Lição 12 – A Sutileza da Espiritualidade Holística
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O FENÔMENO RELIGIOSO
II – OS DESAFIOS DE SER IGREJA NA ERA DIGITAL
III – A IGREJA E OS PECADOS VIRTUAIS
IV – AS MÍDIAS SOCIAIS E O IDE DE JESUS
CONCLUSÃO
Esta lição tem quatro objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
I. Conceituar o fenômeno religioso da espiritualidade holística;
II. Explicar a espiritualidade humana e a sua necessidade de expressão;
III. Expor o fundamento da espiritualidade holística;
IV. Mostrar a contrariedade bíblica a respeito da espiritualidade holística.
Esse holismo, do qual Capra se tornou o principal porta-voz, tem influenciado o mundo não apenas das ciências exatas, como a física clássica, mas também tem moldado todas as áreas das ciências humanas. Estas, sem dúvida, são as áreas que mais têm sido impactadas pelas ideias de Capra. Essa influência é mais visível, por exemplo, na área da educação. Dois livros que se tornaram bastante populares na esfera educacional são: O Paradigma Educacional Emergente, de Maria Cândido, e Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. Usei o primeiro quando cursava a disciplina filosofia da educação e o segundo algum tempo depois. Ambos os livros foram influenciados pelas ideias de Capra. Maria Cândido (2007, p. 25, 26) resume esse modelo emergente no contexto educacional como sendo:
Construtivista – o ser humano está em constante processo de transformação diante de sua ação no mundo, em sua relação constante com o objeto. Pensar é resultado de uma construção, da ação do indivíduo sobre o objeto e da transformação desse objeto, que tem o educando como centro gerador em processo constante de construção. Interacionista – sujeito e objeto estão em constante interação de forma que um modifica o outro e modificam-se entre si. Sociocultural – o homem é um ser relacional que interage constantemente, através do diálogo, com seus pares e com o mundo físico. Transcendente – isto quer dizer: ir além, ultrapassar-se, superar-se. O homem é um devir a ser.3
Mas não é só aqui no Brasil que estão acontecendo essas mudanças. Está acontecendo em escala global. Um relatório da UNESCO foi escrito a fim de avaliar o impacto desse novo desafio que a educação do século XXI enfrenta. Nesse sentido, a UNESCO preparou um relatório minucioso. O relatório, que foi presidido pelo educador francês Jacques Delors, aponta os desafios e os caminhos para o fenômeno educacional no mundo do século XXI.4 A edição brasileira desse relatório foi apresentada pelo ex-ministro da educação Paulo Renato.
Em sua fala, Renato (2006, p. 9) destaca aquilo que o Relatório Delors sintetiza sobre a realidade educacional global. Ele pôs em evidência esse novo cenário para esse paradigma educacional emergente, conforme demonstrado no Relatório Delors:
Existe hoje uma arena global na qual, gostemos ou não, é até certo ponto jogado o destino de cada indivíduo.” “Apesar de uma promessa latente, a emergência desse novo mundo, difícil de aprender e ainda mais difícil de prever, está criando um clima de incertezas, para não dizer de apreensão, que torna a busca de um enfoque verdadeiramente global para os problemas ainda mais angustiantes.
O ministro da educação indiano, Karan Singh, que também é um dos colaboradores do Relatório Delors, apontou alguns pressupostos de uma filosofia holística para a educação do século XXI. De acordo com Singh (2006, p. 244, 245):
1. O planeta Terra que habitamos e de que todos somos cidadãos é uma entidade única, fervilhante de vida; a espécie humana é, em última análise, uma grande família em que todos os membros são solidários; as diferenças de raça e de religião, de nacionalidade e de ideologia, de sexo e de preferências sexuais, de estatuto econômico social – embora em si importantes – devem ser repostas no contexto mais geral desta unidade fundamental. 2. O ódio e o sectarismo, o fundamentalismo e o fanatismo, a inveja e o ciúme, entre pessoas, grupos ou nações, são paixões destruidoras que é preciso vencer agora que nos achamos no limiar de um novo século; o amor e a compaixão, a preocupação pelo outro e a caridade, a amizade e a cooperação devem ser estimuladas, agora que a nossa consciência desperta para a solidariedade planetária. 3. As grandes religiões do mundo na luta pela supremacia devem parar de se combater, e cooperar para o bem da humanidade, a fim de reforçar, graças a um diálogo permanente e criativo entre as diferentes confissões, o filão de ouro que são as suas aspirações espirituais comuns, renunciando aos dogmas e anátemas que as dividem. 4. A educação holística deve ter em conta as múltiplas facetas – físicas, intelectuais, estéticas, emocionais e espirituais da personalidade humana e tender, assim, para a realização deste sonho eterno: um ser humano perfeitamente realizado vivendo num mundo em harmonia.
