Lição 11 – Seja Firme
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Silas Queiroz, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Quando somos chamados por Deus para servi-lo, Ele não nos mostra de imediato todas as circunstâncias difíceis pelas quais precisaremos passar. Ele simplesmente nos revela com o tempo, conforme nos prepara para vencer cada obstáculo. O Senhor providencia meios para encher-nos de coragem, força e capacidade para que possamos superar todas as dificuldades. Timóteo não tinha ideia da dimensão dos problemas que ele teria de enfrentar como auxiliar de Paulo quando começou a segui-lo ainda muito jovem, talvez com uns 20 anos de idade (At 16.1-3). As experiências que ele teria ao longo do seu ministério ao lado do apóstolo dos gentios iriam capacitá-lo para missões difíceis, como, por exemplo, dirigir a igreja em Éfeso na condição de representante de Paulo em tempos tão conturbados, principalmente pela presença dos falsos mestres. Depois de pretender rever Timóteo pessoalmente e não conseguir fazê-lo, Paulo escreve de maneira profundamente terna a fim de encorajá-lo a continuar firme na missão que ele recebera e, decerto, nos muitos desafios que ainda teria pela frente. Não nos esqueçamos de que Timóteo foi o principal sucessor de Paulo, tendo em vista ter sido o seu auxiliar mais próximo em todo o tempo de ministério. A tônica do texto de 2 Timóteo 1.3-18 é a transmissão de uma palavra de estímulo a Timóteo, o que é de grande importância especialmente porque vinha de alguém que o jovem pastor tinha como referência e que demonstrava profundo e sincero interesse no seu progresso. O exemplo de Paulo é bastante eloquente e propício para todos os tempos. Jovens líderes precisam ser estimulados por obreiros mais experientes, com os quais estejam servindo com fidelidade e dedicação. Havia uma razão especial para a atitude de Paulo no caso de Timóteo: os traços de timidez que eram vistos no seu auxiliar. O apóstolo buscava estimulá-lo a ser firme, valorizando e investindo no dom que havia recebido de Deus. Na primeira carta, Paulo disse a Timóteo que não desprezasse o dom (1 Tm 4.14). Na segunda, que despertasse o dom (2 Tm 1.6). No texto em estudo, o apóstolo demonstra a sua confiança na sinceridade de fé do seu principal cooperador, fundamento para o exercício do seu dom no poder do Espírito Santo. Era isso que daria ao jovem pastor as condições para permanecer firme, participando das aflições do evangelho.
As Lembranças de Paulo
O texto de 2 Timóteo 1.3-5 faz-nos lembrar de um conceito que tem sido muito usado atualmente: a memória afetiva. A psicologia assim nomina as experiências emocionais que temos quando, influenciados por algum elemento sensorial ou emocional, nos lembramos de algumas fases de nossa vida, principalmente da infância. Apesar de precisarmos ser cuidadosos com muitos conceitos e teorias da psicologia moderna, não podemos ignorar o quanto somos influenciados por nossos relacionamentos, desde a vida intrauterina.1 Temos um exemplo clássico na Bíblia de reações emocionais de uma criança ainda no ventre. Aconteceu quando Maria, após receber a visita do anjo Gabriel e o anúncio do nascimento de Jesus, foi visitar a sua prima Isabel, que estava grávida de João Batista: “E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo” (Lc 1.41). No versículo 44 do mesmo capítulo, está registrada a emoção sentida pela criança: “Pois, eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre”. As experiências vividas na infância são determinantes para o pleno desenvolvimento do ser humano, especialmente porque são revisitadas ao longo da vida Como exemplo de atitudes negativas e as suas consequências, o pastor Jamiel cita: rejeição da criança por parte de seus pais; superproteção dos pais; uso abusivo de autoridade sobre o filho; e falta de uma hierarquia de valores estabelecidos.3 A psicóloga cristã Elaine Cruz usa a expressão “lembranças afetivas” quando se refere a essas experiências do passado e ressalta a possibilidade de seguirmos em frente “escolhendo com sabedoria novas figuras de afeto, como cônjuges, filhos, irmãos na fé e amigos”.4 Tenho três filhos e lembro-me muito bem de momentos extraordinários que vivemos juntos quando eles eram bem pequenos. Nossas muitas viagens; as histórias que lhes contei durante anos seguidos; as muitas brincadeiras, como de “esconde-esconde” dentro de casa; as suas expressões e gestos ternos ou engraçados etc. Da mesma forma, tenho minhas próprias lembranças de meus pais, as quais muito me influenciam ao longo da