Lição 10 – Nossa segurança vem de Deus
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – RIQUEZA DO CÉU E RIQUEZA DA TERRA
II – A IDOLATRIA AO DINHEIRO
III – VIVENDO A QUIETUDE ESPIRITUAL EM DEUS
CONCLUSÃO
A Lição 10 tem três objetivos que os professores devem esmerar-se em atingi-los:
1. Contrastar a Riqueza do Céu com a Riqueza da Terra;
2. Descrever a Idolatria ao Dinheiro;
3. Demonstrar a Quietude Espiritual em Deus.
Riqueza do Céu e Riqueza da Terra
Uma conciliação impossível
Quem procura servir a Deus e às riquezas, quem procura os tesouros do céu e da terra, quem busca amar o mundo e a Deus, jamais terá sucesso, pois tais coisas jamais podem ser conciliáveis. Tiago é bem direto e diz que aquele que se torna amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus (Tg 4.4). Observe que há grande dificuldade em relação ao substantivo grego moichós, adúltero, a questão problemática está relacionada à forma feminina presente, em alguns manuscritos pela inclusão do masculino, adúlteros. Alguns julgam que o uso no feminino seja para tratar de algumas mulheres presentes na igreja que não estavam procedendo legalmente, ou melhor, sendo infiéis aos seus maridos, mas tal conotação dentro da carta de Tiago não tem tanta aceitação.
Para se ter uma compreensão correta do termo infiéis usado em Tiago, é preciso voltar ao Velho Testamento, pois Deus, ao firmar uma aliança com Israel, coloca-se como esposo e Israel como a esposa (Is 54.1-6; Jr 2.2). No momento em que Israel se conectava a outros deuses era como estivesse quebrando a aliança com Deus, cometendo adultério (Jr 3.2). Quando lemos o livro do profeta Oseias podemos notar que a ordem de Deus para que ele se cassasse com uma prostituta servia para falar da infidelidade de Israel para com o Senhor (Os 2.5,7). Portanto, tradicionalmente Deus era visto como marido e Israel como esposa.
Quando Tiago faz uso da palavra infiel, com certeza estava se referindo àqueles que estavam sendo infiéis para com Deus, fazendo amizade com o mundo, de modo que estariam cometendo adultério espiritual, nessa condição se tornavam inimigos de Deus. O cristão que entrou em aliança com Cristo não pode jamais quebrá-la, pois, se assim proceder, será julgado por Ele. A quebra dessa aliança envolve o desejo desenfreado pelas coisas do mundo, a ganância e atitudes carnais, e, procedendo desta maneira, o ser humano se torna amigo do mundo e inimigo de Deus.
Não pode haver de modo algum conciliação do amor desenfreado pelas coisas do mundo e o amor a Deus, por isso que João vai ser bem direito: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15). O mundo a que João se refere é o pecaminoso, do qual Satanás é o chefe (1Jo 2.19). Esse tipo de mundo nunca é objeto do amor de Deus, mas Ele ama aqueles que são escravizados por seu sistema diabólico, buscando salvá-los (Jo 3.16; 1Jo 2.2).
Compreendemos que o mundo que Deus abomina é o legislado por Satanás, no qual o pecado prevalece, nesse caso não há qualquer negatividade de se possuir os bens, comprar casas, terras, trabalhar, ganhar dinheiro, nada disso. Mas os cristãos que desenvolvem um relacionamento com Deus, que foram tirados do mundo de pecado (Jo 17.6), não vivem mais dominados pelos seus prazeres, pois são conscientes de que não pertencem mais a ele, mesmo que estejam vivendo nele (Jo 17.11,15). Por não ser mais deste mundo, mas viver nele, logo surgirá um antagonismo, e, como bem foi expresso por Jesus, o mundo vai nos odiar (Jo 15.18,19; 17.14), contudo, o cristão que tem nova natureza manifestará amor para com todos.
Por não ser mais deste mundo, o cristão não se deixa mais levar por seus prazeres pecaminosos, suas coisas não se ajustam ao seu estilo de vida (Rm 12.2), ele vive no mundo, permanece no mundo, mas o mundo não permanece nele, sendo humano, usa as coisas desta vida sem ser dominado por elas, nem dinheiro, poder, posição, glória humana, nada disso prende um servo fiel, pois sabe agora quem é o Senhor de sua vida, é nascido de Deus, por isso vencerá o mundo (1Jo 5.4).
É impossível conciliar luz com as trevas, caminho estreito com o caminho apertado, porta estreita com a larga, os dois senhores, Deus e Mamom, tesouros do céu com os tesouros da terra, tem que haver uma decisão, uma escolha, ou você deixa o mundo para seguir a Deus, ou deixa Deus para seguir ao mundo. Patinar na incerteza é um caminho perigoso, afinal, Deus exige exclusividade. Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24).
