Lição 3 – O cativeiro motivado pelo desprezo ao ensino
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Depois de uma verificação detalhada sobre a Bíblia como fonte de doutrina e a doutrina base que o Senhor Deus entregou a Moisés, respectivamente, é momento de avançar na história, com a intenção de identificar o perigo da negligência dos ensinamentos da Palavra de Deus, bem como as consequências que advêm dessa atitude. Este capítulo possui duas características. A primeira delas é histórica, na qual é relatado o episódio em que o povo de Deus sofre as consequências de ter dado as costas para a doutrina divina. Já a segunda é exortativa, pois adverte — em amor e com ênfase — os crentes da atualidade sobre os perigos que cercam os que, à semelhança de Israel, se afastam dos ensinamentos da Palavra de Deus. Este capítulo, portanto, propõe verificar sobre o perigo que existe em esquecer-se e afastar-se da Lei do Senhor e sobre as consequências disso. Aqui também há um interesse em mostrar que o caminho para isso é ouvir a Palavra de Deus, pois não o fazer é trágico e deve ser seguido do cuidado para não dar ouvidos e crédito a falsos ensinamentos.
I – O PERIGO DE ESQUECER-SE DA LEI DO SENHOR
A primeira parte deste tópico tem um caráter exortativo, no sentido de alerta, de chamar a atenção sobre o perigo que cerca uma atitude de esquecimento, isto é, de rejeição ou abandono dos ensinamentos de Deus na sua Palavra. A exortação aqui proposta toma como exemplo a geração de Israel, que, por ter abandonado os princípios da Lei de Deus, sofreu o dano do cativeiro na Babilônia.
1. O povo de Deus e o cativeiro na Babilônia
Desde o início, o ministério do profeta Jeremias esteve envolvido com a dura realidade do cativeiro que o povo de Deus estava por sofrer como consequência das suas más decisões. Embora não tenha sido marcado por nenhuma manifestação sobrenatural, o chamado de Jeremias ocupa, todavia, a posição de um dos mais impressionantes, tanto pela fala de Deus a ele como pelas visões que teve. A respeito das duas visões que Jeremias recebeu no momento do seu chamado, é importante destacar que, na primeira, ele viu uma vara de amendoeira, cuja relação é direta com a natureza infalível da Palavra de Deus (Jr 1.11,12); no que se refere à segunda visão, ele avistou uma panela a ferver inclinada para o norte, na qual se percebe a íntima relação com o conteúdo da mensagem que ele transmitiria ao povo (Jr 1.13,14). Ao ser questionado pelo Senhor sobre o que via e, em seguida, responder que via uma vara de amendoeira, o profeta Jeremias recebeu uma espécie de elogio de Deus e ainda pôde ouvir o Senhor dizer que trabalha para que a palavra dEle seja cumprida (1.12), e isso vem do jogo de palavras hebraicas shaqed e shoqed, que, juntas, apontam para a ideia de estar acordado e vigilante; ou seja, numa geração caracterizada pela indiferença de um povo que vivia como se Deus estivesse dormindo, o ministério de Jeremias serviu como sinal de que isso não era verdade, pois o Senhor estava acordado e atento ao que estavam fazendo na terra.
Desde o início até o fim do seu ministério, o ministério e a mensagem de Jeremias estiveram relacionados com o chamado de Deus ao seu povo para que se arrependesse das suas más obras e voltassem a dar crédito à Palavra de Deus. Embora soberano, autônomo e independente, Deus importa-se com o bem dos homens, em especial do seu povo, com quem Ele fala, inclusive alertando sobre possíveis perigos e comunicando antecipadamente os acontecimentos, tendo em vista a advertência e o desejo de ver o arrependimento do povo. Deus está interessado, envolve-se e está atento ao que se faz na terra, como se percebe no aviso detalhado — por intermédio de Jeremias — sobre o cativeiro (Jr 25.9,10,11). Jeremias sofreu como poucos sofreram em toda a história. Ele foi perseguido, odiado e jurado de morte, mas permaneceu firme e fiel na sua missão (Jr 26.7-24; 27.1-11). A descrição do sofrimento de Jeremias permite que se tenha uma pequena, porém real noção da gravidade do erro e desvio do povo de Deus, que caminhava em direção ao cativeiro como fruto e consequência da sua indiferença aos princípios da Lei de Deus.
