Lição 10 – O Cuidado com o Vento de Doutrina
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
Além de indicar o caminho a ser seguido, a doutrina também cumpre a importante função de conduzir o crente ao longo desse caminho. Contudo, para que cumpra essa função com fi delidade e eficácia, é preciso que prestemos atenção máxima aos desvios doutrinários predominantes de um determinado tempo, com vistas a combatê-los, preservando, assim, a saúde espiritual da Igreja de Cristo. A respeito desses desvios doutrinários, a Bíblia refere-se a eles de diferentes formas, como, por exemplo, “vento de doutrina”, usado por Paulo (Ef 4.14). O termo usado pelo apóstolo tem a sua origem na expressão grega ánemos, cujo sentido é vento, mas que nada tem a ver com o pneuma do Espírito Santo, pois aquele vento contraria a Palavra de Deus, enquanto este é o sopro daquEle que a inspirou; logo, não pode e nem vai contrariá-la. Além disso, é preciso considerar que o termo “vento” traz a ideia de algo que passa; logo, a implicação disso é de que, ao referir-se a “vento de doutrina”, Paulo falava de formas de engano que se manifestam de diferentes maneiras e segundo as tendências de cada tempo. Sendo assim, a cada tempo, a Igreja deve estar atenta à necessidade de identificar quais são as tendências doutrinárias que se manifestam hoje, com a finalidade de oferecer as respostas adequadas e corretas a cada uma delas. Paulo afirma que o evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). A declaração “de todo aquele que crê” é uma clara indicação — além de outras coisas — de que a mensagem do evangelho é eficaz a todas as pessoas de todos os tempos, independentemente dos anseios e dos dramas inerentes ao tempo em que vivem.
I – TENDÊNCIAS ATUAIS DAS FALSAS DOUTRINAS
Os anseios, os dramas e as dificuldades do ser humano de todos os tempos têm no pecado a mesma causa, assim como a solução é a mesma para todos, a saber, reconciliar-se com Deus, resolvendo, assim, o problema da inimizade que o pecado causou (Is 59.1-3; Tg 4.4). Os anseios humanos são os mesmos desde sempre, e somente Deus é capaz de suprir esses anseios, inclusive por meio da sua Palavra. É nesse sentido que a doutrina apresenta-se como fundamental ao cumprir o papel de conduzir a pessoa ao centro da vontade de Deus, que beneficia o homem em todas as áreas da vida (Rm 12.2). Essa é a razão pela qual o Diabo apropria-se do método de desvirtuar e macular a doutrina genuína, promovendo ventos de doutrina, com a finalidade de conduzir os homens ao caminho contrário, causando-lhes danos terríveis e, em muitos casos, irreversíveis. A Igreja, portanto, deve usar todos os recursos possíveis e disponíveis no combate a esses desvios doutrinários. Para isso, é preciso que esses desvios sejam devidamente identificados, principalmente na sua natureza, para que, ao combatê-los, não seja feito apenas superficialmente, isto é, nos seus efeitos, mas nas suas causas. Sendo assim, este tópico discorre basicamente sobre as tendências atuais das falsas doutrinas, quer dizer, como o vento de doutrina tem-se manifestado na atualidade. Ao fazer isso, será identificada a característica pós-moderna deste tempo, com ênfase em outros dois pontos, sendo eles: 1) a desconstrução proposta pela pós-modernidade; e 2) a disseminação de uma espiritualidade baseada apenas em sentimentos e experiência, sem o devido compromisso com quaisquer formas de estrutura doutrinária.
1. Tempos pós-modernos
Por que a Igreja deve identificar as tendências do seu tempo? O principal motivo por que a Igreja deve estudar e conhecer o seu tempo é porque ela é chamada a cumprir a sua missão neste tempo, pois é impossível que a Igreja seja útil e relevante sem conhecer os desafios da sua época. Sendo assim, conhecer o seu próprio tempo, além de estratégico, também é uma demonstração de amor pelas pessoas, já que, assim fazendo, será possível atender as pessoas com a mensagem do evangelho.
