Lição 8 – O Respeito às pessoas e o cuidado com as viúvas
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Silas Queiroz, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
O capítulo 5 de 1 Timóteo mostra-nos como o enviado de Paulo a Éfeso deveria não apenas organizar o ministério local, sendo um pastor-supervisor, como também exercer efetivo pastoreio da igreja estabelecida na principal cidade da Ásia Menor. O contato com os crentes de todas as idades no dia a dia da igreja exigia de Timóteo cuidados específicos, como um santo homem de Deus. Apesar de jovem na idade, Timóteo precisaria demonstrar maturidade suficiente para relacionar-se com todos, com amor, sabedoria, dedicação e respeito.
Esse é um grande desafio para todo pastor, cujo ministério não se resume apenas ao púlpito onde prega, mas também à convivência diária com os irmãos, atendendo-os sempre, conforme a realidade vivida por cada um. Todo pastor precisa ter habilidade para administrar o corpo eclesiástico. A expressão de dons no ambiente do culto não é o suficiente.
A Formação Familiar
O pastorado não é uma profissão. Não se trata de uma técnica que se aprende numa faculdade. Embora a formação teológica seja importante, não é suficiente. Ser pastor é um dom recebido de Deus, por alguém em cuja vida Ele trabalha de forma a prepará-lo adequadamente para o pleno exercício da missão. O ambiente da família é, sem dúvida alguma, um espaço vital nesse processo de preparação.
Às vezes desprezamos aspectos simples de nossa vida, como, por exemplo, a convivência familiar, imaginando que nossa realização pessoal terá como fator determinante o preparo intelectual. Embora importante, o estudo teórico não tem a força necessária de preparar-nos emocionalmente para enfrentarmos os grandes desafios, como é o caso dos diversos tipos de relacionamento nos diferentes espaços da vida.
Seja no ambiente universitário, empresarial, seja no eclesiástico, a formação que tivemos em família será fundamental para orientar-nos e sustentar-nos em nossos relacionamentos interpessoais. Certamente Timóteo não imaginaria que a sua vida seria revisitada agora, em Éfeso, enquanto ele pastoreava a igreja. Paulo dá ao jovem, como diretriz para a sua vivência pastoral, o padrão do relacionamento familiar.
Os velhos deveriam ser tratados como a pais; as mulheres idosas, como a mães; as moças, como a irmãs — pai, mãe e irmã. No ambiente familiar do lar de Timóteo, residiam princípios e valores que teriam relevância no exercício do seu ministério em Éfeso. Se o jovem auxiliar de Paulo não tivesse tido uma vida equilibrada em família, que padrão teria agora para servir de referência para a sua conduta pastoral? Isso nos ensina o quanto é importante viver cada etapa da vida com paciência e dedicação, cumprindo nosso papel em todas elas e tirando as melhores lições possíveis.
Afeto e Espiritualidade
Não é apenas a visão do ministério pastoral como uma profissão que é um problema nestes tempos modernos. O exercício dele com esse viés, ainda que se negando a sua profissionalização, também é um aspecto trágico da vida religiosa de nossos tempos.
A profissionalização retira não apenas a espiritualidade, como também o afeto; e o texto de 1 Timóteo 5.1-16 ensina-nos o quanto o ministério pastoral exige não apenas espiritualidade, mas também um considerável nível de afeto.2 As pessoas em geral querem atenção; querem ser ouvidas e respeitadas na sua individualidade. Um pastor muito espiritual no púlpito e extremamente indiferente ou grosseiro no trato com as pessoas no dia a dia pode ser um desastre. Ele pode criar uma igreja espiritualmente doente, que não compreende o paradoxo de ter um homem que aparenta tanta espiritualidade e, ao mesmo tempo, é tão insensível. Na verdade, é preciso repensar o caráter dessa espiritualidade.
Jesus exerceu o seu ministério demonstrando profunda compaixão às multidões e às pessoas individualmente (Mt 9.36; Mt 20.34; Mc 1.41). Paulo expressou profunda ternura aos irmãos e aos seus cooperadores por diversas vezes. Chegou a dizer aos coríntios que, embora o amassem menos, ele amava-os ainda mais (2 Co 12.15). Timóteo deveria seguir o seu exemplo e exercitar o seu dom, que recebera “por profecia, com a imposição das mãos do presbitério” (1 Tm 4.14), cuidando bem das pessoas, mesmo que no momento de repreensão. Aliás, é exatamente de repreensão que o texto está tratando: “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos jovens, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, em toda a pureza” (1 Tm 5.1,2). A orientação, portanto, estava voltada para o exercício do ensino e da disciplina.
