Lição 5 – Fé para crer que a vida não surgiu do acaso
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Eduardo Leandro Alves, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Há a necessidade de sermos cristãos de toda a nossa mente (razão) e de todo o nosso coração (nossas emoções). Jonh Polkinghorne foi um físico matemático, teólogo e pastor inglês falecido no ano de 2022. Uma frase conhecida desse cientista cristão é: “Não é necessário cometer suicídio intelectual para ser cristão”. Seguindo as palavras de Polkinghorne, em um dos seus discursos na Universidade de Cambridge, identificamos a sua abordagem em relação à questão da ciência e da fé. Na sua visão, a ciência e a religião são duas das forças mais influentes na sociedade contemporânea. “Alguns as veem como alternativas que estão em competição; mas alguém como eu, que é ao mesmo tempo ex-professor de Ciências em Cambridge e pastor, quer assumi-las com a mesma seriedade”. O termo “realismo” significa a convicção de que podemos obter um conhecimento efetivo da natureza da realidade; enquanto a descrição “crítica” assinala que esse conhecimento nunca é completo ou absolutamente certo, embora suficientemente bem sustentado por evidências para tornar o compromisso com ele um ato racional. A ciência e a religião olham para domínios diferentes de encontro com a realidade. A ciência tem a ver com uma dimensão objetiva, na qual as coisas podem ser manipuladas, e os eventos, repetidos, tendo acesso, assim, à grande arma da verificabilidade experimental. No entanto, todos sabemos que existem muitos níveis de encontro com a realidade — tanto o pessoal quanto, eu diria, o “transpessoal” com a realidade divina —, nos quais nem a manipulação nem a repetição são possíveis sem violentar a realidade encontrada. Para tratarmos do tema deste capítulo, é importante introduzirmos questões relacionadas ao método científico, termos a boa-fé de compreender que a ciência e a fé não precisam estar em “guerra”, mas que são complementares em relação à compreensão da realidade, e compreender sobre as origens, sendo o “acaso” apenas uma teoria que não substitui o Deus Criador.
O Ensino Científico sobre o Mundo
O que é o método científico?
Tecnicamente (e de forma resumida), podemos dizer que o cientista coleta os dados observados de uma forma objetiva; em tese, deve ser livre de todos os preconceitos acerca do que está sendo estudado, sem preferências no que se refere à teoria e sem ser tolhido por nenhuma ideia filosófica ou religiosa. Com o tempo de pesquisa, espera-se que os dados coletados apresentem uma ordem, ou padrão. O cientista vai buscar sintetizar essa descoberta numa lei (uma equação, por exemplo). Então, por um processo de indução, o cientista visa chegar a algumas generalizações mais amplas e a princípios com o objetivo de juntar várias leis possíveis. A partir de diferentes teorias, o cientista tentará, então, apresentar alguns prognósticos que sejam possíveis de serem testados por meio da observação. Por fim, espera-se que os testes confirmem os prognósticos relativos a uma das teorias surgidas no processo. Dessa forma, conforme descrito, a ciência ocupa-se do mundo natural de objetos e fatos materiais. Indo mais além, podemos dizer que a ciência procura explicações para os fatos em termos de matéria e energia. Isso, obviamente, separa a ciência da filosofia e da teologia.3 A ciência está mais preocupada com o mecanismo do mundo; já a filosofia e a religião estão interessadas em coisas como significados, propósitos e valores. Os cientistas buscam objetividade no seu trabalho. Ou seja, buscam bloquear a influência das suas próprias preferências e crenças pessoais. Essa é uma das razões de serem aceitas como dados científicos apenas as observações e experiências que podem ser repetidas por outras pessoas (sob condições adequadas e com a devida capacitação, claro). Ou seja, em resumo e com objetivo deste nosso capítulo, basta dizer que se trata da tentativa de desenvolver um estudo objetivo do mundo material, procurando explicações racionais e materialistas para o que nele acontece. Se um cientista abraça determinada teoria, pode desprezar, mesmo que inconscientemente, certos dados ou interpretá-los de forma preconceituosa. Atualmente, os cientistas estão agindo de forma mais consciente de que a distinção entre fatos e teorias é vaga. Em tese, as teorias são tentativas de dar sentido aos fatos; no entanto, o que entendemos por fatos e o modo como os avaliamos é afetado pelas teorias que adotamos (ou rejeitamos de antemão).
