Lição 3 – Quem segue a Cristo estuda a Palavra
Prezado(a) professor(a), iniciamos mais um trimestre! Você já assistiu a apresentação deste trimestre em nosso canal no Youtube? Acesse o link (https://youtu.be/dKyw9mBeKms) e veja o que preparamos para vocês neste trimestre.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Marcelo Oliveira.
INTRODUÇÃO
A revista eletrônica Fantástico há tempos trouxe uma reportagem em que se destacam três pessoas: um pastor, a vizinha dele e o marido da sua vizinha. Com base no texto de Oseias 3.1, o pastor interpretou que poderia “adulterar” com a sua vizinha, tudo com o consentimento do esposo dela. Esse pastor também era casado. A confusão toda se deu porque ele leu o seguinte versículo: “E o Senhor me disse: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera […]” (Os 3.1). No lugar de ler “amada de seu amigo e adúltera”, o pastor leu o seguinte: “amada de seu amigo e adultera”. Ele não atentou para o acento agudo e trocou o substantivo pelo verbo e, por isso, entendeu que estava habilitado pela Palavra de Deus a manter um relacionamento extraconjugal com o consentimento do marido da vizinha e, segundo a sua interpretação, de Deus. Chocante, não?!
Esse exemplo extremo, que foi ao ar em rede nacional, infelizmente não é uma exceção. Há muitas interpretações esdrúxulas a respeito do texto bíblico que, consequentemente, abrem espaços para criação de heresias, fundação de seitas e práticas de imoralidade sexual.
Neste capítulo, temos o propósito de ressaltar o compromisso com a Palavra de Deus de quem segue a Jesus. Para segui-lo, é preciso conhecê-lo. E a melhor maneira de fazê-lo é por meio da Bíblia, além de confirmá-la por meio de experiências vividas com Ele na caminhada cristã. Ao longo da Bíblia, desde o Antigo ao Novo Testamento, o conhecimento dos textos sagrados é requisito para uma boa prática de fé. Não por acaso, o evangelista Lucas ressalta a seguinte característica da rebenta igreja em Jerusalém: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos […]” (At 2.42).
Quem segue Jesus falará de Cristo para as pessoas, discipulará outras conforme alcance os corações delas e servirá a Igreja, o Corpo de Cristo. Para que tudo isso aconteça, o discípulo de Jesus precisa conhecer a Bíblia, manejá-la bem e vivê-la coerentemente, praticando-a no dia a dia. Ler a Bíblia, compreender a Bíblia e viver a Bíblia são os objetivos sinceros de quem segue Jesus com toda a fidelidade e amor. Este capítulo, contudo, não tem por objetivo ensinar técnicas de leitura e interpretação da Bíblia. O seu propósito é refletir a respeito da razão de ler as Escrituras, a importância de estar consciente a respeito da sua vocação, pois isso é determinante para iniciar um caminho de método e disciplina na leitura da Bíblia. É preciso responder objetivamente: Aonde quero chegar com a leitura da Bíblia?
Por isso, temos ao menos três objetivos com este capítulo para desenvolver com você: 1) o cristão como um missionário inato; 2) o cristão como um discipulador por natureza; 3) o cristão como um servo. Assim, veremos que o senso de urgência no serviço é determinante para preparar-se bem a fim de executar esse serviço. Nesse caso, estudar a Bíblia é determinante para o bem da execução do serviço.
I – O CRISTÃO COMO MISSIONÁRIO INATO
O que nos motiva a ler a Bíblia? Por que muitas pessoas gastam horas e mais horas lendo a Palavra de Deus, interpretando-a e aplicando-a na sua vida? Muitas vezes olhamos para esses fenômenos apenas como o resultado de um esforço. Ficamos admirados em tomar conhecimento de que uma pessoa que leu a Bíblia 30 vezes, outra 60 vezes, ou ainda um pastor de meu conhecimento que, ao ler a Bíblia pela última vez, escreveu: “Hoje é a centésima quadragésima quinta vez que leio a Bíblia e ainda tenho muito que aprender”. Entretanto, o que pude constatar em algumas pessoas que leram tantas vezes a Bíblia é que a quantidade não foi o principal objetivo. Havia uma razão de natureza profunda que fazia com que elas repetissem o ritual ordinário de ler a Bíblia para crescer espiritualmente. Havia algo que dava sentido para elas fazerem isso de maneira disciplinada e que, ao mesmo tempo, não fosse um peso ou um martírio: a clareza do propósito ministerial. Por isso, deveríamos olhar para o que motiva uma pessoa a ler, estudar e aplicar a Bíblia na vida; enfim, preparar-se no estudo sério, metódico e rigoroso das Sagradas Escrituras. O texto bíblico base deste capítulo, Atos 8.26-39, ajuda-nos a refletir a respeito dessa questão a partir da motivação de um verdadeiro discípulo de Jesus, a saber, o diácono-evangelista Filipe.
Somos Conhecidos dEle
A narrativa do capítulo 8.26-31 de Atos dos Apóstolos inicia com um chamado do anjo do Senhor dizendo a Filipe que este deveria levantar-se e seguir para Gaza (At 8.26). Essa não é uma primeira experiência de chamado do diácono carismático. Em Atos 6, lemos que ele foi comissionado a servir como diácono da igreja em Jerusalém (At 6.5). Filipe atendeu ao chamado dos apóstolos. Dentre muitas qualidades, o diácono Filipe era um homem cheio do Espírito Santo e de sabedoria. O livro de Atos dos Apóstolos revela que o diácono Filipe foi um poderoso pregador na Igreja Primitiva (At 8.4- 8; 21.8). O seu ministério de evangelista deu-se justamente por ser um poderoso pregador do evangelho. Nesse sentido, Filipe era um pregador carismático da Palavra e apresentava-a com muita sabedoria. Sabedoria e carisma permeavam o ministério de Filipe. Assim, o diácono-evangelista recebeu um chamado para desempenhar na Igreja de Cristo. Nesse caso, a igreja reconheceu uma vocação que era verdade nele. Geralmente, antes de um chamado ser confirmado de maneira pública, ele acontece interiormente (Jr 1.4). Essa vocação celestial foi determinante para Filipe aperfeiçoar-se e desenvolver-se no ministério que Deus estabeleceu para ele: pregador do evangelho.
Com Filipe, aprendemos que, antes de pensar em técnicas e habilidades para o ministério, é preciso pensar a respeito do que nos move no Reino de Deus. O que movia Filipe era a paixão pela pregação do evangelho. Ele foi chamado para isso. Sem isso, a sua vida não tinha sentido. O que move você? O que dá sentido a sua vida? O crente em Jesus precisa tomar a consciência em Cristo de quem é para Deus. É preciso responder a seguinte pergunta: o que vim fazer neste mundo? Ora, olhe para a natureza e contemple o propósito de Deus para a vida dos pássaros, o seu canto, o cuidado da sua prole, o seu voo sobre a natureza. Tudo está inscrito no instinto dos animais para fazer cumprir o propósito pelo qual os criou Deus. Olhe as árvores para dar os seus frutos determinados, o Sol para governar o dia, e a Lua para governar a noite. Olhe para as estações do ano, como uma advém após a outra conforme cada ciclo: o verão, o outono, o inverno e a primavera. Tudo acontece de acordo com o propósito estabelecido por Deus (Gn 1.14-18). E você? Não estamos neste mundo sem finalidade, sem propósito nem objetivo. A tragédia que pode acontecer na vida de alguém é viver de maneira inconsciente a respeito do propósito de vida ou perder o seu sentido. Filipe sabia o porquê de estar neste mundo. O apóstolo Paulo sabia a razão de fazer o que fazia. O Senhor Jesus Cristo fez tudo o que fez por nós porque sabia o que era para ser feito no seu ministério neste mundo.
Quando temos consciência do propósito de Deus para nossas vidas, a compreensão a respeito da importância de uma leitura viva da Palavra de Deus fará todo o sentido, pois essa leitura será encaixada no propósito de nossa existência, e, por isso, fará total sentido executar um método, seguir uma disciplina de leitura, pois isso alimentará e fortalecerá o propósito de Deus dentro de nós. Ter consciência a respeito da própria vocação recupera o sentido da vida e fortalece-o por meio da leitura e meditação da Palavra de Deus (Sl 119.15).
