Lição 1 – A Bíblia: a fonte de doutrina
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Considerando que este é o capítulo que abre a jornada aqui proposta, é indispensável que o destino seja apresentado com toda a clareza necessária para uma “viagem” consciente, segura e eficaz. O principal objetivo desta obra é oferecer recursos pelos quais o tema proposto seja ainda mais bem compreendido e o processo de ensino-aprendizagem seja o mais eficiente possível. O tema a ser estudado é O Valor da Doutrina, no qual o objetivo é notado desde a primeira leitura — afinal de contas, a valorização da doutrina, a sua identificação e a sua importância são aí constatadas. Por meio de exemplos históricos, análises de textos bíblicos e da compreensão de ensinos basilares à fé cristã, o destino aqui é o retorno tão necessário à doutrina bíblica como principal fonte de vida cristã saudável que agrade a Deus e que nos proteja do engano religioso e doutrinário, que tanto danificam a saúde da igreja. Em João 3.33,34, consta que Jesus dá testemunho de Deus, e isso por meio das suas palavras, e a crença nisso depende a garantia de vida eterna. Essa reflexão é um bom resumo da genuína doutrina bíblica, principalmente porque consta a presença ativa de Deus no seu ensinamento, além de apontar para a Bíblia como a sua principal e mais segura fonte. Ressalta-se aqui que, conforme as palavras do salmista, os inestimáveis e inquestionáveis benefícios da Palavra de Deus são reais e atuais (Sl 119.1-3). Este capítulo ocupa-se exatamente do tema a respeito da Bíblia como a fornecedora de todo o bojo doutrinário capaz de sustentar a fé e a vida do verdadeiro cristão. Todo crente instruído reconhece a elevada importância da Palavra de Deus para a igreja como um todo e para o cristão na sua individualidade. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus reconhece a fundamental função da Bíblia na consolidação da fé de um cristão, indicando dois propósitos das Escrituras, que são estruturais, afirmando que elas têm o objetivo de “revelar o próprio Deus e expressar a sua vontade à humanidade”.1 Antes de mostrar e exaltar o valor da doutrina cristã, é imprescindível que, além do seu conteúdo, demos enfoque à sua fonte — ou seja, de onde ela vem —, pois é daí que procede a sua autoridade e faz com que ela seja digna de toda a aceitação. É por meio das Escrituras que o crente acessa a revelação de Deus e pode compreendê-la nos seus pormenores (Hb 1.1), além de descobrir o seu propósito de vida e o seu compromisso como cristão (Rm 1.17). Somente por meio do conhecimento, da valorização e do compromisso com as doutrinas bíblicas é que o crente poderá viver esse propósito e cumprir o seu compromisso diante de Deus, de si mesmo e da sociedade. O crente, portanto, deve acessar essas doutrinas, e é somente por meio das Escrituras que isso é possível. Sendo assim, as doutrinas cristãs encontram-se nas Escrituras, e estas, por sua vez, procedem de Deus; ambas, portanto, possuem natureza e autoridade divinas. Esse é o ponto central deste capítulo, cuja finalidade é a de mostrar a Bíblia como fonte doutrinária, e essa análise ocorre por meio de uma ênfase na Bíblia, desde a sua origem, a sua inspiração e a sua relação com as doutrinas cristãs.
I – A ORIGEM DA BÍBLIA
A Bíblia atesta categoricamente o fato de Deus não desejar estar calado, mas, sim, falar — e Ele fala. Sobre isso, na sua análise sobre a intenção e a ação de Deus em falar, mui especialmente por meio de Jesus Cristo. Definitivamente, Deus é um Ser que fala e, assim, comunica-se com os homens de diversas formas, mui especialmente por meio da sua Palavra, isto é, a Bíblia Sagrada. É sobre esse livro divino que este capítulo propõe-se a refletir, em especial como fonte genuína e segura da doutrina cristã.