2. Propósito e causa do cativeiro
Considere o princípio de que “o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12.6). Não há nada que Deus faça que não tenha um propósito bem estabelecido (Pv 16.4). Os propósitos de Deus sempre se cumprirão (Jó 42.2; Is 43.13). O Senhor não desejou o mal do seu povo com o cativeiro, mas o bem, e isso foi demonstrado na aplicação da sua pedagogia. Deus não permitiu o cativeiro do seu povo na Babilônia sem motivo, nem mesmo sem propósito; ao contrário, esse triste e lamentável período da história cumpriu o desígnio de Deus em corrigir o seu povo, disciplinando-o com o objetivo de trazê-lo de volta ao centro da sua vontade por meio do arrependimento. Em Jeremias 25.3-5, está registrada a mensagem de arrependimento que Jeremias anunciou ao povo de Judá. Restaurar o seu povo foi o principal propósito do cativeiro babilônico, que durou setenta anos, e o caminho para que isso se tornasse uma realidade foi o arrependimento sincero daquela nação (Hb 12.11). Entretanto, além de mostrar o propósito do cativeiro, na qualidade de Pai, o Senhor mostrou o motivo pelo qual corrigiria o seu povo, pois não há correção sem causa, pois Deus é justo (Pv 11.6). Mas, afinal, qual foi o principal motivo pelo qual Judá passou por tão grande disciplina? Em Jeremias 25, é possível identificar com a clareza necessária o principal motivo do cativeiro a que o Senhor Deus submeteu o seu povo, e os versículos 7 e 8 resume-os bem, conforme se lê: “Todavia, não me destes ouvidos, diz o Senhor, mas me provocastes à ira com a obra de vossas mãos, para vosso mal. Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos: Visto que não escutastes as minhas palavras […]”. O incômodo de Deus diante da indiferença do seu povo em relação à sua Palavra reflete-se na inquietação do profeta Jeremias, que não somente vivenciou a desobediência do povo, como também dos seus líderes.
3. A saída do cativeiro
O propósito de Deus cumpriu-se, e agora era momento de o seu povo deixar o cativeiro, extrair as lições e começar uma nova fase da sua história. O Deus que permitiu o cativeiro babilônico e, em certa medida, conduziu o povo até ele como cumprimento do seu propósito foi o mesmo que providenciou e apontou a saída dele. Se Judá tivesse atentado para a voz de Deus e realmente se arrependido, o Senhor certamente os privaria do cativeiro (Jr 26.1-6), só que não foi isso que aconteceu, e, conforme visto anteriormente, o povo sofreu nas mãos dos babilônios por 70 anos. A restauração de Judá dependia da sua submissão a Deus e à palavra dEle (Ed 1.1-4; Ne 8.1-18), pois, se o abandono e a rejeição da Palavra de Deus foram o motivo do cativeiro, o retorno e a atenção a ela seriam o caminho de saída da Babilônia. Em Isaías 43, estão registradas palavras confortadoras de Deus ao seu povo, promessas de restauração e de nova oportunidade aos que lhe pertencem. Matthew Henry divide esse capítulo em quatro partes, assim dispostas: 1) o invariável amor de Deus pelo seu povo (vv. 1-7); 2) a interpelação de apóstatas e idólatras (vv. 8-13); 3) a libertação da Babilônia e a conversão dos gentios (vv. 14-21); e 4) a admoestação ao arrependimento do pecado (vv. 22-28). Reafirmada está a soberania de Deus na condução da história não somente do povo da Antiga Aliança, mas de toda ela, inclusive na antecipação daquilo que realizou em Cristo, que, no cumprimento perfeito da sua obra, resgatou um povo do cativeiro do pecado, com vistas a desfrutar de uma nova vida. Fica claro, portanto, que o povo de Judá saiu do cativeiro e que a lição foi ensinada pelo Senhor e — em certa medida — aprendida por aquela nação.
II – NÃO SE PODE DEIXAR DE OUVIR AS ESCRITURAS
Lamentavelmente, o homem tende a apontar os efeitos negativos de uma determinada situação sem levar em conta as causas disso; no entanto, se o propósito realmente é a cura e a restauração, então identificar essas causas é imprescindível. A causa do sofrimento de Judá no cativeiro foi a indiferença à doutrina de Deus, mas até essa indiferença teve as suas causas. Isso mesmo, a falta de interesse pela Palavra de Deus tem origem na condição em que o pecado colocou o ser humano. Além desse ponto, esta seção discorre sobre o que acontece com os que rejeitam a Palavra de Deus e aceitam os falsos ensinos.
1. Causas da indiferença às Escrituras
A Bíblia informa que “os homens amaram mais as trevas do que a luz”; todavia, além de ser uma escolha dos que assim vivem, o texto sagrado declara que “a condenação é esta”; ou seja, a decisão de viver separado de Deus é mais do que uma má escolha do homem, tratando-se, portanto, da própria condenação. Na perspectiva bíblica, a condição humana é de queda e extravio de Deus, estado que não permite que os homens façam o bem, a não ser que o Espírito Santo opere a transformação (Rm 3.10-26). Jesus disse que é do coração que emanam os maus sentimentos, os pensamentos impuros e as ações pecaminosas (Mt 7.21), e isso se dá por causa da triste condição em que se encontra o ser humano desde que Adão e Eva decidiram viver independente de Deus (Ef 2.2,3; Gn 3.5), causa maior e principal do desinteresse, do afastamento e da aversão de tudo que é divino. Diante de tal condição, só a ação de Deus em gerar a sua vida no homem caído é capaz de tirá-lo dessa situação (Ez 36.26; Ef 2.1,4-22). De acordo com o primeiro capítulo, a Palavra é a única fonte segura e genuína da doutrina de Deus, pois é por ela que se pode obter conhecimento de Deus e da sua vontade (Jo 1.1-5; 5.39; 2 Tm 3.16-17; 1 Jo 5.7), além de ser ela que informa acerca do plano de Deus em favor do homem (Lv 26.12; Rm 5.1-11,18-19; 1 Pe 2.9; Ef 2.10). No entanto, por natureza, o homem é inclinado aos seus próprios desejos e a viver distante de Deus e dos seus princípios. A dureza do coração humano pode alcançar níveis inimagináveis, como o do povo de Judá, que, mesmo sabendo do caminho de vida e diante da proclamação de Jeremias, optaram por rejeitá-lo (Jr 6.16,17). O pecado fez inimizade entre o homem e Deus, levando-o a não somente negligenciar, como também a ser indiferente e contrário aos ensinamentos do Senhor. Sendo assim, a causa principal de o povo de Deus ter sofrido o cativeiro foi a condição de pecado a que o homem foi submetido pela sua desobediência. Com o coração endurecido à doutrina de Deus, teve de sofrer terríveis consequências nas mãos do povo babilônico.
