Lição 5 – As Falsas Doutrinas
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Vivemos numa época em que a aceitação do erro tem sido confundida com respeito. Em nome disso, não são poucos os que têm aceitado o engano e o desvio da verdade de Deus. Perante ao exposto, a Igreja é desafiada a posicionar-se como “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15), convicta de que “mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). Manter-se alinhado a Deus e à sua Palavra é, inquestionavelmente, um dos principais objetivos a ser alcançados pela Igreja na atualidade, e isso implica na consciência de que a Igreja deve entender que, independentemente da aprovação ou reprovação humana, Deus — por meio da sua Palavra — nunca deixou de fazer separação entre os que se submetem dos que não se submetem à sua Palavra. O texto de Malaquias 3.18 representa bem esse princípio no Antigo Testamento, como se lê: “Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não serve”. O próprio Senhor Jesus nunca hesitou em classificar as pessoas em dois grupos (Mt 7.24-27; 24.40,41; 25.35-41). Os apóstolos também cumpriram a missão de advertir sobre a triste realidade da separação entre os que amam e recebem a genuína doutrina bíblica dos que a rejeitam e desprezam, como se vê nas palavras de João: “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro” (1 Jo 4.6). A partir do texto joanino, é possível extrair algumas lições fundamentais sobre a distinção que há entre os que pertencem a Deus dos que não pertencem, sob a perspectiva da aceitação ou não da genuína doutrina, conforme se vê: 1) João classifica um grupo como pertencente a Deus, o que implica na existência de outro que não pertence; 2) ele também afirma que os que conhecem ou, ainda, pertencem a Deus ouvem o ensinamento dos apóstolos; 3) os que não pertencem a Deus são caracterizados por não ouvirem a doutrina dos apóstolos; e 4) ele revela que a natureza dos que pertencem a Deus é o espírito da verdade, enquanto dos que não pertencem é o do engano. Nesse sentido, a presente reflexão discorre sobre a seriedade do engano doutrinário com base na expressão “doutrina de demônios”, usada por Paulo, oferecendo uma definição, apresentando as suas produções e como a Igreja pode vencê-las.
I – DOUTRINA DE DEMÔNIOS
O problema do engano e do desvio da verdade de Deus não é algo restrito apenas aos dias atuais; pelo contrário, a sua manifestação pode ser vista na ação do Diabo em tentar Eva, ao macular e desvirtuar a Palavra de Deus (Gn 3.1-5). Desde então, a Bíblia registra fatos históricos de falsos profetas, falsos ensinadores e as consequências dos seus enganos, bem como traz o relato de advertências divinas sobre o perigo dos falsos ensinos, o que demonstra a seriedade com que este assunto é tratado nas Escrituras. Dentre essas muitas referências feitas pela Bíblia sobre os falsos ensinos e as suas implicações, a que Paulo faz, ao chamá-los de “doutrina de demônio” é uma das — ou a que — mais chama a atenção, em virtude da veemência e força de tais palavras. Evidentemente que essa forma de o apóstolo referir-se ao falso ensino é uma clara demonstração da seriedade do assunto, de como ele é tratado pelo próprio Deus e de como a Igreja de Cristo deve tratá-lo. Com base nessa referência paulina, esta seção é dedicada a explicar o sentido da expressão “doutrina de demônios”, as suas produções e como a Igreja pode e deve enfrentá-la, com vistas à resistência a ela e à vitória sobre os seus frutos.
1. Doutrina de demônios, o que são?
A expressão “doutrina de demônios” é, sem dúvida, uma das mais fortes que Paulo usou — aliás, de tão forte que é, pode até soar como deselegante e desrespeitosa para muitos hoje em dia. No entanto, a referência que o apóstolo faz ao desvio doutrinário tem objetivos bem claros, caracterizados, principalmente pela força da expressão usada, e eles podem ser assim resumidos: 1) demonstrar a seriedade do tema em questão, isto é, a realidade da disseminação do falso ensino; 2) chamar a atenção da Igreja para a seriedade do tema e, principalmente, para as suas elaborações demoníacas; e 3) preparar a Igreja para o enfrentamento e a vitória não somente sobre os danos desses falsos ensinamentos, como também sobre o próprio ensino enganoso.