1. Definição do termo
A palavra “Bíblia”2 é, sem dúvida, uma das mais comuns e mais usadas em círculos cristãos. E não é somente isso. É uma daquelas palavras que todas as pessoas, sem distinção, conhecem o que se quer dizer — afinal de contas, a Bíblia é o livro mais conhecido de todos, em toda a história e em todos os tempos. Não se pode afirmar, contudo, que todos tenham conhecimento do sentido pleno e técnico da palavra “Bíblia”, mas, ao contrário do que alguns possam pensar, conhecer esse aspecto do estudo sobre a Bíblia é importante, pois permite a compreensão da sua real e precisa importância, assim como da sua trajetória histórica e dos seus aspectos estruturais. Por essa causa, esta seção dedica-se em apresentar, ainda que panoramicamente, uma definição de “Bíblia” como termo. Bíblia vem da expressão grega biblos (Mt 1.1), que significa “um livro”, ou ainda, de forma diminutiva, biblion (Lc 4.17), que, nesse caso, significa “pequeno livro”. Outro elemento importante a ser considerado é de que o vocábulo “Bíblia” originou-se da realidade de um rolo de papiro de tamanho pequeno chamado Biblion, que dependia da junção de vários rolos juntos para serem chamados de “Bíblia”. Diante dessa informação, como pensar ou apreender a unidade da Bíblia como Palavra de Deus e dar a ela a devida atenção e considerá-la digna de aceitação como Palavra de Deus? A linha de raciocínio aqui se dá na direção de que a Bíblia é formada de vários livros, mas que, em virtude da sua natureza, fundamento e mensagem, torna-se um livro — isso mesmo, um único livro — inigualável e admirável. A Bíblia, por razões concretas, torna-se um livro singular — daí ela receber outros nomes que designam a sua grandeza e dignidade de confiança. A Bíblia é chamada de “Escritura” (Mc 12.10; 15.28; Lc 4.21; Jo 2.22; 7.38; 10.35; Rm 4.3; Cl 4.30; 2 Pe 1.20), “Escrituras” (Mt 22.29; Mc 12.24; Lc 24.27; Jo 5.39; At 17.11; Rm 1.2; 1 Co 15.3,4; 2 Tm 3.15), “Santas Escrituras” (Rm 1.2), “sagradas letras” (2 Tm 3.15), “palavras de Deus” (Rm 3.2) e “Palavra de Deus” (Mc 7.13; Rm 10.17; 2 Co 2.17; 1 Ts 2.13; Hb 4.12). A Bíblia distingue-se de todos os demais livros por diversos motivos, e isso se dá principalmente por causa da sua origem, tanto do ponto de vista literário, como também — e principalmente — do ponto de vista sagrado.
2. A origem literária da Bíblia
Depois de avaliado o termo “Bíblia” e, em certa medida, visto uma breve informação sobre os seus primeiros usos, a proposta aqui é a de ampliar o conhecimento sobre a origem da Bíblia sob a perspectiva de um livro literário, que, em virtude de ser uma mensagem de Deus aos homens, precisou ter aspectos humanos, com a finalidade de alcançar os seus objetivos. Nesse sentido, é preciso enxergar a Bíblia como um ato amoroso de Deus, pois ela é a Palavra eterna do Pai inserida na realidade do tempo e do espaço em que o ser humano vive. Conforme visto anteriormente, a Bíblia é um livro antigo, e a sua forma original era a de um rolo (Jr 36.2), feito de papiro e pergaminho (2 Tm 4.13). Fatores históricos e do desenvolvimento tecnológico contribuíram diretamente para que a Bíblia Sagrada fosse disseminada entre os homens, como se percebe a sua íntima relação com a invenção do papel, que se deu no século 2 pelos chineses, além de ter sido beneficiada com a descoberta e com o avanço da imprensa, fato que ocorreu entre 1450 e 1455 d.C., por Johannes Gutenberg (1400–1468). Além desse fator histórico, a Bíblia impressiona qualquer crítico literário no que diz respeito à sua estrutura e diversidade, tanto no que se refere ao tempo, como também à cultura e à pessoalidade dos seus escritores, já que ela tem 66 livros, escritos por 40 homens que viveram em tempo, lugares, condições, vida e cultura diferentes, sem contar que foi escrita em hebraico, aramaico e grego, num período estimado de mais de 1600 anos, tratando sobre os mais diferentes temas, mantendo uma unidade admirável e inigualável. Não se trata de qualquer livro, nem mesmo de qualquer mensagem; afinal de contas, a Bíblia é a Palavra de Deus e, do ponto de vista literário, é inigualável, inalcançável e, portanto, insuperável.
3. A origem sagrada da Bíblia
A Bíblia é um livro sagrado, e o termo dado a isso é “cânon sagrado”. Cânon (ou Escrituras canônicas) é uma referência à coleção completa dos livros divinamente inspirados, que juntos formam a Bíblia Sagrada. Quanto à origem e definição do termo, ela é de origem cristã e vem do grego kanon e, provavelmente, do hebraico kaneh, que quer dizer “junco”, “cana” ou “vara de medir”, com referência a uma regra ou uma norma a seguir. Ao ser usado como referência à Bíblia, é uma forma de confirmar que os seus livros são considerados — acertadamente — como Palavra de Deus; serve, portanto, como regra de fé e prática (Gl 6.16). Para que a Bíblia fosse considerada Palavra de Deus, ela passou pelo processo que tem sido chamado de “canonização”, que, na definição do pastor e teólogo Claudionor de Andrade, o termo vem do “[Do gr. kanonizein, tornar santo]” e indica o “processo que levou ao reconhecimento dos livros que compõem a Bíblia como singularmente inspirados por Deus”.3 Esse processo deu-se em um longo período, sendo aplicado tanto em relação ao Antigo Testamento quanto ao Novo Testamento.
A canonização do Antigo Testamento
O processo de canonização do Antigo Testamento ocorreu dentro de um longo espaço de tempo, que durou em média 1046 anos. Para que se tenha uma ideia disso — mesmo que superficial —, note que Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491 a.C., enquanto Esdras escreveu as últimas palavras do Antigo Testamento por volta de 445 a.C. Outra curiosidade é a verdade de que Malaquias foi o último escritor do Antigo Testamento, embora tenha sido Esdras — sacerdote e escriba — o encarregado de complementar e organizar o Cânon Sagrado. Há uma questão considerada central quando o tema é a canonização do Antigo Testamento. A questão é: “Qual o critério para que o texto do Antigo Testamento seja qualificado como sagrado e como esses livros entraram no Cânon Sagrado?”
Diante dessas condições, o Antigo Testamento não sofreu nenhum tipo de rejeição entre os membros da comunidade judaica, e acredita-se que, nos dias de Jesus, a sua estrutura já existia e era conhecida. A Teologia Sistemática Pentecostal colabora com a informação de que “conforme depreendemos de Esdras e das tradições judaicas, após o derradeiro profeta fazer ecoar as palavras do Senhor, não havia mais o que discutir: o cânon do Antigo Testamento já estava definitivamente encerrado, esperando, agora, os primeiros acordes do Novo Testamento”.
A canonização do Novo Testamento
O teólogo Claudionor de Andrade contribui novamente com a sua explicação de que o cânon do Novo Testamento é o “conjunto dos livros que compõem o Novo Testamento, e que foram reconhecidos formalmente pela Igreja Cristã como inspirados singularmente por Deus” e cuja formação é de “vinte e sete livros: quatro evangelhos, um livro histórico, catorze epístolas eclesiásticas, sete epístolas universais e um livro profético”. Quando comparado ao processo do Antigo Testamento, a canonização do Novo Testamento foi mais complexa — logo, mais demorada —, e isso se deu principalmente por conta da distância dos lugares onde os escritores estavam enquanto escreviam. Os critérios para que se tornassem canônicos foram: 1) ter sido um dos apóstolos ou por alguém bem próximo a eles; 2) o conteúdo deveria ser coerente com os ensinos da igreja e os demais livros sagrados; 3) deveriam ser conhecidos e reconhecidos na Igreja. Alguns concílios tiveram de ocorrer no sentido de avaliar-se e concluir sobre a sacralidade de cada um desses livros; entretanto, é importante destacar que esses concílios não tiveram a função de dar autoridade divina às Escrituras, mas somente as reconheceu. Por fim, a Teologia Sistemática Pentecostal apresenta três critérios que serviram, tanto no processo de canonização do Antigo Testamento quanto no do Novo, conforme se vê: 1) o exame do texto sagrado; 2) o exame do autor sagrado; e 3) aceitação do livro na comunidade dos fiéis.
Bíblia, verdadeira fonte doutrinária
Pela Bíblia, Deus comunica-se com o homem, e isso se dá em duas dimensões: 1) com o homem, em geral; e 2) com a igreja, em particular. Note que a ordem de Jesus é para que o evangelho seja pregado em todo o mundo (Mc 16.15), assim como Paulo afirmou que compartilharia o mesmo evangelho com os irmãos que estavam em Roma (Rm 1.15). Obedecendo os respectivos propósitos, o evangelho a ser pregado ao pecador é o mesmo a ser ensinado à igreja, cuja fonte é uma só: a Palavra de Deus, isto é, a Bíblia. Considerando que, conforme já visto, doutrina é ensinamento, as palavras de Paulo confirmam que a Bíblia é a fonte de toda doutrina cristã, conforme se lê: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3.16). Inquestionavelmente, a Bíblia é a fonte segura e genuína de toda a doutrina cristã, razão pela qual deve ser a companheira fiel de todo crente que deseja honrar a Deus com a sua vida.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. O Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas: A Doutrina Bíblica como Base para uma Caminhada Cristã Vitoriosa. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.