Lição 8 – A Realidade Bíblica do Trabalho
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
Introdução
A palavra trabalho, a longo da história, ganhou o significado de uma atividade punitiva e desgastante para o ser humano, algo com que somos obrigados a conviver sob pena de não poder nos sustentar ou suprir as nossas necessidades. Mas o que a Palavra de Deus fala sobre o trabalho, e de que forma sua mensagem pode nos inspirar a glorificar a Deus por meio de nossas atividades profissionais e talentos? Veremos neste capítulo que a perspectiva divina acerca do trabalho tem por objetivo abençoar a humanidade e dar aos homens o senso necessário de utilidade para esta vida.
Este tema tem por objetivo demonstrar que o trabalho é uma bênção dada por Deus ao homem. Ele não foi instituído como uma forma de punição para a humanidade, mas, sim, como uma forma de dominar a terra, de valorizar o talento que recebemos e de glorificar a Deus com o trabalho das nossas mãos.
I – A Perspectiva Bíblica do Trabalho
1. O trabalho antes da Queda
A Palavra de Deus nos mostra que, desde o princípio, Deus nos deu o exemplo de uma atividade laborativa criando todas as coisas. Ele mesmo tomou a iniciativa de trazer vida à terra por meio da criação, e tudo o que podemos ver hoje é fruto do seu trabalho, pois Ele “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). O trabalho de Deus trouxe ordem à Terra sem forma e vazia, mostrando que se desejamos organizar um ambiente, trazer ordem a alguma coisa, precisamos ter iniciativa e trabalhar. Deus nos deu esse exemplo.
A história da criação nos apresenta o trabalho como uma ocupação dada ao homem pelo próprio Deus. Após ter organizado todo o cenário onde haveria de criar o homem, Deus lhe designou uma tarefa: “E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15). Antes que houvesse o pecado, o homem já tinha a tarefa de trabalhar e cuidar do ambiente em que foi colocado.
Desde o princípio, Deus entendeu que o homem deveria ter uma vida produtiva, e seu primeiro trabalho foi junto ao campo, com o objetivo de se ambientar com a natureza e guardá-la. Em hipótese alguma podemos crer que o trabalho foi uma maldição para o homem antes do pecado, pois foi Deus que posicionou o homem para essa finalidade, e isso não teve relação alguma com uma prática pecaminosa.
O trabalho no campo foi o início da atividade laborativa da humanidade. Com o passar do tempo, os homens e mulheres passaram a se dedicar a outras atividades, conforme seus talentos e as oportunidades se apresentavam. A produção de ferramentas de agricultura e marcenaria, a construção de barcos e navios e trabalhos com metais são algumas das atividades que os primeiros homens desenvolveram.
2. O trabalho depois da Queda
Após a Queda, com o pecado no mundo, o trabalho se tornou mais difícil. Não somente o homem, mas a criação de Deus foi igualmente afetada, e com ela, a interação entre o homem e a natureza por meio do trabalho. Dessa forma, o trabalho humano continuaria, mas ele seria mais difícil. “[…] maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornaras” (Gn 3.17-19).
Como se não bastasse a morte como consequência, o homem passaria seus dias vendo que o seu trabalho, antes feito aparentemente sem dissabores, agora seria acompanhado de um esforço muito maior, com dores e suor. E por meio do trabalho, o homem ganharia o seu sustento, até que seus dias terminassem. Portanto, o trabalho também foi afetado pela decisão do homem de desobedecer a Deus.
Observe que apesar de o pecado ter afetado o trabalho do homem, Deus não abandonou o homem, nem na sua vida produtiva. Ele garantiu que a natureza não falharia em prover o necessário para que o homem pudesse viver, desde que ele trabalhasse com diligência.
3. O trabalho com o passar do tempo
De forma inicial, o homem procurou lavrar a terra, e a caça e a pesca se tornaram meios não só de sobrevivência, mas de cumprimento da ordem de Deus, de povoarem e dominarem a terra, também de mostrarem sua supremacia sobre os peixes, as aves e os animais (Gn 1.28). A partir desses fatores, os homens desenvolveram técnicas com as quais poderiam facilitar suas atividades e instrumentos que os ajudariam em seus afazeres.
Os homens foram formando agrupamentos sociais, e por desprezarem a Deus e suas orientações, o trabalho sofreu distorções que afetaram a todos. A maldade dos homens fez surgir a escravidão e os maus tratos com outras pessoas. A escravidão passou a ser um meio com o qual o trabalho era feito, mas sem a valorização devida tanto para com o ser humano quanto para com a atividade realizada. E foi o cristianismo, por meio de homens como John Wesley, John Newton e Wilberforce, que lutaram para que esse sistema fosse extinto. No Brasil, a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, foi de autoria do cristão protestante Rodrigo Augusto da Silva. Ele apresentou ao Senado a lei, que posteriormente foi aprovada, trazendo o fim da escravidão no Brasil.
Em nossos dias, ao menos nos países desenvolvidos, a escravidão é combatida e quase inexistente, e o trabalho é regido por leis bem específicas. Mas em outros, ela ainda é um fator que perdura na cultura. A Palavra de Deus nos mostra também que havia trabalhadores que recebiam por seus salários, e que a escravidão não era uma norma. Jesus menciona que um pai de família saiu de madrugada para pagar os trabalhadores da sua vinha (Mt 20.1). Ele mesmo disse que “digno é o obreiro do seu salário” (Lc 10.7).