Devemos admitir que conhecer o próprio tempo e os seus desafios requer coragem, pois, junto dessa identificação, vem a necessidade de enfrentá-los; entretanto, se a Igreja deseja realmente ser relevante e fiel na sua missão, terá de entrar por esse caminho, pois, como afirma Sidney Greidanus: “Uma visão do mundo é crucial, pois age como padrão que avalia e interpreta a informação, ajudando a entender o sentido do mundo e de nosso lugar e nossa tarefa nele”.1 Diante disso, conclui-se que crente algum conseguirá cumprir a sua missão se não conhecer as tendências e os desafios do seu próprio tempo. Mas, afinal de contas, que tempos são os atuais, quais são as suas principais marcas? De que forma isso influencia ou não a Igreja e como ela pode e deve posicionar-se diante disso? Para começar, é preciso reconhecer e apontar o fato de que a própria Bíblia fala sobre o que ela chama de “o presente século”, indicando que cada era tem as suas características e que estas devem ser conhecidas pelos crentes. O apóstolo Paulo usa esse termo em ao menos dois contextos; em primeiro lugar, ao referir-se ao Diabo como “o deus deste século” (2 Co 4.4); em segundo lugar, ao referir-se às características de um determinado período ou era (2 Tm 4.10; Tt 2.12). Ao juntar essas duas formas usadas por Paulo, é possível notar que, em certa medida, o mundo está sob a influência do Diabo, que estrategicamente dissemina conceitos, pensamentos e princípios a cada época, com a finalidade de contrariar a direção da Palavra de Deus, dito de outra forma, por meio do que a Bíblia chama de “vento de doutrina”. Portanto, ao buscar a identificação das características do tempo atual, conclui-se que ele tem sido chamado de “pós-moderno”. Não é tarefa fácil definir a “pós-modernidade”, principalmente pela complexidade da sua própria constituição, que basicamente ignora aquilo que é estrutural e definido; contudo, ela tem sido tratada como o movimento da cultura que rejeita os valores da modernidade e vê com desconfiança os princípios racionais e universais. O mundo pós-moderno desvaloriza a lógica e o sentido das coisas, dando ênfase ao que foge à regra. A conclusão é de que a Igreja atual enfrenta os ataques, voluntários ou involuntários, de uma mentalidade que, dentre outras marcas, questiona e opõe-se a qualquer tipo de verdade preestabelecida, padrões consolidados e estruturas de crença e intelectualidade já existente. Além disso, a pós-modernidade é caracterizada pela busca desordenada pela experiência e pela espiritualidade sem, contudo, o compromisso com quaisquer naturezas de regras. Nesse sentido, o “vento de doutrina” a ser enfrentado e combatido pela Igreja é basicamente formado pelos conceitos pós-modernos, cuja finalidade principal é a de desconstruir o que se consolidou ao longo da história e que tem mantido a Igreja na direção de honrar a Deus.
2. Tempos de desconstruções
O mínimo de compreensão sobre os desdobramentos da pós-modernidade depende, em certa medida, do conhecimento básico do seu desenvolvimento histórico, haja vista ser ela um movimento filosófico que se desenvolve dentro do tempo e do espaço, isto é, na história. A falência do pensamento moderno abriu espaço para que a pós-modernidade fosse estabelecida, e isso se deu pela elaboração do pensamento de muitos teóricos, dentre os quais se destacam Friedrich W. Nitzsche (1844–1900), Michel Foucault (1926–1984) e Jacques Derrida (1930–2004). A famosa frase “Deus está morto” foi originalmente usada pelo filósofo germânico Georg Wilhel Friedrich Hegel (1770–1831), mas tornou-se mais conhecida pelo também alemão Friedrich W. Nitzsche. Nesse caso, essa frase não teve a intenção de anular a existência de Deus em si, mas foi um questionamento sobre a viabilidade ou não da manutenção da forma de crer e viver a partir da visão a respeito de Deus, ou seja, a proposta foi a de desconstruir as bases sobre as quais a sociedade estabeleceu-se nas suas crenças e valores. Nitzsche também disseminou a ideia de aquilo que se vê nem sempre ser considerado como verdade absoluta — aliás, ele buscou desconstruir o conhecimento herdado, dado ou pelos pais ou por líderes religiosos. Ele nega a existência de uma lógica pela qual o mundo tenha-se originado, esteja fundamentado e caminhando; dito de outra forma, a vida na sua forma de pensar, é sem sentido; logo, não há regras a seguir e observar, pois o homem veio do nada, está sobre o nada e caminha para o nada. O teórico francês Michel Foucault também se destaca como um dos pais do pós-modernismo. A sua teoria firmou-se mais em aspectos voltados à relação do homem com a palavra como fonte de conhecimento e de poder, haja vista que, segundo a sua elaboração filosófica, os que discursam não têm a intenção de ensinar e nem de comunicar conhecimento, sendo o seu principal objetivo perpetuar-se no poder, para que, assim, possam ter o domínio sobre as pessoas. Observe que, no pensamento de Foucault, a verdade não é absoluta e nem previamente estabelecida; a palavra é um mecanismo de domínio, e não de transferência de conhecimento. Por fim, outro filósofo a ser analisado é o argelino Jacques Derrida. A sua elaboração filosófica resultou no chamado desconstrutivismo, cuja essência está na busca por desfazer toda e qualquer estrutura, principalmente a de que o homem tenha uma origem estrutural e que deve firmar-se em princípios preestabelecidos por alguma instituição, como a igreja e a família. A teoria de Derrida une-se aos dois anteriores buscando anular a existência de um Deus que criou todas as coisas e estabeleceu princípios sobre os quais aqueles que querem viver em plena satisfação devem fundamentar a sua vida. Derrida nega — e até critica — a existência de um padrão a ser seguido e, por isso, sugere um olhar de desconfiança a tudo o que foi escrito, propondo uma desconstrução hermenêutica a fim de excluir Deus de toda e qualquer análise escrita. Sendo assim, a desconstrução do conhecimento herdado de Nitzsche, a da palavra falada de Foucault e da palavra escrita de Derrida é a proposta básica da pós-modernidade na sua busca por anular o ensino transmitido da Palavra de Deus, que é a base do cristianismo, sem contar a busca por anular a família tradicional na sua função pedagógica. Trata-se daquilo que Mark Driscoll chamou de “a Hermenêutica da serpente”.
