Lição 10 – Proteção contra o descontamento
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Marcelo Oliveira, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Nosso tempo é marcado pela cultura de contestação às instituições e às pessoas promovida pela Teoria Crítica. Esta foi tão bem exitosa que ela hoje se encontra entranhada nas camadas da sociedade, principalmente a cultural e a intelectual. Os que vivem sob a sua influência e fazem o que ela gestou repetem o seu postulado e, na maioria das vezes, não sabem de onde surgiu essa suposta realidade que as condicionou a serem assim. A Teoria Crítica encontra-se na maioria dos setores do conhecimento, bem como de nosso relacionamento. Está na filosofia, na teologia, na política, além de transbordar para a vida social de modo geral e, especificamente, na vida cristã.
Esse caldo cultural acaba por influenciar e potencializar mais ainda uma paixão da alma humana que perpassa toda a história: a murmuração. Essa paixão é um estilo de vida que corrói o que há de melhor no ser humano, paralisando-o por completo. Talvez você tenha tido a experiência de conviver com quem critica tudo, desconfia de todos e que sempre pensa que há uma trama especial arquitetada contra ela. Nada do que fazem está bom, e nada do que acontece é louvável, sempre havendo uma razão para desconfiar, bem como uma conspiração a ser descoberta. Viver assim é um absurdo completo. Em geral, muitas injustiças são praticadas por causa desse estilo de vida.
É possível deixar um estilo de vida indignado e insatisfeito por um estilo de vida que não aceita ser pautado pelas vãs murmurações e críticas mórbidas?
Neste capítulo, analisaremos um estilo de vida baseado numa importante virtude que encontramos na Bíblia: o contentamento. Veremos que essa virtude é um antídoto contra o estilo de vida murmurador e crítico mórbido. A partir do livro de Provérbios, o sábio ensina-nos que é possível adotar um estilo de vida mais maduro, discreto e moderado por meio da virtude chamada contentamento. A capacidade de contentar-se no Senhor Deus é uma grande arma que a Bíblia coloca em nossas mãos diante de uma cultura em que viver de maneira indignada e insatisfeita parece ser a regra.
CARACTERÍSTICAS QUE NOS LEVAM AO CONTENTAMENTO
A essa altura, já podemos perceber com clareza que um dos propósitos de toda a literatura de sabedoria judaica é desenvolver a perspectiva de moderação, equilíbrio e bom senso na maneira de viver. De forma positiva, é construir um fundamento sólido na vida da pessoa, de modo que ela não seja levada pelas suas paixões e impulsos. No Novo Testamento, essa sabedoria é claramente revelada na vida dominada pela presença do Espírito Santo. De modo mais específico, nas epístolas de Paulo, conforme enfatizamos a partir de textos do teólogo pentecostal Gordon D. Fee, há uma conotação muito singular no apóstolo com a vida no Espírito e a ética na vida do cristão. Essa singularidade tem a ver com uma vida temperada, moderada e equilibrada. Por isso, a vida no Espírito é uma vida de sabedoria.
Neste capítulo, a capacidade de vivermos um estilo de vida moderado em que as coisas materiais não têm a mesma importância dos valores profundos revelados na Palavra de Deus é enfatizada. Há princípios em Provérbios muito mais elevados, atemporais e eternos do que uma visão meramente materialista da vida. Nem tudo se resume a dinheiro em Provérbios, e nem tudo gira em torno de receber vantagens. Assim sendo, o temor do Senhor está acima das riquezas nesse livro de sabedoria (Pv 15.16); o amor é mais precioso do que um luxuoso banquete (Pv. 15.17); a justiça é mais valorosa do que a riqueza conquistada de maneira injusta (Pv 16.8); uma comida simples com tranquilidade e paz é melhor do que uma casa abastada, porém cheia de contenda e brigas (Pv 17.1). Em Provérbios, o bem-estar não se encontra nas coisas, mas em Deus, o Senhor. Esse livro ensina-nos a viver conforme o que verdadeiramente importa. Por isso, o estilo de vida cristão tem a ver com moderação, pois quem busca viver de modo sincero, verdadeiro e com propósito, busca viver uma vida de modo equilibrado e moderado. Essa pessoa concentra-se nos valores que importam.
Há uma maneira sensata de viver? Podemos aprender uma forma mais equilibrada para comportarmo-nos? Não correríamos o risco de entrar no “espírito da autoajuda” se perseverarmos nessas respostas? Ora, o livro de Provérbios é um livro de sabedoria porque, de modo prático, porém reflexivo e sério ao mesmo tempo, apresenta uma série de conselhos revelados na Palavra de Deus e atestados pela experiência de pessoas que andaram com Ele.