Para isso, Timóteo precisaria estar pronto, tanto espiritual como emocionalmente, com um satisfatório nível de afeto, o que, como já afirmado anteriormente, remetia ao ambiente que ele tivera em família — e sabemos que era bom pelo testemunho da sua mãe, Eunice, e da sua avó, Loide, que se dedicaram a ensiná-lo desde a infância (2 Tm 3.14,15). Não podemos desconsiderar a nutrição afetiva que Paulo recebeu de Timóteo, a quem o apóstolo tratava como “amado filho” (2 Tm 1.2).
Felizes os que têm famílias estruturadas, cujos pais dedicam-se aos filhos, nutrindo-lhes afetivamente. Devem ser valorizados e reconhecidos quando alcançam sucesso na vida em toda e qualquer área. De igual modo, é extremamente valioso quando se tem líderes como Paulo, que sabem expressar os seus sentimentos de amor e afeição, o que precisa ser recíproco, como ocorria com Timóteo, que tratava o apóstolo como a um pai (Fp 2.22).
Como já frisado, o êxito de Timóteo em Éfeso dependeria não apenas da sua espiritualidade, como também da estrutura afetivo-emocional, forjada no seu lar, pela dedicação da sua família. A isso podemos somar, como já assinalado, o edificante relacionamento que ele teve com Paulo.
Aos que sofreram algum tipo de agressão ou abandono, precisamos enfatizar sempre: Deus é poderoso para sarar nossas feridas e restaurar nossos sentimentos a fim de que estejamos preparados para ter um relacionamento correto com todas as pessoas, sejam estas idosas, sejam jovens, nos mais diversos âmbitos de convivência, inclusive na igreja onde congregamos.
O Padrão Familiar: o Ancião
Em outros textos neotestamentários, como, por exemplo, Atos 20.17, o termo “ancião” diz respeito ao ofício de presbítero, que era o nome dado aos dirigentes ou pastores das igrejas locais (Tt 1.5). Acontece que “ancião” significa “homem idoso” em 1 Timóteo 5.1. Isso, inclusive, se confirma pelo fato de que, no versículo seguinte (5.2), o mesmo vocábulo aparece na sua forma feminina, referindo-se a “mulheres idosas”.
Timóteo tinha o dever de ensinar e repreender todos na igreja, inclusive os mais velhos. Contudo, ele agia adequadamente segundo cada faixa etária, e o respeito era a grande baliza.
No texto em estudo, a questão posta está especialmente relacionada à idade de Timóteo, que era jovem para o padrão da época: tinha entre 30 e 35 anos. Assim, o nível de relacionamento tinha que considerar a sua condição pessoal — daí que, em relação aos velhos, deveria portar-se como um filho. Os homens idosos não poderiam ser repreendidos asperamente ou com dureza no falar. Paulo refere-se à abordagem e, principalmente, ao tom de voz a ser empregado no momento da repreensão.
Timóteo deveria dirigir-se aos anciãos como um filho dirige-se ao pai, isto é, com o devido respeito, usando palavras adequadas para a transmissão da repreensão. Ele não deveria ser rude e impor a sua autoridade mediante expressões ásperas. Não havia impedimento algum para a repreensão dos homens idosos, conquanto se observasse a maneira correta de fazê-lo. Hans Bürki observa que o texto em exame considera que “não é importante apenas o que é dito, mas como é dito: qual é a atitude em relação àquele a quem precisa ser dito algo”.
O resumo de tudo, portanto, é que Timóteo poderia e deveria repreender a todos, independentemente de idade. A forma de fazê-lo, contudo, deveria ser sempre respeitosa.
Os Jovens
Observa-se que Timóteo deveria sempre estar pautado na humildade quanto ao exercício do seu ministério pastoral. No caso dos jovens, poderia esperar-se que Timóteo pudesse valer-se da sua condição de
pastor para impor sobre eles a sua autoridade. Não era isso, contudo, que ele deveria fazer. A sua autoridade deveria, sim, ser exercida, mas tratando os jovens como a irmãos, ou seja, de igual para igual.
Está claro que a autoridade deveria ser igualmente exercida. A questão era a forma de fazê-lo, o “como” fazer. É claro que isso não significa renunciar ou “excluir o exercício da autoridade por parte daquele que administra a admoestação”, como bem enfatiza William Hendriksen.
Pela expressão de Paulo no versículo 12 de 1 Timóteo 4, é possível inferir que alguns da igreja estivessem desprezando-o em função da idade. Isso poderia vir, inclusive, de alguns dentre os jovens. Timóteo deveria ser respeitoso, porém firme, repreendendo também os jovens, a despeito de eventual resistência. Se isso era possível no primeiro século, ainda mais hoje em dia, em que vivemos numa geração marcada por uma extrema rejeição a todo tipo de repreensão. Em parte, isso tem sido observado também em algumas igrejas. Aceitar a correção torna-nos sábios, mas rejeitá-la impõe graves prejuízos à alma (Pv 8.33; 15.31-33).
