Lição 2 – A Sutileza da Banalização da Graça
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – COMPREENDENDO A GRAÇA
II – A GRAÇA NO CONTEXTO BÍBLICO
III – A GRAÇA NO CONTEXTO DA REFORMA
CONCLUSÃO
A presente lição apresenta três objetivos para os professores:
1. Explicar a natureza da graça;
2. Classificá-la no contexto histórico da Reforma Protestante;
3. Pontuá-la no contexto contemporâneo.
Na lição do próximo domingo, estudaremos sobre a graça, analisando a graça de Deus no seu sentido bíblico, histórico e contemporâneo. Sendo a graça um bem precioso de Deus para a nossa vida, ela não pode ser banalizada. Por isso, a importância de se estudar este tão importante tema.
“A doutrina da graça é o âmago do cristianismo bíblico. De acordo com o Dicionário Teológico Beacon, a graça é “o amor espontâneo de Deus, ainda que imerecido, para o homem pecaminoso, revelada supremamente na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo”.1 Nesse aspecto, observamos que a graça é, em absoluto, um dom de Deus outorgado a humanidade. Não há nenhum mérito humano em recebê-la.
O termo “graça” pode ser encontrado tanto no Antigo como no Novo Testamento. Sendo, contudo, mais comum na teologia neotestamentária, especialmente nas Cartas Paulinas. No Antigo Testamento, encontramos a palavra hebraica hen com o sentido de favor imerecido. ‘Agora, se alcancei favor diante de ti, peço que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e obtenha favor diante de ti; e lembra-te que esta nação é teu povo’ (Êx 33.13, NAA). Por outro lado, o termo grego para graça é charis, que ocorre 164 vezes no Novo Testamento, sendo 101 vezes nas Cartas de Paulo. “Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9, NAA).
Assim convém aqui vermos os aspectos soteriológicos da doutrina da graça, isto é, como ela se revela no plano de Deus para salvar a humanidade.
Em primeiro lugar, a graça é necessária para a salvação.
O apóstolo Paulo afirma que por intermédio do homem entrou o pecado no mundo (Rm 5.12). Por conta da entrada do pecado no mundo, a condição da humanidade caída diante do pecado é de total impotência. O homem não pode fazer nada. É preciso a intervenção da graça de Deus para tirar a humanidade do domínio do pecado. […]
Em segundo lugar, a salvação pela graça está condicionada à fé em Cristo.
Não existe salvação fora de Cristo. Deus estabeleceu que Cristo fosse o Salvador daqueles que nEle cressem. Por outro lado, aqueles que o rejeitassem estariam condenados (Jo 5.4). Em Cristo somos eleitos. No dizer das Escrituras: ‘Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus’ (Jo 3.36, NAA). Isso implica que no processo da salvação uma resposta humana é exigida. ‘Creia no Senhor Jesus e você será salvo — você e toda a sua casa’ (At 16.31, NAA). Contudo, essa eleição é de acordo com a presciência de Deus. […]
Em terceiro lugar, a graça é extensiva e a salvação universal.
Ao se tratar da doutrina da extensão da salvação é preciso que se faça distinção entre universalidade e universalismo. A salvação é universal porque Deus no seu grande amor quer salvar todos os homens (Jo 3.16). Deus ‘deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade’ (1 Tm 2.4, NAA). […]
Em quarto lugar, a graça é resistível e a oferta da salvação pode ser recusada.
Quando discursava perante os líderes religiosos de seu tempo, Estevão, um dos diáconos da Igreja Primitiva, disse: “Homens teimosos e incircuncisos de coração e de ouvidos, vocês sempre resistem ao Espírito Santo” (At 7.51, NAA). Essa Escritura mostra de forma inequívoca que a graça pode ser resistida. Deus não convence quem não quer e recusa-se a ser convencido. Isso é diametralmente oposto à ideia segundo a qual todos os chamados serão infalivelmente salvos. De acordo com as Escrituras, o Evangelho é para todo aquele que crer (Mc 16.16), e que no plano salvífico de Deus uma resposta humana é exigida. […]
Em quinto lugar, é possível cair da graça.
A doutrina determinista destaca que ninguém pode cair da graça. Uma vez salvo, salvo para sempre. Isso porque da mesma forma que o homem não teve liberdade para aceitar a oferta da graça, assim também ele não tem liberdade para rejeitá-la. Dizendo isso de outra forma, se não houve liberdade para entrar também não haverá liberdade para sair. […]
Observamos que a graça de Deus é o principal pilar sobre o qual todos os ouros se alicerçam. Contudo, mesmo sabendo da importância da graça, muitos cristãos não a valorizam como deveriam. O que se verifica no cristianismo moderno é uma banalização da graça. Por acreditarem que estamos debaixo da graça e não da lei, muitos cristãos extrapolam os limites da liberdade cristã. Dessa forma, as mais questionáveis práticas e comportamentos são legitimados em nome da graça. Entendem que a graça valida até mesmo comportamentos reprováveis. Contudo, à luz da Bíblia, a advertência para aqueles que estão debaixo da graça é muito mais dura do que para aqueles que se encontravam debaixo da lei. “Quem tiver rejeitado a lei de Moisés morre sem misericórdia, pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Imaginem quanto mais severo deve ser o castigo daquele que pisou o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado e insultou o Espírito da graça!” (Hb 10.28,29, NAA).”
(GONÇALVES, José. Os ataques contra a Igreja de Cristo: As sutilezas de Satanás nesses dias que antecedem a volta de Jesus Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp. 18-29.)
1 GUNTER, W. Stephen. In: Dicionário Teológico Beacon. Lenexa, Kansas, EUA: CNP, 1984