Em Provérbios 15.14-17, percebemos uma retomada da busca da sabedoria como maneira sensata de viver. Sim, nos moldes de Provérbios, há uma maneira sensata de viver a vida conforme os princípios da Palavra de Deus. É possível desenvolvermos esse estilo de vida mais moderado e equilibrado, de modo que glorifique ao Senhor e respeite os termos do bom senso.
No versículo 14, o escritor caracteriza como sábio aquele que tem o coração cheio de conhecimento (v. 14) e que, consequentemente, desfruta de uma preciosa alegria no coração (v. 15). Essas pessoas, que estão cheias de conhecimento e de alegria ao mesmo tempo, saberão discernir a respeito do que representa uma verdadeira felicidade. O primeiro princípio a respeito da felicidade ela saberá reafirmar: não se conquista a felicidade por meio de bens materiais. Uma pessoa de coração cheio de conhecimento e de alegria saberá pesar entre “o pouco com o temor do Senhor” e “um grande tesouro com inquietação” (v. 16). Ela sabe que uma vida de inquietação e ausência de temor não vale a pena, ainda que esteja diante de nós todo o dinheiro do mundo.
Outro princípio interessante é que essa pessoa saberá pesar bem as suas escolhas a partir do “temor do Senhor”. Ela saberá pesar entre “a comida com hortaliça onde há amor” e “o boi gordo e, com ele, o ódio” (v. 17). Para ela, a simplicidade regada de amor é muito melhor do que qualquer banquete que apresenta luxuosas iguarias cujos fundamentos não passam de confusão, perversidade e contendas.
Não queremos defender aqui a tese de que sempre teremos de fazer uma “escolha de Sofia”.1 Na verdade, devemos estar conscientes de que há coisas mais preciosas do que os bens materiais — como a sabedoria divina, por exemplo. O temor do Senhor e o seu maravilhoso amor são bens preciosos que podem levar-nos ao contentamento, e este pode levar-nos à verdadeira felicidade.
Em Provérbios 16.8 e 17.1, vemos a questão da justiça e da paz como destaques. A justiça e a paz, ou a tranquilidade, são virtudes indispensáveis para uma vida com contentamento. Essas virtudes permitem-nos viver de uma forma que nosso interior não seja pautado meramente com o que acontece externamente. Dessa forma, é perfeitamente possível transbordar justiça e paz mesmo num contexto hostil a essas duas virtudes.
Em Provérbios 16, o sábio ensina que é melhor ter pouco, porém viver com justiça, com retidão; é melhor ser um pobre, porém ser caracterizado pela virtude da justiça do que ter a abundância conquistada de maneira injusta (Pv 16.8). A lição é simples: sempre será melhor a prática da justiça do que a da injustiça. Qualquer vantagem conquistada por meios injustos não tem a capacidade de atrair o contentamento. Pela natureza da injustiça, que está presente no bem conquistado injustamente, é impossível haver bem-estar, alegria, consciência tranquila e paz. Para quem é dominado pelo Espírito Santo e tem a sua vida centrada e vivida nEle, riqueza sem justiça e retidão é crime.
O capítulo 17 ensina-nos sobre o bocado seco. Lá diz que um pão velho que não pode ser embebido num delicioso molho, porém acompanhado de tranquilidade e paz, é melhor do que um grande banquete em que há brigas e confusões (Pv 17.1). Outra lição clara: é melhor um lugar simples com paz do que um ambiente requintado, porém cheio de confusão. O ambiente, por melhor que seja — luxuoso, bem localizado —, será inóspito e trágico se for dominado por uma atmosfera de confusão, contenda e artimanhas. Não há bem material no mundo que justifica a presença num ambiente como esse, já que tal lugar invariavelmente tem uma capacidade grande de adoecer nossa saúde emocional. Nesse caso, o bocado seco torna-se muito mais saboroso do que um requintado banquete.
O que aprendemos nesses dois capítulos, que falam sobre a justiça e a paz, é que há valores muito mais preciosos do que um mero bem material. São virtudes que garantem nosso bem-estar emocional e até mesmo o físico. Mais uma vez, a questão central aqui não é o de fazer uma escolha entre um ou outro, mas, sim, a de saber discernir a respeito dos valores que mais importam para a vida e que nos levará ao grande contentamento.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!