Lição 13 – O mundo de Deus no mundo dos homens
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O REINO DE DEUS NO MUNDO
II – AS BÊNÇÃOS DE UMA VIDA NO REINO
III – OS MALES DE UMA VIDA NO MUNDO
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Esclarecer a natureza da Igreja do Deus vivo;
2. Pontuar as bênçãos de uma vida no Reino;
3. Assinalar os males de uma vida no mundo.
I. O REINO DE DEUS NO MUNDO
1. A Encarnação de Cristo
Mateus assevera que a profecia messiânica cumpre-se no nascimento de Jesus (Mt 1.21,22; Is 14.7). Cristo, o “Emanuel: Deus conosco” (Mt 1.23) foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria. Os Evangelhos ratificam que Ele é “filho do Deus Altíssimo” (Mc 1.1; Lc 1.32). João revela que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Significa que Cristo fez-se homem no tempo determinado (Gl 4.4). Ele agora possui duas naturezas, verdadeiro homem e verdadeiro Deus (Rm 9.5). A essa doutrina dá-se o nome de “União Hipostática”.
David R. Nichols (apud HORTON, 1997, p. 324, 325) descreve que:
A união hipostática descreve a união entre as naturezas humana e divina na Pessoa única de Jesus. […] O ensino bíblico acerca da humanidade de Jesus revela-nos que, na encarnação, Ele tornou-se plenamente humano em todas as áreas da vida, menos na prática de um eventual pecado. […] Na experiência que Jesus teve da morte, temos uma das comprovações mais poderosas de que sua humanidade foi completa.
Ele era tão humano que sofreu a morte de um criminoso. […] Jesus era capaz de sentir em profundidade as emoções humanas. Conforme vemos nos evangelhos, Ele sentia dor, tristeza, alegria e esperança. Assim acontecia porque Ele compartilhava conosco a realidade da alma humana. […] Finalmente Jesus possuía um corpo humano, igual ao nosso. […] Era igual a nós em todos os aspectos, exceto que nunca pecou.
E, quanto a divindade de Cristo, acrescenta que:
Os escritos do Novo Testamento atribuem divindade a Jesus em vários textos importantes. [….] As informações do Novo Testamento a respeito desse assunto levam-nos a reconhecer que Jesus não deixou de ser Deus durante a encarnação. Pelo contrário, abriu mão apenas do exercício independente dos atributos divinos. Ele ainda era plena Deidade no seu próprio ser, mas cumpriu o que parece ter sido imposto pela encarnação: limitações humanas reais, não artificiais. […] Certamente, a Bíblia apresenta amplas evidências de suas afirmações sobre a humanidade e a divindade de Jesus.
A sua encarnação fez-se necessária para satisfazer a justiça de Deus: o pecado entrou no mundo por um homem, Adão; assim, tinha de ser vencido por um homem, Jesus (1 Tm 2.5). O pecado de Adão trouxe “juízo de condenação”, mas a obediência de Cristo trouxe “justificação de vida” (Rm 5.12,18,19). Ele participou de nossa natureza para expiar nossos pecados (Hb 2.14-18). A expiação constitui-se na razão da encarnação e da morte de Jesus.[1]
2. A Mensagem do Reino
João Batista foi o precursor de Cristo na implantação do Reino. A mensagem apregoada no deserto da Judeia requeria mudança de vida: “[…] Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 3.2). Após ser batizado no Jordão e vencer a tentação no deserto, Cristo deu início ao seu ministério: “Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17). Portanto, a mensagem do Reino contém forte apelo ao arrependimento (Mt 3.2; 9.3).
O Dicionário Bíblico Wycliffe (2006, p. 209) leciona que:
As palavras heb. mais comuns para arrependimento vêm da raiz naham e significam uma mudança de ideia ou de propósito, ou, às vezes, lamentar-se. O conceito do NT, porém, é mais corretamente expressado pelo verbo heb. shub, que significa “converter-se”, ou “retornar”, e é, às vezes, traduzido como “arrepender-se” (Ez 14.6; 18.30). […] A doutrina do arrependimento é apresentada mais claramente no NT pelo substantivo metanoia e seu verbo coligado. Onde quer que esse substantivo ou verbo ocorra, há um convite para que os homens se convertam de seus pecados e busquem a graça de Deus, ou ainda um registro ou referência desta atitude de arrependimento.
