Lição 12 – Proteção contra os vícios
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Marcelo Oliveira, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
O vício é uma disposição interna que produz um mau hábito, desvirtuando o pensamento, a vontade e o comportamento. Do ponto de vista bíblico, o vício é uma consequência do problema grave do pecado. É o exemplo mais concreto do domínio espiritual que o pecado tem sobre a vida do pecador. No vício, o pecador não tem vontade, domínio e muito menos lucidez para perceber quão degradante encontra-se a sua condição.
Neste capítulo, estudaremos os capítulos 20 e 25 de Provérbios e faremos uma conexão com o capítulo 6 de Romanos. Veremos, sob o ponto de vista da Bíblia, o quanto o vício pode colocar em risco a vida do ser humano. Perceberemos também que a vontade de Deus para o ser humano é que este seja livre de todas as sortes de vícios que dominam a vida do pecador.
Do ponto de vista mais técnico, abordaremos o conceito de vício e analisaremos as suas consequências. Há diversos tipos de vícios que podem trazer males de todas as sortes. Veremos, contudo, algumas perspectivas importantes para vencermos os vícios à luz de Romanos 6 e 9. Veremos também que a vitória sobre o vício passa pela cruz do Cristo, o domínio do Espírito Santo e o desenvolvimento das virtudes espirituais. Dessa forma, a Palavra de Deus revela que o Senhor Jesus veio ao mundo para remover o poder do pecado que impera na vida do pecador. Para isso, o Espírito Santo opera em nós uma obra de regeneração e santificação, que, na perspectiva da obra progressiva de santificação, estabelece-se por meio do desenvolvimento das virtudes do Espírito. Quanto mais praticarmos as virtudes do Espírito, mais distante ficaremos dos vícios que nos cercam.
I – OS VÍCIOS NO LIVRO DE PROVÉRBIOS
Estamos chegando ao fim desta obra e, a essa altura, já devemos ter compreendido que a sabedoria bíblica tem a ver com não estarmos dominados pela natureza pecaminosa, principalmente quando conjugamos esse entendimento com a obra virtuosa do Espírito Santo. Por isso, no lugar de encontrarmos uma lista de vícios que devemos ficar cada vez mais afastados, contemplamos em Provérbios princípios divinos e eternos para serem sempre considerados ao longo de nossa caminhada com Cristo. Esses princípios são encontrados, em primeiro lugar, na Palavra de Deus, que, no lugar dos vícios e das paixões, é o que deve sempre nos dominar por completo, mediante a obra do Espírito. Para que isso seja possível do ponto de vista da pedagogia bíblica, o leitor de Provérbios está convidado a desenvolver a consciência da importância de viver a vida de maneira sábia. Não por acaso, uma das características de Provérbios ao convencer o leitor a andar pelo caminho justo é apresentar o perigo do caminho dos desejos viciantes, o caminho perverso e o prejuízo que nos trará essa jornada (Pv 7.21-23).
Para deixar claro ao leitor a respeito desse perigo, a linguagem de Provérbios enfatiza a etapa sedutora dos vícios e os seus encantos iniciais, revelando ao mesmo tempo o caráter destrutivo e trágico que o vício pode causar à vida das pessoas. Assim, todo o desdobramento de Provérbios deixa muito claro que uma das características do sábio bíblico tem a ver com não se deixar dominar por nenhum tipo de vício. A sua alma é dominada pelo temor do Senhor (Pv 1.7) e regida pelo Espírito Santo (Rm 8.1,2).
O capítulo 20 está dentro de um contexto que tem início no capítulo 18.22, em que há coleções separadas de provérbios que tratam, por exemplo, a respeito de uma boa esposa, da preguiça, da paciência etc. Então, a partir do capítulo 19.25, aparece um contraste entre as características da vida do justo e da do zombador. Nesse contraste, Provérbios retoma um estilo de linguagem conhecido da sabedoria judaica de ensinar uma lição apresentando um exemplo negativo para reforçar um ensinamento positivo. Nesse contexto, lemos que o álcool produz zombadores e brigas, ou seja, o descontrole e a falta de domínio são uma marca de quem mergulha numa substância alcoólica (Pv 20.1). Por isso, a sabedoria de Provérbios revela-nos que o álcool é responsável em levar as mais degradantes consequências para a vida de uma pessoa (Pv 23.30-35). Como qualquer outra substância viciante, a bebida forte tira de nós a lucidez, a moderação, o domínio próprio e a razoabilidade; esse perfil, portanto, é completamente oposto ao do sábio bíblico.