Um cientista cristão (teísta) crê que está estudando um mundo real, pois a sua mente é moldada segundo a mente do Criador do mundo, podendo, portanto, compreender o mundo como, de fato, ele é. Porém, a relação entre teoria e realidade não é algo simples e direto. Ou seja, por um lado, existe o fato de algumas teorias perdurarem séculos, conseguindo juntar todos os dados disponíveis e, com isso, fazer-nos crer que essa é a clara descrição da realidade. Por outro lado, há teorias que vêm e vão. Com isso, somos levados a acreditar que as teorias científicas são meras fantasias, frutos da imaginação de algum cientista maluco. Essa discussão da natureza das teorias científicas coloca-nos diante de dois fatores importantes quando consideramos a relação entre o conhecimento científico e a Bíblia:
1) Ela mostra-nos que não podemos simplesmente descartar as teorias científicas dizendo que “são apenas teorias”, pois as boas teorias têm a ver com as realidades do mundo material;
2) Somos advertidos a não fazermos uma ligação muito estreita entre nossa compreensão bíblica e uma determinada teoria, pois as teorias são meras representações da realidade, podendo nascer e morrer com os avanços da ciência.
Alan Francis Chalmers, no ano de 1976, publicou o livro intitulado O que é ciência afinal? Desde a sua primeira edição, o livro é considerado uma das melhores introduções à filosofia da ciência. Chalmers explica de forma acessível os métodos e conceitos que caracterizam a ciência e distingue-a de outras atividades humanas. O seu objetivo foi analisar pedagogicamente o desenvolvimento recente de algumas teorias modernas sobre a natureza da ciência, bem como sugerir alguns aperfeiçoamentos. Chalmers mostra que o método científico não é uma entidade estática e fixa, mas que evolui à medida que falhas e limitações são identificadas.
Perspectivas Complementares da Realidade
Buscamos as respostas para o “como” e o “por quê”. Precisamos dessas duas respostas para completar nossa compreensão da realidade. Essas questões do como e do porquê não são contraditórias nem mutuamente excludentes, mas completam-se. Veja que interessante: atualmente, físicos falam sobre flutuações num “vácuo quântico” que, de alguma forma, transformou-se numa bola de neve, resultando num big bang que formou o Universo da maneira como o conhecemos. Para os cristãos (caso essa teoria do big bang seja comprovada, o que ainda não correu de forma inconteste), é apenas uma afirmação sobre o método que Deus escolheu para criar o Universo que conhecemos. Os cientistas descobriram as leis da natureza, e alguns falam como se isso excluísse, de alguma maneira, Deus do mundo e impedisse a sua ação nele. No entanto, para os cristãos, as leis são de Deus, e Ele é livre para “passar por cima” delas, caso queira. A Bíblia não nos ensina que Deus criou o mundo e abandonou-o. Ao contrário, Ele sustenta continuamente a sua criação. Defendemos que uma forma correta de compreendermos as leis da natureza é vê-las como o modo de Deus atuar no mundo, uma forma de Deus manter o mundo vivo, cumprindo o propósito para o qual o próprio Deus o criou. Às vezes, por algum motivo, Deus opta por uma ação diferente, e isso chamamos de milagre. Deve-se prestar atenção na questão da linguagem. Um traço marcante da ciência moderna está no fato de que ela desenvolveu uma linguagem própria, que os cientistas buscam utilizar com cautela (pelo menos, essa é a ideia). Por sua vez, a Bíblia não é escrita em linguagem científica, mas utiliza, na maioria das vezes, a linguagem popular das pessoas comuns. Uma das questões a ser levada em consideração é a utilização da linguagem da aparência, descrevendo as coisas da forma como elas são vistas pelo observador. Por isso está dito que o “sol parou”, pois, na perspectiva de quem vê, de quem narrou o fato, foi o sol que parou, e não o movimento de rotação da Terra que foi interrompido!