Servir a Jesus Exige Disposição para Quebrar os Próprios Preconceitos
Na obra Panorama do Pensamento Cristão, refletindo a respeito do propósito do trabalho, o autor Miroslav Wolf escreve: “o propósito do trabalho é atender as necessidades da vida. […] A necessidade de trabalhar para prover as necessidades da vida acha-se por trás do dever de trabalhar”.1 Tomo emprestada essa descrição de Wolf para dizer que, na obra de Deus, nossa vocação ministerial tem a ver com suprir as necessidades espirituais de nossos irmãos em Cristo. Nesse sentido, uma vez que temos claro o propósito de Deus em nossa vida, devemos servir o próximo sem preconceitos porque sabemos que estamos servindo a Cristo. Filipe foi um pioneiro em evangelizar um homem que, a princípio, seria impensável levar o evangelho a ele, pois a sua origem era da Etiópia. Entretanto, o pregador carismático tinha uma missão, e o etíope, uma necessidade. Deus preparou-o para suprir a necessidade daquele etíope. Por isso, nosso estudo com a Palavra de Deus deve levar em conta as necessidades que pessoas de diversas culturas, grupos e etnias apresentam para receber o evangelho de Cristo. Nosso Senhor deixou-nos uma ordem para pregar e discipular toda criatura (Mc 16.15). Entretanto, cada criatura tem uma história, uma subjetividade e um modo de ser. Com os olhos voltados para as Escrituras e com a sensibilidade apurada pelo Espírito Santo, tenhamos disposição para servir Jesus de maneira desprendida e sacrifical. Essa disposição passa por gastar horas meditando nas Sagradas Escrituras para ter o coração cheio da Palavra de Deus a fim de proclamar o evangelho a toda criatura.
A Natureza Imprevisível de Seguir a Jesus
Filipe era uma pessoa comum chamada por Deus para fazer uma obra extraordinária. Essa é a beleza do evangelho de Cristo. Certamente, você conhece pessoas que fizeram coisas extraordinárias sem aparentes condições para fazê-las. São esses preconceitos que precisamos desfazer. Você e eu fazemos parte de uma tradição cristã, a pentecostal, que tem vários testemunhos de pessoas improváveis fazendo coisas improváveis em lugares mais improváveis ainda. Seguramente, em sua cidade ou em seu bairro há igrejas estabelecidas por pessoas que, aos olhos humanos, eram improváveis, mas que foram usadas por Deus para estabelecer o Corpo visível de Cristo a fim de que uma porta de salvação fosse aberta.
Militar na obra de Deus requer disposição, mente ungida e coração aquecido para fazer a vontade daquEle que lhe chamou para uma grande tarefa. Por isso, ao longo de nossa jornada cristã no caminho com Jesus, deparamo-nos com situações imprevisíveis. Entretanto, a previsibilidade de nosso Senhor estabiliza nossa caminhada que, na maioria das vezes, é imprevisível. Assim, podemos fazer a vontade de Deus com fidelidade e, de maneira imprevisível, realizar ações que glorifiquem o nome do Senhor. Seguir Jesus é fazer um caminho de muitas realizações significativas na vida de pessoas. Assim, basta uma palavra de Jesus para nosso coração ser tocado e, consequentemente, sermos impulsionados a fazer coisas grandes para Deus. Tudo começa com o chamado da Palavra de Deus.
II- O CRISTÃO COMO UM DISCIPULADOR POR NATUREZA
Discipular pessoas talvez seja a mais importante tarefa de um discípulo do Senhor Jesus. Quando falamos de discipulado, falamos de responsabilidade. A relação de mestre e discípulo revela-nos algo gracioso que infelizmente se perdeu na educação de nossos dias. O discípulo deseja imitar o seu mestre. Para imitá-lo, é preciso absorver o máximo do que o mestre ensina, além de testar esse ensino por meio da aplicação na vida. Assim, o discípulo conhece o conteúdo e tem autoridade de passá-lo adiante porque experimentou as suas implicações na própria vida.
Não por acaso, a respeito do ensino de Jesus, a multidão disse: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina, porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas” (Mt 7.28,29). Ora, diferentemente dos escribas, Jesus vivia o que ensinava.
