Lição 6 – Quem segue a Cristo compreende o Reino de Deus
Prezado(a) professor(a), iniciamos mais um trimestre! Você já assistiu a apresentação deste trimestre em nosso canal no Youtube? Acesse o link (https://youtu.be/dKyw9mBeKms) e veja o que preparamos para vocês neste trimestre.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Marcelo Oliveira.
INTRODUÇÃO
Certo homem recebeu em sua casa a seguinte mensagem: prepare-se, o rei vai passar. Consigo mesmo, ele imaginou a pompa da família real e as carruagens de ouro que vão acompanhar o rei. Os cavalos, estandartes dourados e a guarda real o homem simples também imaginou. Finalmente, ele veria de maneira orgulhosa o seu rei adentrar triunfantemente. Após imaginar, o homem saiu pelas ruas a procurar o rei em meio à multidão. Mas tinha um problema que o fez pensar consigo mesmo: Como eu acharia alguém que eu não conheço no meio dessa multidão? Ele não conhecia o rei. Momentaneamente, desanimou, porém insistiu na caminhada. Até que encontrou no caminho alguém sob um jumentinho que o olhou. De pronto, o simples homem perguntou apressadamente: “Onde meu rei está?”. O que estava sob o jumentinho sorriu de lado, seguiu o seu caminho, e o homem simples afastou-se.
Cansado e abatido, o certo homem atravessou para o fim daquela multidão. Ele percebeu que não havia carruagens e estandartes. O homem não achou o seu rei. Ele perguntou mais uma vez. Mas desta vez a resposta que ouviu nunca mais ele esqueceu: o seu rei vai sozinho sob um jumentinho. Para ele, restou apenas o choro em soluços.
Essa história é uma linda composição do compositor e cantor Sérgio Lopes, “Meu Rei”. Trata-se de uma composição que simboliza de maneira bela a natureza do tema deste capítulo: O Reino de Deus. Quantos já confundiram o Reino de Deus com “cavalaria”, “carruagens de ouro” e “guarda real”? Quantas pessoas não contemplaram o verdadeiro Rei em cima do jumentinho? Quantos não confundem o Reino com comida e bebida? Embora o grande Rei tenha escolhido nascer numa humildade manjedoura.
Neste capítulo, temos o propósito de conceituar o Reino de Deus e mostrar a sua natureza. A partir do momento que compreendemos o Reino de Deus, podemos classificar o que ele não é. Em seguida, e finalmente, vamos refletir a respeito de como viver o Reino de Deus. Assim, como discípulos de Jesus, podemos viver neste mundo com um senso claro e bíblico da realidade do Reino. E mais: quanto mais conhecemos o Reino de Deus, mais conheceremos a natureza caída do mundo.
I – O QUE É O REINO DE DEUS
Nesta primeira parte, abordaremos o conceito e a simplicidade do Reino de Deus. Falaremos a respeito da condição miserável dos fariseus quando confundiram a natureza do Reino e não souberam contemplar a verdadeira manifestação desse Reino diante dos próprios olhos. Aqui, há um perigo de tornarmo-nos igualmente insensíveis para com as coisas do Reino de Deus. Em seguida, mostraremos o aspecto futuro do Reino de Deus e o quanto é importante perseverarmos nessa bendita esperança até o fim da jornada.
A Simplicidade do Evangelho do Reino
O que vem em sua mente quando você ouve a expressão Reino de Deus? De fato, não é uma expressão fácil de conceituar. Em Teologia, é uma expressão muito estudada. Ao comentar a respeito da teologia de Mateus e, especificamente, do termo “reino”, o teólogo David K. Lowery afirma: “Em geral, a palavra ‘reino’ denota a ideia de um domínio, uma região ou espacial, incluindo o povo e a terra sobre os quais um rei exerce autoridade”.1 Vale destacar o que o teólogo Michael L. Dusing, quando escreve a respeito da relação da Igreja do Novo Testamento com o Reino de Deus, mostra acerca da expressão grega basileia tou theou (Reino de Deus). Ele explica que a palavra basileia (reino) traz a ideia de um governo de Deus sobre a criação, ou seja, o espaço universal do seu soberano governo. Nesse sentido, fica clara a ideia de que a expressão Reino de Deus significa o governo de Deus sobre tudo o que há no mundo físico e no mundo espiritual.
No texto de Lucas 17.20,21, há uma pergunta que os fariseus fizeram a Jesus a respeito da manifestação desse Reino. De pronto, o Mestre respondeu: “O Reino de Deus não vem com aparência exterior” (Lc 17.20). Diferentemente do que os fariseus pensavam, a declaração de nosso Senhor contrapôs integralmente a noção de reino literal, ou terreno, de conotação política dos fariseus para livrar os judeus do jugo do Império Romano.3
Embora o Reino de Deus não se manifestasse com a mesma pompa dos reinos terrenos, há sinais claros da sua presença no mundo. Nesse sentido, qual seria a expressão visível e concreta da manifestação do Reino de Deus? Em primeiro lugar, a vida e o ministério de Jesus é a expressão máxima de que o Reino de Deus já estava entre os homens, mas os fariseus não conseguiam enxergar: “Eis que o Reino de Deus está entre vós” (Lc 17.21). Esse é o aspecto mais presente e visível do Reino de Deus.