II – A Relevância do Trabalho
1. Fortalece o nosso testemunho
A Palavra de Deus elogia as pessoas que se dedicam a ser excelentes profissionais: “Viste um homem diligente na sua obra? Perante reis será posto; não será posto perante os de baixa sorte” (Pv 22.29). Esse simples testemunho mostra o quanto um bom trabalhador é valorizado. “O servo prudente dominará sobre o filho que procede indignamente; e entre os irmãos repartirá a herança” (Pv 17.2). É certo que ser um bom profissional passa pelo processo de aprendizado e de dedicação. Uma pessoa pode ser bem instruída, mas se não for dedicada, sua ciência jamais se desenvolverá. E o aprendizado vai servir para que a pessoa adquira perícia naquilo que vai fazer. Portanto, é nosso dever estar preparados para as demandas profissionais do nosso tempo, mas sempre visando servir a Deus com o conhecimento que adquirimos.
2. Jesus e Paulo
Dois exemplos bíblicos de trabalho no Novo Testamento são o Senhor Jesus Cristo e o apóstolo Paulo. O Messias é descrito como “homem de dores e experimentado nos trabalhos” (Is 53.3). Jesus foi carpinteiro, profissão que seguiu de seu pai terreno, José: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13.54,55). Jesus tinha uma vida laborativa.
Paulo era um missionário fazedor de tendas. Ele fazia da sua profissão um meio para se sustentar e falar de Jesus onde estivesse. Esse modelo de realizar a obra de Deus vem inspirando homens e mulheres que saem de seus países para servir ao Senhor com suas profissões em países que não permitem a entrada de pastores e missionários cristãos para evangelizarem formalmente.
3. O descanso
Se por um lado aprendemos que o trabalho é necessário, também é preciso que valorizemos nossos momentos de descanso. Deus descansou de sua obra após ter completado a criação, não porque estivesse cansado, mas para nos dar o exemplo de que o descanso é tão importante quanto o trabalho. Até a salvação é retratada como um momento de alívio e descanso: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Para que cuidemos do nosso corpo, quando estivermos cansados, devemos descansar, e não fazer uso de substâncias que alterem nosso sono e nos façam prolongar o tempo em que estamos acordados, pois isso tem um preço para o nosso organismo. O descanso, no momento certo, é uma das ações espirituais de que podemos usufruir em nossa vida nesta terra.
III – Conselhos a Respeito do Trabalho
1. Não use a fé para deixar de trabalhar
Um dos maiores erros que um cristão pode fazer é deixar de trabalhar na vida secular para se colocar como um peso para os seus irmãos. Paulo escreveu aos tessalonicenses sobre um grupo de pessoas daquela igreja que estava vivendo de forma desordenada, fugindo do trabalho. Ele diz que, quando esteve entre os tessalonicenses, trabalhou para não ser pesado aos irmãos (2 Ts 3.7-9). Ele recomenda que aquele que não trabalha também não coma (2 Ts 3.10). Pode ser um mandamento bem radical, mas ele visava trazer ordem para a igreja. A ordem designada por Deus foi que tivéssemos uma vida produtiva. Naturalmente, isso não se aplica às pessoas que não podem trabalhar e precisam de ajuda, mas, sim, aos que podem trabalhar, mas preferem não o fazer.
2. Trabalha como para o Senhor
Em um ambiente onde não havia normas trabalhistas que trouxessem equilíbrio ao sistema de trabalho, em que a norma era a escravidão, o apóstolo Paulo orienta a que os cristãos sejam diligentes em suas tarefas, independentemente da sua posição na sociedade. O servo crente poderia pensar que não deveria trabalhar com empenho por estar descontente com a sua posição social, mas Paulo ensina que quem trabalha, que trabalhe como se estivesse servindo ao Senhor: “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3.22-24).
Se por um lado Deus fala aos servos, Ele também adverte aos senhores: “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6.9). Certamente, havia na igreja pessoas mais abastadas que tinham escravos, e que, por serem cristãs, deveriam ser ensinadas de que não poderiam usar sua posição para destratar aqueles que as serviam. pois tal atitude desonra o evangelho.
3. Não retires a tua mão
Um dos conselhos que Salomão dá para quem trabalha é “Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas” (Ec 11.6). Num ambiente sem a tecnologia da qual dispomos, a opção que o homem da terra tinha era de semear de forma insistente. Isso implica ter disciplina e não desanimar com o passar do tempo, pois as sementes que eram depositadas na terra levavam algum tempo para germinar. Enquanto elas não se desenvolvessem, o agricultor deveria manter um trabalho constante na terra. Da mesma forma, nós devemos ser diligentes em nossas tarefas, pois no tempo certo haverá a colheita do que plantamos.
Esse texto fala de constância nos projetos que temos no tocante ao nosso sustento. Nem sempre o que planejamos pode acontecer no tempo que imaginamos. Fatores externos, como calor ou chuva, poderiam ser preponderantes para que uma semente germinasse ou não. Outros fatores, como guerras, poderiam tirar do agricultor, o fruto do seu trabalho, como vemos no caso de Gideão, que viveu em dias em que os midianitas, por sete anos, atormentaram a Israel, roubando-lhes as plantações e levando animais. Não bastava semear e colher. Era preciso defender o fruto do trabalho. É certo que o que apresentamos nessas últimas linhas se refere a um momento em que Israel estava distante do Senhor e Deus os julgou através de seus vizinhos ímpios, mas o princípio
Conclusão
O Senhor foi quem instituiu o trabalho, por entender que ele é útil para a humanidade, e que nos faz prosperar e desenvolver nossos talentos. O local de trabalho é onde passamos ou passaremos a maior parte do nosso tempo, mais tempo até do que com nossas próprias famílias. Portanto, é possível tornar o ambiente de trabalho num ambiente em que Deus pode ser visto pelo nosso testemunho, pela nossa integridade e pela nossa perícia profissional.
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