A Responsabilidade Pessoal e o Preparo para a Evangelização
Dentre as várias razões por que os cristãos devem ler a Bíblia, quero destacar uma que George H. Guthrie escreve na sua obra Lendo a Bíblia para a Vida: “Nós lemos a Bíblia para ministrar a outros seguidores de Cristo e àqueles que ainda têm de responder ao evangelho, recebendo a aprovação de Deus pelo trabalho bem-feito”.2 Na obra da evangelização, Deus espera que façamos um “trabalho bem-feito”. É importante ressaltar esse fato. Pelo que representa, o trabalho da evangelização deveria ser a tarefa mais bem feita da igreja. Essa tarefa começa na capacitação de quem ministrará a Palavra de Deus para quem ainda não a conhece.
Quem vai evangelizar precisa ter a consciência da sua responsabilidade pessoal. Em primeiro lugar, é disto que se trata: de uma responsabilidade. Em segundo lugar, quem é responsável avalia se tem ou não certas habilidades para executar a tarefa bem — que, em nosso caso, é a de ensinar a Palavra de Deus. Podemos sugerir algumas perguntas que ajudam a realizar essa averiguação: 1) Tenho ciência do propósito de cada um dos Evangelhos?; 2) Sei distinguir os Evangelhos das Epístolas?; 3) Compreendo os principais textos do Novo Testamento que ensinam a respeito do pecado e da salvação?; 4) Sou um leitor assíduo da Bíblia?; 5) Além de ler a Bíblia de modo geral, dedico-me ao estudo detido e detalhado de, pelo menos, um livro da Bíblia?
Além de preparar-nos espiritualmente, com oração e jejum, precisamos preparar-nos intelectualmente. Foi Deus que nos concedeu a faculdade das emoções e, também, a faculdade da razão para fazer uso dela. É uma bênção quando razão e coração se unem na magna obra da evangelização. Por isso, se você tem a consciência de um propósito maior para servir na obra de Deus, é hora de tomar esse propósito e usá-lo como fundamento para desempenhar bem o que o Senhor Jesus colocou em suas mãos para fazer.
Somos Convidados para Sermos Discipuladores
Se formos discipulados um dia, Deus espera que sejamos discipuladores. E a matéria de um discipulado fiel é a Bíblia, a Palavra de Deus. Discipulamos o outro com a Palavra de Deus. Nesse sentido, nossa atenção deve estar voltada para comunicar a Palavra de Deus da maneira mais clara possível. Olhando ainda para Filipe, no capítulo 8 de Atos, Lucas mostra que Filipe explicou ao etíope que Jesus era o objeto da profecia de Isaías. Se fizéssemos um teste, notaríamos que as profecias do livro de Isaías não são tão simples de interpretar. O diácono-evangelista, porém, mostrou Jesus com muita sabedoria e levou o etíope às águas batismais (At 8.38).
Nosso desafio é apresentar a verdade da Bíblia de maneira simples, mas que impacte a vida do pecador. Nesse aspecto, quem discipula tem o desafio de apresentar os grandes textos bíblicos ou as grandes doutrinas bíblicas de maneira clara, simples e espiritual. O discipulador desenvolve a sua vocação para a vida. Assim, somos chamados a ser discipuladores de vidas.
A Compaixão para com aqueles que Têm Carência de Deus
O discípulo de Cristo deve estar pronto a receber qualquer pessoa que tenha carência de Deus (Mt 10.5-8). Ora, há uma necessidade, e nós temos a solução. A necessidade daquele etíope era a respeito da pessoa que a profecia de Isaías dizia. Filipe tinha a resposta que supria aquela carência. Quantas são as pessoas que se dirigem a nós com grandes necessidades?! E temos a mensagem que pode suprir qualquer carência humana. Como Jesus, a compaixão deve ser uma realidade em nós. Aqui, aparece de uma maneira prática também a importância de meditar nas Sagradas Escrituras. Quem faz isso, ou seja, quem lê a Bíblia, compreende-a, aplica-a em seu coração e tem uma consequência inevitável: cultivar a compaixão. Com a Bíblia, compreendemos a miséria do coração do ser humano. Percebemos incapacidade humana de fazer a vontade de Deus sem ter uma experiência de salvação. As dimensões do coração humano estão patentes nas Sagradas Escrituras; por isso a ordem de nosso Senhor em discipular cada criatura. É a Palavra de Deus que preencherá o vazio do coração do homem sem Deus.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: Imitadores de Cristo: Ensinos Extraídos das Palavras de Jesus e dos Apóstolos. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.