Diante disso, a pergunta central a ser feita é: Qual é o significado da expressão paulina “doutrina de demônios”? Como o vocábulo “doutrina” é definido como “ensinamento”, a ênfase maior aqui deve repousar sobre a referência que Paulo faz a “demônios”. Ele estava claramente se referindo a como a natureza desse ensino causava mal à Igreja do Senhor. É importante ressaltar que o termo “demônios” aparece somente essa vez na carta, sendo uma referência a tudo o que se opõe a Deus, à sua Palavra e aos seus princípios. Para uma ampliação na compreensão do pensamento de Paulo a esse respeito, ele fala na mesma carta sobre o que chamou de “mistério da piedade” (3.16), que contrasta com o que chamou — em outra carta — de “mistério da impiedade” (2 Ts 2.7). A palavra “piedade” tem relação com o termo “pio”, cujo sentido é o de pureza, limpo, sem mancha, e até mesmo integridade, indicando para aquilo que é inteiro, e não pela metade; logo, a piedade de uma pessoa fala da sua pureza, santidade e entrega irrestrita a Deus, aceitação submissa da sua Palavra e dos seus propósitos. Desse modo, a “impiedade” é exatamente o oposto a isso, ou seja, o ímpio é contrário a Deus, inimigo da sua Palavra e, em geral, não há entrega alguma para Deus — e, quando há, é sempre pela metade. Paulo, ao escrever sobre “doutrina de demônios”, estava apontando para a natureza de todo ensino que, em alguma medida, ainda que de forma parcial ou integral, estimula o que se opõe a Deus, pois opor-se ao Senhor é exatamente a missão de todo demônio, cujas produções sempre atuam na contramão das ações de Deus.
2. A doutrina de demônios e as suas produções
A essa altura, deve estar claro que a expressão “doutrina de demônios” diz respeito a tudo o que se opõe a Deus, principalmente à sua Palavra, já que ela possui os oráculos e a vontade do Senhor para o homem e para a sua Igreja. Há três verdades a esse respeito que precisam receber um destaque especial, como se vê: 1) os frutos, isto é, os resultados produzidos pela “doutrina de demônios”, revelam a natureza da sua fonte, isto é, o Diabo, adversário maior de Deus; 2) essa doutrina produzida pelo próprio Diabo tem como principal objetivo desviar o foco que deve ser posto no verdadeiro evangelho, pois assim ele será abafado; e 3) assim como Deus tem os seus instrumentos para a proclamação do verdadeiro evangelho, o Diabo tem os seus disseminadores da falsa doutrina, chamados na Bíblia de “falsos mestres” e “falsos profetas”. Está claro que é um assunto importante e deve ser levado a sério não somente pelos que exercem o ministério cristão, como também pela Igreja como um todo — afinal de contas, diz respeito à manutenção ou não da sua vida espiritual. A analogia que Paulo faz ao comparar os danos dessa doutrina de demônios à Igreja aos malefícios da gangrena (2 Tm 2.17) demonstra que, caso não haja uma ação imediata, correta e eficiente, o Corpo de Cristo certamente sofrerá “amputações” em áreas importantes da vida. A respeito desse texto, Matthew Henry comenta de forma significativa alguns pontos que merecem certo destaque, com vistas à ampliação da compreensão das palavras de Paulo. Em primeiro lugar, ele relaciona essa “doutrina de demônios” à manifestação do espírito do Anticristo, que, segundo ele, se manifestaria na era cristã em virtude da expressão “nos últimos dias”. Em segundo lugar, ele fala de dois aspectos dos frutos dessa doutrina enganosa quando menciona a “apostasia geral da fé em Cristo e da adoração pura em Deus”. Em terceiro lugar, ele fala de um remanescente que, sustentado por Deus, não se renderia aos encantos desse desvio doutrinário. Em quarto lugar, ele menciona que a hipocrisia é o principal instrumento de disseminação dessa doutrina demoníaca. Por fim, ele destaca que a Igreja sai na frente, pois ela foi avisada de antemão, razão pela qual não deve ficar desesperada, embora precise estar preparada para enfrentar esse mal.