O Dicionário Vine (2002, p. 415) destaca que:
O verbo grego metanoeõ […] sempre envolve no Novo Testamento uma mudança para o melhor, uma emenda, e sempre, exceto em Lc 17.3,4, diz respeito ao “arrependimento” do pecado. A palavra é encontrada nos Evangelhos Sinópticos, em Lucas, nove vezes, em Atos, cinco vezes, em Apocalipse, 12 vezes, sendo oito nas mensagens às igrejas (Ap 2.5, duas vezes; Ap 2.16; 2.21, duas vezes; Ap 3.3,19 — as únicas igrejas nesses capítulos que não contêm exortação ao arrependimento são as que estão em Esmirna e Filadélfia).
Nesse aspecto, ratifica-se que arrependimento significa mudança de mente e abrange o abandono do pecado e o voltar-se para Deus (Lc 24.46,47). Compreende uma nova atitude espiritual e moral, bem como uma nova conduta (At 26.20; Ef 4.28). Somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Cristo podem restaurar o homem a Deus (At 3.19; Rm 3.23-25; 2 Co 7.10).
Nesse sentido, a Escritura ensina que Deus “quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4). Contudo, Ele próprio estabeleceu as condições para ser salvo A condição mais elementar é estar em Cristo (Ef 1.1-4). E, para estar em Cristo, é preciso ter fé (Ef 3.17) e arrepender-se dos seus pecados (At 2.38). Porém, nenhuma dessas condições é meritória, e nenhum homem pode cumpri-las sem o auxílio e a capacitação divina. Por conseguinte, o papel da Igreja é proclamar essa mensagem do Reino em todo o mundo (Mt 24.14).
3. Os Valores do Reino
Carl Henry (2007, p. 548) enfatiza que o Sermão do Monte “tem sido entendido como a aplicação maior da ética de amor ao próximo […] ele nos aponta ao Senhor, forçando assim uma decisão quanto à nossa obediência”. O Sermão proferido por Cristo reúne princípios do mais alto idealismo moral. No Sermão do Monte, Cristo revela os elementos da ética e da moral do Reino, que têm como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão cristã. Esse comportamento precisa exceder a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5.20). Contudo, a nova justiça não é a repetição do legalismo judaico; pelo contrário, ela é alcançada por meio da obra redentora de Cristo, que conduz o crente à obediência (2 Co 10.5).
Nicholas T. Wrigth (2009, p. 138) avalia que:
O reino de Deus invadiu o mundo presente, ofereceu um alvo que Aristóteles e seus colegas jamais imaginariam. Os seres humanos foram chamados, por fim, a redescobrir para que foram criados, para que Israel foi criado. Deveriam ser, afinal, reis e sacerdotes, seguir a Jesus na conquista completa do reino e sacerdócio, e precisavam aprender, a partir do zero, o que isso significa. Seria necessário praticar a virtude – de um tipo nunca pensado.
No compêndio de virtudes, Cristo apresenta alguns exemplos, tais como: o necessário controle da ira (Mt 5.21,22); a fuga da imoralidade sexual (Mt 5.27,28); o casamento indissolúvel (Mt 5.31,32); a honestidade no falar (Mt 5.33-37); o não revidar as ofensas (Mt 5.38-44); a esmola, a oração e o jejum a partir de um coração sincero (Mt 6.1,5,16); o não julgar os outros (Mt 7.1,2); o alerta sobre os dois caminhos (Mt 7.13,14); a advertência contra os falsos profetas (Mt 7.15-23); e a exortação para a prática desses valores (Mt 7.24-29).
Nesse sentido, o sermão representa uma nova postura, que nos chama para uma vida de perfeição (Mt 5.48) e convida-nos a priorizar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). O Sermão do Monte é prático e relevante como a nova vida em Cristo — e, como tal, é um dom e uma tarefa ao mesmo tempo.[2] Assim, os filhos do Reino devem expressar esses valores no seu viver diário (Ef 5.8). Não de modo farisaico ou de aparência de religiosidade, pois “os discípulos são chamados a estabelecer os sinais de uma nova justiça e a contar com o poder das possibilidades de Deus em sua obediência”.[3]
NOTAS
1 HAGNER, Donald. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Hebreus. São Paulo: Vida, 1997, p.71.
2 HENRY, Carl. Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 549.
3 BORNKAMM, G. Jesus de Nazaré. São Paulo: Teológica, 2005, p. 184.
Texto extraído da obra, “A Igreja de Cristo e o Império do Mal”, livro de apoio ao 3º trimestre, publicado pela CPAD.