Lição 05 – Proteção contra a preguiça
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, estudaremos a advertência do livro de Provérbios quanto à preguiça. Trataremos a respeito desse assunto a partir dos capítulos 6, 24 e 26 — mais especificamente as seções bíblicas que tratam sobre a preguiça. Pela Palavra de Deus, verificaremos que o texto bíblico de sabedoria traz uma descrição bem precisa do problema que a preguiça pode acarretar contra a vida do preguiçoso. Do ponto de vista desses textos bíblicos de sabedoria, a pobreza e a necessidade podem abater a vida da pessoa preguiçosa.
Para aprofundar mais esse assunto, sob a busca do que esses textos bíblicos podem nos ensinar a respeito da preguiça, vamos conceituar essa palavra, buscando distinguir a preguiça como uma fraqueza de vontade dos sintomas orgânicos e psicológicos que podem mascarar um problema de saúde sério, em que muitos interpretariam como preguiça.
A fim de aplicar o ensinamento dos textos dos capítulos 6, 24 e 26 de Provérbios, refletiremos algumas possibilidades de prevenção à preguiça. Essa prevenção passa pela consciência do senso de responsabilidade, pelo cuidado com o corpo e, finalmente, pelo estabelecimento de uma rotina, alinhada à vocação da própria vida. A partir desse entendimento, devemos procurar viver com zelo e fervor em nossos corações para superar o desafio da preguiça.
I – UMA ADVERTÊNCIA CONTRA A PREGUIÇA
1. Informações iniciais
Como estudamos no primeiro capítulo, o livro de Provérbios apresenta diversas advertências de caráter prático para serem aplicados na vida. Dentre muitas advertências presentes no capítulo 6 (vv. 1-19), daremos mais atenção à advertência contra a preguiça (vv. 6-11). No presente capítulo, correlacionaremos Provérbios 6.6-11 com 24.30-34 e 26.13-16. Essas passagens bíblicas trazem-nos uma admoestação
contra a preguiça. Posteriormente, ampliaremos essa advertência bíblica por meio de um retrato irônico que o sábio faz a respeito da pessoa preguiçosa.
A preguiça pode trazer várias consequências na vida de uma pessoa. Por causa da preguiça, pode-se prejudicar o desempenho na escola, o desempenho profissional, o desenvolvimento no relacionamento social e até mesmo o desenvolvimento da vida espiritual. Neste capítulo, também procuraremos distinguir o que é preguiça do problema orgânico proveniente de falta de vitaminas ou de uma ocorrência de problemas hormonais que podem caracterizar os sintomas de preguiça. Dessa maneira, os capítulos 6, 24 e 26 de Provérbios certamente nos auxiliarão na compreensão desse importante assunto.
2. Provérbios 6.6-11
Em Provérbios 6, a imagem das formigas ensina-nos a respeito da zelosa organização, mesmo sem um chefe (vv. 6, 7). Ela sabiamente nos expressa uma dimensão consciente do tempo do trabalho e, consequentemente, do tempo do descanso bem recompensado (v. 8). A pergunta do sábio para o preguiçoso é retórica, pois traz consigo uma autorreflexão a respeito da sua condição (v. 9). Ao fim dessa seção, o sábio arremata: a pobreza inesperadamente se abaterá sobre o preguiçoso (vv. 10,11).
No lugar de uma vida improdutiva e sem diligência com as tarefas, o sábio, tal qual aparece em Provérbios 6, é uma pessoa que trabalha e, ao mesmo tempo, cumpre a sua tarefa com diligência. Nesse sentido, o autor sagrado volta o seu olhar para a natureza, por meio da observação do modo de viver das formigas, bem como a sua organização, e extrai dessa imagem exemplos de trabalho e diligência no cumprimento da tarefa.
Provérbios 6 é um ensinamento muito importante sobre a importância do trabalho diário, do exercício de uma tarefa que garanta o alimento diário; não se refere, porém, apenas à tarefa para obter o alimento diário, mas também à forma que exercemos essa tarefa. Dessa maneira, o sábio traz a noção de que, independentemente da complexidade do trabalho, este deve ser executado com toda diligência e da melhor forma possível.
3. Provérbios 24.30-34; 26.13-16
A imagem presente em Provérbios 24.30-34 revela a observação que o sábio faz sobre o campo do preguiçoso. Esse campo é encontrado em completa desordem e ausência de diligência com a sua manutenção (vv. 30, 31). Diante desse quadro de desordem, as palavras do sábio são categóricas: a pobreza virá sobre o preguiçoso de forma inesperada (vv. 32-34). Aqui, a lição mostra que a ausência de ordem e diligência constituem um estilo de vida que atrai uma vida de pobreza permanente. A imagem do campo desorganizado é a imagem de uma vida desorganizada sem uma diretriz bem definida que não sabe onde deseja chegar.
A imagem que aparece em Provérbios 26.13-16 é a expressão de uma fina ironia que o sábio faz a respeito das “desculpas do preguiçoso” contra desenvolver o estilo de vida em que o trabalho diligente seja cultivado. Para isso, ele usa a seguinte expressão irônica para justificar a sua conduta passiva: “um leão está no caminho, um leão está nas ruas” (v. 13). Então, nada faz ele sair de casa para buscar o suprimento diário. Muito menos, nada faz o preguiçoso levantar-se da cama nem ter a coragem de levar o alimento à boca (vv. 14,15). O pior de tudo é o estado de negação que o preguiçoso entra. Ele não aceita nada que o contraria e, mesmo diante de uma equipe de pessoas sábias, fantasia a sua condição e considera-se mais sábio que todas elas.
Os capítulos 24 e 26 de Provérbios advertem contra um estilo de vida meramente ocioso, em que a pessoa não encontra satisfação em uma atividade produtiva e simplesmente admite assistir o tempo passar sem que nada seja planejado, desenvolvido e praticado com o propósito de buscar o pão diário nem de ser realizado vocacionalmente.
II – A PREGUIÇA E SUAS CONSEQUÊNCIAS
1. Conceituando a preguiça
De acordo com o Dicionário Housaiss, a preguiça tem a ver com aversão ao trabalho, ócio, estado de prostração, morosidade e lentidão. Do ponto de vista psicológico, tem a ver com uma indisposição crônica para realizar atividades corriqueiras. Ela pode ser revelada como uma aversão à ideia de disciplina e ordem, podendo também ser um
sintoma que mascara um problema orgânico ou psicológico. Além disso, a preguiça pode desencadear sentimentos como tédio, melancolia e, a partir de uma combinação de fatores orgânicos e ambientais, depressão. Por certo, muitos já passaram pela experiência de um sentimento de vazio ao tomar a consciência da perda do tempo causada pela prostração permanente. Quando esse estado torna-se crônico, até mesmo a saúde é afetada.
A preguiça também pode ser denominada de “fraqueza de vontade”. O filósofo francês da educação Jules Payot (1859–1940) refere-se a esse estado de “indolência, apatia, preguiça, ociosidade”. De modo que, para superá-lo, é importante um esforço continuado, porém consciente, pois sempre precisaremos vigiar contra a procrastinação permanente (PAYOT, 2018, p. 23). Payot ainda demonstra que esse estado natural de fraqueza de vontade enfraquece a vida intelectual, pois compromete a atenção, o vigor do raciocínio e, consequentemente, a reflexão (Ibidem, p. 25). Não por acaso, a vida de estudos de muitos jovens acometidos pela preguiça acaba comprometida.
Como a sociedade moderna apresenta um contexto de antipatia a qualquer tipo de esforço mínimo, esse estado de “fraqueza de vontade” sabota qualquer tipo de esforço moderado que reitera dia após dia, ao longo de meses e anos, qualquer tipo de planejamento (Ibidem, p. 26). Não há, portanto, outro caminho a tomarmos diante do estado de preguiça do que nos atentarmos para os conselhos dos capítulos 6, 24 e 26 de Provérbios, concentrando, assim, todo um esforço de atenção, pensamento e reflexão para levantarmo-nos e começarmos a colocar em prática um esforço que dure por toda a vida.