vida. Outras pessoas, mesmo que não sejam da família, passam por nossa vida e nos influenciam positiva ou negativamente. No caso de Timóteo, as experiências e memórias e as suas consequências eram positivas, tanto da parte da sua mãe Eunice e a sua avó Loide como da de Paulo, o seu mentor espiritual, a quem ele considerava como pai (Fp 2.22). De igual forma, eram positivas as lembranças do próprio Paulo, do seu relacionamento com Timóteo e do que esse relacionamento expressava em decorrência do berço espiritual e fraterno que o seu jovem auxiliar havia recebido, pois o apóstolo diz: “Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti” (2 Tm 1.5). As memórias afetivas, portanto, eram todas positivas, e isso nos desperta para a necessidade de produzir bons sentimentos nas pessoas com as quais convivemos, sabendo que isso servirá de nutrição afetiva e emocional por toda a vida, além do reflexo positivo que causará na estrutura espiritual.5 Um dado bem relevante que encontramos no Antigo Testamento é o fato de que Deus, por várias vezes, apresentou-se ou foi referido como “o Deus de seus pais” ou “o Deus de meu pai” (Gn 26.24; 28.13-15; Êx 3.6; 4.5; Dt 1.11; 1 Cr 29.18). Isso certamente remetia ao relacionamento dos pais com Deus e como isso se refletia no relacionamento desses pais com os seus filhos. Abraão é um grande exemplo de um pai extraordinário, que soube cultivar profunda amizade com o seu filho Isaque, bem revelado especialmente no episódio da viagem e da decisão de sacrifício no monte Moriá (Gn 22.1-19). No texto em estudo, o relacionamento de Paulo, como um pai, e Timóteo, como um filho, expressava amor e ternura que contribuía para o conforto espiritual de ambos. A referência, portanto, era positiva. Isso veio à mente de Paulo de maneira mais profunda e afetuosa quando ele estava preso em Roma. As condições difíceis desse seu segundo aprisionamento e o avanço do seu processo judicial, que apontava para um fim fatídico (4.6), certamente contribuíram para que o apóstolo buscasse na sua memória momentos que lhe trouxessem alegria. Foi exatamente o que ele disse em relação a Timóteo: “[…] lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo” (1.4). Paulo provavelmente se recordava de momentos de devoção compartilhados com Timóteo, ou de quando se despediram na Ásia durante a sua viagem depois do seu primeiro aprisionamento (1 Tm 1.3). O que sabemos pelo texto paulino é que as memórias eram boas e bem reconfortantes naquele difícil momento que o apóstolo vivia.
Construindo Bons Relacionamentos
Vivemos dias de relacionamentos superficiais. O ambiente virtual tem-nos afetado drasticamente, afastando-nos das pessoas em nosso mundo real. Isso pode infelizmente nos causar prejuízos irreparáveis. No caso de Paulo e Timóteo, o extraordinário relacionamento que mantiveram foi um dos principais fatores de inspiração na vida de ambos. Eles tornaram-se para nós exemplos de fé e dedicação, mas também são exemplos de companheirismo, lealdade e afetuosidade. Como já enfatizamos, Timóteo servia a Paulo como se este fosse o seu pai (Fp 2.22), e Paulo tratava-o como filho. Além de ser muito importante para nossa vida no presente, construir bons relacionamentos serve como fonte de alegria e conforto no futuro. Quando temos boas lembranças, sentimos alegria; no entanto, quando as recordações não são boas, o quadro é de tristeza. Não são poucos os casos de angústia e depressão vistos nos tempos atuais por causa de maus relacionamentos, rejeições, agressões, indiferença, desprezo e abandono. Por isso, precisamos ser mais altruístas, pensar mais nos outros, inclusive lhes dedicando tempo de qualidade para aproximar e aprofundar os relacionamentos e criar boas memórias. Somente com a graça de Deus podemos vencer o egoísmo a fim de termos força espiritual e moral para amar e servir uns aos outros, a começar por nossos familiares, dedicando-lhes atenção, com gestos concretos de respeito e muito apreço (Rm 12.9,11; 1 Co 14.13-7). Qualquer que seja o histórico de vida e o quadro individual presente, não podemos jamais desconsiderar a responsabilidade pessoal, inclusive para abrir-se caminho para transformações. Isso quer dizer que não podemos lançar a culpa de todos os nossos males em outras pessoas e simplesmente nos fazer de vítimas. Ainda que realmente tenhamos sido vítimas de algum tipo de agressão ou abandono, devemos reagir e buscar vencer os reflexos dessas atitudes negativas, o que podemos fazer especialmente crendo no poder que há em Cristo, o mais rejeitado entre os homens (Is 53.3).