O enfrentamento à doutrina de demônios
Conforme bem destacado anteriormente, essa abordagem de Paulo é séria, e isso justifica os termos fortes utilizados por ele. Portanto, um tema com tamanha importância e seriedade não poderia restringir-se apenas à indicação da manifestação dessa doutrina demoníaca e a constatação da sua realidade, mas também a apresentação da forma pela qual isso deve ser enfrentado pelo crente e pela Igreja. A tarefa que Timóteo recebeu das mãos de Paulo está longe de ter sido fácil; foi uma missão árdua, delicada e complexa, embora importantíssima. Essa missão consistiu na pregação do verdadeiro evangelho, numa vida pautada nos princípios desse mesmo evangelho, além da responsabilidade em trabalhar em favor do seu próprio crescimento espiritual pela Palavra (1-16). Timóteo recebeu a incumbência de pregar em cenário de ataques fortes e constantes feitos pelas “doutrinas de demônios”. É importante destacar que ele não tinha autorização e nem o direito de pregar o que desejasse, mas, ao contrário disso, ele deveria pregar o genuíno evangelho, única arma capaz de resistir aos ardilosos ataques e vencer as artimanhas dessas falsas doutrinas. Atente para as seguintes palavras de Paulo: “Propondo estas coisas aos irmãos […], criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido” (v. 6). A expressão “propondo” tem relação direta com “pregar”, enquanto “criado” refere-se a “alimento”; ou seja, a forma de enfrentar a chamada “doutrina de demônios” é pela pregação do evangelho e da boa doutrina, pois é isso que alimenta e preserva o rebanho de Deus — afinal de contas, muitas são as seduções dessas falsas doutrinas.
II – A SEDUÇÃO DAS FALSAS DOUTRINAS
Uma vez identificada e reconhecida a realidade das falsas doutrinas, assim como das suas artimanhas e sutilezas, é preciso dedicar espaço para uma reflexão no sentido de buscar descobrir o porquê de essas doutrinas de demônios serem tão sedutoras e como essas seduções manifestam-se atualmente. De início, é necessário afirmar que, como visto anteriormente, o engano e o desvio da verdade são realidades presentes desde o primeiro pecado da humanidade, o que permite compreender que os falsos ensinos têm as suas raízes no desejo humano em viver independente de Deus, estabelecendo, assim, os seus próprios códigos e princípios a serem observados e seguidos. A partir dessa constatação, torna-se mais fácil perceber e conhecer as formas atuais pelas quais esses falsos ensinos tornam-se tão sedutores, motivo pelo qual não têm sido poucos os que têm enveredado pelos seus caminhos, que, conforme as sábias palavras de Salomão: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Pv 14.12). Diante disso, esta parte do capítulo ocupa-se em mostrar como a idolatria, o relativismo e o hedonismo apresentam-se como os principais meios de sedução das atuais doutrinas de demônios.
A sedução da idolatria
De acordo com o pastor Claudionor de Andrade, idolatria: [Do gr. Eidolon, imagem + latria, adoração] Culto destinado a adoração dos ídolos. A idolatria pode ser considerada também o amor excessivo por alguma pessoa, ou objeto. Amor este que suplanta o amor que se deve devotar, voluntária, incondicional e amorosamente, ao único e verdadeiro Deus. Nesse sentido, a avareza é uma das piores idolatrias (Cl 3.5). Por conseguinte, a idolatria é qualquer amor, ou afeição, que suplante o amor que se deve a Deus.2 Essa definição pode ser dividida em duas partes: 1) idolatria como culto a alguma imagem de escultura; e 2) idolatria como o desvio de amor ou, ainda, afeição a qualquer objeto que substitua a centralidade de Deus. A contribuição disso à presente reflexão ocorre a partir das duas partes, pois, ao mencionar o termo imagem, o pastor Andrade não se refere apenas à escultura, mas a qualquer coisa que, ainda que no imaginário humano, seja capaz de desvirtuar o foco de adoração ou atenção primária do homem que deve ser somente ao Senhor Deus. É a partir desse pressuposto que a idolatria se consolida como uma sedução das falsas doutrinas na atualidade — aliás, ela tem de ser vista como a fonte primeira desse mal. O que se percebe é que a idolatria está muito mais relacionada com o coração do que com um ato em si, e o próprio Jesus disse que o coração humano sempre se volta para aquilo que é o seu tesouro, tendo a sua atenção plena (Mt 6.21). É nesse ponto que a idolatria emerge como uma forte aliada ao processo de sedução dos falsos ensinos, ao levar o homem a pensar — enganosamente — que pode ser o centro da existência. Note que tanto os falsos ensinos como a própria idolatria estão fundamentados no engano, o primeiro no aspecto do ensino, enquanto o segundo, na crença equivocada (Dt 6.13; Lc 4.8; 1 Co 10.31; Cl 3.23).
