Lição 07 – A deposição da rainha Vasti e a ascensão de Ester
LIÇÃO 7
A DEPOSIÇÃO DA RAINHA VASTI E A ASCENSÃO DE ESTER
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O BANQUETE DE ASSUERO E A RECUSA DE VASTI
II – VASTI RESISTE À ORDEM DO REI E É DEPOSTA
III – ESTER: A JUDIA SE TORNA RAINHA EM TERRA ESTRANHA
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Explicar o banquete de Assuero e a recusa da rainha Vasti;
2. Refletir a respeito da resistência e da deposição da rainha Vasti;
3. Mostrar a ascensão de Ester ao posto de rainha.
II – VASTI RESISTE À ORDEM DO REI E É DEPOSTA
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A recusa da rainha
São muitas as opiniões acerca das condutas do rei e da rainha nesse episódio. Fato é que não se verifica no texto bíblico qualquer justificativa para a atitude de Vasti. Outrossim, ao considerar-se correta a sua postura, há que se qualificar como despótica a conduta de Assuero. No que isso resulta? Em considerar que Vasti perdeu a sua posição injustamente e que Ester foi guindada ao seu lugar através de um processo impróprio, numa espécie de usurpação do trono. Isso pode representar a perda da legitimidade de Ester, o que não é compatível com a narrativa bíblica. O mais coerente, portanto, é ficar com o que as Escrituras apresentam: um ato inusitado da rainha, que expôs o rei a uma situação vexatória diante dos seus súditos e convidados.
Para justificar a recusa de Vasti, alguns estudiosos citam comentários rabínicos, segundo os quais a ordem do rei seria para que a rainha fosse apresentada nua, portando apenas a coroa real. Essa ideia, contudo, não faz sentido diante do contexto geral da narrativa. Era uma festa pública, nos jardins do palácio. E ainda que fosse uma festa reservada a um seleto grupo de nobres, não há nos registros históricos da época evidência alguma desse tipo de prática. Também não se pode alegar que a recusa da rainha seja decorrente do seu recato, principalmente se ela for, como se cogita, a mesma Améstris citada por Heródoto, uma mulher astuta e sanguinária.1
Uma das atitudes sanguinárias de Améstris contada por Heródoto é a mutilação da esposa do irmão de Assuero, Masistes, que a rainha ordenou depois de descobrir o envolvimento do rei com a filha da cunhada. Esse mesmo episódio é registrado por Lloyd Lllewelly-Jones (2023, p. 299):
Ela [Améstris] convocou soldados da guarda real e mandou que arrastassem a esposa de Masistes até o palácio real, onde foi espancada, torturada e mutilada. Teve o nariz, as orelhas e os lábios cortados, e a língua arrancada. O tipo de punição imposta a um traidor. […] Como desfecho para o castigo, Améstris ordenou que os seis da mulher — símbolos de maternidade e fecundidade — fossem cortados e jogados aos cães que vagavam pelo pátio do palácio.
Se a ordem de Assuero tivesse sido dada durante o banquete oferecido aos nobres e poderosos das províncias do reino, poderíamos até cogitar que o motivo seria expor a beleza de Vasti aos estrangeiros, no interior do palácio. A rainha, contudo, foi chamada à presença do rei no sétimo dia do banquete público, oferecido ao povo da cidadela de Susã, nos jardins do palácio, como já afirmado. Isso enfraquece a interpretação de que Vasti teria que fazer uma espécie de desfile em traje sensual diante dos príncipes. O versículo 11 do capítulo 1 informa que o rei queria mostrar Vasti “aos povos e aos príncipes”. Assim, a característica popular do banquete fica evidente. Além disso, o local, o “pátio do jardim do palácio real” (1.5), é uma eloquente razão para ponderarmos se não é preciso muita simpatia por Vasti para acolher as interpretações comumente feitas de que o rei queria expor sensualmente os dotes físicos dela diante da nobreza.
Sendo público o banquete, porventura pretendia Assuero expor a nudez da rainha para o povo da cidadela de Susã? Não seria mais prudente evitar qualquer juízo valorativo sobre a atitude de Vasti, como fez o autor sagrado, e deixar que os personagens da história avaliem a sua conduta?
2. A aplicação da lei
Diversos intérpretes bíblicos consideram que a atitude de Assuero foi motivada pelo seu estado de embriaguez. De fato, o rei estava sob influência do vinho quando ordenou a vinda de Vasti, mas a sua decisão de depô-la do cargo não aconteceu de repente, de forma intempestiva ou autoritária. Um rei bêbado teria dado uma ordem imediata para trazerem Vasti à força ou, então, logo a consideraria deposta do trono, sem qualquer ponderação. Os fatos não se deram assim. Apesar da sua fúria, Assuero suportou o constrangimento público de receber de volta os eunucos sem a rainha. Passado o episódio, levou o caso ao exame dos sábios do seu reino, entendidos nas leis e no direito persa (Et 1.13). Liderados por um colegiado composto de sete conselheiros, os sábios entraram à presença do rei para analisar a conduta de Vasti e orientá-lo como decidir. Não há como desconsiderar que havia na pergunta do rei alguma expressão de prudência. Ele quis saber “o que, segundo a lei, se devia fazer da rainha Vasti, por não haver cumprido [o seu mandado]” (1.15). Assuero estava numa situação difícil. Como poderia ele exercer o governo do império se não tinha autoridade sobre a sua mulher? O que lhe permitia a lei fazer nesse caso?
Um rei que quisesse agir a qualquer custo jamais faria uma consulta jurídica, buscando saber o que poderia fazer na forma da lei — ou da jurisprudência dos medos e persas.
3. A sentença de Vasti
Examinado o caso, Memucã, um dos sábios, aconselhou ao rei que depusesse Vasti. Apontou como argumento a grande repercussão do caso. A conduta da rainha seria um péssimo exemplo para todas as mulheres do reino, e isso provocaria desrespeito e discórdia nos lares (1.17,18). Memucã apelou para uma espécie de garantia da ordem pública. O seu conselho agradou a Assuero e aos seus nobres. O rei decretou a deposição de Vasti e enviou cartas a todas as províncias, estabelecendo “que cada homem fosse senhor em sua casa” (Et 1.22).
O que se observa, portanto, é que os personagens da história reprovaram a conduta de Vasti. Quanto a Assuero, apesar de ser um rei ímpio, a sua resolução está em conformidade com o que a Palavra de Deus estabelece (Ef 5.23). Uma das qualificações exigidas do líder cristão é exatamente esta: exercer o governo da própria casa. O princípio bíblico apresentado por Paulo é: o homem que não lidera em casa não é apto para cuidar da Igreja de Deus (1 Tm 3.4,5). A falta de clareza na definição dos papéis do pai e da mãe tem sido altamente prejudicial para o desenvolvimento dos filhos em todas as áreas da vida. Como consequência, toda a sociedade é prejudicada. Um assunto aparentemente privado tem uma inequívoca dimensão de caráter público.
Texto extraído da obra “O Deus que Governa o Mundo e Cuida da Família”, editada pela CPAD.
1 Não existem evidências histórias que comprovem que Vasti seja a mesma Améstris citada pelos historiadores. Apenas opiniões de estudiosos neste sentido.