2. Consequências da indiferença às Escrituras
Como já visto anteriormente, Adão e Eva negligenciaram e desobedeceram a ordem de Deus, e os acontecimentos que sucederam a isso são suficientemente capazes de confirmar o quão trágica é a situação do homem indiferente à voz de Deus (Gn 2.15-17; 3.6,7). Tudo o que o ser humano precisa para viver está na Lei de Deus (Sl 1.1-3), e rejeitá-la é ser sentenciado a ter uma vida sem sentido e apequenada (Sl 1.4-6). A indiferença do povo de Judá foi tão grande em relação à Palavra de Deus que avançou para a maldade contra o profeta Jeremias, consoante ao registro no capítulo 18 do livro do profeta Jeremias, conforme se vê na sua divisão: 1) Deus comunica a mensagem com o profeta (1-17); 2) o povo rejeita a mensagem e conspira contra o mensageiro (18); e 3) o profeta clama por socorro a Deus e pela sua justiça (19-23). Note que o povo de Deus não só rejeitou a mensagem anunciada por Jeremias, como também armou ciladas contra o mensageiro de Deus, atingindo o ápice da dureza de coração e aversão aos princípios divinos. Num primeiro momento, parece que a rejeição aos ensinamentos de Deus atrai consequências negativas ao indiferente, e essa é uma realidade; no entanto, não é toda a verdade, pois, de acordo com a Bíblia, a rejeição e a indiferença à doutrina de Deus é a própria condenação (Jo 3.19; Rm 1.21-26). Muitos e terríveis são os resultados da desobediência do homem aos ensinos divinos; entretanto, todos eles — em algum nível — estão relacionados e manifestam-se em três dimensões, sendo elas: 1) na relação do homem com Deus (Gn 3.8; Is 59.1-3); 2) na relação do homem consigo mesmo (Gn 3.7); e 3) na relação do homem com o próximo (Gn 3.12). A insatisfação pessoal e os conflitos interpessoais têm sido a causa principal dos que rejeitam à vontade de Deus e da sua Palavra (Tg 4.1-7), e, como isso é classificado como pecado diante de Deus, trata-se de um desafio que só será vencido por meio do compromisso renovado e resoluto com os ensinos divinos, voltando-se às Escrituras (Sl 119.11).
3. O caminho de volta às Escrituras
A principal causa do afastamento das Escrituras é a independência de Deus, como fruto do pecado, e os efeitos disso são os mais terríveis e diversos, principalmente o rompimento e a deturpação do relacionamento nos seus mais variados níveis. Nesse caso, duas perguntas carecem de resposta: 1) Existe um caminho capaz de mudar essa situação?; e 2) Qual seria o caminho para essa mudança? De forma direta e objetiva, a resposta é sim, há um meio pelo qual essa situação pode ser mudada, e não há outro caminho senão o das Escrituras. Sendo assim, o retorno às Escrituras é a única forma de o povo retomar a direção e, assim, depender de Deus e tornar os seus relacionamentos mais saudáveis, que glorifiquem ao Senhor.
Em Neemias 8.1-12, há um precioso registro sobre o interesse do povo pela Lei de Deus e o que isso é capaz de produzir em favor de uma nação. Evidentemente que o interesse do povo pela Lei de Deus resultou da ação divina, mas o fato é que esse povo, que em outra ocasião rejeitou a Palavra de Deus, agora estava clamando por ela — aliás, o povo estava tão desejoso disso que se dispôs a ouvir a sua leitura longamente (vv. 1-3). Nesse contexto, é possível perceber que a Lei de Deus assumiu lugar de destaque, cuja centralidade foi o Senhor, e o interesse por ela aumentou entre o povo, que, arrependido, chorou diante do Senhor (vv. 5,6,8,9,12). Inquestionavelmente, voltar-se para as Escrituras é o caminho de restauração e mudança que somente Deus é capaz de realizar. Visto que a Palavra de Deus pavimenta o caminho do temor a Deus, da autoconsciência do estado espiritual e do arrependimento sincero, sob a promessa infalível de que, a seu tempo, o Senhor fará tudo o que for do seu agrado.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. O Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas: A Doutrina Bíblica como Base para uma Caminhada Cristã Vitoriosa. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.