Lição 6 – Mortos para o pecado, mas ainda lutando contra ele
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Em Romanos 5.1, o apóstolo faz um resumo dos quatro capítulos anteriores quando afirma que, uma vez justificados, temos paz com Deus por meio de Jesus; ele termina o capítulo recordando que a função da Lei era apontar a condenação pelo pecado e a bênção da graça de Cristo. No texto a ser estudado (Rm 6), Paulo apresenta um problema que pode surgir dependendo da interpretação da nova posição diante de Deus: perdoado gratuitamente e livre em Cristo.
Neste capítulo, refletiremos as mudanças que devem ocorrer com o crente após a justificação para a manutenção da santificação. Paulo afirma que o crente: a) deve morrer para o pecado; b) passa a ocupar uma nova posição diante de Deus; e c) deve andar em novidade de vida.
O Cristão Deve Morrer para o Pecado
A Má Interpretação da Justificação pela Fé Pode Tornar-se um Problema (v. 1)
A doutrina da justificação pela fé não era tão fácil de ser assimilada por alguém que viveu anos debaixo do jugo da Lei. Imagine um judeu que viveu a vida toda sendo ensinado que a observância da Lei deveria ser rigorosa, pois esse era o único meio para justificar-se diante de Deus. Coloque-se no lugar dele. De repente, aparece um judeu que há pouco tempo havia-se convertido para uma nova religião (cristianismo), anunciando que Deus fez-se ser humano, morreu numa cruz, levou a maldição de toda a humanidade sobre si e ofereceu o perdão gratuito a todos que o reconhecem como Deus. Praticamente tudo o que ele havia aprendido e tentado praticar é colocado por terra. Considere, então, ele aceitando essa pregação do evangelho.
Na época de Paulo, alguns convertidos ao cristianismo, considerando a “facilidade” da vida na graça, continuavam na prática do pecado, confiando no perdão imerecido de Deus. Por isso, o apóstolo responde ao seu próprio questionamento para não deixar dúvida de que o justificado deveria manter a sua nova situação diante de Deus com a obediência.
Advertência contra o Abuso da Graça (v. 2)
O comportamento libertino apontado no tópico é a preocupação do apóstolo: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça
seja mais abundante?” (v. 1). Esse problema não é exclusivo da época da Igreja Primitiva. Ainda hoje, alguns cristãos interpretam equivocadamente a ação da graça de Cristo. Estes afirmam que, uma vez justificados pela fé em Cristo, justificados para sempre. Para eles, a vida que a pessoa leva não interferirá mais na sua salvação, pois Deus não retiraria o dom da salvação já dado ao crente. Paulo é incisivo na sua resposta: “De modo nenhum!” (v. 2a). O fato de sermos justificados gratuitamente não nos dá o direito de abusarmos da graça de Cristo (Gl 5.1,13); pelo contrário, devemos ser cada vez mais gratos pela graciosidade de Cristo e espelharmo-nos no seu exemplo de vida. A liberdade que nos é dada por Cristo não é para fazermos o que quisermos, mas, sim, para vivermos uma vida genuinamente cristã.
Justificados e Mortos para o Pecado (vv. 3,4; 6,7)
O crente em Cristo é declarado justo no tribunal de Deus, mas o velho homem morre legalmente ao mesmo tempo (vv. 6,7), crucificado com Cristo, e ressurge como uma nova vida na sua ressurreição (2 Co 5.17). Na morte de Cristo, Deus demonstra o julgamento justo e, na sua ressurreição, prova a sua justiça.
O batismo nas águas é um ato público para atender uma ordenança que formaliza simbolicamente o que já ocorreu, o seu sepultamento (Cl 2.12). Entretanto, aqui não se trata especificamente da obra do Espírito Santo (1 Co 12.13; Gl 3.27). O salvo não pode mais servir ao pecado, pois a morte do escravo liberta-o da sua escravidão (v. 6). Em Cristo, ele está livre para servir a Deus, o Senhor, em novidade de vida.
Nova Posição em Cristo
Conhecendo a Nova Posição em Cristo (vv. 3, 5-7, 9)
O batismo nas águas é uma bela representação da nova posição do salvo em Cristo (v. 3), morto para o pecado (debaixo da água) e justificado e reconciliado com Deus (ao sair da água). O crente justificado é sepultado pela morte para o pecado e surge para uma nova vida em Cristo, um novo relacionamento com Deus. Essa nova posição assegura a vida eterna com o Senhor, mas também exige uma aproximação com a vida de obediência de Cristo, não priorizando a si mesmo e os seus desejos, mas o bem da coletividade, o Reino de Deus.
Trata-se de uma nova identidade, não mais relacionada ao primeiro Adão, mas da descendência de Cristo, o segundo Adão, e membro da sua família. Essa nova vida de santidade não significa que o crente nunca mais irá pecar, mas, sim, que não viverá na prática do pecado, como o seu escravo. Portanto, uma vez justificados (instantaneamente), sigamos a santificação (processo contínuo) durante toda a vida ou até ao arrebatamento da Igreja.