As Origens Um início absoluto?
O texto de Gênesis inicia dizendo: “No princípio, criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia” (Gn 1.1,2a). O texto fala sobre a criação da Terra. Ou, mas possivelmente, sobre a criação de todas as coisas, pois a expressão “os céus e a terra” é a forma hebraica de expressar isso, de onde temos a tradução “Universo”. Da mesma forma, várias partes do Antigo e do Novo Testamento dão a entender que só havia Deus no princípio e que todo o mundo material foi formado por Ele (Sl 33.6-9; Pv 8.22-27; Is 48.12,13; Cl 1.15-17; Hb11.3). Juntamente a essa questão de interpretação do texto bíblico, temos outra de caráter científico. Alguns cientistas entendem parecer possível (embora sem prova “científica inconteste”), explicar, por exemplo, que o big bang teria surgido a partir de flutuações num “vácuo quântico” (a nota explicativa 7, no capítulo anterior, fala sobre isso), pois é um tipo de campo de energia. A questão é que, mesmo cientificamente, um “vácuo quântico” não é um nada absoluto. Os cientistas não explicam a existência de tal vácuo, nem a razão pela qual ele teria características que possibilitassem essas flutuações, nem dizem por que isso produziria o Universo. De acordo com a teoria da relatividade de Einstein, a energia e a matéria são intercambiáveis; desse modo, o “vácuo quântico” é um “mundo material”. A doutrina cristã de que Deus criou o mundo “do nada” não significa que nada seja um tipo de “coisa” que Deus usou para fazer o mundo, mas é uma forma de explicar em forma de palavras que a matéria não é eterna (é criada), e somente Deus é eterno, e que a existência do mundo depende inteiramente dEle. Jacques Monod (1910–1976), ganhador do Nobel pelo seu trabalho sobre biologia molecular, afirma que o acaso, e não Deus, é o verdadeiro criador. Dr. Ernest, teólogo e pós-graduado em química pela Universidade de Oxford, diz que há um erro lógico na proposta sobre o acaso, pois eles tratam o “acaso” como se fosse uma causa ou uma força positiva, quando, na verdade, é justamente o contrário. Ele segue explicando que os cientistas referem-se que algo aconteceu ao acaso, quando ele (o acaso) não pode ser predito pelos cientistas, ou apenas em termos de probabilidades estatísticas. Na verdade, o que Monod diz é que as mutações genéticas são acontecimentos que os cientistas não conseguem prever. Isso, no entanto, não significa que não exista uma causa. Sabiamente, podemos dizer que a existência de Deus é a causa primária de todas as coisas!
Conclusão
Para cientistas cristãos e teólogos, não há contradição entre a importância do acaso nos processos físicos do Universo e a fé na providência de Deus na sua atuação no mundo. Aquilo que significa acaso para alguns é soberania de Deus para nós.
Como cristãos, sustentamos teologicamente a doutrina da criação, pois sem a ideia da criação divina do mundo, da história, o evangelho da redenção da vida do ser humano em relação ao pecado torna-se sem sentido. A despeito das dúvidas colocadas por céticos, o cristão crê não apenas que o mundo seja um empreendimento planejado e com propósito, mas também que os seus processos sejam seguros e dignos de confiança, de forma que podemos dizer que o mundo criado é um lar para os seres humanos e para toda a criação. O desafio do cristão é apresentar reflexiva e teologicamente a visão de forma clara e compreensível ao passo que se depara com um mundo academicamente hostil à fé.
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: ALVES, Eduardo Leandro. A Prova da Vossa Fé: Vencendo a Incredulidade para Uma vida Bem-Sucedida. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.