Lição 3 – A Natureza da Igreja
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – A NATUREZA DA IGREJA NA SUA DIMENSÃO CONFESSIONAL
II – A NATUREZA DA IGREJA NAS SUAS DIMENSÕES LOCAL E UNIVERSAL
III – A IGREJA NA SUA DIMENSÃO COMUNITÁRIA
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Destacar a natureza bíblica da Igreja, fundamentada na doutrina dos apóstolos e conduzida pelo Espírito Santo;
2. Apresentar os aspectos naturais visíveis e invisíveis da Igreja;
3. Elencar a unidade da Igreja como aspecto central que revela a sua identidade cristã neste mundo.
A Natureza da Igreja
Neste capítulo, estudaremos sobre a natureza da igreja a partir da sua dimensão confessional: local, universal e comunitária. A igreja, como um organismo vivo cuja cabeça é Cristo, possui os seus próprios fundamentos. Nesse aspecto, a igreja possui crenças e práticas que lhes são próprias e que revelam o que ela é na essência. Assim, dizemos que uma igreja genuinamente cristã é confessional porque possui como fundamento a Palavra de Deus. Essa Palavra pode ser descrita como o próprio Cristo, a Palavra Encarnada, e a Bíblia, a Palavra Inspirada. Dizemos que outro aspecto que reflete a natureza da igreja pode ser visto nas suas dimensões local e universal, visível e invisível. Nesse aspecto, a igreja possui um aspecto temporal e atemporal. Ela é formada tanto pelos santos vivos como os que já estão na glória. Por último, podemos nos referir à dimensão comunitária da Igreja como expressão da sua natureza. A igreja não existe fora da sua dimensão comunitária. Ela é um corpo e, como corpo, existe pela união de seus membros. A igreja é logocêntrica. Isso significa dizer que ela é centrada na Palavra de Deus. Aqui nos referimos tanto à Palavra Viva, Cristo, como à palavra escrita, a Bíblia. No capítulo 12 de Coríntios, temos uma das mais belas analogias sobre a igreja quando Paulo compara-a com o corpo humano. Ali o apóstolo vai tratar sobre a unidade da Igreja no contexto dos carismas do Espírito. Esse capítulo, contudo, não está isolado, sendo escrito num contexto em que Cristo deve ser visto como o centro. Anteriormente, o apóstolo escreveu: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.11). Isso significa que Cristo, a Palavra Viva, é, de fato, o centro da igreja.
Nesse sentido, Gregg Alisson observa:
João, no início de seu Evangelho, apresenta a seus leitores o Logos (Jo 1.1): na ocasião em que o Universo foi criado (“no princípio”, uma expressão que lembra Gn 1.1), algo o Logos — já existia e se relacionava com Deus (“a Palavra estava com Deus”); além disso, o Logos era o próprio Deus (“a Palavra era Deus”). Ademais, o Logos também foi o agente da Criação (Jo 1.3), bem como a fonte de vida eterna (v. 4). Em certo sentido, a verdadeira luz, o Logos, ao se tornar encarnada, ilumina todas as pessoas em toda parte a partir desse acontecimento (v. 9). Infelizmente, embora todos em toda parte devam sua existência ao Logos, “o mundo não o conheceu” (v. 10). Mais especificamente, “ele veio para o que era seu, e seu próprio povo não o recebeu. Mas a todos os que o receberam, que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (v. 11,12). Esse Logos não é outro senão o Filho eterno de Deus, a segunda pessoa da Trindade que, na encarnação, assumiu natureza humana (v. 14). Aliás, esse Logos encarnado, o Deus-Homem Jesus Cristo (v. 17), é a revelação visível do Deus invisível (v. 18). Uma vez que o Logos é tudo isso o próprio Deus, o Criador de todas as coisas, a vida eterna dos seres humanos, o Filho encarnado de Deus, a revelação do Pai, não é preciso dizer que a igreja é centrada nele como Palavra de Deus. As Escrituras deixam esse fato claro: Jesus chama o que ele está edificando de minha igreja” (Mt 16.18). Com respeito à constituição da igreja, Paulo acrescenta que ela é “edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a pedra angular” (Ef 2.20; cf. 1Pe 2.4-6). A imagem da pedra angular tem como objetivo enfatizar a centralidade de Jesus Cristo para a igreja: como pedra principal do edifício, pela qual todo o restante do prédio se alinha, a pedra angular ocupa um lugar de suprema importância.1
Nesse aspecto, toda a eclesiologia bíblica só existe em função da cristologia. Cristo, a Palavra Encarnada, é o centro da Igreja. Se Cristo, como o eixo sobre o qual a Igreja está centrada, for retirado ou deslocado, então a Igreja perde não só a sua identidade, como também a sua essência. Todo ataque contra a Igreja acontece primeiramente na esfera cristológica. Se Cristo for tirado do centro da Igreja, esta perde a sua essência e, portanto, a sua confessionalidade. Há outro aspecto da logocentricidade da Igreja, a Palavra Inspirada. Faz parte da natureza da igreja verdadeiramente cristã ser centralizada na Bíblia, a inspirada Palavra de Deus. Se por um lado a Igreja é atacada na sua cristologia, da mesma forma as Escrituras, como Palavra Inspirada. O sola escriptura, lema propagado pela Reforma do século XVI, ecoou como um grito de retorno à Bíblia. Assim como um distanciamento da luz lança um corpo na escuridão, da mesma forma o afastamento da Bíblia deixa o homem em trevas.