3. Espiritualidade sem vida
A pós-modernidade não é um movimento intelectual apenas; pelo contrário, ela materializa-se na vida das pessoas integralmente, isto é, em todas as suas formas e áreas. Uma das principais áreas que a pós-modernidade afeta é a da espiritualidade — afinal de contas, o Diabo atacará tudo o que diz respeito à relação do homem com Deus, pois esse é o seu maior objetivo com os desvios doutrinários. De uma forma bem específica, a espiritualidade cristã está fundamentada na experiência pessoal e real do cristão com o seu Senhor, experiência esta que influencia a forma como se crê e se relaciona com Deus, a maneira de pensar a existência humana, assim como se relacionar com as pessoas e com o mundo exterior. Dito de outra forma, a espiritualidade cristã é a vida espiritual na prática, referindo-se às evidências dos fundamentos e princípios cristãos. Diante disso, percebe-se que a espiritualidade cristã lida com a complexa relação entre o invisível e o visível, o sobrenatural e o natural ou, ainda, o divino e o humano. A espiritualidade cristã é moldada pelas Escrituras e obedece a princípios doutrinários sob a perspectiva bíblica, cujos frutos manifestam-se na vida prática e não somente na experiência individual do crente. Com o seu projeto de desconstrução, a pós-modernidade não deixa de propor uma reavaliação da espiritualidade, propondo uma espiritualidade desconectada da doutrina bíblica e, consequentemente, separada e distanciada da Igreja. A mentalidade pós-moderna não nega a importância e o lugar da espiritualidade, mas apregoa que é possível manter relação com Deus e com o sobrenatural sem ter relações duráveis e sólidas com a Igreja e com a doutrina bíblica. Em uma análise mais aprofundada, esse aspecto da pós-modernidade está vinculado ao egocentrismo e ao individualismo. Com as suas raízes no egocentrismo e na busca por autonomia, a espiritualidade divorciada da ortodoxia bíblica é um dos males mais nocivos da pós-modernidade, pois, aliada ao engano religioso, a pessoa é influenciada a pensar que é possível andar com Deus sem que haja a necessidade de qualquer nível de compromisso com a sua doutrina e com a própria Igreja. Sendo assim, a Igreja é desafiada a mostrar o caminho a ser seguido por aqueles que desejam honrar ao Senhor e dar resposta a esta geração, e isso começa, sobretudo, pela capacidade de resistência por parte dos discípulos de Jesus.
II – A RESISTÊNCIA DO CRENTE
Está escrito em Tiago 4.7: “Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Há duas recomendações aos crentes nesse texto: 1) submissão a Deus; e 2) resistência ao Diabo. Outro texto bíblico a ser considerado aqui é o de 1 João 5.19: “Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno”. Aqui é possível identificar algumas verdades que merecem destaque especial, sendo elas: 1) há um povo que pertence a Deus, formado por aqueles que nasceram de novo; 2) a expressão “mundo” aqui designa sistema que se opõe a Deus e aos seus princípios; e 3) esse mundo está — por um tempo e em certa medida — sob o comando do Maligno. O Diabo, portanto, atua por meio do sistema que foi desenvolvido e que é administrado por ele. Sendo assim, a advertência para que o crente resista ao Diabo pode ser — sem nenhum problema —compreendido também como uma forma de alertar a Igreja a resistir os meios pelos quais o Diabo atua num determinado tempo. Nesse caso, a Igreja da atualidade é desafiada a resistir o “espírito” da pós-modernidade, que busca enfraquecer as bases doutrinárias da Igreja. Caso não haja esse cuidado, toda a construção poderá ser destruída. Portanto, motivada pela seriedade do tema, essa seção propõe-se a discorrer sobre essa responsabilidade que a Igreja tem de resistir aos ataques pós-modernos que buscam o enfraquecimento dela. Essa elaboração começará pela identificação do mundo a ser resistido pela Igreja, passará pela ausência de fundamentos do sistema atual e, por fim, tratará de apontar para a fé como instrumento eficaz e poderoso contra este mundo.
