A agricultura, por mais simplória que pareça, também possui as suas especificidades, segredos e exigências. Isaías, profetizando sobre o tratamento de Deus com Israel, lembra aquela comunidade algumas características do agir do Senhor.
Dos versículos 24 a 29 do capítulo 28 do profeta Isaías, lemos que existe o tempo e o modo corretos de semear. Muitas vezes as pessoas ficam tão tensas e estressadas com os preparativos para um projeto que acabam desgastando-se de maneira inútil e adoecedora. Isaías demonstra que um agricultor não pode ficar o tempo todo apenas revolvendo, arando ou adubando a terra, mas também tem que lançar as suas sementes no tempo determinado — do contrário, nada colherá. Os filhos de Israel precisavam entender as oportunidades que lhes oferecia o Altíssimo, pois, se o momento certo passasse, eles poderiam sofrer consequências inimagináveis. Também precisamos aproveitar o movimento da história e discernir a sua boa vontade em nosso favor.
Isaías proclama que não basta chegar a um resultado final; é necessário trilhar o caminho correto. Quem tenta debulhar ervilha a marretadas descascará o fruto, mas pouco aproveitará do resultado final; já o trigo deve ser moído, mas nunca em demasia, senão tudo será perdido. Não bastava ao povo de Israel chegar a um resultado a todo custo se no caminho fossem sacrificados princípios morais, vidas humanas ou tradições coletivas. Somos instrumentos de Deus para a realização de grandes obras; portanto, busquemos corresponder de maneira honrosa e digna a maravilhosa vocação que nos foi concedida.
Vivamos de maneira sábia, usufruindo das bênçãos do Senhor sem sofrer nem causar angústias no outro. Que nosso percurso ao centro da vontade de Deus não seja sacrificante para nossa alma, e nem para o sorriso de quem amamos. A boa colheita é aquela cujo resultado não é apenas um recorte isolado da história, e sim a demonstração de todas as dádivas que recebemos no curso de todos os acontecimentos.
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: Imitadores de Cristo: Ensinos Extraídos das Palavras de Jesus e dos Apóstolos. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.