Lição 7 – O Ministério da Igreja
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O MINISTÉRIO SACERDOTAL DE TODO CRENTE
II – A ESTRUTURA MINISTERIAL DO NOVO TESTAMENTO
III – AS QUALIFICAÇÕES PARA O MINISTÉRIO
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Apresentar a doutrina bíblica do ministério sacerdotal observada na Antiga Aliança e praticada pelos crentes na Nova Aliança;
2. Elencar os cargos ministeriais instituídos na Igreja Primitiva;
3. Explicar as qualificações de natureza moral e social exigidas para o exercício ministerial.
Neste capítulo, estudaremos sobre o Ministério da Igreja. Faremos isso, em um primeiro momento, analisando a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes por acreditarmos que, além de ser um dos pilares da Reforma do século XVI, é uma doutrina genuinamente bíblica (1 Pe 2.9). Mostraremos que, no contexto neotestamentário, embora houvesse hierarquia ministerial, não havia uma distância abissal entre leigos e clérigos. Num segundo momento, faremos uma análise da estrutura ministerial tal como aparece nas páginas do Novo Testamento.
Devemos destacar que a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes é uma das doutrinas mais belas do Novo Testamento. Essa doutrina é nitidamente mostrada na Bíblia (1 Pe 2.9; Ap 1.5,6; 5.10). Sem exceção, todo crente agora é um sacerdote, podendo exercer com eficácia, por exemplo, o ministério de intercessão (Hb 10.19-22). A Nova Aliança permitiu que cada crente — diferentemente do Antigo Testamento, onde só uma classe escolhida podia oficializar-se como sacerdote — pode agora entrar sem medo diante da presença de Deus.
À medida que conhecemos essa doutrina tanto na sua dimensão bíblica como na histórica, mais conscientes ficamos da sua importância. Dessa forma, teremos uma compreensão melhor sobre ela se a conhecermos a partir dos seus fundamentos, que são encontrados no Antigo Testamento, e como ela é compreendida no Novo. Feito isso, precisamos acompanhar como a Igreja interpretou em diferentes épocas essa importante doutrina cristã. Isso porque, assim como aconteceu com inúmeras outras doutrinas, o sacerdócio universal de todos os crentes também sofreu desvios.
O catolicismo é um exemplo vivo disso. Dentro dessa comunidade religiosa, o exercício do sacerdócio é tirado do leigo e posto numa classe especialmente escolhida para isso, que são os padres. Convém destacar que o Papa, também denominado de “Santo Padre”, está no topo da hierarquia sacerdotal católica. Somente aos padres cabe a função de intercessor. Dessa forma, a função sacerdotal de intercessor, que cabia a todo cristão (l Pe 2.9), foi elitizada — aqui na Terra, pelos clérigos católicos, e no Céu, pelos “santos”. Essa crença, por exemplo, está na base da “confissão auricular”, onde um fiel confessa-se com um clérigo.
Evidentemente, essa prática é diametralmente oposta ao ensino bíblico que diz que qualquer cristão pode confessar as suas falhas diretamente a Deus (1 Jo 1.9) e a qualquer outro cristão (Tg 5.16). Posteriormente, outros segmentos religiosos, como, por exemplo, o mormonismo, concentraram em torno de si a função sacerdotal. Somente os seus membros, segundo apregoam os seus adeptos, são os verdadeiros detentores das chaves do sacerdócio.
É oportuno pontuar aqui que o resgate do sacerdócio universal dos crentes, sejam eles leigos, sejam clérigos, tal qual se encontra nas páginas neotestamentárias foi uma conquista da Reforma Luterana do século 16. Em uma das suas 95 teses afixadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg em 1 de outubro de 1517, Martinho Lutero dizia: “Qualquer cristão verdadeiro participa dos benefícios de Cristo e da Igreja”.1 A Reforma apregoava um retorno radical às Escrituras, como bem definiu o seu slogan sola scriptura (somente a Escritura). São nas páginas das Escrituras Sagradas que podemos ver a magnitude dessa doutrina.
Sucintamente, os teólogos esboçam a doutrina do sacerdócio (hb. koheri) bíblico nas páginas do AT da seguinte forma: (1) no início, levando-se em conta a necessidade de oferecer-se sacrifício, os homens eram os seus próprios sacerdotes (Gn 4.3 e Jó 1.5); (2) na era patriarcal, o sacerdócio era exercido pelo chefe da família (Gn 8.20; 12.8; Jó 1.5); (3) de certo modo, todo Israel era sacerdote do Senhor para outras nações (Êx 19.6); (4) e, no Monte Sinai, o Senhor limitou o sacerdócio a Arão e à tribo de Levi (Êx 28.1; 40.1-15).
Dessa forma, J. Barton Payne (1922–1979), professor de Antigo Testamento, observa oportunamente que “os sacerdotes do AT eram tipos de Cristo (Hb 8.1), que operou a derradeira propiciação pelos pecados do povo” e que “a Igreja do NT apresenta um sacerdócio universal dos crentes (l Pe 2.5; Ap 5.10; Jr 31.34)”.2
É importante, portanto, compreendermos a função sacerdotal nas páginas do Antigo Testamento e como ela formata-se no Novo. Se o sacerdote era no Velho Concerto um ministro das coisas sagradas (sacrifício de animais, intercessão pelo povo, consulta a Deus e ensino da Lei), por outro lado, dentro do Novo Concerto, os sacerdotes, entre outras coisas, devem: oferecer o seu próprio corpo em sacrifício vivo (Rm 12.1-2); ministrar o louvor, como fruto dos seus próprios lábios (Hb 13.5); interceder pelos outros (l Tm 2.1; Hb 10.19,20); proclamar as virtudes daquEle que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (l Pe 2.9); e manter comunhão direta com o seu Deus (2 Co 13.13).
Esses fatos revelam-nos a grande importância que essa doutrina tem hoje para os crentes. Em todos eles, o cristão é o agente ativo da ação. Mas é bom lembrar aqui que, infelizmente, nem todos os crentes ainda tiveram o correto discernimento da magnitude dessa verdade. Uma das principais funções sacerdotais, a de intercessor, tem sido negligenciada. Permita ilustrar o que quero dizer citando duas passagens do Novo Testamento.
A primeira encontra-se em Lucas 1.8,9. A segunda, em Apocalipse 5.8-10. Temos nessas passagens o exercício do sacerdócio cobrindo as duas alianças. Na primeira, temos um homem escolhido, Zacarias, para oficiar como sacerdote. Embora vivesse no limiar no Novo Concerto, ele ainda pertencia ao Antigo. Na segunda, temos todos os crentes, sem distinção alguma, exercendo a função sacerdotal. Há, contudo, uma prática que é comum no desempenho da função sacerdotal revelada nessas passagens: a queima do incenso. Tanto os sacerdotes da Velha Aliança como os da Nova queimavam incenso.
Texto extraído da obra, “O Corpo de Cristo”, livro de apoio ao 3º trimestre, publicado pela CPAD.
1 BETTENSON, H. Documentos da Igreja Crista. Rio de Janeiro: JUERP.
2 PAYNE, j. Barton. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova.