Lição 5 – Balaão: Quando Deus diz não
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Algumas pessoas se destacam por seus talentos naturais, profissionalismo, intelecto ou recursos financeiros. Tais talentos podem ser uma vantagem estratégica para essas pessoas, mas também podem se tornar um caminho para o qual a ambição e o amor ao dinheiro ultrapassem limites e destruam reputações. Isso se torna ainda mais grave quando tais pessoas se utilizam de seus talentos ou aptidões para desafiar a Deus.
Uma das maiores tentações que cercam as pessoas que conhecem a Deus é, justamente, tentar contornar o que Deus disse, seja para fazer alguma coisa, seja para deixar de fazer alguma coisa. A vontade de Deus pode impulsionar pessoas para a obediência, mas quando essa vontade confronta o que desejamos, como reagimos para conseguir realizar algum projeto pessoal ou receber algum prêmio? Não raro, o anseio por conseguir mais coisas ou mais posições, ou mesmo até impor para Deus a nossa vontade, podem ignorar as orientações expressas do Eterno, levando-nos a lugares onde Ele jamais planejou que estivéssemos.
Neste capítulo, veremos o quanto a tentação pelo dinheiro levou um homem chamado Balaão a contrariar orientações divinas, a forma com que contornou a situação para desobedecer a Deus e o custo da sua desobediência. Por fim, veremos o quão caro é desafiar a Deus quando Ele nos dá orientações claras e diretas.
II-UM HOMEM QUE OUVIU A VOZ DE DEUS
Um Homem que Ouvia a Voz de Deus
A Palavra de Deus nos apresenta um homem chamado Balaão. Ele é descrito na Bíblia como um homem que, de alguma forma que não nos é explicada, ouviu a voz de Deus. Moisés não entra em detalhes sobre a fé de Balaão, nem como ele começou a ouvir a Deus, muito menos se Balaão tinha por hábito obedecer ao que Deus lhe dizia, mas deixa claro que ele não apenas ouviu a Deus, mas soube também distinguir que Deus estava falando com ele.
Eis a questão: Como veremos, não basta ouvir a voz de Deus e saber que é Ele que está falando conosco. Ouvir e obedecer são dois verbos que implicam ações, mas que podem ser conexas ou não. Há quem pense que, na vida cristã, Deus se nega a falar conosco de uma forma pessoal. Hoje temos a sua Palavra escrita, onde os princípios gerais para comunhão com Ele já estão apresentados. Ela nos mostra o plano de Deus para seus filhos, a forma como eles devem se portar neste mundo e o que está reservado para nós na eternidade.
Temos também respostas de Deus quando oramos, e podemos não somente ouvir sua voz nos orientando, mas igualmente nos direcionando em situações nas quais Ele mesmo está nos dirigindo. A oração não somente muda as situações, mas muda também a pessoa que está orando.
Ele também fortaleceu a sua igreja com os dons espirituais, dotações sobrenaturais do Espírito que não substituem a Palavra de Deus nem devem se sobrepor a ela, mas que auxiliam os santos. Esses dons não têm data de validade no Novo Testamento, nem se sujeitam ao pensamento humano que entende terem sido extintos no primeiro século da era cristã. Mas de nada adiantaria todas essas formas de Deus falar conosco se decidirmos que ouvir e obedecer ao que Ele diz não é necessário.
Um Homem diante de um Negócio
Balaão entra na história sagrada durante a caminhada do povo em direção à Terra Prometida. Midianitas e moabitas se uniram em torno de uma causa que julgaram ser um problema em comum: o acampamento dos israelitas nas campinas de Moabe (Nm 22.1,2).
É certo que a multidão de hebreus deixou os moabitas assustados, pois os filhos de Abraão eram numerosos: “E Moabe temeu muito diante deste povo, porque era muito; e Moabe andava angustiado por causa dos filhos de Israel” (Nm 22.3). Talvez fosse mais fácil, para os inimigos do povo de Deus, se cercarem de forças espirituais que pudessem dar fim àquele povo, poupando, dessa forma, uma possível guerra e a perda de vidas humanas moabitas. Dessa forma, os midianitas e moabitas enviam representantes para falarem com Balaão. Ele era uma “autoridade” em consultar os deuses e utilizar dessas consultas para atender aqueles que o procuravam com recursos financeiros.
Uma vez apresentado Balaão, é preciso que vejamos o povo ao qual Balaão estava sendo contratado para amaldiçoar: os filhos de Israel.
