Lição 9 – Pedras poderiam se tornar pães
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Como vimos nos capítulos anteriores, a tentação atinge os seres humanos e pode ser advinda de desejos pessoais ou por conta da ação satânica. E nessa lista de pessoas tentadas, está o próprio Senhor Jesus Cristo, que foi tentado no início de seu ministério. Em três ocasiões, o Senhor foi colocado à prova em situações que atingem a nossa humanidade, e nas três ocasiões foi vencedor.
Diferente do que muitas pessoas pensam, Jesus foi tentado, e pelo próprio Inimigo, mas nos deu as lições mais preciosas para entender que a tentação é resistível, e que podemos glorificar a Deus dando ouvidos à sua Palavra e resistindo ao Diabo. O exemplo de Jesus nos ensina que é possível vencer a tentação, ainda que seja trazida pelo próprio Satanás. Não estamos imunes à tentação, mas também não precisamos ceder a ela independentemente da hipótese em que se manifesta.
I–O INÍCIO DA TENTAÇÃO
O Batismo de Jesus
Mateus inicia seu Evangelho com o objetivo de ligar Jesus às pessoas de Davi e Abraão, e o faz por meio da apresentação da genealogia do Senhor. Prossegue narrando os fatos sobre o nascimento do Filho de Deus e do aparecimento do seu arauto, João Batista. O primo de Jesus o batiza, mas antes que o ministério de Jesus seja registrado em sua inteireza, ele precisa passar pela experiência da tentação.
A tentação de Jesus, portanto, não acontece sem que haja um contexto. João Batista já exercia seu ministério como profeta e batizava pessoas no rio Jordão. Ao ver Jesus, vindo entre aqueles que chegavam para ser batizados, João “opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Mt 3.14). A pergunta de João mostra o reconhecimento da realidade do Senhor Jesus: o maior dos profetas se sentiu inadequado para batizar o seu Senhor. Apesar da resistência inicial do batista, ele acata a orientação do Senhor: “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3.15).
Ainda assim, o batista o fez o que Jesus pediu, e Jesus foi batizado. Mas a experiência desse batismo foi diferente dos demais batismos realizados por João: Ao sair das águas, Jesus ouviu a declaração inegável de que Ele era o Filho de Deus, e essa audição não foi em particular, pois Mateus comenta que “eis que uma voz dos céus dizia…” (Mt 3.17). Nenhuma outra pessoa batizada por João Batista teve a honra de ouvir a declaração que veio do céu acerca de Jesus.
Em pouco tempo, essa mesma declaração que Deus havia feito acerca de Jesus seria usada como um trampolim para a primeira tentação por Satanás. Portanto, não devemos nos surpreender que se por um lado Deus pode dizer algo sobre nós, Satanás pode entrar no circuito para colocar à prova o que Deus disse a nosso respeito.
Conduzido pelo Espírito
Após ser batizado, e de publicamente haver o reconhecimento do Pai e do Espírito Santo no batismo, o Senhor é conduzido pelo Espírito ao deserto. Ele não decidiu ir por conta própria a um lugar ermo. Ele se submeteu ao controle do Espírito para se retirar e passar um período em jejum. Diferente de alguns pregadores que desprezam a prática do jejum, relegando-o a uma prática vinculada ao período da Lei de Moisés, Mateus nos mostra que Jesus jejuou. Essa é uma prática que nos aproxima de Deus, um momento em que deixamos de nutrir nosso corpo para nos dedicar à meditação e à oração. O jejum também foi usado não só por Jesus, mas também pela igreja (At 13), mostrando que é uma prática também para os nossos dias.
Lucas destaca que “cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto” (Lc 4.1). Nem sempre pessoas cheias do Espírito são dirigidas a lugares onde há multidões, onde poderão manifestar seus dons e talentos e obter notoriedade. O Espírito não conduziu Jesus ao Templo em Jerusalém ou a outro lugar onde seria visto por centenas de pessoas. O Espírito o levou a um lugar de solidão, para meditar e orar. Ele precisava passar um tempo a sós com Deus. Ele não agiu por impulso, nem desrespeitou a vontade de Deus. Conduzido pelo Espírito, o Senhor Jesus precisava passar pela experiência do jejum por quarenta dias e, depois, pela experiência da tentação. Poderíamos estar imunes aos ataques das trevas após períodos de consagração? Claro que não. A Palavra de Deus nos mostra que Satanás buscou alguma fragilidade ao se aproximar de Jesus após o período de quarenta dias.
Satanás Entra em Cena
Observemos que quem conduziu Jesus ao deserto foi o Espírito Santo, mas quem tentou a Jesus foi o Diabo, pois Deus não tenta a ninguém. “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1.13). O Eterno não pode ser movido pelo mal para dar prosseguimento ao mal, visto que Deus é bom, justo e misericordioso. Somente Satanás é descrito nas Escrituras como o agente da tentação de Jesus.
II – A CHEGADA DO INIMIGO
Jesus Teve Fome
Ao se aproximar de Jesus, Satanás tem em mente tratar de um assunto que é uma necessidade humana: alimentação. De forma natural, quando uma pessoa passa por um período de privação voluntária ou obrigatória de alimentos, ela sente fome. Cremos que jamais foi pecado ter fome, muito menos se alimentar. Deus colocou em nosso corpo o senso da preservação, e a fome nos lembra de que precisamos estar alimentados para nossa subsistência. Foi com base nessa necessidade que Satanás imaginou achar o caminho para o coração de Jesus, afinal, pessoas com fome desejam comer.
Havia abundância de pedras naquele ambiente desértico, e Satanás se utilizaria de um elemento natural para tentar Jesus em uma necessidade natural. Como provavelmente o terreno “ajudava” com farto material para a tentação, talvez não fosse tão difícil convencer Jesus a agir usando o seu poder para satisfazer uma necessidade física lícita.
A fome que Jesus sentiu era natural, pois Ele era o Deus encarnado. Entretanto, o estímulo que estava recebendo para pecar contra Deus não era natural.
“Se tu És o Filho de Deus”
Após se aproximar de Jesus, Satanás começa a tentação colocando à prova não a fome de Jesus, mas a sua natureza como Filho de Deus. Há quarenta dias Jesus acabara de passar pelo batismo e o próprio Deus disse que Jesus era o Filho Amado. Enquanto o Senhor faz uma afirmação, Satanás traz a dúvida.
O discurso da tentação pode começar de forma um tanto simpática, mas objetiva a desobediência, e com ela vem o pecado e à morte: Satanás “foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44).
Não devemos ficar espantados pelo fato de Satanás sempre colocar em xeque o que Deus fala. Foi assim no Éden, e tem sido assim em nossos dias. Se Deus falou, e se cremos que Ele é verdadeiro (Rm 3.4), podemos crer que o que Ele disse não precisa ser colocado à prova. Deus não abre sua boca em vão. Tentar contradizer o que Deus disse, inverter alguma ordem em suas palavras, sem dúvida nos conduzirá a caminhos tortuosos.
Pedras e Pães
O Senhor está sozinho no deserto, com fome, e Satanás dá a entender que Ele pode resolver o seu problema sem consultar a Deus. Já bastavam os quarenta dias em jejum. Não seria “pecado” Jesus ter suprida a sua necessidade de comer após todo esse tempo em abstinência. Mas usar a sua prerrogativa de Filho de Deus para manipular os elementos da natureza e transformá-los para benefício próprio, sim, seria o pecado.
O objetivo de Satanás era conduzir Jesus a usar o seu poder para satisfazer uma necessidade pessoal, mas fazer isso era usurpar o que Deus havia conferido a Jesus. Deus nos concede prerrogativas e talentos para serem usados na sua obra, mas quando as utilizamos para satisfazer nossas necessidades, estamos nos desviando do propósito para o qual fomos chamados.
Mesmo que aparentemente pequeno, um desvio nessa área conduz a outros desvios em outras áreas da vida. Essa tentação, de aproveitar do poder de Deus para benefício próprio, conduz a pessoa que se deixa levar e acabará se acostumando a usar de forma errada o que Deus lhe concedeu. O Eterno não nos concede dons ou talentos para serem usados de forma equivocada, pois daremos conta do que fizemos com aquilo que Deus nos deu.
