Lição 9 – A conspiração de Hamã contra os judeus
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O PLANO ODIOSO DE HAMÃ
II – A TRISTEZA DE MARDOQUEU, DOS JUDEUS E DE ESTER
III – O PERIGO E A CRUELDADE DO ANTISSEMITISMO MODERNO
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Explicar o plano odioso de Hamã;
2. Destacar a tristeza de Mardoqueu;
3. Apontar o perigo e a crueldade do Antissemistismo.
III – O PERIGO E A CRUELDADE DO ANTISSEMITISMO MODERNO
Hamã protagonizou a primeira prática antissemita largamente conhecida na história. Há, porém, um fato anterior, que R. K. Harrison registra no seu livro (ibid., p. 294, 295), ocorrido no Egito. O motivo dessa rejeição e ódio aos judeus seria a diferenciação da sua cultura, a sua organização e o seu progresso, por onde se estabeleciam; ou seja, a prosperidade do povo judeu e o seu estilo de vida próprio — principalmente a sua tradição religiosa — é o que termina sempre incomodando e gerando inimizades gratuitas. Sabemos que, por trás de tudo isso, está o fato de os judeus serem o povo que o Senhor escolheu para através dele cumprir a sua promessa feita ainda no Éden e anunciada a Abraão, de cuja descendência veio Jesus, o Messias (Gn 3.15; 12.1-3).
Harrison observa que, embora tenham sido espalhados entre estrangeiros por toda a parte, em função de dispersões e exílios, os judeus nunca foram totalmente absorvidos pelas comunidades nas quais se estabeleceram. Isso, conforme Harrison, se devia ao fato de os judeus utilizarem as suas habilidades na vida política, administrativa e comercial, como no caso do Império Persa, e destacarem-se perante os seus vizinhos menos prósperos, o que suscitava desconfiança:
Essas condições favoreceram o surgimento do anti-semitismo, e uma explosão deste comportamento ocorreu no Egito por volta do ano 410 a.C., durante o reinado de Dario II, quando o templo judeu em Elefantina foi saqueado em uma insurreição egípcia contra os conquistadores persas. Este ataque contra os interesses foi mencionado em um dos papiros elefantinhos, e é o primeiro incidente desse tipo que foi registrado.
Hamã, portanto, estaria nutrindo em altíssimas proporções um sentimento que já existia no mundo desde que os judeus foram expatriados, o que aponta para o fato de que há mesmo um propósito de Deus com Israel, intrinsecamente relacionado com a sua terra, a possessão prometida aos patriarcas.
- Faces do Antissemitismo
De forma prática, antissemitismo é a manifestação de hostilidade sistemática contra os judeus. É possível verificar ao longo da história três faces de expressão desse ódio obstinado: antissemitismo religioso, antissemitismo nacionalista e antissemitismo racial. No aspecto religioso, registram-se principalmente as perseguições católicas. No século XIV, por exemplo, os judeus chegaram a ser acusados por católicos europeus como responsáveis pela peste negra, que assolou a Europa em 1348 (Novinsky, 2015, p. 38). Também durante a Idade Média, sofreram intensa perseguição pela Inquisição, principalmente a partir de 1478, na Espanha, por ordem do Papa Sisto IV (1414–1484), e a partir de 1536, em Portugal, pela instituição oficial do Tribunal do Santo Ofício pelo Papa Paulo III (1468–1549). O principal objetivo era combater o que chamavam de “heresia judaica”. Milhões de judeus foram espoliados, torturados, execrados e mortos por não aderirem ao catolicismo e por questões econômicas e políticas. A primeira ordem de confinação de judeus em guetos não foi de Adolf Hitler (1889–1945), no século XX; foi do Papa Paulo IV, em 1555, e atingiu todos os Estados Papais por mais de 300 anos. Antes, contudo, no século XIV, já existiram as judiarias, os bairros judeus, na Península Ibérica.1
Discorrendo sobre o propósito da Inquisição em relação aos judeus, o pastor Abraão de Almeida (2009, p. 216, 217) escreve:
O fato de a Inquisição se haver voltado especialmente contra os judeus ou os praticantes do judaísmo levou alguns historiadores à conclusão de que se tratava de uma porfia de interesses, prolongada através de sucessivas gerações. O historiador J. Lúcio de Azevedo afirmou que essa porfia só terminaria em vantagem para os cristãos mediante um recurso violento.
[…]
No mesmo ano em que Cristóvão Colombo descobria a América, a Espanha expulsava 180 mil judeus de seu território, obrigava 300 mil a converter-se ao catolicismo e queimava, por mãos da Inquisição, 20 mil deles como convertidos relapsos. Cinco anos depois (1947), Portugal forçou os 200 mil judeus que viviam no país a converter-se ao catolicismo como marranos (conversos), sob pena de serem deportados.
