Lição 04 – A autenticidade de uma língua sadia
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Eduardo Leandro, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Qual o efeito que nossas palavras possuem sobre a vida daqueles que nos ouvem? No capítulo 3 da Epístola de Tiago, somos advertidos sobre o poder e a responsabilidade do uso da língua. Esse pequeno órgão tem um impacto desproporcional na vida do ser humano, sendo capaz de edificar ou destruir, trazer alegria ou tristeza, paz ou conflito. Tiago 3.1-11 aborda a importância de controlar nossa fala e desenvolver uma linguagem sadia que reflita nossa fé em Jesus Cristo. Nossas palavras têm a capacidade de influenciar profunda- mente o ambiente ao nosso redor. Por meio da linguagem, podemos transmitir conhecimento, expressar sentimentos, construir relacionamentos e até mesmo moldar o pensamento de outros. No entanto, essa mesma habilidade pode ser utilizada de forma destrutiva, causando mal-entendidos, espalhando discórdias e prejudicando a confiança e a dignidade das pessoas. Tiago nos alerta sobre o imenso poder que a língua possui e a responsabilidade que temos em utilizá-la de maneira sábia e construtiva. A Carta de Tiago é um lembrete oportuno da necessidade de vigilância constante sobre o que conversamos. Em um mundo onde a comunicação é instantânea e muitas vezes impulsiva, palavras proferidas sem reflexão podem causar danos irreparáveis. A advertência de Tiago é clara: controlar a língua não é apenas uma questão de etiqueta social, mas uma expressão da nossa maturidade espiritual e do nosso compromisso com os ensinamentos de Cristo.
O controle da língua é uma evidência da transformação que o Espírito Santo opera em nossa vida, refletindo nosso crescimento em sabedoria e discernimento. Este capítulo busca explorar a mensagem de Tiago sobre o uso da língua, analisando sua relevância para nossa vida cotidiana. Vamos abordar, em primeiro lugar, a necessidade de dominar a língua, entendendo que, ao fazê-lo, demonstramos autocontrole e maturidade espiritual. Em seguida, examinaremos os perigos de uma língua descontrolada, confirmando os danos que palavras impensáveis possam causar. Finalmente, discutiremos as características de uma linguagem sadia e irrepreensível, alinhada com os princípios cristãos de amor, paz e justiça. Ao refletir sobre esses aspectos, seremos desafiados a avaliar e transformar nossa comunicação, tornando-a um testemunho vivo de nossa fé em Cristo.
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A Necessidade de Dominar a Língua
Tiago 3.1 inicia com uma advertência para os mestres: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”. Aqueles que ensinam são responsáveis por usar sua língua com sabedoria, pois suas palavras têm grande influência sobre os outros. A palavra grega para mestre é didáskalos,1 podendo significar: no Novo Testamento, alguém que ensina a respeito das coisas de Deus, e dos deveres do homem; ou ainda alguém que é qualificado para ensinar. Trazendo a ideia de um rabino que possuía conhecimentos sobre a Lei. Os mestres surgem no texto como um excelente exemplo do poder da língua, pois com suas palavras ele podem conduzir seus discípulos, seus ouvintes, da mesma forma que freios conduzem cavalos e lemes conduzem navios. A ideia é destacar que as palavras ditas, de alguma forma afeta quem as ouve. No versículo 2, Tiago afirma: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo”. Claramente é explicado que todos nós cometemos erros. Isso destaca o poder da língua em controlar não apenas nossas palavras, mas também nossas ações. Àqueles que ensinam (os mestres do versículo 1), fazem de forma oral e seus insucessos, geralmente, estão relacionados às palavras proferidas. Tiago destaca que o ensinar e o uso da língua são inseparáveis, destacando, mais do que qualquer outro escritor bíblico, o perigo de uma língua descontrolada. Há uma utilização de metáforas que ampliam a compreensão e ilustra o impacto desproporcional da língua. No versículo 3, ele compara a língua ao freio que dirige um cavalo e ao leme que controla um navio (v. 4). Embora pequena, a língua pode direcionar nossa vida inteira, para o bem ou para o mal, ou seja, se um ser humano, relativamente pequeno pode, por meio do freio (um artefato muito pequeno), controlar um animal maior, pode muito bem controlar sua língua! Da mesma forma Tiago se utiliza da comparação com o leme. Grandes embarcações a vela, movidas pelo vento forte, mas, todavia, é guiada por um pequeno leme. Assim, se um ser humano pode controlar o curso de uma grande embarcação com um pequeno leme, ele deve ser capaz de controlar a sua língua para que tenha bom curso nos mares desta vida aos quais precisamos atravessar.
II. Os Perigos de uma Língua Descontrolada O freio, o leme e a língua, possuem a mesma característica, são pequenos, porém capazes de grandes feitos! É aqui que Tiago passa a descrever a língua como um fogo, capaz de incendiar um grande bosque: “A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e conta- mina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno”. A ideia é que palavras impensadas podem causar danos enormes e duradouros. “Como um mundo de iniquidade”, iniquidade como adikía, significa uma profunda violação da lei e da justiça; injustiça de coração e vida. Como um fogo, a língua que professa iniquidade é perversa, está fora de controle e destrói tudo a sua volta (Sl 120.3,4; Pv 16.27). A língua é identificada e, de certa forma, também é um veículo para um mundo de completa iniquidade, pois a língua pode contar mentiras, difamar o nome de alguém, alimentar o ódio, criar discórdias, incitar a luxúria, e, assim, dar origem a muitos pecados.2 Grande parte dos pecados (grandes e pequenos problemas) que se enfrenta tem origem na falta de controle do que se fala. E isso ocorre também porque a mente está corrompida. Exatamente porque o fruto do Espírito não está sendo manifesto. Existem pessoas que, infelizmente, são alimentadas por mentiras, fofocas, dissensões, etc. Corromper traz a ideia de manchar, ou seja, uma língua perversa suja a personalidade toda da pessoa. Jesus advertiu que de dentro dos seres humanos é que procede as mazelas que destroem a vida (Mc 7.20-23). Charles Swindoll brilhantemente comenta que Tiago associa a língua ao Inferno. Isso não é interessante? Perceba a relação que Tiago faz entre os dois. A língua é posta em chamas pelo inferno – e põe em curso toda a nossa existência. A palavra em grego traduzida por “inferno” é geena, que aparece nos ensinos de Jesus nos Evangelhos e aqui em Tiago. A origem e acepção mais comum e popular do termo se encontra entre os judeus que conheciam Jerusalém, de modo que os leitores de Tiago, formados por cristãos judeus na dispersão, devem ter pensado de imediato nesse sentido da palavra. Geena é uma referência ao vale de Hinom, que percorre o sul de Jerusalém. Nos dias de Jesus e Tiago, os moradores da cidade acumulavam todo lixo e sujeira no Geena, onde costumavam ser queimados. Então é como se Tiago estivesse dizendo: “Sabem aquele lixão fedorento queimando ao sul da cidade? Nossa língua é igual aquilo. Quando começamos a falar e perdemos o controle, o lixo de nosso coração se ascende. À semelhança da fumaça fétida que nos lembra do lixo queimado no vale de Hinom, nossa língua permite que todos ouçam a maldade de nosso coração”.3No versículo 9, Tiago destaca a inconsistência da língua: “Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”. Essa dualidade mostra a necessidade de sermos consistentes em nossa fala, refletindo nossa fé em todas as circunstâncias. O tema abrangente da Bíblia referente ao uso das palavras é que as palavras adequadas, pronunciadas no momento certo e com a atitude correta, têm o potencial de gerar vida. Por outro lado, palavras inadequadas, proferidas no momento errado e com a atitude incorreta, podem trazer destruição (Gn 3; Dt 30:11-20; 32:6,47; Pv 11:11; 18:21; Mt 4:4; Jo 6:63; Rm 3:13,14; Tg 1:18). As metáforas bíblicas que comparam as palavras ao freio de um cavalo, ao leme de um navio e ao fogo que incendeia todo o curso da vida, estão em consonância com o tema do poder das palavras. Tiago 3.8 afirma que “nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mor- tal”. Tiago utiliza o termo mal – kakos – que traz o significado de uma natureza perversa no modo de pensar, sentir e agir; pessoa desagradável, injurioso, pernicioso, destrutivo, venenoso.4 A comparação é com uma víbora, cujo veneno guarda sob os seus lábios, uma expressão que se refere a pessoas que se utilizam de insultos e calúnias, com o que ferem outros. Embora difícil, o controle da língua é essencial para evitar as armadilhas do mal e para viver uma vida piedosa. É destacada a contradição inerente ao uso da língua para louvar a Deus e, ao mesmo tempo, amaldiçoar os seres humanos, que são feitos à semelhança de Deus (Tg 3.9). Argumenta que tal duplicidade não deve existir entre os crentes, pois fomos chamados a utilizar nossas palavras para edificação, e não para maldição. Considerando que as palavras possuem o poder tanto de gerar vida quanto de causar morte, palavras prejudiciais têm a capacidade de contaminar aqueles que as pronunciam (Mt 5.22; 15.17-20). É enfatizado que cada indivíduo deverá prestar contas de todas as palavras que proferiu (Mt 12.36). Em tempos de redes sociais, comunicação rápida, essa orientação de Tiago é fundamental. Não são poucos os que se utilizam de ferramentas de comunicação para destilar seus venenos, fruto de um mal incontido em seu coração cheio de perversidade. Além disso, dado que ninguém é intrinsecamente justo, as palavras de uma pessoa são indicativas da presença do Espírito Santo em sua vida e refletem o estado de seu coração (Mt 12.33-37; Mc 13.11; Lc 6.43-45; 1Co 12.3). Nesse contexto, torna-se evidente que o uso da língua é a melhor medida da maturidade cristã. As palavras, sendo um reflexo direto do coração e da influência do Espírito, servem como um indicador da verdadeira espiritualidade e maturidade na fé cristã, sublinhando a responsabilidade de cada indivíduo em seu uso cuidadoso e ponderado da linguagem.
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