2. O que não é preguiça?
Também é importante ressaltar aqui que nem tudo é preguiça. Descansar, por exemplo, não é preguiça (Gn 2.2); muito pelo contrário, é um princípio bíblico que, se ignorado, levará o ser humano à exaustão física e mental. Depois de um período concentrado numa determinada tarefa, o ser humano precisa descansar para revigorar o frescor da mente e a qualidade de vida.
Não podemos, de igual modo, confundir a preguiça com causas orgânicas ou psicológicas. Às vezes, o que muitos entendem por preguiça tem a ver com a ausência de nutrientes por conta de uma alimentação inadequada, ou a ausência do tempo necessário de um sono reparador, ou até mesmo uma disfunção química na produção de um hormônio em nosso organismo que tem a ver com disposição e vitalidade; logo, nem toda passividade na atividade é preguiça.
É muito importante que prestemos atenção ao nosso Sistema Endócrino. Esse sistema é formado por glândulas e órgãos que regulam muitas funções de nosso organismo mediante a produção de hormônios (substâncias químicas) que trabalham no controle de toda a atividade de nosso corpo (MOHANA, 2009, p. 23-36). Isso significa que, se houver algum problema hormonal conosco, tal problema pode comprometer determinada atividade de nosso corpo. Nesse caso, uma consulta ao especialista do Sistema Endócrino — o endocrinologista — é importante, pois o que muitos denominam “preguiça” pode, na verdade, esconder um problema de natureza orgânica (Ibidem).
3. A preguiça paralisa seu desenvolvimento
A preguiça, contra a qual a Bíblia adverte, paralisa o desenvolvimento espiritual, afetivo, acadêmico e profissional do jovem. Ela liquida o senso da responsabilidade na vida. Ora, se entrarmos num modo mórbido de inatividade, sofreremos consequências sérias em nossa vida. Por exemplo, nossa vida devocional depende do senso de responsabilidade em manter certa disciplina como fez o judeu Daniel (Dn 6.10-13). Nossa disposição para o relacionamento social tem a ver em investir atenção e tempo com o próximo. Atingir o objetivo de passar num concurso importante, ou num vestibular, para entrar numa boa universidade tem a ver em manter o foco para atingir esse objetivo. O sucesso profissional depende da disposição em fazer o melhor no desempenho de uma atividade. Essa disposição é um senso de responsabilidade que vem de dentro, que começa no Senhor Deus, como ensina todo o livro de Provérbios; logo, “o desenvolvimento não se faz de fora para dentro, mas de dentro para fora. As circunstâncias externas são sempre acessórias: ajudam ou contrariam, e talvez menos do que geralmente se pensa” (PAYOT, 2018, p. 26). Assim sendo, não faltarão razões que buscarão justificar nossa passividade diante de um projeto de estudo, de um início de trabalho e de uma tarefa espiritual. Também não faltarão sofismas que tentarão sabotar qualquer planejamento nosso. A preguiça é exatamente como uma disposição mórbida que sabota com tudo aquilo que sonhamos, imaginamos e planejamos; por isso, respeitando o ensinamento de Provérbios, o apóstolo Paulo exorta os cristãos de Tessalônica a não ficarem ociosos, mas, sim, a trabalharem para comer o pão de cada dia (2 Ts 3.10-12) e, ao mesmo tempo, a serem zelosos e fervorosos na vida (Rm 12.11). O que lemos nos capítulos 6, 24 e 26 de Provérbios está alinhado com o que o apóstolo Paulo ensinou e com a realidade de nossa vida. O estado natural da preguiça é um contrassenso contra os valores de todo o Cristianismo Bíblico e Histórico.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
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