Lição 11 – Fé para crer que o Espírito Santo é Deus
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Eduardo Leandro Alves, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
As Escrituras ensinam enfaticamente sobre a divindade do Espírito Santo. No entanto, no decorrer dos séculos, têm surgido vários autores que negam essa verdade. Por exemplo, um dos mais famosos foi um líder religioso em Alexandria, no século IV, chamado Ário. Ele introduziu o ensino, sustentando que Deus é Uma Eterna Pessoa, que Ele criou Cristo, o qual, por sua vez, criou o Espírito Santo, negando, assim, a sua Divindade. Esse ensino obteve grande aceitação nas igrejas, mas foi corrigido pelo Credo Niceno no ano de 325 d.C. Em seguida, no ano de 381 d.C, houve a sua formulação no credo de Constantinopla. Em 589 d.C, o Sínodo de Toledo acrescentou a famosa cláusula latina “FILIOQUE”, 116 || A Prova da Vossa Fé que afirmava que o Espírito Santo procedia do Pai e do Filho, tais como afirmam os textos de João 15.26 e 16.7, Gálatas 4.6 e Romanos 8.9.
Somos seres racionais, possuímos qualidades éticas, e isso é o que nos identifica com imagem e semelhança de Deus: o intelecto. No entanto, ao sermos afetados pelo pecado, nossas compreensões da vida também são periféricas, imperfeitas. Precisamos da iluminação do Espírito Santo para prosseguirmos nossa jornada nesta vida. Nesta lição, estudaremos sobre o Espírito que nos convence.
O Espírito no Novo Testamento
O Espírito é revelado de forma progressiva. As primeiras referências diretas estão nas palavras de João Batista. Por exemplo, João batizou com água, mas afirmou que “aquele que é mais poderoso” batizaria “com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Depois, quando João batizou Jesus em águas, o “Espírito” desceu em forma corpórea de pomba, enquanto Deus, o Pai, falava audivelmente, afirmando a sua aprovação de Jesus como o seu filho amado (Mt 3.16; Mt 1.11-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21,22; Jo 1.31-34). O batismo de Jesus é uma das mais categóricas afirmações sobre a Trindade. As Escrituras demonstram como o Espírito guiou e foi parte atuante no ministério de Jesus. Ele foi ungido pelo Espírito Santo (At 10.38), guiado pelo Espírito (Mt 4.1; Lc 2.27) e fortalecido pelo Espírito (Mt 12.28; Lc 4.14). A Escritura ainda afirma que Jesus estava “cheio do Espírito Santo” (Lc 4.1; 4.14). Dessa forma, o Espírito Santo apresentou uma presença ativa na vida e no ministério de Jesus e, da mesma maneira, o Espírito Santo representa uma presença ativa em nossa vida.2 O fato é que, mesmo com o início do período da Nova Aliança (o nascimento de Jesus), a promessa do Espírito não foi completamente cumprida até o dia de Pentecostes (At 2), mesmo sabendo que a concepção virginal de Jesus, pelo poder do Espírito Santo, foi o princípio de um novo tempo. A descida do Espírito Santo sobre Jesus no seu batismo em águas, junto com a atividade do Espírito através dEle durante o seu ministério terreno, serve como um modelo, um paradigma, para todos os crentes, para quem o Senhor no Antigo Testamento prometeu a habitação interior e a concessão de poder do Espírito Santo.3
O Espírito como Consolador ou Advogado
Ele é o parakletos, aquEle que está sempre ao lado do crente para ajudar, para dar instruções ou falar dEle contra um adversário (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7). Tudo isso Jesus tinha feito pelos discípulos durante o seu ministério na terra. Jesus havia ensinado os segredos do Reino de Deus; ajudou-os na hora do perigo; resolveu os seus problemas; falou a favor deles, quando os fariseus criticaram-nos por quebrar o sábado; orou por eles. Agora Jesus não iria ficar mais corporalmente com eles. Ele prometeu mandar outro Consolador, que iria fazer por eles e para sempre o que Cristo tinha feito até aquele momento. Nesse caso, o Espírito Santo é a presença permanente do Cristo ressuscitado na vida dos salvos por todos os dias (Jo 16.7). A verdade paradoxal é que Jesus tinha que ir embora do seu povo para que pudesse estar presente com eles para sempre por meio do Espírito, que é o ensinador da verdade (Jo 14. 17 e 16.13), pois guiará a toda a verdade a respeito de Cristo. Tendo como missão dar testemunho de Cristo (Jo15.26), glorificar a Cristo (Jo 16.14), convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11). Braaten e Jenson sugerem cinco pontos que, na visão deles, poderiam resumir o que se descobre no Novo Testamento sobre o Espírito, como segue:
1) O Espírito Santo é o Espírito da palavra criadora, tanto dos profetas hebraicos quanto da Igreja;
2) O Espírito Santo é derramado no batismo, para formar uma comunidade profética;
3) O Espírito Santo é o vínculo dessa comunidade;
4) O Espírito Santo é o poder da ressurreição, tanto agora quanto eternamente;
5) O Espírito Santo é tudo isso porque é o Espírito de Cristo.
