Lição 04 – A autenticidade contra a parcialidade
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Eduardo Leandro, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Entre as advertências da Carta de Tiago, encontramos um chamado claro ao que diz respeito ao tratamento igualitário das pessoas. Tiago 2.1-13 nos ensina que não devemos tratar as pessoas com parcialidade, interesse ou preconceito. A imparcialidade é um valor fundamental na comunidade cristã, refletindo a justiça e o amor de Deus. Este capítulo nos desafia a avaliar nossas próprias atitudes e ações, destacando a necessidade de um coração puro e de uma prática de vida que evidencie nossa fé em Cristo. Somos alertados contra a tendência humana de favorecer uns em detrimento de outros com base em fatores superfi ciais como riqueza, status social ou aparência. Somos desafiados a seguirmos um padrão mais elevado, lembrando que todos são iguais diante de Deus. A parcialidade não apenas distorce a justiça, mas também mina a unidade e a pureza da fé cristã. Esse ensinamento é essencial para a formação de uma comunidade de fé que reflita verdadeira- mente o caráter de Deus e o amor incondicional de Cristo. O impacto do preconceito e da discriminação dentro da igreja pode ser devastador. Quando permitimos que nossas ações sejam guiadas por favoritismos, estamos, na verdade, contradizendo os princípios do Evangelho. Tiago nos desafia a examinar nossos corações e a eliminar qualquer forma de parcialidade, promovendo a igualdade e a justiça. Essa atitude não apenas fortalece a comunidade cristã, mas também serve como um poderoso testemunho para o mundo ao nosso redor, demonstrando que nossa fé em Cristo é genuína e transformadora.
Neste capítulo, vamos dividir o estudo em três pontos principais: a condenação da parcialidade; o impacto do preconceito social; e o chamado para a misericórdia. Ao compreender e aplicar esses princípios, podemos viver de maneira que honre a Deus e edifique nossa igreja. Por meio da prática do amor e da justiça, somos chamados a refletir a verdadeira essência do cristianismo, promovendo um ambiente de inclusão e respeito mútuo, no qual todos são valorizados igualmente.
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A Proibição da Parcialidade
Tiago 2.1 nos convida a não mostrar parcialidade: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, com acepção de pessoas”. Esse mandamento enfatiza que a fé cristã deve ser vivida com uma visão igualitária, sem favoritismos. O termo grego para acepção é prosōpolēpsía. Strong esclarece que esse termo se refere a pessoas que dão preferência, como o mais valioso, alguém que é rico, nascido nobre, ou poderoso, em detrimento a outros que não têm essas qualidades. Essa prática era comum na sociedade antiga, na qual os ricos e poderosos eram frequentemente tratados com maior respeito e privilégio do que os pobres e desfavorecidos. No entanto, as Escrituras nos desafiam a transcender essas práticas mundanas e a refletir o caráter imparcial de Deus em nossas interações humanas. Milênios se passaram, mas esse desafio permanece extremamente atual. Além deste texto de Tiago, pelo menos outros três textos do Novo Testamento utilizam essa expressão em relação a Deus, que não faz acepção de pessoas (Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25). Tiago usa um exemplo prático para ilustrar a parcialidade: o tratamento diferenciado dado ao rico e ao pobre (Tg 2.2-4). Ele critica a distinção feita com base na aparência ou status social, que vai contra os ensinamentos de Cristo sobre amor e justiça. Assim, os textos do Novo Testamento deixam claro que a acepção de pessoas é incompatível com a fé cristã. Os cristãos são chamados a tratar todos com o mesmo respeito e dignidade, independentemente de sua posição social, riqueza, raça ou qualquer outro fator externo. Em todas as interações, seja na igreja, seja no trabalho ou seja na comunidade, devemos ser imparciais, refletindo o caráter de Deus. No entanto, devemos estar conscientes de nossas próprias tendências (fruto de uma natureza pecaminosa) a mostrar favoritismo e nos esforçar, pela ação do Espírito, a corrigir essas atitudes, buscar amar ao próximo como a nós mesmos, conforme o ensinamento de Jesus, e viver na prática o fruto do Espírito. No versículo 8, Tiago menciona a “lei real” encontrada nas Escrituras: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”. Este é o princípio central que deve governar as ações dos cristãos, promovendo igualdade e justiça. A igreja deve ser um lugar onde todos são bem-vindos e valorizados igualmente. Isso inclui ser hospitaleiro com os pobres, marginalizados e todos aqueles que são frequentemente discriminados pela sociedade. Acolher e valorizar o indivíduo não é acolher pecado nem práticas contrárias ao ensino da Palavra de Deus. Não confunda não fazer acepção de pessoas por razões socioeconômicas/social com apoio a práticas contrárias as Escrituras. A igreja deve acolher a todos, e, nesse acolhimento, demonstrar o amor de Deus que transforma qualquer realidade à luz da sua Palavra.
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O Impacto do Preconceito Social
O preconceito social gera divisões e desunião dentro da comunidade cristã. Quando tratamos as pessoas de maneira diferente com base em seu status socioeconômico, estamos minando a unidade que Cristo deseja para seu Corpo, a igreja. A unidade do Corpo de Cristo é um tema central no Novo Testamento. Qualquer forma de preconceito, incluindo o social, atenta contra essa unidade, causando divisão e enfraquecendo a comunhão entre os irmãos. Não é sem razão que a Bíblia enfatiza repetidamente a importância da unidade entre os crentes (Ef 4.3- 6; 1 Co 12.12,13). Tiago 2.6,7 adverte sobre o perigo de menosprezar os pobres e favorecer os ricos, lembrando-nos de que os ricos frequentemente oprimem as pessoas e blasfemam contra o nome de Cristo. A parcialidade resulta na exclusão e marginalização dos mais vulneráveis. Jesus, ao se referir ao texto de Isaías 61, retratado no texto de Lucas 4.18, referiu-se ao seu próprio ministério quando declarou: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração”. Textos como o de Lucas, de Tiago e Provérbios 22.22,23 destacam a missão de Cristo e o chamado dos crentes para cuidar dos pobres e oprimidos. A exclusão e a marginalização de qualquer grupo contradizem o coração do evangelho, que é a inclusão e a restauração da humanidade que está afastada do seu Criador. O preconceito social desvaloriza a dignidade intrínseca de cada ser humano, criado à imagem de Deus. Quando tratamos alguém com desdém por sua condição econômica, estamos desrespeitando a imagem divina (Ímago Dei) que cada pessoa carrega. Em Gênesis 1.27, diz que Deus criou o ser humano a sua imagem e semelhança. Mas o pecado, que entrou na humanidade por um ato de desobediência, produziu as mazelas sociais que a humanidade enfrenta desde então. Discriminação desonra a dignidade que Deus conferiu a cada pessoa. Como cristãos, somos chamados a honrar e respeitar a todos, reconhecendo que a imagem de Deus, embora distorcida pelo pecado, está em cada indivíduo, por isso todas as pessoas podem ser alcançadas pela graça salvífica de Deus em Cristo Jesus e ser restituídas à comunhão com o Criador.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
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