Lição 5 – A Revelação de Deus confronta o secularismo
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Valmir Nascimento, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Você já teve a experiência de ter um sonho e, na manhã seguinte, não conseguir lembrar-se dele? O capítulo 2 do livro de Daniel narra o episódio em que algo semelhante ocorreu com Nabucodonosor, deixando-o atormentado. Como veremos, porém, não se tratava de um sonho comum. O jovem Daniel foi convocado e, por revelação divina, ofereceu tanto a descrição quanto a interpretação do sonho, mostrando o plano de Deus para os governos mundiais. O seu significado, divinamente revelado, mostra um grande panorama histórico sobre o qual Deus governa.
I. O SONHO PERTURBADOR DO REI
No capítulo 2 do livro em estudo, somos apresentados à primeira crise enfrentada por Daniel, que enfrentou um perigo juntamente com os seus companheiros. Tudo começou com um sonho perturbador que assolou Nabucodonosor e deixou-o sem dormir. Para piorar, no dia seguinte o rei não conseguia lembrar-se do conteúdo do sonho.
Para nossa cultura, esse tipo de esquecimento é comum, mas na superstição oriental da época, era considerado um mau presságio, indicando a ira das divindades. Diversas fontes além da Bíblia também indicam que Nabucodonosor, na época ainda novo, era um homem muito ligado à religião pagã.1 Isso explica por que o rei teria ficado profundamente angustiado (2.3).
A primeira ação do rei foi convocar um grupo diversificado de conselheiros reais, que incluía magos, astrólogos, encantadores e caldeus. Esses indivíduos eram especialistas em várias áreas do conhecimento e da ciência da época, incluindo previsões políticas, econômicas e sociais. Eles representavam diferentes classes de assessores da corte real.
Magos eram frequentemente associados aos escritos da magia pagã,2 à sabedoria, ao conhecimento esotérico e às práticas místicas. Eles eram estudiosos que se dedicavam ao estudo de diversas disciplinas, incluindo astrologia, alquimia e outras formas de conhecimento oculto.
Astrólogos eram pessoas que estudavam os astros, como estrelas e planetas, acreditando que os movimentos dos objetos celestes podiam influenciar eventos na Terra. No contexto bíblico, a astrologia não era compatível com a visão religiosa judaica, que rejeitava a prática de buscar orientação divina por meio da observação dos astros.
Os encantadores eram aqueles que usavam encantamentos, feitiços ou palavras mágicas para realizar atos sobrenaturais. Essas práticas eram geralmente vistas como contrárias à fé monoteísta e à adoração exclusiva do Deus de Israel. Os caldeus eram um povo da antiga região da Caldeia, situada na Mesopotâmia, conhecida pelas suas contribuições à astrologia e à adivinhação. Atuavam também como líderes da casta sacerdotal.
Embora fossem peritos em diversas áreas, os conselheiros precisavam de informações mais detalhadas; por isso, pediram ao rei a descrição do sonho. Para surpresa e temor desses conselheiros, eles ficaram sabendo que a tarefa não se limitava apenas a interpretar o significado do sonho, mas também a relatar o próprio sonho. Essa exigência era incomum e parecia absurda, quase como uma brincadeira cruel, pois, se não fossem capazes de atendê-la, seriam condenados à morte. Diante dessa situação, foram forçados a pedir novamente: “[…] Ó rei, conte-nos o sonho e então diremos o que ele significa” (2.7, NVT).
A impotência humana e a convocação de Daniel
Ao perceber que os peritos estavam tentando ganhar tempo, Nabucodonosor reafirma a sua sentença, ameaçando-os com a pena de morte (2.9). Os caldeus reconhecem a sua incapacidade de atender ao pedido, pois se tratava de algo extremamente difícil, senão impossível. Eles afirmam que nenhum ser humano comum seria capaz de realizar tal feito e que nenhum rei, por mais poderoso que fosse, havia feito uma exigência tão extraordinária (2.10).
Eles não acreditavam naquele tipo de revelação. Embora fossem peritos em diversas áreas do conhecimento, possuíam uma visão eminentemente naturalista. Precisavam de dados racionais e compreensíveis à mente humana, para que pudessem interpretar o sonho. Apesar de acreditarem que os seus deuses tinham esse poder, não achavam que pudessem comunicar aos homens (2.11). A teologia deles não era capaz de solucionar o enigma.
Segundo John Lennox, aqueles homens estavam preparados para usar a razão diante de qualquer informação que lhes fosse apresentada; porém, naquela circunstância, não possuíam qualquer conteúdo que pudessem avaliar. “Na natureza da situação, a razão desassistida não teria produzido os dados. Apenas a revelação oferecida pelo imperador podia fazer isso”.3 Acontece que nem mesmo Nabucodonosor lembrava-se do sonho.