Essa perspectiva do Reino de Deus traz implicações importantes para nossos dias. Em primeiro lugar, as pessoas que se relacionam com outras que são parecidas com Jesus têm contato com o Reino de Deus. Este não se dá por aparência exterior, mas pela ação genuína dos seguidores de Jesus. Segundo, quando há uma manifestação sincera de amor e boa vontade, o Reino de Deus está presente; quando expulsamos os demônios em nome de Jesus, o Reino de Deus está presente; quando vivenciamos a presença abundante do Espírito Santo com rompantes de línguas estranhas e os exercícios dos dons espirituais, o Reino de Deus está presente; quando a esperança de que Jesus pode arrebatar a Igreja a qualquer momento altera nossas ações, quer morais, quer espirituais, o Reino de Deus está presente; quando congregamos numa igreja local, vivenciamos a expressão do Reino de Deus.
Compreender isso pode parecer complexo, mas a sua aplicação é generosamente simples. Por isso, o Senhor Jesus disse tanto a respeito do Reino de Deus. Quando os homens pensavam que o Reino chegaria de forma pomposa, mansa e humilde de coração, o Senhor manifestou simplicidade, chegou e habitou entre nós (Jo 1.14). Eis o Reino de Deus!
A Miserável Condição dos Fariseus
É uma tragédia quando um cristão perde a esperança na simplicidade do Reino de Deus, como os fariseus fizeram. Eles estavam tão acostumados ao relacionamento político-religioso com o Templo que não conseguiam enxergar o Reino de Deus diante deles na pessoa bendita de Jesus Cristo.
Hoje fazemos parte da Igreja de Cristo. Ao longo de nossa caminhada, é muito importante considerar o que o apóstolo Paulo escreveu aos gálatas: “Temo que, assim como a serpente, com a sua astúcia, enganou Eva, assim também a mente de vocês seja corrompida e se afaste da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Co 11.3, NAA – grifos meus). Afastar-se da simplicidade e da pureza devidas a Cristo é um perigo real. Quantas vezes somos tentados a deixar-nos seduzir pelas aparências exteriores deste mundo? Não podemos esquecer que a volúpia do mundo é concreta. Os seus tentáculos estão dia e noite atuando para tirar-nos da resolução de viver uma vida simples no Reino de Deus. Entretanto, para viver o Reino de Deus agora e perseverar na sua simplicidade, precisamos priorizar também outro aspecto do Reino de Deus: o do porvir.
O “agora” e o “porvir” do Reino de Deus
Se por um lado o Reino de Deus está presente hoje entre nós; por outro, é bem verdade que a sua manifestação plena ainda há de ocorrer no porvir
Anteriormente, eu disse que precisamos ter em vista o aspecto futuro do Reino de Deus para vivê-lo agora e perseverar nele. No texto citado, o teólogo Michael Dusing apresenta uma dimensão do “já” e “ainda não”. Podemos dizer que essa dimensão gera uma tensão, pois o Reino de Deus está presente, porém ainda não está consumado. Entretanto, temos uma bendita esperança para vê-lo vigorar sob a autoridade de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O apóstolo Paulo ainda escreve: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1 Co 15.19, NAA). Assim, precisa estar claro para o cristão que nossa esperança não se resume a este mundo.
Nesses últimos dias, temos o desafio de fazer a manutenção dessa esperança. É preciso viver a dimensão do Reino agora, fazendo as coisas de Deus de maneira que o glorifiquem e exaltem-no por intermédio de nossa vida, ao mesmo tempo em que aguardamos o soar da“última trombeta”. É essa bendita esperança que nos faz perseverar. Essa bendita esperança não nos deixa desistir. Essa bendita esperança é o que nos anima. Essa bendita esperança não está na riqueza; não está na política; não está na ideologia ou na vã filosofia. Nossa esperança está em Cristo Jesus, nosso Senhor e Rei.
II- O QUE NÃO É O REINO DE DEUS
Acima, de maneira geral, vimos o conceito de Reino de Deus e a sua natureza manifesta no mundo por meio do ministério e obra de Jesus Cristo. Nesta segunda parte, mostraremos o que o Reino de Deus não é.
Não Confunda o Reino de Deus com Opiniões Pessoais
O Reino de Deus não é uma instituição que pode ser construída por seres humanos. Infelizmente, muitos no passado cometeram esse equívoco e, lamentavelmente, ainda hoje continuam a repeti-lo.
Há uma escola de interpretação escatológica denominada de pós-milenista. Essa escola acredita que haverá um tempo em que ocorrerá uma aceitação mundial do evangelho, que países e civilizações inteiras mudarão por causa da conversão ao evangelho.6 A prosperidade será abundante, e o mundo será de muita paz e segurança. Isso significa que o Senhor Jesus não estabelecerá o Milênio, pois Ele virá ao fim desse reinado, após o período do Milênio.7 Com base nessa esperança pós-milenista, cristãos sinceros acreditam que podem mudar o curso do mundo fazendo a leitura de que há uma ordem para estabelecer o “Reino de Deus” nele — nesse caso, restaurar a política e a cultura. Não por acaso, muitos que adotam essa perspectiva teológica são engajados política e socialmente. É a visão equivocada do Reino de Deus conforme os fariseus acreditavam, mas com uma nova roupagem atualmente.