A vida é uma batalha de muitas frentes. Enfrentamos três inimigos fortíssimos: o mundo, a carne e o Diabo. Nosso Senhor encontra-se conosco em cada uma dessas frentes: transformando-nos interiormente (Rm 12.2), a fim de podermos transformar o mundo em vez de conformarmo-nos a ele, enquanto penetramos nele em nossa obra e missão; produzindo fruto do Espírito através de nós (Gl 5.22,25), enquanto decidimos andar no Espírito e considerar a carne como crucificada; e vencendo o maligno, o Diabo (Ap 12.10,11), por meio de todo tipo de oração (Ef 6.13-18) enquanto colocamos a armadura de Cristo.
O Espírito na Revelação e na Inspiração
Muitos autores evangélicos do passado referiram-se aos autores bíblicos como “escribas” do Espírito Santo, “copistas” de Deus e autores a quem o Espírito “ditava” as palavras. Às vezes, a doutrina evangélica conservadora da inspiração é criticada nesse ponto por (supostamente) propor o que os críticos chamam de ditado “mecânico”. Mas são poucos os evangélicos conservadores que tratam os autores bíblicos como indivíduos totalmente passivos e de modo algum, ativos na tarefa de redigir as Escrituras. A maior parte reconhece que a Escritura, no seu caráter, é totalmente humana tanto quanto divina. Os autores bíblicos apresentam estilos e objetivos claramente distintos, o que é totalmente condizente com o seu caráter, dons e históricos pessoais de cada autor. Deus revelou-se ao ser humano e normativamente o fez por meio das Escrituras. Nesse caso, a linguagem da Bíblia é a linguagem humana comum; às vezes, é uma obra artística de alto nível, ao passo que outras vezes é muito comum, em linguagem cotidiana. As histórias do Antigo Testamento referem-se muitas vezes ao uso que fazem de outras fontes históricas, e Lucas introduz o seu Evangelho recorrendo ao mesmo expediente, como podemos ver na sua narração: “Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído” (Lc 1.1-4, ARA). Nesse sentido de pesquisa, a Bíblia é como qualquer outro livro. Além disso, traduções da Bíblia para diversos idiomas têm sido produzidas por meio de conhecimento das línguas originais. Soma-se a isso o fato de que compreenderemos corretamente as Escrituras somente se atentarmos para a forma da sua literatura e para os contextos históricos que ela apresenta, com base nos quais foi escrita. Deixar de dar a devida atenção a quaisquer desses elementos, com o objetivo de defender a origem divina das Escrituras, significa aviltá-las pelo desprezo a algumas características fundamentais dos escritos que nos transmitiu Deus. A Bíblia concentra-se em afirmar que, no que diz respeito à origem das Escrituras, Deus é ativo, e o ser humano, passivo. O que isso significa? Vejamos algumas questões sobre a revelação e a inspiração: Revelação – Significa “desvendar”, ou “desvelar” (do grego apokálypsi). Traz a ideia de uma estátua que, ao estar concluída, ainda está coberta, aguardando o momento certo da revelação. Na verdade bíblica, revelação significa que Deus revela ao homem algo que o homem não poderia saber de outra maneira. Na escrita das Escrituras, é o Espírito Santo que fala diretamente por intermédio dos autores da Bíblia. A existência da Palavra de Deus em forma escrita, em vez de simplesmente oral, tornou a sua preservação e transmissão para todas as gerações, e não somente aos que a ouviram no momento inicial.