Lembranças e Orações
A prática da oração é um grande sinal do nível de profundidade de nossos relacionamentos. Isso já serve, portanto, para demonstrar quão superficiais temos sido, já que, em muitos casos, nosso tempo de oração tem sido diminuído. Por que será que com poucos minutos parece que já oramos sobre tudo o que precisávamos? Em primeiro lugar, porque nosso relacionamento com Deus não está com a profundidade e intimidade necessárias para que haja o prolongamento de nosso diálogo com Ele. Em segundo lugar, porque nosso interesse pela vida das pessoas que nos cercam não nos estimula o suficiente para permanecermos mais tempo em oração, intercedendo por elas. No caso de Paulo, fica claro que o principal meio que tinha e usava para expressar as suas lembranças de Timóteo era por meio da oração. Assim, não era somente Paulo que era abençoado pelas boas lembranças que tinha de Timóteo. O jovem pastor também era alvo de bênçãos, pois todas as vezes que o apóstolo lembrava-se do seu “amado filho”, fazia orações por ele noite e dia (1.3). Isso fazia com que o relacionamento entre eles somente se aprofundasse. É uma grande riqueza espiritual termos alguém que se lembra de nós nas orações. Tais pessoas prestam, diante de Deus, um grande serviço a nosso favor, fundamental para nosso progresso em todas as áreas da vida. Precisamos reconhecê-las e honrá-las, além de sermos, também nós, bons intercessores (Ef 6.18,19; 1 Ts 5.25; 2 Ts 3.1,2). A conexão entre oração e relacionamentos é também vista no ensino de Jesus acerca da oração pelos inimigos. O Mestre ensinou-nos a orar “pelos que nos maltratam e [nos] perseguem, para que [sejamos] filhos do Pai que está nos céus” (Mt 5.44,45). Lucas registrou o ensino de Jesus sobre a oração pelos que nos caluniam (Lc 6.28). Entendemos, portanto, que essa atitude contribui para que tenhamos um relacionamento mais profundo com Deus, pela expressão “para que sejais filhos do Pai que está nos céus”. Além disso, podemos entender e crer que, ao orarmos por nossos inimigos, Deus faz com que sejamos protegidos dos intentos deles contra nós.
“Despertes o Dom”
A força ministerial de Timóteo vinha do dom divino que ele recebera pela imposição das mãos do presbitério (incluindo Paulo) (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6). Era um poder interior que o capacitava para o exercício da sua missão. Ele agora precisava “despertar” o dom. Não é que Timóteo estivesse desanimado ou frio na fé, mas, sim, que ele precisava manter-se ativo, avivando o dom que já havia recebido. O texto sugere que o jovem pastor necessitava de um novo encorajamento, talvez uma nova inspiração para o pleno desenvolvimento do seu ministério diante da sua inclinação à timidez (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.7). Ninguém está isento de viver fases espirituais difíceis na vida, nas quais a busca de uma experiência mais profunda com o Senhor Deus seja fundamental para prosseguir na jornada de fé, como aconteceu com o profeta Elias (1 Rs 19.1-19). Na verdade, nossa vida espiritual depende da prática de disciplinas diárias para que nos mantenhamos acesos quanto a nossa fé, devoção e dedicação ao serviço cristão. Se assim não fizermos, a tendência é chegar o desânimo. As cinzas vão tomando conta do altar, e o fogo pode apagar-se de vez. Para o fogo continuar aceso, é preciso retirar a cinza, pôr lenha no altar e oferecer nosso sacrifício pessoal a Deus diariamente (Lv 6.12). Tirar um tempo a sós para falar com nosso Pai celestial — especialmente na primeira hora da manhã — e cultivar uma vida de adoração e serviço são atitudes fundamentais para que permaneçamos espiritualmente avivados (Sl 5.3; Pv 8.17; Cl 4.2; 1 Ts 5.17). Cultivar nossa frequência aos cultos de nossa congregação local ajuda-nos muito nesse processo de constante renovação espiritual (Hb 10.25).
Poder, Amor e Moderação Paulo lembra a Timóteo que o “espírito” que nos foi dado por Deus não é de “temor” (timidez, covardia ou medo; deilia, no grego), mas de “fortaleza” (ou poder), “amor” e “moderação” (equilíbrio, domínio próprio ou autocontrole). Os exegetas dividem-se acerca do sentido do termo “espírito” no versículo 6 de 2 Timóteo 1. Para alguns, teria o significado de “atitude interior”. Para a maioria, contudo, trata-se de uma referência ao Espírito Santo, porque Ele é a fonte do poder, do amor e da moderação que recebemos para viver como cristãos e servir a Deus segundo o dom recebido dEle (Rm 12.4-8).
As três virtudes espirituais citadas no texto paulino (poder, amor e moderação) devem ser conjugadas para que o exercício de nossa vocação seja pleno e perfeito. O poder não deve ser exercido em prejuízo ao amor, e tudo deve ser feito com equilíbrio. Não é incomum vermos ministérios sem o necessário ajuste e o devido funcionamento por terem aplicado parcialmente essas virtudes. Exemplo disso é o uso do poder de maneira grosseira e imoderada — um engano, aliás, que era muito frequente na igreja de Corinto (1 Co 14.40).
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Sejam Firmes: Ensino Sadio e Caráter Santo nas Cartas Pastorais. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.