Tesouros da terra e tesouros do céu
Antes de penetramos propriamente no assunto sobre os tesouros do céu e da terra, é preciso atentar para a definição desse substantivo masculino, que do grego é thesaurós, tendo dois significados. O primeiro fala de um lugar no qual coisas boas e preciosas são colecionadas em porta-joias, cofre, ou outro receptáculo onde valores são guardados. Em segundo lugar, fala de um depósito, armazém, coisas armazenadas em um tesouro, coleção de tesouros. Atentar para essa definição é valioso, visto que não se deve ter em mente que o propósito de Cristo era apenas falar de dinheiro, abarcando somente as pessoas ricas, não, Seu alvo era atingir a todos. Martyn Lloyds-Jones¹ falando sobre o assunto expressa:
“Tesouro” é um vocábulo bastante amplo, que inclui muita coisa. É verdade que também inclui o dinheiro, mas não o dinheiro tão somente. Indica algo muito mais importante. Nosso Senhor interessava-se aqui não tanto pelas nossas possessões, e, sim, pelas nossas atitudes em relação a essas posições. Não está em evidência, aqui, o que um homem porventura possua, mas antes, o que ele pensa sobre seus bens materiais, e qual é a sua atitude acerca deles.
Quer sejam as pessoas que já possuam riquezas e outras que ainda a desejam, podem ser dominadas pelo materialismo, atraídas por Mamom, todavia, a atitude em relação a esses tesouros, quer seja de modo negativo ou positivo, vai depender da atitude daqueles que as possuem, isto é, caso sejam materialistas, sua visão será somente para os tesouros desta terra, lutarão incansavelmente por eles, colocando sua confiança e dependência neles. No entanto, se forem espirituais, priorizarão as coisas espirituais (Mt 6.33). Precisamos entender que a questão toda não são os tesouros, mas sim o acúmulo deles.
Jesus esclarece aos Seus discípulos que não deve haver uma preocupação quanto à acumulação de bens materiais ou riquezas, que são os tesouros desta terra, eles, por sua vez, não trazem felicidade nem são a segurança de tudo, e, logo que a morte vem, a pessoa perde tudo. As fragilidades desses tesouros podem ser vistas nas palavras de Cristo, no Oriente as roupas valiosas eram consideradas de grande valor (Jó 27.16; Is 51.8), porém, apesar do seu grande valor, a traça a destruiria; ainda que se tratasse de um objeto de valor, como metal, a ferrugem iria destruí-lo; também as riquezas poderiam ser roubadas pelos que “escavavam lama”, eram chamados assim porque cavavam as paredes feitas de barro para roubar.
Seja como for, os tesouros da terra são mundanos e efêmeros, seu acúmulo pode gerar avareza e egoísmo. Jesus incentiva Seus discípulos a acumularem tesouros nos céus, os quais são eternos e não sofrem nenhum tipo de dano. Por vezes somos levados a pensar e a perguntar sobre qual a forma de se ajuntar tesouros no céu. Isso é feito por meio do que Jesus já vinha ensinando, a prática dos atos piedosos, fazer justiça ao próximo, evangelizando e vivendo em total obediência para com Deus, assim, podemos dizer que esse tesouro eterno inclui tudo o que realizamos nesta vida. Os atos piedosos e a obediência a Deus jamais podem sofrer desgastes.
O cristão deve ser consciente de que as riquezas podem ser um tipo de distração, fazendo com que nos voltemos apenas para as ambições deste mundo, confiando somente nelas, sendo um estorvo para nossas vidas espirituais. Os tesouros desta terra podem envolver bens materiais, dinheiro, casas, filhos, homens e mulheres, carros, posição social, cargos, cultura, trabalho, é quando o seu coração se volta para alguma coisa demasiadamente, vivendo somente para elas que mora o perigo. Nós podemos ter e desfrutar de todas essas coisas, mas Jesus nos alerta para que não deixemos que elas se transformem em nossos tesouros.
Jamais devemos pensar que os tesouros no céu queiram ensinar que a salvação é pelas boas obras praticadas, pois isso contraria a doutrina da salvação pela graça (Ef 2.8,9). Os que fazem as boas obras realizam isso porque já são humildes, limpos de coração, pacificadores, ou melhor, já foram transformados. Paulo diz que aqueles que foram abençoados com riquezas materiais, devem entesourar para o futuro, fazendo o bem a todos (1Tm 6.18,19; Mt 6.25), assim serão recebidos no tabernáculo eterno (Lc 16.9).
Texto extraído da obra Os Valores do Reino de Deus, editada pela CPAD.
¹LLOYD-Jones, David Martyn, Estudo no Sermão do Monte. São José dos Campos: SP, Fiel, 2017. p.527.