Inspiração – Por inspiração bíblica, definimos como o “superintender de Deus sobre os autores humanos assim que, ao usar as suas próprias personalidades individuais, eles compuseram e registraram sem erro a Sua revelação ao homem nas palavras dos autógrafos originais”. Quando contrastamos a revelação com a inspiração, “pode se estabelecer que a revelação se refere ao material enquanto a inspiração se refere ao método”.6 A palavra inspiração deriva do grego theopneustos, que, por sua vez, traz o significado de “sopro de Deus”, exatamente o que diz o texto de 2 Timóteo 3.16, onde a ideia básica é o que as Escrituras são “sopradas por Deus”, sendo o produto do sopro criativo de Deus. É impossível haver oração cristã autêntica sem o Espírito, pois é Ele que nos leva a clamar “Aba, Pai” quando oramos (Rm 8.15). A oração é o acesso ao Pai, por meio do Filho e pelo Espírito Santo. A inspiração do Espírito é tão essencial às nossas orações quanto a mediação do Filho. Só podemos chegar mais próximos do Pai por intermédio do Filho e somente pelo Espírito. Oramos a Deus, em nome de Jesus, por meio da ação do Espírito. Paulo diz à Igreja que é o Espírito Santo que nos sustenta quanto à nossa esperança cristã (Rm 8.26,27). Em termos gerais, o Espírito ajuda- -nos em nossa fraqueza, ou seja, em nossa ambiguidade e na fragilidade de nossa existência marcada pelo já e o ainda não (o Reino já está entre nós, mas não na sua plenitude). De forma particular, o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza quando oramos, pois, em nossa ignorância, não sabemos orar como convém.
CONCLUSÃO
A necessidade da revelação encontra-se no fato de que Deus deve revelar-se ao ser humano para que este possa conhecê-lo. A proposta de Aristóteles de que Deus é um ser inativo e que o ser humano pode descobri-lo seguindo determinado argumento não encontra base no texto bíblico, pois, conforme a verdade bíblica, uma iniciativa revelacional é necessária, primeiramente pelo fato de que Deus é transcendente. O que significa isso? Que Deus está tão longe do homem no seu modo de ser que o ser humano não pode vê-lo (Êx 33.20; Jo 1.18; 1 Tm 6.16), nem o encontrar pelo seu próprio esforço, por mais que tente (Jó 11.7; 23.3-9), muito menos ler os seus pensamentos mediante as mais habilidosas teorias. O ser humano precisa da Revelação. A revelação de Deus mediante a criação e a consciência (revelação geral), fala sobre lei e julgamento (Rm 2.14), mas não apresenta perdão e redenção a um ser humano caído que precisa de uma Revelação que proporcione restauração, perdão e misericórdia aos pecadores. A Bíblia proporciona essa Revelação. Apesar disso, o ser humano continua precisando de uma iluminação espiritual para que possa aprender a revelação escriturística; caso contrário, a mente caída do ser humano acabará por pervertê-la, assim como perverte a revelação geral. É o Espírito que convence, é Deus quem se revela. Paulo, em 1 Coríntios 2.14 (ARA), diz: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. O homem natural a que se refere o apóstolo é incapaz de receber e discernir por si mesmo as coisas do Espírito, pois para ele são loucuras e permanece dessa forma até que lhe seja revelada a graça de Deus por meio do Espírito. A questão da graça preveniente foi abordada na parte 2, quando abordamos a questão da salvação do ser humano. Devido às exigências que recaem sobre o fiel, em especial no mundo espiritual — exigências estas que são sobre-humanas —, é imprescindível o enchimento do Espírito Santo onde um poder sobrenatural é exigido. É fato que a atitude de uma pessoa para com Deus e com a sua Palavra torna-se uma indicação do caráter mais interior de uma pessoa e da realidade espiritual em que se encontra. O apóstolo Paulo afirma que todos os seres humanos estão divididos em três classes, a saber: 1) o homem natural, que não é regenerado; 2) o homem espiritual, que é salvo e capacitado pelo Espírito Santo; 3) o homem carnal, que é regenerado, mas que vive na esfera da carne. É vital entender essas distinções, em que o homem natural não pode conhecer as coisas do Espírito de Deus, o homem espiritual discerne todas as coisas, e o homem carnal pode ter somente o leite da Palavra e não pode ter a “comida sólida”. A passagem central está em 1 Coríntios 2.14–3.3. Ainda podemos afirmar, conforme o texto de 2 Coríntios 4.4: “[…] o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. Necessitamos do Espírito que convence para que possamos cumprir nossa vocação e chegarmos ao nosso destino: o céu.
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: ALVES, Eduardo Leandro. A Prova da Vossa Fé: Vencendo a Incredulidade para Uma vida Bem-Sucedida. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens