O Superintendente e a Gestão Pedagógica da Escola Dominical – Parte II
Pensar a gestão da Escola Dominical, do ponto de vista pedagógico, consiste em interpretar a perspectiva filosófica, mas, também, os seus aspectos metodológicos com vista em tornar o processo de ensino-aprendizagem factível. Nesse sentido, para que as estratégias de ensino cumpram com as suas finalidades é preciso considerar se os conteúdos, de fato, são significativos do ponto de vista do aluno. É imprescindível que os conteúdos estejam didaticamente organizados de modo que o professor tenha o embasamento para construir um ambiente de sala de aula mais oportuno ao aprendizado.
3. Os aspectos metodológicos e suas respectivas estratégias de ensino-aprendizagem.
Concernente aos aspectos metodológicos aplicados no contexto da Escola Dominical é preciso considerar a escolha do método que mais se adequa ao perfil de classe que se pretende ensinar o conteúdo bíblico. Definir uma metodologia é tão importante quanto pensar a filosofia educacional que norteia o processo formativo nos espaços da Educação Cristã.
Entende-se por metodologia o estudo que define os métodos que serão aplicados para a realização do processo de ensino-aprendizagem. A palavra “método”, em seu sentido etimológico, vem do grego méthodos, de meta (pelo, através) e hodós (caminho) (LOPES, 2003). Logo, o professor precisa definir um caminho pelo qual percorrerá lado a lado com o aluno a fim de que a aprendizagem aconteça de forma efetiva.
a. O melhor método de ensino. Uma dúvida muito comum deparada pelos professores no tocante ao ensino diz respeito à escolha do melhor método de ensino. Questiona-se qual seria a melhor forma de ensinar, a mais eficiente, aquela que facilita o professor a coadunar conteúdo e carga horária para cumprir de modo eficiente o programa do curso. Embora o professor cumpra todas as obrigatoriedades protocolares de uma escola, isso não é garantia de que o aluno tenha, efetivamente, aprendido os conteúdos curriculares. Por essa razão, é importante que o professor considere a escolha do método a partir da melhor forma pela qual o aluno aprende.
b. Os perfis dos alunos. Para identificar o melhor método de ensino a ser aplicado é necessário considerar os perfis de aprendizagem demonstrados pelos alunos. Seus alunos aprendem melhor com recursos visuais ou por meio de leituras? Sentem-se mais confortáveis ao trabalhar em grupo ou individualmente? Seria melhor estudar um caso ou construir juntos um projeto? Os conteúdos exigem mais prática do que teoria ou é o inverso? Esses aspectos são alguns dentre tantos que precisam ser considerados ao determinar o melhor método para ensinar.
4. A definição de conteúdos significativos que se transformem em saberes didáticos.
Na mesma perspectiva da definição dos métodos o professor depara-se com o desafio de apresentar os conteúdos de modo interessante aos alunos. A depender da faixa etária ou mesmo do nível de escolaridade da classe, encontramos alunos que se interessam mais por determinados assuntos em detrimento de outros. Mas alguém poderia questionar como isso seria possível sabendo que aprender as Escrituras Sagradas é essencial para a vida cristã. O grande dilema do ensino não diz respeito aos conteúdos, propriamente ditos, pois estamos falando a respeito da Palavra de Deus, nosso manual e regra de fé e prática, e sim à forma como os conteúdos são ministrados aos alunos. Estabelecer melhores formas de ensinar requer considerar que existe uma relação direta entre conteúdo-método-aprendizagem.
a. Conteúdo didaticamente organizado? O conteúdo corresponde ao conjunto de informações e conhecimentos preparados e adaptados didaticamente para serem lecionados. São os tipos de conteúdo que determinam as modalidades de objetivos: atitudinais (gera um comportamento), conceituais (compreensão de um conceito) e procedimentais (o que o aluno deve aprender a fazer). Logo, o método organiza didaticamente os conteúdos, viabiliza a aprendizagem e o cumprimento dos objetivos. À vista disso, o conteúdo precisa estar didaticamente organizado, isto é, deve seguir uma sequência lógica que defina o nível de complexidade dos assuntos, partindo dos aspectos mais simples para os mais complexos; que facilite a compreensão, ou seja, linguagem acessível, assertiva e mais clara possível de modo que todos que leem possam entender; e, por fim, que sejam relevantes com vista que os alunos se identifiquem com os assuntos e exemplos abordados no texto.
b. A transposição didática dos conteúdos. A maioria dos professores, embora tenham aprendido sobre a importância da didática enquanto ciência do ensino, pouco sabem como aplicá-la. Esse deficit de aprendizagem quanto aos meios de ensinar é real e trata-se de uma limitação que muitos professores do espaço da Educação Cristã precisam superar. Na prática, o desafio do professor é tornar o conteúdo interessante a partir da forma como ensina e, para tanto, deve considerar os aspectos que são significativos do ponto de vista do aluno. Nesse caso, a melhor pergunta a ser feita é: qual a relevância do conteúdo estudado para a vida prática do aluno? Logo, o professor deve utilizar-se de uma ferramenta que os estudiosos da didática a intitulam de “transposição didática”. Essa técnica trata-se da passagem de um saber científico para um saber prático ou escolar (CHEVALLAD, 1991). Em linhas gerais, significa tornar as informações de ordem mais complexa e científicas mais acessíveis e de fácil compreensão. Tão importante quanto a qualidade do ensino é a qualidade do aprendizado e, para este último aspecto, os professores da Educação Cristã precisam atentar.
5. A criação de um ambiente estimulante e motivador para que o aluno, de fato, aprenda.
A perspectiva de um conteúdo didaticamente organizado subsidia ao professor as condições de criar um ambiente de sala de aula propício à aprendizagem. É preciso remover o estigma de que certos assuntos só podem ser estudados por aqueles que dispõem de certo grau de instrução. No contexto das classes de ensino dominicais o maior objetivo é o ensino das Escrituras Sagradas. Acerca disso, nosso Senhor instruiu aos seus discípulos: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (Jo 5.39). Logo, o estudo da Palavra de Deus é o exercício que nutre a fé e elucida a mente do crente a pensar conforme a mente de Cristo (1 Co 2.16). O segundo objetivo da Escola Dominical é a formação do caráter cristão. É no ambiente da escola bíblica que o crente recebe a ética cristã, isto é, o conjunto de princípios e valores que norteiam o estilo de vida que agrada a Deus. Isto posto, faz-se indispensável que o aluno receba no espaço da Escola Dominical o encorajamento para ter uma vida santa e justa diante de Deus e dos homens. Um ambiente que estimula a aprendizagem é aquele que oportuniza ao aluno as condições cabíveis para conhecer, refletir e aplicar os conhecimentos bíblicos.
Considerações finais
Conhecer os aspectos que constituem a gestão pedagógica é essencial para construir uma compreensão integral dos campos de atuação do educador cristão. A gestão pedagógica cuida de fornecer os elementos que tornam a Educação Cristã menos burocrática e mais prática. Nesse sentido, pensar a intencionalidade filosófica da Escola Dominical em seu processo formativo é tão relevante quanto estabelecer métodos eficientes que resultem em profundas reflexões nos espaços da Escola Dominical. Essa reflexão nos leva a crer que o cuidado para com esses aspectos é indispensável para que tenhamos um ambiente de Escola Dominical mais propício ao processo de ensino-aprendizagem da Palavra de Deus e crentes encorajados a não apenas conhecer as Escrituras, mas, inclusive, a assumir um compromisso genuíno com um estilo de vida que agrada a Deus.