Diante desse contexto, inflamado de raiva, Nabucodonosor dá ordens para executar todos os sábios do reino. Nesse momento, Daniel e os seus companheiros, embora não ocupassem posições de destaque, estão entre os que podem ser condenados à morte (2.13).
Imagine-se na situação desses jovens. Diante de uma crise iminente em que a vida deles está em perigo, o que passaria na mente de cada um? Uma coisa é certa: eles não entraram em pânico! Mesmo cientes do risco, não permitiram que o medo exagerado e paralisante dominasse-os.
II. A CONDUTA DE DANIEL E A INTERPRETAÇÃO DO SONHO
Ao tomar conhecimento da sentença, Daniel adotou algumas medidas para lidar com a situação.
Em primeiro lugar, ele busca compreender melhor o que estava acontecendo, usando sabedoria e bom senso ao conversar com Arioque, o oficial do rei (2.14,15). Antes de qualquer ação precipitada, a pessoa sábia procura entender toda a situação.
Em segundo lugar, ele vai ao rei e solicita mais tempo (2.16). Daniel demonstra uma grande capacidade de manter a calma sob tão grande desatino e pressão da parte do rei.4 Era uma pessoa emocionalmente equilibrada, que não agia de maneira intempestiva. Nem sempre as questões são resolvidas rapidamente, e nem sempre o Senhor age de imediato. Além do mais, o fato de o pedido ter sido aceito demonstra que Daniel era uma pessoa de palavra e não estava simplesmente adiando o problema.
Em terceiro lugar, ele compartilha a situação com os seus amigos (2.17,18). Isso destaca a importância de termos amigos não apenas para momentos de diversão, mas também para intercessão e apoio mútuo. A Bíblia diz que existem amigos mais chegados do que irmãos (ver Pv 18.24). A amizade é uma virtude, referindo-se a fortes vínculos afetivos de companheirismo. Aristóteles dizia que a amizade é uma relação que se fundamenta no bem, na solidariedade e na reciprocidade. Francis Bacon afirmou: “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto”.
Em quarto lugar, eles oram pedindo misericórdia. Os jovens estudantes cristãos pedem a intervenção divina. Temos aqui um verdadeiro círculo de oração; uma reunião de clamor a Deus. Você pode entender a importância desse ato? Em vez de desespero, eles voltam-se para o Senhor, reconhecendo que só Ele é capaz de salvá-los. A oração do justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16).
Deus atende a oração
Como resposta à oração dos jovens, o Senhor revela o mistério a Daniel numa visão durante a noite (2.19). Novamente, temos muito a aprender com a forma de agir do jovem hebreu.
A primeira atitude de Daniel é expressar a sua gratidão ao Senhor, reconhecendo e exaltando a sua soberania e bondade. Ele sabia que tão importante quanto pedir era agradecer ao Senhor pela resposta à oração. Ele não atribui a si o mérito do entendimento do sonho. Ele louvou a Deus, reconhecendo a sua soberania, onisciência e bondade para revelar as coisas ocultas e dar sabedoria aos seus servos (2.20-23).
A sua segunda atitude foi expressar bondade. Ao comunicar a revelação ao oficial encarregado, Daniel intercede pela vida de todos os sábios da Babilônia (2.24). Ele demonstra generosidade e não age de forma egoísta ou vingativa, mesmo em relação aos incrédulos. Como crentes, não devemos retribuir o mal com o mal (1 Pe 3.9; Rm 12.17).
Em terceiro lugar, Daniel mostra humildade. Ele tinha um espírito excelente. Diante do rei, ele faz questão de enfatizar que há um Deus nos céus que é capaz de revelar todos os segredos. Ele não se vangloria nem busca mostrar-se superior; pelo contrário, atribui todo o mérito ao Senhor a fim de que o rei possa compreender o significado do sonho (2.30).
A interpretação e a recompensa
Ao saber que Daniel tinha a interpretação, Arioque apressadamente o introduz na presença do rei (2.25). A expressão “achei”, usada pelo capitão, era uma forma de mostrar a sua proatividade, creditando a si mesmo a solução do problema.
Daniel estava diante do rei do mundo na época e, mesmo assim, não temeu. Indagado se sabia o teor do sonho e a sua interpretação (2.26), o menino hebreu começa dizendo que os conselheiros não foram capazes de declarar o segredo do rei (v. 27). Daniel, contudo, diz: “Mas há um Deus no céu […] (v. 28, NAA). Que declaração corajosa e poderosa! Ela mostra que aquilo que é impossível ao homem é possível a Deus.
