Lição 4 – A Sutileza da Normalização do Divórcio
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O DIVÓRCIO NO CONTEXTO BÍBLICO
II – A SUTILEZA DA NORMALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO
III – O DIVÓRCIO E A PRÁTICA PASTORAL
CONCLUSÃO
A presente lição apresenta três objetivos para os professores:
1. Expor o divórcio no contexto bíblico;
2. Pontuar os aspectos legal e moral do divórcio;
3. Refletir a respeito da prática pastoral com pessoas em situação de divórcio.
Na lição do próximo domingo, estudaremos sobre a o divórcio. Neste subsídio, destacaremos o divórcio nos ensinos de Jesus.
O Divórcio nos Ensinos de Jesus
Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, deixou a Galileia e foi para o território da Judeia, além do Jordão. Grandes multidões o seguiram, e ele as curou ali. Alguns fariseus se aproximaram de Jesus e, testando-o, perguntaram: — É lícito ao homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Jesus respondeu: — Vocês não leram que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: “Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, que ninguém separe o que Deus ajuntou. Os fariseus perguntaram: — Então por que Moisés ordenou dar uma carta de divórcio e repudiar a mulher? Jesus respondeu: — Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés permitiu que vocês repudiassem a mulher, mas não foi assim desde o princípio. Eu, porém, lhes digo: quem repudiará sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério. (Mt 19.1-9, NAA)
A compreensão dessa passagem sobre o divórcio é complementada por outras Escrituras neotestamentárias, que também se relacionam com o assunto (Mt 5.32; Mc 10.2-12; e Lc 16.18). Jesus esclarece que o divórcio foi uma concessão feita por Moisés por causa da dureza dos corações, e não que tenha sido esse o propósito original de Deus para o casamento. Jesus afirmou que quem terminasse o casamento e se casasse com outra, exceto em caso de imoralidade sexual, cometeria adultério. Com isso Jesus desfez todas as interpretações liberais sobre o divórcio criadas pelas escolas rabínicas que viam qualquer motivação como justificativa para a prática do divórcio. O texto deixa claro que a imoralidade sexual, tradução do termo grego porneia,1 é a única exceção permitida por Jesus para o divórcio. Assim, de acordo com Cristo, quem se divorciasse por outras razões e cassasse novamente estaria cometendo adultério. Grudem destaca que nesse caso “Jesus está dizendo que um homem que se divorcia indevidamente de sua esposa não recebeu um divórcio legítimo e, na verdade, ainda está casado com sua esposa original no momento em que inicia o segundo casamento”.2 Dessa forma, Jesus elevou o conceito de casamento muito além daquele defendido pelas escolas rabínicas. Outra questão bastante pertinente a partir da análise desse texto é a permissão dada por Jesus para um segundo casamento para a parte inocente. Alguns intérpretes objetam que Jesus não teria permitido no texto de Mateus 19 tal permissão. Argumentam que as passagens paralelas de Marcos 10.2-12 e Lucas 16.18 não contêm essa cláusula de exceção. Contudo, não é uma boa forma de fazer exegese partindo do silêncio de um texto. O silêncio de um texto não pode calar outro que é específico. Dessa forma, se essa cláusula de exceção permitida por Jesus em Mateus não está presente em Marcos e Lucas, as razões devem ser buscadas nos seus respectivos contextos. O mais provável é que o Espírito Santo que inspirou Mateus a redigir o seu texto para judeus viu a necessidade de expor essa regra dada pelo Salvador. Por outro lado, o mesmo Espírito que inspirou Marcos e Lucas a escreverem para gentios não viu a necessidade de expor essa cláusula de exceção, pois, como já foi demonstrado, esse tipo de entendimento já era tido no mundo greco-romano. No texto de Mateus 19, Jesus deixou especificamente implícito que uma pessoa que se divorcia de outra em razão de imoralidade sexual não comete adultério se casar com outra. Assim, A. T. Robertson entende que “por implicação, Jesus, como em Mt 5.31, permite o matrimônio da parte inocente, mas não da culpada”.3 Da mesma forma, Grudem observa que as palavras de Jesus
“e se casar com outra”, sugere que tanto o divórcio quanto o novo casamento são permitidos no caso de imoralidade sexual, e que alguém que se divorcia porque seu cônjuge cometeu adultério pode se casar com outra pessoa sem cometer pecado. Evidente porque se retirarmos “e se casar com outra”, o ditado não faz sentido: E eu te digo: quem se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, […] comete adultério. Mas isso não seria verdade, porque alguns casos há maridos que vão se divorciar de suas esposas e não vão se casar novamente ou viver com nenhuma outra mulher. Eles permanecerão solteiros e castos. Nesse caso, eles não estariam cometendo adultério com ninguém, e as palavras de Jesus não fariam sentido. Portanto, a frase “e se casar com outra” deve estar presente para que o versículo faça sentido. E isso significa que “todo aquele que se divorciar de sua esposa […] e se casar com outra” por causa da imoralidade sexual, não está cometendo adultério nesse segundo casamento.4
Essa, sem dúvida, é a exegese mais precisa dessa passagem e o entendimento mais natural das palavras de Jesus. Entretanto, deve ser enfatizado que mesmo Jesus reconhecendo a validade de um novo casamento em razão de traição, Ele não estimulou a prática do divórcio nem tampouco a ordenou. Há sempre a possibilidade para o perdão e a reconstrução de uma relação que foi quebrada por uma das partes.
(GONÇALVES, José. Os ataques contra a Igreja de Cristo: As sutilezas de Satanás nesses dias que antecedem a volta de Jesus Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp. 49-51.)
1 Nesse contexto, porneia, como destaca o léxico de Bauer, possui o sentido de todo tipo de relações sexuais ilícitas, o que sem dúvidas inclui o adultério. Veja: BAUER, Walter. A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, 3rd ed. (Chicago: University of Chicago Press, 2000), p. 854. Em Apocalipse 17.2, porneia possui o sentido claro de adultério.
2 Grudem, Wayne. O que a Bíblia Diz sobre Divórcio e Novo Casamento. Crossway. Edição do Kindle, p. 21.
3 ROBERTSON, A.T. Comentario al Texto Griego del Nuevo Testamento. Barcelona: ClIE, 2003.
4 Grudem, Wayne. O que a Bíblia Diz sobre Divórcio e Novo Casamento. Crossway. Edição do Kindle, p. 22, 23.