O perfil de um sábio presa pela virtude da prudência e da temperança (Pv 20.1). Ele sempre deseja apresentar lucidez, bom senso e equilíbrio em tudo o que faz como marca de quem é cheio do Espírito Santo (Ef 5.18). Não por acaso, nossa tradição pentecostal recomenda a abstinência total de bebidas alcoólicas, a exemplo dos recabitas, conforme o livro do profeta Jeremias (Jr 35.12-16). Num contexto em que milhares de pessoas presentes, principalmente nas periferias, que tiveram vida e famílias devastadas profundamente pelo uso desenfreado do álcool, beira a irresponsabilidade qualquer relativização a respeito dessa substância viciante.
Provérbios 25 encontra-se dentro do contexto de 25.1 e 29.27, como vimos no primeiro capítulo, denominado de coletânea de Ezequias com os provérbios de Salomão. Nessa coleção, há uma série de atitudes sábias como a humildade, a língua branda, a perseverança do justo etc.
Provérbios 25.28 apresenta-nos o tema do domínio próprio contra qualquer tipo de vício em qualquer área da natureza humana. É um verso clássico que mergulha na realidade da profunda guerra interior que todo ser humano enfrenta quando o assunto é o vício e as paixões da alma. Sim, como seres humanos, guerreamos nossas guerras interiores e em diversas áreas de nossa natureza. Essa natureza resiste ser domesticada, dominada e vencida. Por isso, Provérbios ensina-nos: “Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito” (Pv 25.28); logo, o homem que não exerce o domínio próprio é como uma cidade devastada, desprotegida e vulnerável ao ataque de qualquer inimigo. O ser humano sem temperança está fadado ao permanente descontrole e desordem.
À guisa de uma ilustração que o versículo de Provérbios 25 ensina-nos, muitos são os desafios em relação a nossa vida interior. Aqui, para fins pedagógicos, apresento uma importante descrição de Anselm Grun em relação às esferas das lutas da alma humana. Ele apresenta como os denominados “pais do deserto”, cristãos eremitas que viviam no deserto do Egito a partir do século III, viam e explicavam a luta interior que os cristãos dos primeiros séculos travavam (GRUN, 2013, p. 60-72). Aqui, faço questão de enfatizar que muito do que os “pais do deserto” compreenderam e explicaram a respeito da natureza humana é reconhecido e considerado pelas abordagens da psicologia moderna baseadas em evidências. Assim, podemos demonstrar as lutas interiores do ser humano nas seguintes esferas:
Esferas instintivas
Os principais desafios com os vícios das esferas instintivas do ser humano com as suas necessidades passam pela comida, pelo sexo e pelo possuir coisas ou cobiça. O desequilíbrio em uma dessas necessidades instintivas pode gerar problemas bem sérios, como, por exemplo, a compulsão pela comida, a compulsão por sexo, pornografia e perversões derivadas, a compulsão pelo poder, o egoísmo e o narcisismo.
Esferas emocionais
Os principais desafios com os vícios das esferas emocionais do ser humano apresentam-se como tristeza, ira e preguiça (tecnicamente denominada pelos pais do deserto de “acídia”). O desequilíbrio em relação a qualquer uma dessas esferas tem a ver com as necessidades emocionais do indivíduo e pode ocorrer respectivamente em: depressão e outras síndromes, impulsos agressivos, explosões de raiva, desânimo mental e físico, abatimento e indiferença total.
Esferas do espírito humano
Os principais desafios com os vícios das esferas do espírito humano têm a ver com a ambição, a inveja e a soberba. No processo de busca pelo sucesso em qualquer atividade, quer intelectual, profissional etc., em uma dessas esferas podem ser manifestadas respectivamente: a vanglória, que é a busca desenfreada por reconhecimento; a doentia comparação com os outros, conforme estudamos no capítulo anterior sobre a inveja, e a construção de uma autoimagem por meio da confiança exagerada em si mesmo (GRUN, 2013, p. 60-72). Nessa última esfera, a do espírito, os que se dedicam à vida de estudo devem ter muito cuidado. Uma das grandes tentações de quem se dedica ao estudo é desenvolver o vício da soberba, juntamente com o total divórcio com a realidade da vida e, mais especificamente para nós, divórcio com a fé.
O conselho de Provérbios faz muito sentido, pois quem se desequilibra dessa maneira é comparado a uma cidade sem muros para ser invadida e destruída a qualquer momento (Pv 25.28). Por isso, o conselho implícito de Provérbios é “conter o seu espírito”. O nome que o Novo Testamento dá a esse conselho é temperança, domínio próprio. É impressionante como as pesquisas atuais da Psicologia, na sua prática terapêutica, trabalha como um dos pilares na sua abordagem compreender a desarmonia das esferas instintivas, emocionais e espirituais (do ponto de vista humano) do ser humano.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz: Conselhos de Salomão no Livro de Provérbios: Um Convite à Sabedoria e às Promessas de Proteção. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.