“Mas há um Deus no céu […]” exalta a soberania e o poder divino.
“Mas há um Deus no céu […]” realça que Daniel procurou deixar claro que não viera dar a interpretação do sonho mediante o seu próprio poder ou saber, mas deu a glória merecida ao Senhor.5 É esse Deus no céu que revela os mistérios.
Além de contar o sonho, Daniel apresenta o seu significado (2.36- 45). Cada parte da estátua representa um reino diferente. O reino de Nabucodonosor, a cabeça de ouro, será sucedido por três outros reinos mundiais, representados pela prata, bronze e ferro e, por fim, a pedra que destrói a estátua simboliza o Reino de Deus, que é eterno e jamais terá fim (2.44).
Não é difícil imaginar, como observou Roy Swin, o espanto e a alegria que o rei deve ter sentido ao ouvir essa revelação, com detalhes sobre o sonho que ele vagamente se lembrava.6 Ele era a cabeça de ouro, o mais precioso dos metais. Além disso, somente depois dele viria outro reino.
Ainda assim, Daniel foi extremamente corajoso ao declarar o sentido do sonho e a sucessão da Babilônia por outro reino. Aquele império estava no seu apogeu, e nada indicava a iminência da sua queda. Apesar disso, o profeta não estava avaliando dados e probabilidades geopolíticas, mas fazendo saber a revelação divina.
Dentre as características da estátua, fica claro que os reinos deste mundo são marcados por esplendor e terror; riqueza e morte. Eles são descritos por uma progressiva decadência;7 começam no ouro, o mais nobre dos metais, e terminam no barro. Assim é o caminhar histórico da humanidade.
Como a própria história viria a comprovar nas décadas e séculos seguintes, a revelação de Daniel estava certa. Como explicam a maioria dos teólogos cristãos, o sonho referia-se aos reinos que haviam de sobrevir. O Império Babilônico durou cerca de 70 anos, sendo seguido pelo Império Medo-Persa (braços e peito de prata), que durou por volta de 200 anos. Na sequência, veio o Império Grego (a barriga e os quadris de bronze), que esteve no poder cerca de 130 anos antes do Império Romano (pernas e pés de ferro e barro), de 146 a.C. a 476 d.C.
Tal cumprimento histórico mostra que a profecia bíblica é fidedigna. A Palavra de Deus não falha. Estamos diante de uma das mais notáveis profecias que se cumpriram na história. Até mesmo os críticos da Bíblia têm dificuldades para explicar como isso ocorreu; afinal de contas, é algo sobrenatural. Podemos descansar e confiar na Palavra de Deus!
Na sequência da profecia, depois desses reinos, virá o Reino eterno. O Deus do céu levantará um Reino que não será jamais destruído; e esse Reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre (v. 44). Ele jamais será abalado e não será sucedido.
É interessante perceber que, enquanto os metais que sucederam uns aos outros são partes da mesma estátua, a pedra vem de outro lugar.
O expositor Stuart Olyott também menciona que o sonho de Nabucodonosor não tinha quatro estátuas, mas somente uma. Isso mostra que se tratam, numa visão teológica, do mesmo governo humano alterado ao longo dos tempos, seja por sucessão ou tomada de poder. Em outras palavras, pode-se afirmar, decerto, que a pequena pedra destruiu os quatro impérios, e não apenas o último.9
Vale a pena destacar esse ponto. Enquanto a Bíblia diz que o Reino de Deus não se confunde com o reino político, muitos insistem em introduzir “a pedra na estátua”. O fim é trágico. Embora a igreja possa participar e influenciar as leis, a política e o espaço público em geral, isso não significa implantar o Reino de Deus nesta terra pela força política, numa tentativa de suplantar o governo humano. Isso equivale a antecipar as dimensões escatológicas para o tempo presente.
Seja como for, após a explicação de Daniel, o rei reconhece a veracidade da revelação. Diz que o Deus dos jovens hebreus é Deus dos deuses e o Senhor dos reis (2.47). Além de presentear Daniel, também o pôs como governador de toda a província da Babilônia e chefe de todos os sábios da Babilônia. Os servos de Deus podem alcançar posições de destaque na sociedade pela excelência dos seus trabalhos e obediência à vontade do Senhor!
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: NASCIMENTO, Valmir. Na Cova dos Leões: O Exemplo de Fé e Coragem de Daniel para o Testemunho Cristão em Nossos Dias. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.