Povo Bendito É
Após receber os representantes dos dois reinos, Balaão consulta ao Senhor: “E ele lhes disse: Passai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o Senhor me falar; então, os príncipes dos moabitas ficaram com Balaão” (Nm 22.8). Ao que parece, Balaão não tinha conhecimento de que os hebreus tinham a proteção de Deus. O Eterno sabia o que estava acontecendo, mas se dirige a Balaão e pergunta quem eram os homens que estavam com ele. Deus deixou que ele explicasse quem eram e o que estavam fazendo, e, de forma objetiva, deixa claro a Balaão que ele não deveria entrar naquele negócio: “Não irás com eles, nem amaldiçoarás a este povo, porquanto bendito é” (Nm 22.12).
É curioso o fato de que Deus considera seu povo um povo bendito. O mesmo povo que murmurou contra Deus, que se rebelou contra Moisés, que reclamou da falta de água e de comida, e que deixou Deus “indignado”, foi considerado bendito pelo próprio Deus. É provável que isso se deva não apenas porque Deus trata com o seu povo de forma doméstica, mas também que somente Ele pode julgar os seus. Ele não permitiria que seu próprio povo fosse alvo de alguma maldição rogada por um ser humano.
Como veremos, Balaão não aprendeu essa lição. Ele até entendeu, em um momento inicial, que não deveria agir de forma contrária ao que Deus lhe orientou: “Então, Balaão levantou-se pela manhã e disse aos príncipes de Balaque: Ide à vossa terra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco” (Nm 22.13). Mas logo ele sucumbiria à constância dos apelos daqueles povos. Os recursos financeiros que os dois reinos lhe ofereceram falaram mais alto que a orientação inicial de Deus.
II – INSISTINDO NO ERRO
Obedecendo a Deus, mas com o Coração Ambicioso
Podemos ver que Balaão, em um primeiro momento, obedeceu a Deus: “E levantaram-se os príncipes dos moabitas, e vieram a Balaque, e disseram: Balaão recusou vir conosco” (Nm 22.14). Entretanto, o rei dos moabitas não se deu por vencido. O povo de Israel ainda estava acampado no mesmo lugar, e a recusa de Balaão não resolveu o problema do rei. Ele insiste com Balaão, a fim de conseguir o seu objetivo: “Assim diz Balaque, filho de Zipor: Rogo-te que não te demores em vir a mim, porque grandemente te honrarei e farei tudo o que me disseres; vem, pois, rogo-te, amaldiçoa-me este povo” (Nm 22.16,17). Balaque tinha uma nação, recursos e poder, mas não precisou recorrer a uma pessoa conhecida por trazer maldições a outras pessoas.
Aquela era uma oferta tentadora: um rei disposto a premiar um homem apenas para que ele lançasse pragas contra um grande grupo de pessoas. Bastavam algumas palavras, alguns gestos e talvez algum derramar de sangue para que aquele trabalho fosse realizado.
Livrado por um Animal
Advertido por Deus a não dar prosseguimento ao seu plano, Balaão passa por uma experiência sem precedentes: ouvir um animal falando. A jumenta com a qual ele costumava viajar conversa com Balaão. Em nossos dias, é comum pessoas dizerem, de forma jocosa, que se Deus usou a mula para falar com Balaão, pode usar qualquer outra pessoa também. Ocorre que a Bíblia não diz que Deus “usou” a mula para falar com Balaão.
A Palavra de Deus é enfática em deixar claro que Deus falou aos pais, de diversas maneiras, pelos profetas (Hb 1.1). A mesma Bíblia diz que Deus abriu a boca do animal, e ele questionou Balaão por ter apanhado. A partir desse “diálogo”, o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor. O anjo, sim, tratou com Balaão. A mula não trouxe nenhuma palavra profética nem outras expressões vocabulares que indicassem uma direção ao homem que já se negava a ouvir a Deus de forma completa. Por isso, é preciso que tenhamos cuidado nesse aspecto, de não atribuir à Palavra de Deus coisas que ela não nos manda dizer ou fazer.
A Insistência que Mina a Resistência
Apesar de ter resistido inicialmente, os convites recebidos com a promessa de uma recompensa foram minando os bloqueios na mente e nas atitudes de Balaão, bloqueios esses revelados pelo próprio Deus. Mesmo Deus permitindo que ele fosse com os mensageiros, deixou claro que só falasse o que o Eterno ordenaria. Isso Balaão obedeceu. É possível que Balaão imaginasse que Deus mudaria de opinião se o local onde a palavra deveria ser lançada fosse modificado.
Tendo chegado aonde estava Balaque, Balaão foi a três lugares diferentes: Quiriate-Huzote, Pisga, Peor, e em todos esses lugares suas palavras foram dirigidas por Deus, que abençoou o seu povo. Apesar dessas experiências, Balaão ainda estava desejoso de ser “honrado”, remunerado para que Israel fosse punido de alguma forma.