2. Antissemitismo nacionalista e racial
O aspecto nacionalista pode ser visto no século XIX e no início do século XX na Ucrânia e na Rússia através dos chamados pogroms, violentos ataques físicos indiscriminados aos judeus. A prosperidade dos judeus incitava o ódio das populações originárias, alimentado por teorias de conspiração. O povo judeu era apontado como o culpado pelas crises econômicas de países do Leste Europeu, por exemplo, levando-os a reagir violentamente contra as comunidades judaicas. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), Adolf Hitler protagonizou o antissemitismo racial, ao proclamar a superioridade da raça ariana. O Holocausto exterminou 6 milhões de judeus de toda a Europa.
O historiador Alderi Souza de Matos (2005, p. 235, 236) apresenta um resumo da ascensão de Hitler ao poder e das atrocidades cometidas contra os judeus:
No dia 30 de janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler da república alemã e começou a implementar o seu programa totalitário. O princípio fundamental do novo regime era a unidade absoluta do povo alemão sob a direção do Führer (“líder”), mediante o controle de todas as áreas da sociedade. A noção de raça ocupava um lugar central na nova ideologia e os seus teóricos davam ênfase aos conceitos de povo, solo, sangue e germanidade. Todas as pessoas, ideias ou instituições não alemãs eram tidas como contaminadas, em especial aquelas relacionadas com os judeus, considerados a fonte de todos os males modernos, a “raça destruidora da cultura”, que havia legado ao mundo o cristianismo, o capitalismo e o marxismo. A raça autêntica ou “ariana” iria restaurar a pureza do passado.
Sucessivamente, os judeus alemães foram proibidos de ocupar cargos públicos, casar-se com arianos e perderam a sua cidadania. Na noite de 9 de novembro de 1938, conhecida como Kristallnacht (“noite dos cristais”), lojas e residências de judeus foram depredadas, sinagogas foram destruídas e houve prisões em massa. Em 1º de setembro de 1939, Hitler, que já havia anexado a Áustria e invadido a Tchecoslováquia, invadiu também a Polônia. Imediatamente a Inglaterra e a França declararam guerra contra a Alemanha — estava iniciada a Segunda Guerra Mundial. Enquanto a guerra prosseguia, os líderes nazistas planejaram a “solução final” — o extermínio de todos os judeus europeus (o Holocausto), o que começou a ser levado a efeito nas câmaras de gás dos campos de concentração. No dia 30 de abril de 1945, quando a derrota se tornou inevitável, Hitler cometeu suicídio, e em 7 de maio a Alemanha se rendeu aos Aliados.
Sobre a posição dos cristãos em relação a Hitler, diz Matos (p. 236):
Quando Hitler subiu ao poder, muitos líderes eclesiásticos protestantes se rejubilaram, antevendo a possibilidade de uma regeneração nacional. Todos pelo triunfalismo, fizeram os mais enfáticos elogios ao novo líder nacional. Hermann Grüner proclamou: “O tempo se cumpriu para o povo alemão em Hitler. É por causa de Hitler que Cristo se tornou efetivo entre nós. Portanto, o nacional-socialismo é o cristianismo positivo em ação”. O deão da Catedral de Magdeburgo, referindo-se às bandeiras nazistas expostas em sua igreja, afirmou: “As suásticas em torno do altar irradiam esperança — esperança de que o dia finalmente está prestes a raiar”. O pastor Julius Leutheuser acrescentou que “Cristo veio até nós através de Adolf Hitler”. Uma versão nazista do hino “Noite Feliz” dizia: “Noite de paz, noite santa, tudo está calmo, tudo está luminoso; só o Chanceler, tenaz na luta, vela pela Alemanha noite e dia, sempre a pensar em nós”.
Os líderes protestantes que ousaram não se submeterem ao regime nazista foram perseguidos, presos e, alguns, mortos. Os mais conhecidos deles são Martin Nieomöller e Dietrich Bonhoeffer. (Visitei o Museu do Holocausto de Jerusalém, Washington D.C. e Berlim, e os campos de concentração alemães de Neuengamme (Hamburgo), Dachau (Munique) e Sachsenhausen (Berlim). Neste último, ficaram alguns presos bem conhecidos, como Martin Niemoeller. O horror do Holocausto é muito evidente).
Texto extraído da obra “O Deus que Governa o Mundo e Cuida da Família”, editada pela CPAD.
1 Uma das obras que narram os horrores da Inquisição, com a extrema perseguição e mortes de milhares de judeus na Península Ibérica é Os Cães do Senhor, James Reston, Jr. (Record, 2008).