Vivificados em Cristo (vv. 8-11)
A nova vida com Cristo é uma vida separada e de intimidade; é viver com o propósito de nunca mais morrer espiritualmente. Identificados com a morte de Cristo, da mesma forma como Ele sofreu pelo evangelho, o salvo também passará por aflições (Jo 16.33).
Entretanto, acima de tudo, também somos identificados com a sua ressurreição (vv. 5-7); da mesma forma, ela garante ao salvo a transformação do corpo corruptível em um corpo incorruptível, como o de Cristo (1 Co 15.54; 1 Ts 4.16-18). A promessa, todavia, não é somente para o futuro. O presente também é contemplado, pois a nova vida não é conquistada pela própria força, mas, sim, pela graça de Cristo, que sustenta o fiel até o ponto de este suportar as diversas adversidades (Rm 8.35). Esta é a palavra do apóstolo para Timóteo, quando este se achava só no ministério: “fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2.1).
Embaixadores de Cristo na Terra
Cristo cumpriu a sua missão e retornou ao Pai; porém, como Igreja, não nos retirou do mundo (Jo 17), mas deixou-nos para sermos os seus representantes, anunciando o seu Evangelho. Morto e vivificado com Cristo, o cristão vive agora guiado pelo Espírito Santo, como embaixador de Cristo, conforme Paulo afirma à igreja de Corinto: “isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus” (2 Co 5.19,20). Quem era condenado e sem esperança passa a ser embaixador de Deus, anunciando o poder do Evangelho, revelação da justiça de Deus que transforma o ser humano e prepara-o para a vida eterna.
Novidade de Vida
Quem Reina na Nova Vida não É mais o Pecado (v. 12)
O cristão, ao receber a nova natureza durante o processo da justificação, não aceita mais o reinado do pecado, nem sente mais prazer em submeter-se aos seus próprios desejos, mas a sua consciência é orientada pelo Espírito Santo, que o convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11). Na época do apóstolo, dizer-se cristão era risco de morte e de, no mínimo, preconceito. Atualmente, tem-se tornado em determinados meios até “chique” dizer que é evangélico ou gospel. Algumas pessoas têm-se infiltrado na igreja evangélica, dizendo-se convertidas, mas com o propósito de explorar os fiéis das igrejas evangélicas. Fazem toda a pose teatral nas igrejas, mas continuam com a mesma vida de antes fora delas. No entanto, a orientação bíblica é que, uma vez justificado, o crente deve andar em novidade de vida, em santidade, embora ainda com o corpo de pecado e morte (Rm 6.11; 7.24).
Libertando os Membros do Corpo do Domínio do Pecado (vv. 13,14a)
A intimidade com Cristo leva a uma mudança de mentalidade, em que as coisas que agradam a Deus é que passam a orientar a vontade e as atitudes do crente. Em nosso corpo físico, os membros atendem os comandos do cérebro (mente). No sentido espiritual não é diferente, pois uma vez tendo a mente de Cristo por meio da renovação da mente e intuição do Espírito, essa mente conduz a emoção, a vontade e os membros do corpo físico.
A pessoa que tem a mente de Cristo discerne as coisas espirituais, mesmo no mundo material e usa os membros do corpo a serviço da justiça (2 Co 2.14,15). O “velho homem” tinha uma mente insubmissa ao Espírito Santo e entregue ao domínio do pecado, mas o salvo submete a sua mente ao controle do Espírito Santo; assim, a paz de Deus, que excede todo entendimento, guarda o seu coração e os seus sentimentos (Fp 4.6,7) e, consequentemente, conduz os seus membros para a prática da justiça.
Vivendo uma Vida Vitoriosa debaixo da Graça de Cristo (v.14b)
A palavra graça tem sido banalizada no meio evangélico. Pessoas que se dizem viver debaixo da graça fazem todo tipo de sacrifícios para agradar ou barganhar com Deus: jejuns sem objetivo específico, ofertas interesseiras, longas orações repetitivas e mecânicas, choro forçado, entre outras atitudes. Infelizmente, alguns líderes incentivam essas práticas e até utilizam da Palavra para oprimir e controlar as pessoas.
Somos livres em Cristo pela graça, mas isso não significa que temos menos responsabilidade. Como exemplo, veja a diferença do tratamento em relação ao adultério no Antigo Testamento (Nm 5.11-31; Lv 20.10) e no Novo Testamento (Mt 5.28). Quem quer viver uma vida vitoriosa debaixo da graça precisa aprender a primar por um bom testemunho (Cl 4.5), seguir a paz com todos e a santificação, sem raiz de amargura (Hb 12.14,15), perdoar (Ef 4.32), amar com amor fraternal e dar honra aos outros (Rm 12.10), dentre outras atitudes incentivadas pela Bíblia.
Que Deus abençoe sua aula!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: NEVES, Natalino. Separados para Deus: Buscando a Santificação para Vermos o Senhor e Sermos Usados por Ele. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.