III – QUANDO A AMBIÇÃO VENCE O DISCERNIMENTO
Mudar de Lugar não Muda o que Deus Disse
É curioso o fato de que o homem sem Deus, por desprezar a revelação divina, tende a adquirir crendices que irão nortear suas ações e sua fé. Balaque conduziu Balaão para mais de uma localidade, imaginando que, de alguma forma, conseguiria fazer com que um deus pudesse inspirar o vidente a lançar pragas contra os hebreus. Em Quiriate-Huzote, a Palavra de Deus foi: “Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa?” (Nm 23.8). Em Pisga, “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria? Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar” (Nm 23.19,20). Em Peor, “Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas as tuas moradas, ó Israel!” (Nm 24.5). Por mais que desejasse, Balaão não conseguia amaldiçoar a Israel.
A Insistência no Erro
A Palavra de Deus nos diz que em Quiriate-Huzote “o Senhor pôs a palavra na boca de Balaão” (Nm 23.5). Em Pisga, “encontrando-se o Senhor com Balaão, pôs uma palavra na sua boca” (Nm 23.16). E em Peor, “veio sobre ele o Espírito de Deus” (Nm 24.2). Com todas essas intervenções sobrenaturais, como um homem como Balaão acaba insistindo no erro?
Parece-nos que ao perceber que Deus não mudou seu posicionamento, Balaão deixou de tentar amaldiçoar o povo de Deus por meio de imprecações. Mas ele não desistiu de receber a sua recompensa dos moabitas e midianitas. Quando se pôs a ir com os mensageiros de Balaque, Balaão ouviu do anjo de Deus: “Eis que eu saí para ser teu adversário, porquanto o teu caminho é perverso diante de mim” (Nm 22.32). Essa fala por si já deveria ter convencido Balaão, mas ela não foi suficiente para mover o coração daquele homem ambicioso.
Lançando Tropeço
O vidente ensinou Balaque “a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem” (Ap 2.14). Se tentar espraguejar o povo de Deus não deu certo, com certeza apelar para a carnalidade dos filhos de Israel trouxe a recompensa que Balaão buscava. Mulheres orientadas a desviar os israelitas os seduziram, conduzindo-os à idolatria e à prostituição, causando a morte de vinte e quatro mil pessoas (Nm 25.9). Deus sempre valorizou a pureza, a castidade e a adoração somente a Ele, e os hebreus não somente se prostituíram, mas também buscaram adorar os deuses de Canaã.
Dessa forma, o Deus que era o protetor dos filhos de Abraão se tornou o opositor do seu povo, por causa dos pecados que eles haviam cometido.
A Consequência Final do Erro
Balaão encontrou o destino final daqueles que desobedecem a Deus: a morte. Mas antes fez desviar o povo de Deus. Mesmo tendo sido avisado, Balaão fez pouco caso das orientações que teve o privilégio de receber de Deus e pagou com a vida pelo seu pecado, e sua história nos mostra que de nada adianta ouvir as orientações que Deus tem para nos dar se nosso coração não está disposto a sujeitar a nossa vontade pessoal para obedecer à vontade de Deus.
Espiritualidade Equivocada
Um dos maiores equívocos existentes na vida cristã é a imaginação de que a abundância de manifestações espirituais representa igualmente uma manifestação proporcional de santidade ou de vivência cristã madura.
É possível que uma pessoa se utilize de forma carnal de um dom dado por Deus. Por outro lado, não se pode generalizar, por causa de um mau exemplo, todos os demais dons espirituais. Corremos o risco de errar bastante se tomarmos “a parte pelo todo”. Da mesma forma que houve um Balaão, houve Elias, Eliseu, Jesus e Ágabo, e estes devem nos servir de exemplos positivos sobre a forma sobrenatural com que Deus fala com seus filhos. Profecias, exorcismos e milagres não são indicativos de que quem os manifesta é realmente um servo de Deus, mas tal situação não pode nos fazer descrer dessas manifestações, como se fossem inúteis.
Citei Wenham como exemplo de pensamento que, na crítica aos dons espirituais na Igreja em Corinto, acabou esquecendo que os dons foram dados por Deus, e que os coríntios precisavam aprender a lidar com eles.
CONCLUSÃO
Seria possível imaginar que Balaão começou sua história como uma pessoa que ouvia a Deus, mas que se tornou depois um mercenário. A tentação de fazer a nossa própria vontade sempre terá seu preço. Balaão poderia ter entrado para a história como um personagem que aprendeu a ser fiel a Deus, mas passou a ser conhecido como um vidente maligno, cujo conselho matou a ele e mais milhares de pessoas.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: COELHO, Alexandre. O Perigo das Tentações: As Orientações da Palavra de Deus de Como Resistir e Ter uma Vida Vitoriosa. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
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