Temos uma compreensão completamente oposta. Cremos que Jesus Cristo estabelecerá de maneira plena o Reino de Deus no mundo, o que acontecerá por meio do Milênio. De acordo com as Escrituras, a Igreja não foi chamada para fazer isso. O Milênio não será implantado vagarosamente pela Igreja. Nesse sentido, somos pessimistas quanto ao período de paz universal (1 Ts 5.3) e quanto a qualquer tentativa idealista ou utópica de o ser humano construir um “mundo melhor”. Essa visão pessimista não impede o crente de engajar-se politicamente. Entretanto, ele o fará com um senso de realidade a respeito da natureza humana revelado nas Escrituras Sagradas, que alertam para o seguinte: antes da volta do Senhor Jesus, um período de trevas marcará o mundo (Mt 24.6). Nesse sentido, não se pode confundir o Reino de Deus com as utopias humanas e falsas esperanças.
O Reino não Deve Sofrer: jamais Torne Imprescindível o que É Supérfluo
Quando conhecemos a natureza do Reino de Deus e compreendemos a sua tensão entre o “já” e o “ainda não”, passamos a priorizar o que é essencial para nossas vidas. O apóstolo Paulo disse que o “Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Em outras palavras, nossa prioridade está no que é inefável, santo, glorioso e nobre. Assim, passamos a considerar como imprescindível o que Gálatas 5.22 denomina como fruto do Espírito. No Reino de Deus, o que importa é amar como Jesus amou; alegrar-se no Espírito de Deus; desfrutar da perfeita paz e serenidade; ser longânime como Deus é longânime para com os homens; agir com generosidade (benignidade) como nosso Senhor agiu; por meio da bondade, praticar a resolução de viver para o benefício dos outros; viver a fidelidade diante de Deus e dos homens; buscar a natureza mansa e humilde de Jesus; encontrar o equilíbrio das próprias emoções, ou seja, o domínio próprio. Isso é priorizar o imprescindível no Reino de Deus.
O que Importa É o Reino
No Evangelho de Mateus, o Senhor Jesus diz: “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Nesse versículo, devemos atentar para a
palavra “primeiro”. Ela remete-nos à ideia de prioridade, como diz James Shelton.8 Esse comentarista destaca o verbo “buscai”, em que “a força do imperativo presente ‘buscai’ indica que se trata de preocupação e atividade constantes dos discípulos”.9 Então, vemos que duas palavras trazem luz para o que importa no Reino: primeiro e buscai. Em primeiro lugar, temos um apelo para que o Reino de Deus seja a prioridade de nossa vida; em seguida, um imperativo para buscá-lo. O Reino de Deus deve ser prioridade em nós; devemos buscá-lo vigorosamente na força do Espírito Santo. É preciso trabalhar para que o Reino de Deus chegue a outras pessoas, bem como a sua justiça. Por justiça entende-se a predisposição para a retidão que encontramos na prática do Fruto do Espírito. Tudo isso só pode acontecer por meio da salvação das pessoas. É preciso pregar o evangelho para que as pessoas se arrependam e creiam nele. Essa clareza tem muito a ver com a ordem de prioridade no Reino de Deus. Só é possível entrar nesse Reino e permanecer nele por meio do processo do Novo Nascimento (Jo 3.3).
CONCLUSÃO
Neste capítulo, passamos pelo conceito do Reino de Deus. Vimos que a expressão Reino de Deus significa o governo de Deus sobre tudo o que há no mundo físico e no mundo espiritual e que os fariseus não conseguiam enxergar esse Reino diante deles na pessoa bendita de Jesus Cristo. Constatamos também a existência de uma tensão entre o “já” e o “ainda não”, isto é, o Reino de Deus já está presente, mas ainda não foi plenamente manifestado.
Neste capítulo, também vimos o que o Reino de Deus não é. O Reino de Deus não deve ser confundido com opiniões pessoais expressas por utopias ou ilusões humanas. É preciso priorizar o que é imprescindível no Reino de Deus.
Finalmente, vimos que viver no Reino de Deus não tem lugar para síndrome narcisista, orgulho e desejo desenfreado pelas primeiras posições. A natureza do Reino de Deus dá-se na humildade, simplicidade e mansidão. Assim, ele é poderoso para transformar as vidas de pessoas que não conhecem a Deus.
Há um Rei. Que sejamos dignos de ser chamados de os seus súditos. Que Jesus Cristo seja nosso Senhor e Rei em cada metro quadrado de nossa vida. Ele vive! Ele reina! A Ele glória para sempre!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: Imitadores de Cristo: Ensinos Extraídos das Palavras de Jesus e dos Apóstolos. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.