1. O mundo a ser resistido
Há uma batalha acontecendo e, segundo a Bíblia, ela não é carnal, mas espiritual, como se lê nas palavras de Paulo em Efésios 6.12. Um dos recursos mais eficazes numa batalha dessa natureza é a identificação dos verdadeiros inimigos a ser combatidos; caso contrário, força, energia, recurso e tempo serão empenhados em vão. Biblicamente, o crente enfrenta nessa batalha os seguintes inimigos e é chamado a vencer: 1) a si mesmo (Pv 16.32); 2) o pecado (1 Co 10.13; 3) o Diabo (Tg 4.7); e 4) o mundo (1 Jo 5.4). Dentre esses quatro alvos de enfrentamento do crente, o destaque aqui é o mundo, razão pela qual, antes de avançarmos na reflexão aqui proposta, buscaremos compreender o que o apóstolo João quer dizer com o termo “mundo”. A palavra “mundo” na Bíblia tem algumas variações, mas aqui ela vem do grego kosmos, que literalmente quer dizer “algo ordenado”, e que aqui também assume uma relação com “sistema ordenado” ou, ainda, “sistema mundano”. Esse sistema representa muito bem o “espírito do anticristo”, cuja principal marca é a de ser “contra tudo o que se chama de Deus” (2 Ts 2.4). Este mundo, portanto, é inimigo de Deus, do seu povo e da sua Palavra. Uma vez identificado o mundo como um dos principais alvos a ser resistidos pelo crente, faz-se necessário conhecer a forma pela qual isso é possível. O mundo a ser resistido é o sistema vigente implantado pelo “deus deste século” (2 Co 4.4), cuja marca principal é a de oposição a Deus e aos seus princípios, e é somente pela fé genuína que o crente poderá resistir adequadamente a este mundo, honrando a Deus e cumprindo a sua missão, mesmo num mundo sem padrão e sem fundamentos sólidos.
2. Um mundo sem fundamentos
Embora já tenham sido apresentados alguns elementos que caracterizam o mundo a ser combatido e resistido pela Igreja na atualidade, é preciso que haja uma ampliação na busca por identificar a marca desse sistema que se opõe a Deus — afinal de contas, é por esse sistema que a fé cristã é testada e desafiada, e é diante dele que o crente é desafiado a permanecer fiel a Deus e à sua Palavra. O já falecido sociólogo Zygmunt Bauman caracterizou este tempo como “sociedade líquida”, que, nas suas explicações, se trata de um período fluido, no qual não há nada sólido, nem mesmo nas relações das pessoas. Há quem diga que a doutrina cristã tenta sobreviver a esse caos social e moral da atualidade; entretanto, a doutrina bíblica nunca morrerá, pois a sua fonte é eterna e inesgotável. Na verdade, a doutrina cristã é desafiada a cumprir o seu papel dentro do contexto descrito acima, ou seja, ela deve ser ensinada, propagada e honrada pela Igreja, de tal forma que, por meio de suas bases inegociáveis, a Igreja permaneça como “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15).
Evidentemente que este tempo exige esforço por parte dos fiéis. Não foi à toa que o apóstolo Paulo referiu-se a este período, certamente de forma profética, de “tempos trabalhosos” (2 Tm 3.1-9). Este não é um drama exclusivo dos fiéis que viveram nos dias de Paulo, muito menos dos que vivem hoje, pois, no período do Antigo Testamento, é possível perceber que os que amavam a Deus também foram testados por meio dos dilemas inerentes ao seu tempo, inclusive na ausência de fundamentos sólidos, como se lê em Salmos 11.3: “Na verdade, que já os fundamentos se transtornam; que podem fazer o justo?”. Na mesma direção segue o texto de Salmos 82.5, que diz: “Eles nada sabem, nem entendem; andam em trevas; todos os fundamentos da terra vacilam”. Somam-se a esses dois textos poéticos as palavras dramáticas do profeta Habacuque, quando viu as dificuldades dos seus dias: “Por esta causa, a lei se afrouxa, e a sentença nunca sai; porque o ímpio cerca o justo, e sai o juízo pervertido” (Hc 1.4). Do mesmo modo, os crentes de hoje são chamados a manter firme a fé, mesmo num mundo de liquidez e sem fundamentos sólidos, a fim de que, por meio dessa fé, sejam capazes de vencer o mundo.