Assim, Alisson destaca:
A graça salvadora de Deus é revelada por meio da Palavra de Deus com um sentido diferente de logos. Também nesse segundo sentido a igreja é logocêntrica, centrada nas Escrituras, a Palavra inspirada. Especificamente, as Escrituras canônicas são inspiradas, suficientes, necessárias, verdadeiras (ou inerrantes), claras, imbuídas de autoridade e produtivas. Quando Paulo fala dos “escritos sagrados que podem fazer-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”, ele explica que “toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, a fim de que o homem de Deus seja competente, preparado para toda boa obra” (2Tm 3.15-17). A inspiração das Escrituras pode ser declarada em razão da supervisão pelo Espírito Santo dos autores bíblicos ao redigirem pessoalmente seus escritos (2Pe 1.19-21); portanto, a redação das Escrituras foi uma processo confluente ou cooperativo do qual participaram os autores humanos, que construíram suas narrativas, seus salmos, suas cartas e outros escritos ao usarem suas aptidões gramaticais, escolhas de gênero literário e perspectivas teológicas, e a direção específica do Espírito Santo sobre eles e seu trabalho. O resultado desse processo humano de redação supervisionado pelo Espírito foi o conjunto de palavras inspiradas por Deus que proporciona grande benefício para todos os cristãos: as Escrituras são proveitosas para o ensino, ou para a comunicação de verdade teológica imbuída de autoridade e que inculca sabedoria; para a repreensão, ou destaque das atitudes e ações pecaminosas das quais o cristão deve se arrepender: para a correção, ou indicação do caminho certo a seguir; e para a instrução na justiça, ou preparo de seguidores maduros de Cristo.2
Acho precisa essa descrição que Gregg Alisson faz sobre as Escrituras. A Bíblia é o parâmetro sob o qual devemos medir todas as nossas crenças e práticas. Qualquer afastamento do solo bíblico é escorregadio e perigoso. Infelizmente, há um evangelho sensorial que tem produzido uma fé doentia nos cristãos, porque o seu fundamento não está nas Escrituras. Já vi pessoas simples sendo traídas pelos seus sentimentos ao não medir o que diziam por aquilo que está revelado no texto canônico. Vi também grandes pregadores sendo traídos pelos seus sentidos porque deixaram de lado as Escrituras. Outro aspecto confessional da natureza da igreja é que ela é pneumodinâmica. Já vimos que o Espírito mergulha o cristão na Igreja. Isso significa que, na regeneração, o crente torna-se membro do corpo de Cristo ao ser selado com o Espírito Santo. Esse é um batismo no corpo, a Igreja. Esse batismo de iniciação na fé cristã, que tem o Espírito como o seu agente (1 Co 12.13), é diferente do batismo no Espírito Santo, que é de capacitação e que tem Cristo como o seu agente (At 2.33). Isso nos mostra a dinâmica do Espírito na igreja.
Texto extraído da obra, “O Corpo de Cristo”, livro de apoio ao 3º trimestre, publicado pela CPAD.
1 ALISSON, Gregg R. Eclesiologia: uma teologia para peregrinos e estrangeiros. São Paulo: Vida Nova, 2021.
2 ALISSON, Gregg R. idem, p. 120.