III – “NEM SÓ DE PÃO”
O Povo no Deserto
Jesus, tentado não somente para “confirmar” por si mesmo a sua natureza como Filho de Deus, mas também a usar o seu poder para satisfazer uma necessidade física, cita Deuteronômio
os cinco livros de Moisés narram a origem da vida e do povo de Deus. Nesses livros, mesmo com os percalços, vemos o cuidado de Deus para com o seu povo. Desde a formação da família de Abraão até o seu crescimento em uma nação, séculos depois, o Eterno jamais deixou de se fazer presente na história dos hebreus. Ele livrou os filhos de Abraão da fome quando foram para o Egito, e depois os livrou da escravidão para os conduzir a uma terra promissora. Esse caminho não se deu em estradas pavimentadas e seguras, mas por um deserto.
A cada dia, o Eterno provia o necessário para o seu povo. Eles passaram décadas sendo alimentados por Deus, mesmo quando se rebelavam contra Ele. Não havia restaurantes, lanchonetes nem comida no deserto. Eles a cada dia viam Deus providenciando o que era necessário para a sua subsistência. Mas quando vão entrar na Terra Prometida, deveriam se lembrar que o que lhes era “natural”, na verdade, era a bondade de Deus em ação. O deserto não oferece alimentos de forma natural para milhões de pessoas. Somente Deus poderia fazer uma intervenção dessa monta para preservar seu povo.
O grande perigo para o qual Deus alerta é que eles estavam tão acostumados aos milagres que poderiam imaginar que tudo o que presenciavam era normal, e não uma dádiva divina. Milagres são uma interferência sobrenatural no mundo natural, e o homem não pode fazer milagres.
Está Escrito
Ao ser tentado, o Senhor Jesus se utilizou das Escrituras, e de forma correta, para responder a Satanás. Ele não se baseou na sua força de vontade ou na sua divindade, mas na Palavra de Deus. O Novo Testamento ainda não estava pronto, e levaria décadas para que ele fosse concluído, mas o Senhor já tinha em mãos o que era necessário para enfrentar a Satanás.
Jesus não mencionou estudos rabínicos comuns em seus dias, nem quaisquer outras fontes de estudos. Ele mencionou a fonte direta, a Lei de Moisés. Não é errado ler e mencionar fontes das quais tiramos nossos estudos e ideias, pois isso é honroso e justo. Mas, no caso de Jesus, pelo menos nessa primeira tentação, percebemos que Satanás sequer tentou ponderar com Ele acerca da sua declaração de que o homem não viveria só de pão. A simples citação da Palavra encerrou a tentação. Se cremos que a Palavra de Deus tem as respostas de que necessitamos hoje, entenderemos também que é possível ser tentado e resistir a Satanás meditando no que Deus disse e praticando.
Nem só de Pão
Comer não é pecado. Quando Jesus diz que “nem só de pão viverá o homem” não está dizendo que os alimentos são inúteis para a vida. Ele não está condenando o ato de comer, mas alerta que o alimento para o corpo não é a única coisa que sustenta o ser humano.
Os hebreus que entraram na Terra Prometida cresceram no deserto e, ao longo de quarenta anos, se acostumaram com a provisão diária de Deus. Mas eles foram lembrados por Moisés de que era Deus que os sustentava. A provisão diária de maná não era natural, e isso servia de lição para o povo: o sustento diário não é o mais importante. Eles haviam sido mantidos vivos porque Deus prometeu levá-los à Terra Prometida e, por isso, viveram “de toda a palavra que sai da boca de Deus”. O que precisamos é da Palavra diária de Deus para nos sustentar. O Senhor não condena que nos preocupemos com o sustento necessário, mas nos adverte que é preciso estar diariamente debaixo da vontade de Deus.
CONCLUSÃO
O próprio Senhor Jesus foi tentado pelo Inimigo, e em um momento em que seu corpo estava fragilizado, precisando se alimentar depois de um período extenso de privação de alimentos. Entretanto, Ele não cedeu à tentação de usar a sua glória para satisfazer uma necessidade pessoal, nem se voltou contra Deus, pois sabia que o Eterno sempre supre as nossas necessidades.
Recebemos de Deus dons e talentos, e Satanás deseja que os utilizemos de forma ilícita para satisfazer nossas necessidades lícitas. Cremos que Deus supre as nossas necessidades sem que precisemos recorrer aos incentivos malignos.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: COELHO, Alexandre. O Perigo das Tentações: As Orientações da Palavra de Deus de Como Resistir e Ter uma Vida Vitoriosa. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.