3. A vitória que vence o mundo
O crente por si mesmo não é capaz de resistir aos ataques e investidas do sistema mundano atual, dependendo, portanto, de recursos espirituais disponibilizados por Deus, conforme ensinado na sua Palavra. Há muitos textos bíblicos que apontam para esses recursos, mas poucos cumprem esse papel como o que está em 1 João 5.4, que diz: “Porque todo que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Diante disso, impõe-se a tarefa de identificar e compreender a que fé o apóstolo refere-se e qual o significado dela. Em primeiro lugar, observe que o apóstolo não é genérico na sua expressão sobre a fé, mas bem específico, ao escrever “a nossa fé”, ou seja, não é qualquer fé, mas uma fé especificamente tratada como aquela que foi dada aos “nascidos de Deus”, conforme o próprio João argumenta. Essa fé é descrita da seguinte forma por Judas na sua epístola: “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (v. 3). Portanto, a fé a que se refere João como “a vitória que vence o mundo” é a que foi dada exclusivamente aos servos do Senhor, isto é, aos que se submetem à sua Palavra. Em segundo lugar, essa fé é poderosa não por si mesma; pelo contrário, a sua eficácia é operada porque ela tem no Senhor Jesus a sua fonte, conforme se lê na carta aos Hebreus 12.2. A ideia de “autor” aqui é a mesma de alguém que gera, produz ou, ainda, traz à existência algo ainda desconhecido; logo, Jesus é quem produz a fé. Ele é a sua fonte original. Já “consumador” traz a ideia de finalidade, objeto final, fim de alguma coisa. Sendo assim, a fé que começa em Jesus também termina nEle. A fé é uma dádiva do Senhor ao homem, ou seja, é Ele quem a entrega a alguém, conforme se lê em Efésios 2.8: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus”. A fé vem do Senhor, firma-se nEle e cumpre o propósito de glorificá-lo. Uma vez identificados a quem a fé genuína foi dada e quem é a sua fonte original, é preciso discorrer sobre a sua função principal em auxiliar o crente no processo de resistência às investidas do Diabo pelo sistema mundano vigente. Antes de avançar nesse sentido, é digno de nota o fato de que há, infelizmente, muita confusão sobre o verdadeiro papel da fé, pois, ao contrário do que a Bíblia ensina, não são poucos que a usam como instrumento de ataque, e não de defesa. Contudo, leia atentamente o texto de Efésios 6.16, cujo contexto é tratando sobre a batalha espiritual em que o crente está envolvido: “tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno”. O texto é claro em informar que a fé cumpre um papel semelhante ao do escudo, dando ao crente as condições necessárias de defesa, isto é, de resistência aos ataques do Diabo. Seguindo nessa mesma direção — e não poderia ser diferente —, o escritor aos Hebreus apresenta a definição de fé como estrutura de firmeza e garantia ao crente diante de quaisquer circunstâncias a que ele for submetido como servo do Senhor (11.1). De volta ao texto em que o salmista fala dos fundamentos abalados, note que, assim que ele constata essa triste realidade, faz a seguinte declaração: “O Senhor está no seu santo templo; o trono do Senhor está nos céus; os seus olhos estão atentos, e as suas pálpebras provam os filhos dos homens” (Sl 11.4). Diante do caos instaurado nos seus dias, o salmista descansou na certeza de que Deus não perde o controle de nada e de que tudo está sob o domínio dos seus olhos. Evidentemente, isso é fruto da verdadeira fé. É só por essa fé que o crente alcançará vitória, pois ela garante-lhe a firmeza necessária para resistir ao sistema atual, que luta contra tudo o que é de Deus, tentando distrair o crente com as suas ofertas. A fé genuinamente bíblica permite que o crente tenha os seus olhos fixos em Jesus, à semelhança de um atleta que não tira os olhos do fim da corrida. A fé que vence o mundo dá ao discípulo de Jesus as condições necessárias para que ele não perca o caminho e, assim, possa terminar a corrida, tendo resistido o Diabo, vencido o mundo e alcançado a coroa da vida eterna sem ter perdido o amor por Deus e a sua Palavra.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!