A sedução do relativismo
Outro instrumento de sedução que favorece os falsos ensinos é o relativismo, que, em linhas gerais, se fundamenta na negação da existência absoluta da verdade. Esse fenômeno não se firma nem no que é falso e nem no que é verdadeiro, até porque, segundo essa forma de pensar, tudo depende da circunstância, especialmente em relação aos princípios morais, que são rechaçados pelo relativismo. O relativismo prega a inexistência de uma verdade absoluta, e os seus adeptos defendem crenças relativas e flexíveis, sempre obedecendo a circunstância, o ambiente e a necessidade dos envolvidos. Como fruto do pós-modernismo, que nas palavras de Nancy Pearcey no seu livro Verdade Absoluta resumiu-o como “subjetivo e relativo a grupos particulares”, o relativismo ataca frontalmente a verdade única e absoluta da Palavra de Deus, e é aqui que ele é colocado como uma importante sedução da falsa doutrina e que precisa ser rechaçada e enfrentada, pois a Bíblia é a genuína fonte doutrinária deixada para a Igreja de Cristo. Outra característica do relativismo é a obsessão de si mesmo, marca distintiva da “doutrina de demônios” (2 Tm 2.2), conforme Paulo expõe na sua carta ao jovem Timóteo.
A sedução do hedonismo
A palavra “hedonismo”, segundo o Dicionário Teológico, vem: “[Do grego hedoné, do latim: hedonismos. Doutrina filosófica, da época pós-socrática, segundo a qual o prazer individual e imediato é o supremo bem da vida humana”.3 Essa breve definição técnica de hedonismo aponta para o fato de que uma geração caracterizada por tal fenômeno é, por natureza, descomprometida com padrões morais coletivos e sociais, pois, nesse caso, o que importa mesmo é a satisfação pessoal de um determinado indivíduo, nem que para isso um grupo — como a família, por exemplo — tenha de sofrer os danos nos seus mais variados aspectos. Assim como o relativismo, o hedonismo também é um fenômeno pós-moderno, não de ordem de crença, mas de comportamento, já que a sua tônica principal é o prazer a qualquer custo. O hedonismo irracionaliza o homem, conduzindo-o a sacrificar no altar do prazer as bases mais preciosas e importantes da vida em sociedade. Dito de outra forma, a cultura pós-moderna estimula e oferece os meios necessários em favor da proliferação de um padrão isento de princípios e limites, sob a falsa promessa do “sentir-se bem”. Numa cultura hedonista, o que importa é o sentir-se bem em detrimento de leis e regras, não importando o que é certo e o que é errado. Deus não é inimigo do prazer; muito pelo contrário, Ele é o idealizador e o criador do verdadeiro prazer, que o homem só pode encontrar nEle (Sl 37.4) e na obediência à sua Lei (Sl 1.1-6). O Senhor não criou o homem para viver mal, mas, sim, para viver bem. Isso não significa viver sem regras e sem princípios, pois isso é, na verdade, parte do processo de desvirtuamento que o pecado trouxe na concepção que o homem tem de prazer; daí a necessidade de cumprir o que Paulo escreve na Carta aos Romanos 12.2: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Duas lições — dentre tantas outras — podem e devem ser extraídas desse texto paulino, sendo elas: 1) é preciso uma renovação da mente para que se tenha a verdadeira compreensão sobre o que, de fato, é prazer à luz das Escrituras; e 2) a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita; logo, ao apresentar os seus princípios, o Senhor não está privando o homem do prazer. Em vez disso, Ele está propondo ao homem que este viva o verdadeiro e eterno prazer nEle e na sua Palavra. Com base em tudo isso, a Igreja deve alertar-se a respeito da realidade que lhe é imposta por meio da idolatria, do relativismo e do hedonismo, que juntos compõem um tripé que atua na disseminação do veneno das falsas doutrinas na atualidade, pois somente assim é que ela não se deixará ser enganada.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
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