O profeta Jeremias escreveu que “bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade” (Lm 3.27). Isso importa em obediência e sujeição a todos quantos são autoridade sobre ele. Como nos ensina Paulo, “não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação” (Rm 13.1,2).
Se Timóteo poderia e deveria repreender os idosos sempre que necessário, quanto mais aos jovens. Mais uma vez, contudo, ele precisaria observar um padrão adequado, e o parâmetro, em função da sua idade, era o relacionamento entre irmãos. A afetividade deveria estar presente na transmissão da repreensão, assim Timóteo evitaria qualquer distanciamento ou indiferença na sua conduta; afinal, ali estava um pastor que também era jovem.
As Mulheres Idosas
Pelas informações contidas em Atos e nas cartas de Paulo a Timóteo, Eunice foi uma mãe extraordinária. Como já assinalado, ela e Loide, a avó de Timóteo, haviam-lhe ensinado muito bem, desde a mais tenra infância. A educação do jovem auxiliar de Paulo influenciou-o em toda a sua vida. Agora, mais uma vez, estaria presente para ajudá-lo no exercício pastoral. A referência de cuidado com as mulheres idosas seria a própria mãe de Timóteo, assim como deveria e deve ser o relacionamento geral entre filhos e mães em nossos dias.
O trato com as mulheres idosas deveria ser pautado no mesmo respeito e afeto que se deve devotar às mães. Nenhum filho deve dirigir-se à sua mãe com arrogância ou dureza, mesmo que ela tenha cometido algum erro. Deve devotar-lhe profundo respeito, dirigindo-lhe palavras brandas. Assim deveria ser a conduta de Timóteo como pastor.
O exemplo de Timóteo, como líder espiritual que era, deveria ser observado pelos crentes de Éfeso (4.12) e serve-nos de inspiração para todas as áreas da vida. Honrar os idosos é mandamento divino para todos nós: “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho, e terás temor do teu Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19.32).
O Relacionamento com as Moças
Há uma nota específica de Paulo quando se refere ao padrão de relacionamento que Timóteo deveria ter com as moças por ocasião da repreensão pessoal. Ele usa o substantivo grego hagneia, que é pureza no sentido de exclusão de “toda a impureza de espírito, modo ou ato”.
Em função desse elevado padrão de pureza que a expressão grega representa, concluímos que, ao verificar-se qualquer pensamento ou sentimento que desborde desse estado de inocência, o ministro — e qualquer outro cristão — deve buscar em oração a purificação pelo sangue de Jesus. Isso, por vezes, deverá acontecer mesmo em pensamento, instantaneamente, a fim de que a inclinação não ganhe força.
A Condição de Solteiros de Paulo e Timóteo
Podemos imaginar o grande desafio que homens como Paulo e Timóteo enfrentaram diante da vocação que receberam. Permanecer solteiro não era um dogma, mas, como diz o próprio apóstolo, era um “dom” específico, dado por Deus, sem nenhuma aplicação geral (1 Co 7.7); até porque a recomendação comum aos presbíteros e diáconos era exatamente em sentido distinto: que fossem casados (1 Tm 3.2,12).
Quando se trata da repreensão às moças, Paulo acrescenta: “[…] em toda a pureza”. O apóstolo está prevenindo Timóteo das inclinações sexuais que este poderia ter tanto por conta da sua idade quanto pela sua condição de solteiro. Não há espaço algum na Palavra de Deus para a hipocrisia ou para a negativa de nossa condição humana ou da inclinação pecaminosa de nossa natureza caída (Gl 5.16,17). O segredo é vigiar sempre (Mt 26.41).
Pureza em Tudo
O jovem pastor precisava dirigir a igreja e lidar com pessoas de ambos os sexos e de todas as idades, incluindo moças. Nesses contatos pessoais, ele precisava ser vigilante para não ser atacado por pensamentos ou sentimentos lascivos e muito menos descambar para atitudes impuras, que poderiam afetar a sua vida espiritual e o seu ministério.
A expressão “em toda a pureza” indica-nos a necessidade de sermos puros nos pensamentos, no olhar, no falar e no agir. No contato com pessoas do sexo oposto, precisamos rejeitar desde os pensamentos pecaminosos, confessando-os a Deus em nosso íntimo e abandonando-os definitivamente. Para isso, é fundamental que enchamos nossa mente de coisas boas, de coisas puras (Tg 4.8).
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Sejam Firmes: Ensino Sadio e Caráter Santo nas Cartas Pastorais. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.