Não há como negar que esses pressupostos educacionais apontados por Singh refletem os princípios de uma educação holística, mística e destituída na sua grande maioria dos valores cristãos. Algo semelhante àquilo que Battista Mondim já havia criticado como princípios que estão na contramão de uma educação fundamentada em valores perenes. Um relatório bastante religioso quando prega uma espiritualidade holística e ecumênica quando procura a unificação entre todos os povos e religiões. São esses vetores que estão norteando a educação secular contemporânea.
Essas não são apenas tendências de uma nova Paideia, de um novo modelo educacional emergente, mas uma realidade já existente. Embora seja perceptível a roupagem científica com que esse modelo está adornado, todavia é inegável que ele é mais religioso do que científico, mais espiritual do que racional. Como estamos mostrando, o físico nuclear e adepto do misticismo oriental Fritijof Capra foi uma das primeiras vozes pós-modernas na defesa desse novo paradigma. Capra (1999, p. 14) afirma:
Precisamos de um novo paradigma — uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência da concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos os campos e suscetíveis de dominar a década atual.
Novamente as implicações que essa nova ciência tem sobre os valores cristãos, em especial sobre a Educação, é vista nas palavras desse físico nuclear quando afirma:
Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes. Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecológica que a visão do mundo cartesiana não oferece.5
Em outro texto, também de sua autoria, Capra (2007, p. 23) diz:
Não existe nenhum organismo individual que viva em isolamento. Os animais dependem da fotossíntese das plantas para terem atendidas as suas necessidades energéticas; as plantas dependem do dióxido de carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado pelas bactérias em suas raízes, e todos juntos, vegetais, animais e microrganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições propícias à perspectiva da vida.6
O lado espiritual e místico desse novo paradigma fica claro no livro de Fritijof Capra intitulado O Tao da Física – um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. Nessa obra, Capra (2003, p. 13) diz:
Há cinco anos, experimentei algo de muito belo, que me levou a percorrer o caminho que acabaria por resultar neste livro. Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo de minha própria respiração. Nesse momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se me assegurava como se participasse de uma gigantesca dança cósmica […] senti o seu ritmo e ‘ouvi’ o seu som. Nesse momento, compreendi que se tratava da dança de Shiva, o deus dos dançarinos, adorado pelos hindus.
Não há dúvidas de que estamos vendo a cultura ocidental sendo surpreendida. Seus valores judaico-cristãos estão sendo roubados e posteriormente desconstruídos. Em seu lugar está sendo implantado um novo paradigma, o holismo, uma mistura de filosofia pós-moderna e mística oriental. E muito mais do que isso — uma nova religião com os antigos deuses do paganismo. Tudo isso numa panela só. Nessa panela cabe tudo, menos um cristão verdadeiro. Nesse contexto, a igreja não pode ficar de braços cruzados. Já temos falado aqui da necessidade de se promover uma educação firmada em valores. Somente uma fé fundamentada em valores perenes que fluem das Escrituras Sagradas podem nos proteger desse tipo de ataque.
NOTAS
3 MORAES, Maria Cândida. O Paradigma Educacional Emergente. Campinas, SP: Papirus, 1997. 4 DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir – relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Editora Cortez/UNESCO/ MEC. 10ª Edição, 2006.
5 CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1999. 6 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas – a ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2007.
6 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas – a ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2007.
Texto extraído da obra Os Ataques contra a Igreja de Cristo, editada pela CPAD.